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quinta-feira, 4 de julho de 2024

A CHANCE DE BORTOLETO (SONHAR NÃO CUSTA NADA)

 

Foto: Joe Portlock/Getty Images

No último final de semana, Gabriel Bortoleto venceu a primeira corrida na F2. O atual campeão da F3 veio cercado de expectativas para essa temporada, onde muita coisa mudou. Os bólidos são novos. Tanto os mais experientes quanto os “novatos” da categoria partiriam do zero.

Ainda assim, o brasileiro precisou se adaptar. Ainda está nesse processo, na verdade. Apesar da categoria dar muitas possibilidades de pontos, erros prejudicam bastante na briga pelo título. A degradação rápida dos pneus impediu Bortoleto de resultados melhores, assim como problemas no carro e dificuldades em algumas largadas, principalmente nas primeiras corridas.

Depois de “tirar uma tonelada das costas” ao vencer pela primeira vez, Bortoleto, na ex-Virtuosi, é o terceiro colocado na tabela. Na frente, somente Isack Hadjar e o regular Paul Aron. Com esse carro, o crescimento no desempenho e o talento que possui, o brasileiro é certamente candidato ao título da categoria, conquistada recentemente pelo Felipe Drugovich.

Vai ser uma disputa interessante. No entanto, fica a pergunta, por mais paradoxal e até mesmo absurda que seja: é bom ser campeão da F2 justamente agora?

A questão é simples: com a F1 cada vez mais nichada e difícil para jovens pilotos, ser campeão não significa muita coisa ou uma chegada imediata na categoria. Só lembrar que Drugovich não conseguiu e Piastri teve um ano sabático até finalmente assinar com a McLaren após uma disputa judicial.

Bom, quais seriam as possibilidades de Bortoleto, então? Se não for campeão nesta temporada, certamente ele vai continuar na F2. Mais experiente e adaptado, será um candidato ainda mais forte a disputar a taça. No entanto, é fundamental convencer as grandes equipes a partir daí. Do contrário, o holofote não é mais o mesmo. Drugovich brilhou no terceiro ano de F2, mas não foi o suficiente para seduzir uma vaga como titular.

Bortoleto hoje é da academia da McLaren. Bom e ruim. Estar numa equipe grande ajuda, mas sabemos que é impossível neste momento ser titular da F1. Norris e Piastri não vão sair. Surgiram até boatos que o brasileiro pode ser enviado para a Indy em um futuro próximo. Bortoleto precisa considerar essa possibilidade, mas como a última opção. Sabemos que a ida para o automobilismo americano representa, na grande maioria dos casos, o fim do sonho europeu.

Qual seria, então, a possível alternativa do brasileiro para ingressar na F1, sobretudo a partir de 2026, com o novo regulamento em vigor?

Aí entram duas questões. Bortoleto é contratado pela A14, a agência de talentos de um certo Fernando Alonso. Ou seja: é um excelente contato e com penetração pela F1 e as equipes. É simplesmente o pupilo do piloto com mais largadas na categoria, bicampeão e um dos melhores da história, pessoal. Não é pouca coisa.

Outro detalhe importante que surgiu nos últimos dias e reforçou o meu devaneio para escrever esse texto: o retorno de Flavio Briatore para a Alpine. Os franceses, em crise, confirmam Gasly e podem anunciar Sainz para a próxima temporada. Ok, ano que vem ou o próximo talvez seja muito difícil para o brasileiro, mas pensem só: Alonso é empresariado por Briatore, que agora está na Alpine/Renault. Apesar de ser um “consultor”, é um cara de muita influência e certamente vai voltar a dar as cartas na antiga escuderia onde conquistou quatro títulos.

Se a ligação Alonso-Briatore é forte e os franceses, que podem largar a categoria (ou a Renault, no que dá no mesmo), precisarem de jovens pilotos para o novo regulamento caso não consigam fechar com Sainz ou outro piloto mais experiente, Bortoleto pode ser uma possibilidade, por que não? Talento, contatos, influência e até mesmo dinheiro são fatores primordiais para alcançar uma vaga na F1.

Obviamente que, se toda essa imaginação virar realidade e dar certo assim, o brasileiro vai precisar se livrar da McLaren, o que não seria um grande problema. Do contrário, caso as coisas não se encaixem, tem sempre uma Fórmula Indy como sombra e alternativa para continuar no automobilismo.

Espero que tenham gostado de viajar nos meus devaneios. Afinal, sonhar não custa nada.

Até!






terça-feira, 22 de agosto de 2023

INÊS É MORTA

 

Foto: Getty Images

O campeonato de 2008 sempre vai gerar dúvidas e questionamentos. Esse ano, tudo aumentou com a ação de ingresso de Felipe Massa na justiça para ser corado campeão mundial daquela temporada.

Neste ano, Bernie Ecclestone admitiu em entrevista que sabia do escândalo de Cingapura ainda em 2008 e não fez nada para não manchar o esporte, o que seria não cumprir com o próprio regulamento da FIA da época, que era presidida por Max Mosley.

Esse inclusive é o argumento da defesa, além das perdas financeiras por não ser campeão, as oportunidades que se abririam para Massa e os brasileiros impactados por um compatriota no topo (lembrem que nós só gostamos de quem vence, certo?), contratos, exposição, etc. Felipe Massa poderia ter sido uma super estrela, ou simplesmente um “novo Senna”, um novo vencedor e exemplo para o Brasil.

Pelo que li e foi contextualizado, são argumentos convincentes, inclusive com a definitiva infração da própria FIA ao lavar as mãos para o caso. Já passando dos 90, Ecclestone ativou a carta do “não lembro de ter dito isso”, mas a verdade é que a boca grande dele é que está gerando esse burburinho.

Mas na prática, é correto mudar alguma coisa? É possível mudar alguma coisa? Massa foi prejudicado nesses termos, além de uma tramóia ter tirado uma vitória que ele tinha grandes chances de confirmar. Aí que está. Tinha grandes chances, não é algo certo. Quem não poderia imaginar que algo aconteceria tal qual em Hungaroring?

E outra: Hamilton não tem nada a ver com isso e é tão vítima de uma atitude suja quanto Massa. Os dois tiveram problemas e foram irregulares naquele ano, por isso a quase igualdade.

Também não é justo e correto usar apenas a lógica de dar os pontos para Cingapura ou “se o Massa tivesse vencido ele era campeão”. Se o brasileiro vencesse em Cingapura ou chegasse com uma vantagem mínima para decidir em Interlagos, certamente o comportamento da McLaren e de Hamilton seriam diferentes no decorrer do ano após a corrida noturna.

A situação só chegou na catarse porque justamente era Hamilton que tinha a vantagem e pilotava o suficiente para ser campeão. Mudando essa estrutura, ele correria com uma outra motivação e estratégia. Ninguém pode prever o que aconteceria.

Sim, Massa parece ter sido vítima de uma negligência da própria FIA. Isso é o suficiente para ser considerado campeão ou co-campeão? Hamilton tem que pagar o pato por algo que ele também foi no mínimo prejudicado? É possível reescrever a história, colocar um asterisco?

Penso que não, assim como, infelizmente, não será possível fazer “justiça” para o brasileiro até porque, mesmo assim, um título reconhecido tardiamente também não mudaria em nada para o destino de todos. Agora, Inês é morta.

Até!

segunda-feira, 31 de julho de 2023

(NÃO) VALE A PENA VER DE NOVO

 

Foto: Divulgação/Alpine

Na sexta, a Alpine anunciou mudanças significativas no staff da equipe para a sequência da temporada, a partir da Holanda, quando a F1 retorna das férias de verão.

Conforme escrevi no post de sexta, feira:

“Otmar Szafnauer, Alan Permane e Pat Fry estão de saída. Os dois primeiros demitidos, incluindo Permane que tem mais de 30 anos na empresa. Fry está indo para a Williams ser o diretor técnico.

Interinamente, assumem Bruno Famin, vice-presidente da Alpine Motorsports, Julian Rouse o diretor esportivo interino e Matt Herman lidera a parte técnica. A passagem de Szafnauer foi um desastre. Depois de anos de serviço bem prestados na Force India/Racing Point, a estadia nos franceses foi um fracasso.”

Bom, não pretendo me alongar muito, apenas vou expandir um pouco da narrativa que embarquei nos últimos meses.

A venda de uma parte do time para os americanos pode ser um sinal muito grande de que mudanças profundas surjam no curto prazo.

Desde 2016, a Renault conseguiu resultados tímidos. Em nenhum momento, a equipe de fábrica foi sequer protagonista no retorno à categoria. Uma vitória e pódios esporádicos. Claro que, hoje em dia, é mais difícil começar do zero, mesmo tendo a estrutura e o dinheiro que os franceses têm.

Acontece que a Aston Martin, em contexto semelhante, já entregou uma consistência muito maior nesse semestre de pódios do Alonso do que a Renault. Muita coisa está errada. Os investimentos estão insuficientes. Até quando uma empresa vai aguentar o negativo e sem a conquista esportiva?

As coisas se ligam de maneira muito significativa. Primeiro, a cobrança pública do presidente da Alpine no agora ex chefe. Depois, a venda de parte do time. Agora, as mudanças como consequência de um 2023 terrível. Me parece ser a última cartada.

A paciência e o dinheiro da Renault tem limite. Considerando o histórico da companhia e os últimos movimentos, algo pode estar sendo preparado, planejado ou antecipado. Tudo ou nada.

Ou, simplesmente, tentar conter os danos.

Até!

terça-feira, 4 de julho de 2023

TUDO DEPENDE DA REFERÊNCIA

 

Foto: Getty Images

A discussão mais quente do momento envolve a queda repentina de desempenho de Sérgio Pérez. Outrora a menos de quatro pontos atrás de Max Verstappen no campeonato, alguns inocentes acreditaram que o mexicano brigaria pelo título de igual para igual com o futuro tricampeão.

Vocês sabem, aqui está o maior fã do Checo que se tem notícia, desde quando vi aquele capacete em homenagem a Roberto Gomes Bolaños em Mônaco, mais de uma década atrás (como voa o tempo!). Não sei Checo também acreditou nisso, mas não pode ser coincidência simplesmente não conseguir mais fazer o mínimo.

Claro, os ajustes da equipe durante o ano vão naturalmente beneficiar o melhor piloto e o dono do projeto. Só aí uma diferença de performance seria natural. A outra é a confiança. Depois de tantos insucessos e desempenhos aquém, principalmente sendo eliminado no Q2 com o melhor carro, é natural que o piloto comece a duvidar de si mesmo.

Com um adversário implacável, vindo de uma rixa pública e que praticamente não erra mais, tudo fica mais complicado. Porque, como escrevi ontem, não basta apenas perder. Nos últimos tempos, Pérez tem sido trucidado, tal qual era Gasly e Albon, que foram moídos e torrados da Red Bull pelo mesmo motivo.

O implacável Helmut Marko e até mesmo Christian Horner não ficam confortáveis com isso. Agora, há uma sombra de peso, grife e história dentro da organização: o hoje reserva Daniel Ricciardo. Em breve, vai testar os pneus Pirelli pela equipe, na semana que vem, após o GP da Inglaterra. Se o panorama do mexicano não melhorar e o australiano provar que é um cara diferente dos anos da McLaren, pode acontecer de tudo, mesmo que Pérez tenha mais um ano de contrato.

As discussões sobre os segundões prosseguem. Muitos afirmam, provavelmente com razão (até porque não me expandi muito a respeito), que Pérez é inferior a outros escudeiros históricos, talvez apenas superior a Fisichella e Irvine. Talvez. A discussão, na verdade, depende da referência.

Eu enxergo o caminho inverso. Pérez sempre foi um piloto de muito potencial e irregular, vítima da própria personalidade forte e dos carros que guiou. Mesmo assim, conseguiu o que outros caras mais badalados do grid e seus colegas não fizeram. Venceu com uma equipe indo para a falência, embora tenha evitado o fim na primeira vez. Assim, só de chegar na Red Bull e vencer mais algumas vezes por um carro dominante já é uma carreira extraordinária.

Para outros, mais haters ou até mesmo inocentes, repetindo o termo do primeiro parágrafo, frustrados por alguma disputa, emoção ou alguém que possa peitar Verstappen nesse momento, não ser vice campeão com esse foguete é um fracasso. Não deixa de ser verdade, afinal Webber não conseguiu isso em nenhum momento na outra Red Bull dominante. Até Bottas, veja, conseguiu isso na mesma circunstância, onde só corria contra Hamilton.

Bem, nesse caso, então não há como defender Pérez, mas esses estão querendo demais de alguém que em nenhum momento teve condições de entregar o esperado. O máximo que aconteceu foi sonhar, e isso não tem problema e nem custa nada.

Tudo depende da referência.

Até!

terça-feira, 27 de junho de 2023

ONDE HÁ FUMAÇA...

 

Foto: Getty Images

Nesta semana, a Renault anunciou a venda de 24% das ações da equipe Alpine para um grupo americano de investimentos que incluem a Otro Capital, RedBird Capital Partners e Maximum Effort Investments. Dizem que a operação custou cerca de 200 milhões de euros, sendo que a equipe francesa vale 900 bilhões.

O detalhe interessante é que as ações são sobre o time com sede em Enstone, na Inglaterra. Não tem nada a ver com os motores e a sede francesa da Renault. É estritamente para a F1.

Quem diabos são esse tal grupo americano de investimentos?

A RedBird “tem um portfólio que inclui a terceira maior participação no Fenway Sports Group, dono na equipe de baseball Boston Red Sox e da equipe de futebol Liverpool FC. O grupo também tem parte das ações do AC Milan e do Toulouse.” (trecho retirado de reportagem do Grande Prêmio)

Ainda segundo reportagem veiculada no Grande Prêmio, “a Maximum Effort é liderada pelos atores Ryan Reynolds, de ‘Deadpool’, e Rob McElhenney, de ‘It’s Always Sunny in Philadelphia’, que também é proprietária do Wrexham FC, que tem o ator Michael B. Jordan, de ‘Creed’, como coinvestidor.

Alec Scheiner, co-fundador da Otro Capital, vai se juntar à cúpula de diretores da equipe de Enstone.”

Tudo isso vem a calhar no momento em que a Renault, desde que retornou a F1 como equipe, está avançando em passos muito mais lentos do que os próprios imaginavam. Atualmente, estão brigando ferozmente com a combalida McLaren para serem a quarta força do grid.

A crise provocada pelo covid fez o grupo francês perder muito dinheiro, além do maciço investimento na F1 ainda não ter concretizado grandes feitos, apenas uma vitória solitária de Ocon na Hungria, em 2021. Gastos, gastos e déficit. Vejam só.

Além do mais, no início do ano, o presidente da Renault deu um esporro público em todo mundo do time, responsabilizando e cobrando todos pelo péssimo início de temporada. O cara não tinha descartado nem mesmo fazer mudanças abruptas e radicais, o que não foi feito até agora, mas a insatisfação e a pressão existem.

Lembrem, é a Renault. Uma montadora que gasta muito e, em sete anos, não deu nem de longe o salto que a Aston Martin, que também começou mal, mas finalmente conseguiu alguma reação e notoriedade em 2023, por exemplo.

Vender uma parte do time para os americanos pode ser uma forma de recuperar e maximizar investimentos, mas também pode ser um indício de que a equipe de F1, novamente, não é importante para os franceses. Eles têm esse histórico de pegar, largar e abandonar a categoria. Não seria surpresa.

E, com os americanos assumindo tentáculos relevantes em uma estrutura pra lá de interessante, tem um certo time americano de olho e louco para entrar na F1, com nome, sobrenome, know-how e parceria: a Andretti, com a Cadillac.

Um sonho americano que pode ter uma pitada francesa, por quê não? Se Deadpool e Creed resolverem entrar na parada, todos sairiam ganhando, não? Ok, chega de fantasias por hoje.

Mas onde há fumaça...

Até!

terça-feira, 30 de maio de 2023

VÁ COMO VÁ

 

Foto: Getty Images

O universo parece dar mostras de quer corrigir as injustiças humanas dos últimos anos. É como se o talento falasse mais alto que a própria sabotagem, autodestruição e/ou burrice.

Fernando Alonso. A história vocês já sabem. A Aston Martin parecia mais um equívoco na gestão do fim de carreira da Fênix. O que não sabemos é como Lawrence Stroll é um cara realmente ambicioso e está mudando a estrutura da equipe em todos os vértices. A chegada do espanhol era a cereja do bolo.

Mas enfim, um sentimento de presente com saudosismo. A pré-temporada deu a todos a ilusão de que a Fênix poderia voltar a ser protagonista nos lugares onde nunca poderia ter saído. Claro, sabemos que não era bem assim, mas é um início de temporada arrasador, comparável ao auge.

Cinco pódios em seis corridas com um carro que é terceira ou quarta força. Muita regularidade, muito braço, muita experiência e muita sorte. O acontecido na Austrália é um sinal disso. O abandono de Leclerc na abertura da temporada, que propiciou o primeiro pódio, também.

Tudo bem, Mônaco pode ser considerado um azar, mas nem tanto. Perder a pole e colocar o pneu errado na hora errada é indiscutível. Mesmo assim, continuar em segundo não deixa de ser “sorte”, ou melhor, a competência de abrir uma vantagem tão confortável para o resto do pelotão a ponto de se dar ao luxo de errar, ou “dar azar”.

2023 parece ser o ano que o destino está se encarregando de corrigir os erros e injustiças cometidos pelo próprio Alonso. O além está cansado de ver tanto talento desperdiçado por gestão de carreira ruim, relacionamentos conflituosos e um talento reconhecido por todos sendo coadjuvante, sendo relembrado apenas pelo passado.

Os sinais estão aí. Tudo parece conspirar para o momento derradeiro, o inevitável, o que todos esperam. Mônaco foi um pequeno ensaio. A mentalidade do espanhol e da equipe são a mesma: tudo ou nada. Legal, já tivemos alguns pódios, mas vivemos de vitórias. A glória eterna e libertadora.

E o destino, aquele que parece ser imutável, nos prega um capítulo esperançoso. Sinais, fortes sinais. Esta semana tem corrida na Espanha, palco de duas vitórias em casa (sem contar Valência) e onde foi também o último triunfo de Don Fernando Alonso.

Lembro como se fosse hoje, assistindo ainda na casa do meu pai. Ainda era menor de idade. Dez anos depois, como uma fênix que deixa todo mundo boquiaberto, ele ressurge, mais forte do que nunca.

Vamos acreditar nos sinais, mesmo assim, o que importa é a jornada. A única coisa que não nos podem tirar, ainda, é o direito de sonhar e tentar perverter a realidade.

Até!

terça-feira, 16 de maio de 2023

O BICHO TÁ PEGANDO

 

Foto: Getty Images

Se a F1 nas pistas está bem amena, a situação fora dela já começou a esquentar.

Ainda estamos no início da temporada, mas reações imediatas já prometem abalar as estruturas.

Começando pela Alpine. Em tese, a quarta montadora deveria se aproximar ainda mais das outras três grandes. No entanto, não é esse o resultado que estamos vendo aqui.

Desde problemas nos carros até erros e batidas dos pilotos (incluindo um no outro na Austrália), o CEO da Alpine, Laurent Rossi, já colocou a boca no trombone.

Em entrevista para a imprensa francesa na semana passada, ele basicamente esbravejou que a equipe deveria estar muito melhor na tabela, no desempenho e na distância em relação as outras favoritas e jogou tudo nas costas do chefão da equipe, Otmar Szafnauer.

Ele também afirmou que, se as coisas não melhorarem, ele não vai ficar de braços cruzados. Mudanças vão acontecer, mesmo que sejam bruscas.

Bem, a Renault há tempos tem esse histórico conturbado internamente. Uma equipe que cresce a passos bem tímidos, digamos assim. Apenas uma vitória desde que retornou como equipe.

Bem, Otmar também não geriu bem a questão Piastri e Alonso, além do conhecido relacionamento conturbado entre Ocon e Gasly, mas a culpa não é só dele. A bagunça administrativa que fez o time perder uma de suas promessas também é culpa da alta cúpula.

Se tratando dos franceses, não duvido que tudo isso seja algum motivo para novamente sair da F1, visto que o Pacto de Concórdia precisa ser renovado e, é claro, tudo precisa estar minimamente conforme os interesses da companhia.

Outra notícia forte, mas não surpreendente, é que a batata tá assando para Nyck De Vries. O campeão da F2, estreante aos 27 anos, não pontuou na temporada, assim como o outro rookie Logan Sargeant. O desempenho bem inferior em relação a Tsunoda e as batidas podem estar rendendo um ultimato.

Helmut Marko teria decretado: se as coisas não melhorarem nas próximas etapas europeias, o holandês será sacado do time. E quem seria o favorito? Daniel Ricciardo, hoje reserva da Red Bull.

Liam Lawson, hoje na Super Fórmula japonesa, também corre por fora.

Vamos por partes. Marko destruir a carreira de alguém e queimá-la tão rápido não é surpresa, mas o holandês não se ajuda. No entanto, o tempo para adaptação na F1 hoje em dia é grande. É brutal a diferença de um F2 ou FE para os atuais F1. Nyck precisa de resultados e de tempo, mas no momento é improvável ter os dois a favor.

Sobre o substituto, a própria Red Bull poderia ter colocado Lawson ao invés de trazer alguém de fora para a equipe B, por isso descartaria Lawson. Ricciardo não quis ir para a Haas e ainda está recebendo da McLaren, uma ida tampão para a Alpha Tauri não faz sentido nenhum.

Quer dizer, pode ser um all-in. Vai que ele se imponha diante de Tsunoda e ande mais que o carro, onde a equipe está jogada as traças e já pensando no futuro, se é que ele pode existir.

No entanto, imagina se ele perde para o japonês? Não seria anormal, pois precisaria se acostumar ao carro e a equipe. Enfim, Ricciardo já velho voltando para a Alpha Tauri não faz sentido nenhum, assim como a própria chegada de De Vries.

Sem um grande talento pronto para subir, os taurinos assumiram o risco de bater cabeça nessa escolha. Tirar De Vries para queimar outro talento que certamente ainda não está pronto também não parece prudente e inteligente.

São os bastidores já pegando fogo, e as coisas prometem esquentar ainda mais com o passar do ano, seja pelas especulações de pilotos, seja o Pacto de Concórdia, 2026 ou qualquer outro tema... Afinal, são 23 corridas. É preciso ter assunto para gerar tanto conteúdo, ainda mais que teremos um massacre taurino durante o ano.

Até!

terça-feira, 14 de março de 2023

2021, O DELÍRIO E A NOVA ERA

 

Foto: Getty Images

A temporada fantástica em termos de emoção, drama e polêmica, com contornos de filme hollywoodiano, fez com que a F1 estourasse fora da bolha em 2021. Ainda em um mundo no final da pandemia, a rivalidade entre o midiático Lewis Hamilton e o grande ídolo da bolha hardcore da F1, Max Verstappen, catapultou o sucesso da audiência da F1.

A série da Netflix e os movimentos da Liberty Media desde 2016 tiveram o grande ápice em dezembro de 2021. Ápice e decadência. A decisão do campeonato foi muito contestada, como vocês sabem. Basicamente, o então diretor de provas Michael Mais fez uma interpretação pessoal do regulamento e isso ajudou Max a ganhar o primeiro título. Mais do que isso, derrotar uma hegemonia.

Para quem não era muito afeito a categoria, poderia se pensar que a F1 deveria ser assim sempre. Emoção até a última volta da última corrida. Como vocês sabem, 2021 foi uma ilusão, um ponto fora da curva. A F1 é feita de hegemonias.

Pegando desde os anos 1980, tivemos os domínios absolutas da McLaren Honda, a Williams dos anos 1990, a Ferrari de Schumacher, a Red Bull de Vettel e a Mercedes de Hamilton. Se atentem a um detalhe.

Com os regulamentos e eras mudando esporadicamente, não é coincidência que tivemos três hegemonias consecutivas, praticamente. Schumacher, Vettel e Hamilton. Cinco, quatro e sete anos, respectivamente.

Carros dominantes sempre existiram em uma temporada, talvez duas ou três. Tivemos a Benetton de Schumacher, a McLaren do Hakkinen, a Renault de Alonso. O detalhe fundamental: naquela época, os testes eram livres e ilimitados. Equipes com estrutura podiam recuperar terreno no mesmo ano caso o início fosse complicado. Foi assim que a Ferrari garantiu o hexa para Schumacher em 2003, por exemplo.

A McLaren, na primeira corrida de 1998, deu volta em quase todo mundo. Se fosse com o regulamento atual, eles teriam vencido quase todas as corridas. No entanto, as equipes se desenvolveram e houve uma luta pelo campeonato, embora naquele ano Mika Hakkinen tenha garantido o primeiro título da carreira.

A troca de forças da F1 depende de novos regulamentos e desenvolvimentos de projetos a longo prazo. O primeiro caso é o famoso conto de fadas da Brawn. Uma leitura diferenciada do regulamento e a história foi feita.

Red Bull e Mercedes tiveram um carro bem nascido e, no caso dos alemães, uma grande vantagem inicial com o motor. Tanto é que a Williams, um dos piores carros do grid, passou a andar na frente justamente pela superioridade do motor alemão em relação aos demais.

Em regulamentos novos, é preciso tempo para que o equilíbrio seja alcançado. Vejam quanto tempo a Ferrari e a Honda demoraram para ser competitivas. A Renault ainda não chegou lá. 2021 foi o final de todo um processo.

Agora, com o novo regulamento iniciado no ano passado e que vai durar mais três ou quatro temporadas, a vantagem é da Red Bull. A Mercedes perde terreno ao fazer uma aposta equivocada. Sem testes ilimitados, vai demorar para que Ferrari, Mercedes ou qualquer outra cheguem no ápice do desenvolvimento. A Red Bull vai fazer isso primeiro. Talvez, no último ano do regulamento, possamos ter esse equilíbrio maior de forças.

Portanto, 2021 é uma ilusão. A F1 é feita de eras. A F1 moderna é construída por eras cada vez maiores. No momento, estamos no tempo de Max Verstappen e da Red Bull. Acostumem-se até, quem sabe, a chegada do novo regulamento.

Até!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

MEDO, DELÍRIO E ESPERANÇA

 

Foto: Getty Images

A grande notícia desse início de ano da F1, ainda de férias ou então num retorno lento aos trabalhos no início do inverno europeu, foi a declaração mais incisiva da Andretti no desejo de entrar na F1 como uma equipe.

Não só em declaração, mas também em uma ação. Michael Andretti anunciou o projeto da equipe Andretti em parceria com a gigante General Motors, com o apoio dos motores Cadillac. No primeiro momento, pela falta de tempo, o nome seria apenas um batismo de marketing e a busca seria com uma parceira, por exemplo a Honda ou a Renault. Depois, os americanos entrariam de cabeça para serem competitivos.

No início do ano, o presidente da FIA, Mohammed Bin Sulayem, disse que a categoria estava disposta e precisava de mais equipes na F1. Há uma nítida rixa entre a Federação e a F1. Stefano Domenicali sempre foi mais frio e esnoba o desejo americano, assim como a maioria das equipes. Somente Alpine e McLaren, do também americano Zak Brown, que hoje são favoráveis a ideia da inserção de Andretti.

Há aí o choque: a F1 não quer mais uma equipe porque as equipes teriam que repartir em mais uma parte o bolo do que ganham. Isso, claro, num contexto de crise, pós-pandemia e novo regulamento, é um desastre para todos, sobretudo quem está no meio e final de tabela. A F1 não quer repetir a última experiência, quando Marussia, Caterham e HRT entraram e pareciam times de GP2 na categoria principal.

Bom, o processo é lento. A Honda demorou anos para ser competitiva. Grandes montadoras fracassaram. Só agora que a Alpine é quarta força e, em seis anos, teve apenas uma vitória. A Andretti não é liderada por amadores aventureiros. Claro, a F1 é um animal diferente, mas o descrédito existente da categoria com os americanos é surreal. É contra a lógica, aliás.

Com três corridas no calendário e agora Logan Sargeant, outro time americano, com Colton Herta, seria mais um passo para popularizar ainda mais a categoria na terra do Tio Sam, trazendo mais visibilidade, engajamento e oportunidade de negócios para todos os envolvidos. É uma mesquinharia do clubinho europeu, no fundo, esse protecionismo de Domenicali e os times. O que os compatriotas da Liberty pensam sobre isso?

A palavra é esperança. Não, isso não é uma peça publicitária de banco, supermercado ou manteiga, mas a insistência da Andretti (e de outros projetos, segundo Domenicali), a insistência e aprovação da FIA e a presença dos americanos da Liberty na liderança do negócio é um ótimo sinal. Vai ser difícil desatar esse nó com os times e o lado europeu mas, em todo caso, Ben Sulayem poderia dar uma canetada. Afinal, ele quem manda, certo?

Mais equipes são mais trabalhadores, pilotos, patrocínios e um circo cada vez mais cheio. O bolo cresce, não diminui. Ok, ele pode diminuir no primeiro momento e isso soa desesperador para quem não tem os bolsos fundos, mas estamos falando da Andretti. Há de se ter crédito e respeito por esse sobrenome tão importante no automobilismo. A F1 precisa de no mínimo mais uma equipe para o bem da própria competição.

Chega de soluções artificiais e Netflix. A F1 precisa de medidas realmente eficazes e realmente competitivas para que a categoria cresça ainda mais, de forma natural, fluida e próspera em todos os sentidos. Que esse seja o primeiro sopro de esperança da Andretti nessa jornada rumo a 2026, que já tem a Audi e, esperamos, também tenha a Porsche acompanhada do grande sonho americano.

Até!

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O REAL SIGNIFICADO

 

Foto: Getty Images

A despedida de Sebastian Vettel teve elementos muito interessantes. O post não é sobre a carreira e o legado do tetracampeão, que já foram exaustivamente destacados ao longo do ano, quando o alemão anunciou que estava se retirando.

O simbolismo do fim ficou evidenciado em duas ações da semana. O jantar organizado por Lewis Hamilton. Um grande gesto. Reuniu todos os pilotos, sem exceção. Ali não era lugar para as birras.

Vettel, mesmo campeão e muitas vezes impulsivo nas disputas, principalmente com Hamilton naquele incidente do Azerbaijão, conseguiu mudar a visão enquanto competidor com os adversários. Claro, não ser protagonista ajuda. A vilania é substituída pela empatia, o humor, o carisma e o cuidado que o alemão tinha com todos, da saúde até as condições de pista. Foi uma das vozes dos pilotos, conforme foi amadurecendo e virando o que virou na categoria.

O reconhecimento do heptacampeão não é somente pelo número ou pela promoção pessoal. Há algo genuíno porque Vettel foi praticamente a única figura relevante a defender o heptacampeão em suas empreitadas durante a F1 dos últimos anos, principalmente na pandemia.

Desde os gestos antirracistas, os protestos pelo mundo, a luta por um esporte e uma sociedade mais igualitária e sem se calar perante aos absurdos da FIA, como encher o saco sobre piercings, Vettel foi um importante aliado. Seb não precisa de holofotes. Só criou rede social para anunciar que estava saindo e colocando luz em outra paixão: a questão ambiental, a preservação do nosso mundo.

Sai o piloto, vem o “ativista”, o “militante”. Não quero usar de forma debochada ou negativa essas palavras, que fique evidente para todos. É o novo capítulo de Vettel. Hamilton percebeu a outra luta do alemão. Ele não precisa ser tão vocal ou midiático. Mesmo discreto é o suficiente porque é Sebastian Vettel. Por isso o respeito genuíno de Lewis Hamilton.

Outra questão mais surpreendente foi Alonso. A rivalidade visceral da década. Tudo bem, o espanhol levou a pior em todas, mas foi o cara que mais fez Vettel suar lá no ápice, desde a pista até os famosos “jogos mentais” do bicampeão, que enfrentava um jovem que, no fim da jornada, virou um homem tetracampeão.

Por isso se alguém voltasse com uma máquina do tempo para Interlagos, em 2012, e falasse que:

- Em dez anos, Vettel se aposenta e Alonso vai correr com um capacete em homenagem ao alemão!

A reação seria de risadas ou simplesmente achar o autor da frase um lunático. O gesto surpreendeu porque sim, a rivalidade diminuiu, os dois viraram coadjuvantes do grid, mas nunca houve essa “amizade”.

Não digo que foi um gesto falso. Alonso também sabe manipular o jogo da atenção. A questão é o seguinte:

Hamilton e Alonso são os mais experientes no grid. Os únicos contemporâneos. Por razões diferentes, o mesmo efeito: a saída de Vettel simboliza uma parte deles que se vai junto.

Tal qual Nadal e Djokovic sentindo que a aposentadoria de Roger Federer é um pedaço da rivalidade, dos bons e dos maus momentos indo embora, um tetracampeão dar adeus ao esporte é um recado não só para os campeões, mas sim para todos nós: o tempo é implacável.

Até!


terça-feira, 30 de agosto de 2022

RETRÔ E VINTAGE

Foto: Getty Images

 Grandes rivalidades encerram-se quando, obviamente, os dois não têm mais o que dar, um dos dois já é muito superior ou quando os parâmetros de competição não são os mesmos.

Será que as rivalidades realmente acabam? Só ver o caso Hamilton e Vettel, por exemplo. De Vettel jogar o carro e querer brigar até a admiração pública mútua, o que mudou? Bem, Hamilton conquistou dois títulos contra o alemão, que entrou em declínio. Não era mais um adversário direto, o principal. Concorrência superada.

Claro: os posicionamentos extrapista também fazem a diferença, mas os dois não são vistos como iguais porque Hamilton aniquilou qualquer dúvida que pudesse existir entre ele e Vettel.

O texto fala de outro rival do Sir: o maior da carreira. Sim, muito maior que Rosberg. Tão intensa quanto explosiva, ela também ajudou a moldar a carreira do maior nome da história da categoria, em números.

A rivalidade com Alonso esfriou na última década pelo motivo óbvio: o espanhol, pelo temperamento difícil, deixou de ocupar os principais assentos da F1. Relegado ao pelotão intermediário pelas escolhas equivocadas da carreira, não haveria o que disputar. A rivalidade estaria no passado e no campo da hipótese.

Ou Alonso voltaria ao topo ou Hamilton teria que baixar o padrão. Aconteceu a segunda opção. Nesse meio tempo sem disputas relevantes, os dois manteram a boa política. Elogios mútuos, homenagens quando o espanhol saiu da F1 pela primeira vez e muito respeito. Para Hamilton, faz todo o sentido: valorizar o bicampeão por ter dividido a mesma equipe quando estreante e no auge de Fernando só engrandece o feito.

Se Alonso e Hamilton estão distantes nos números, em termos de qualidade não. Muito pelo contrário. É claro que a comparação fica prejudicada pela carreira errática na gestão de escolhas que a Fênix fez, mas aí há um bom debate: quem é ou foi melhor?

Não é esse o intuito do texto de hoje. Na verdade, a abordagem é simples: com os dois no pelotão intermediário, ambos disputam os mesmos objetivos. Tudo bem, a Mercedes está alguns degraus a frente. No entanto, nunca esteve tão fragilizada em uma década, comparando-se com si mesmo e os rivais.

Então, num ambiente e num esporte naturalmente competitivo, com pessoas que competem desde a infância no kart, tudo vale alguma coisa. Não é só apenas a vitória ou um título. É espaço, prestígio, ego, a vitória psicológica.

Hamilton e Alonso juntos sempre vai ter aquela lembrança cada vez mais distante de 2007. Quinze anos. Os dois mais longevos do grid. Agora, há chance maior de competir. Por isso o incidente de ontem não é apenas um erro de cálculo ou algo de corrida. É simbólico.

É retrô e vintage, porque remete a um passado relativamente próximo e está em ótimo estado de conservação. Para Alonso, tem uma importância maior. A chance de tirar uma casquinha, de mostrar o que poderia ter sido se simplesmente fizesse uma leitura melhor da carreira e do temperamento. Por isso a reação explosiva no rádio.

Evidente que isso é normal no calor do momento, mas reparem: “Hamilton só sabe largar quando está na frente”. Há, no entendimento do espanhol, uma deficiência no Sir, mascarada por ter sempre um carro competitivo e/ou dominante a carreira toda enquanto o espanhol precisou se “provar mais”.

Hamilton deu o pulo do gato que Alonso gostaria quando foi para a Mercedes. O resto é história. Por isso que há mais animosidade do espanhol do que o contrário. Quem perde não esquece. Claro, eles ficaram empatados em pontos em 2007 e perderam o título para Raikkonen.

Alonso era o bicampeão e sucessor de Schumacher. Hamilton era apenas o novato protegido por Ron Dennis que, com o passar do tempo, provou que também era um piloto diferente. Não só em 2007, mas vocês já sabem...

Hamilton e Vettel “roubaram” o trono que estava destinado a ser de Alonso, o responsável por encerrar a Era Schumacher. Foi encerrado pelos dois talentos prodígios. Para o ego e a competitividade de alguém, isso dói muito. Desde então, mesmo tentando, a Fênix não conseguiu novos títulos e ficou sempre no campo da hipótese: “ah se tivesse um carro bom...”

Um ressentimento de 15 anos. Na explosão do momento, Alonso deixou explícito o que pensa de Hamilton. O inglês não precisa retrucar porque sempre soube disso e talvez seja recíproco. É natural se não for, porque o tempo deu razão a Lewis para conquistar e dividir a atenção com outros adversários menos intensos e mais estressantes, como Nico Rosberg e agora Max Verstappen.

Para Alonso, é uma chance de uma mínima reparação. Por isso, a cada disputa, roda com roda e entrevistas, não é apenas uma situação de corrida. São 15 anos de uma temporada que mudou a carreira dos dois. Melhor para Hamilton.

Isso também serviu para mostrar aos mais novos um pouco do que era aquilo. Hamilton, com a segurança de ser o nome mais popular do esporte no momento, tem nos títulos e na experiência a condição necessária para responder a altura.

Sempre praticando os jogos mentais via imprensa, rádio e gestos, Alonso nunca se furtou de ser o anti-herói e o vilão. Ele sempre teve essa natureza mesmo agora, quando ficou mais divertido e carismático conforme ficava cada vez mais longe das glórias. Ele sabe que irrita e por isso o faz. Por isso também é único.

Quantas disputas épicas poderíamos ter nos últimos nove anos se dessem um carro decente para Alonso? O que seria dessa rivalidade, que em um ano já virou uma das maiores da história da categoria e digna de filme? Perguntas que a F1 não quis responder.

Resta nos contentar com as migalhas que valem algum lugar entre os 10 ou o pódio. Tudo bem. Não é sobre as posições, e sim sobre as personalidades e o carisma.

Todo campeão precisa de um antagonista. Lauda e Hunt. Senna e Prost. Hamillton e Verstappen. Rosberg. Alonso.

Os circuitos relevam muito mais que as qualidades técnicas dos pilotos, como vocês já puderam entender, eu acho. Muito mais.

Até!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

TENTANDO ENTENDER PIASTRI

 

Foto: Divulgação

Não são muitos que estreiam na F1 direto na equipe principal. Assim como no futebol, por exemplo, é normal que os jovens talentos se desenvolvam e ganham experiência em outras equipes até maturar e chegar em outro estágio no time principal.

Na F1, lembro apenas de quatro casos onde os jovens pilotos já chegaram nas equipes principais sem nenhum tempero: um certo Lewis Hamilton, para competir contra um então bicampeão Fernando Alonso e ambos recém-chegados ao time, Kevin Magnussen, numa McLaren que já começava a decadência e Stoffel Vandoorne, quando a McLaren já era decadente e tentava se reerguer com a Honda e mais recentemente Lando Norris. Todos na McLaren, apadrinhados pelos chefes da época.

Os três casos em comum: a McLaren e seu programa de pilotos. Se pegarmos os outros talentos das grandes montadoras, a história é a mesma. Raikkonen fez uma temporada na Sauber e já foi contratado para substituir Hakkinen, na McLaren. Alonso começou na Minardi, virou piloto de testes e em 2003 virou piloto Renault. Massa teve algumas temporadas na Sauber até ser efetivado na Ferrari. Leclerc ficou um ano na mesma sauber até substituir Raikkonen na Scuderia. Mick Schumacher está na Haas. Max Verstappen teve um ano e algumas corridas na Toro Rosso, assim como Vettel e Ricciardo. Russell esperou três anos na Williams para chegar na Mercedes, e por aí vai.

É a disciplina do estágio obrigatório. Voltamos para 2022. O contexto é outro, especialmente na Alpine/Renault. Por não ter nenhuma cliente no grid, fica complicado o empréstimo para outras equipes, embora a Red Bull tenha conseguido desovar Albon na Williams, que ainda é parceira de motores da Mercedes.

Oscar Piastri, campeão da F2 ano passado, foi penalizado por isso. A Alpine renovou por alguns anos com Ocon e tinha Fernando Alonso no final da carreira por ali. Mesmo sem mostrar sinais da idade, os franceses tinham um “bom” problema: acomodar os dois ativos do time.

A Alpine desconfiava da idade de Alonso e por isso não queria um contrato longo com o espanhol. Ao mesmo tempo, desejava estrear Piastri de uma vez. No contrato de desenvolvimento, os franceses tinham até 31/07 para definir a situação do australiano.

O problema é que a Alpine não resolveu nada. Ficou enrolando Alonso e não se decidia sobre Piastri. O espanhol parecia refém da situação até surgir o anúncio da aposentadoria de Sebastian Vettel. Uma benção.

Vamos voltar para o dia 17 de julho. “Eu não estava na equipe quando contrataram Fernando." Palavras de Otmar Szafnauer, na semana do GP da França. A impressão que fica é que foi nesse momento que tudo azedou. Afirmar isso assim, publicamente? Não se desrespeita um bicampeão assim.

Alonso se uniu com Stroll para ferrar um inimigo em comum: Otmar. Se a Alpine não desocupou a moita, o espanhol esperou o momento certo para se vingar e colocar os franceses em saia justa.

Mas se a Alpine queria Piastri, por que Piastri não quer a Alpine?

Não podemos descartar alguma ligação entre Alonso e Mark Webber, o empresário de Oscar. Bons amigos do tempo de F1. Se os franceses tinham planos óbvios de subir o talento australiano, o que aconteceu para Piastri e o seu staff optarem pela McLaren?

Novas informações dos últimos dias tentam elucidar o caso. A informação é que Piastri teria assinado com a McLaren para ser reserva em 2023 e ser só titular em 2024, quando termina o contrato de Daniel Ricciardo.

A pergunta que só os australianos sabem a resposta? Por que não ir para a Alpine em 2023 e depois tentar uma transferência para a McLaren? Qual foi a falta de comunicação? Eles acharam que Alonso continuaria? Aliás, a Alpine só queria renovar por um ano. Diante dessa informação, é possível entender que o Piastri sentiu que teria que esperar mais do que um ano.

Na Alpine, talvez, seriam mais dois como reserva ao invés de um. E tem outra questão: Alpine e McLaren disputam hoje o posto de quarta força no campeonato. Como será que vão se desenvolver ao longo dos anos com esse regulamento?

Onde Piastri vai correr? O litígio foi a escolha certa? Qual equipe terá a decisão mais acertada? Piastri vai correr na F1?

Tentei entender o australiano, mas a verdade é que só encontrei mais dúvidas.

Até!


terça-feira, 15 de março de 2022

GUIA F1 2022: PARTE 1

 

Foto: Mark Sutton/Sutton Images

Olá, amigos! Finalmente a F1 está de volta a partir desta semana, iniciando a temporada de 2022. O ano promete muitas mudanças no regulamento, o que talvez possa proporcionar novas hierarquias dentro do grid. Vamos conferir o que muda na F1 e como chegam as 10 equipes para a abertura da temporada, no Bahrein?

O novo regulamento técnico era para ter entrado na categoria no ano passado, mas foi adiado para 2022 em virtude do coronavírus. O novo carro vai ter “uma asa dianteira maior e integrada com os pratos laterais, calotas nas rodas e aletas cobrindo os pneus, além de refazer completamente o design da asa traseira.” (GE, 2022).

Outro retorno importante é do efeito solo, ausente da F1 há 40 anos. O efeito solo consiste quando “a maior parte da pressão aerodinâmica é gerada pelo assoalho do carro e não pelas asas e demais apêndices”. A expectativa é que, assim, os carros possam andar mais próximos e com menos turbulência, proporcionando mais disputas na pista. Os carros também aumentaram o peso mínimo, o que deixa o bólido de 2022 mais lento em comparação com os carros das últimas temporadas.

Os carros também vão ter pneus maiores, com aro 18, que já estão sendo testados de forma tímida na F1 há um bom tempo mas que só agora foram totalmente implementados na categoria.

Agora, a primeira parte do post  com as informações de Red Bull, Mercedes, Ferrari, McLaren e Alpine!

ORACLE RED BULL RACING


Foto: Divulgação/Red Bull

ORACLE RED BULL RACING

PILOTOS: MAX VERSTAPPEN (#1) E SÉRGIO PÉREZ (#11)

Título de Pilotos: 5 (2010, 2011, 2012, 2013 e 2021)

Título de Construtores: 4 (2010, 2011, 2012 e 2013)

Vitórias: 75

Pódios: 206

Pole Positions: 73

Voltas Rápidas: 76

Finalmente voltando a defender o título, ao menos de pilotos, a Red Bull agora quer a dobradinha e conquistar também os construtores, usando o motor Honda mas agora com desenvolvimento próprio. Com contrato renovado até 2028, Max Verstappen quer iniciar a nova era junto com o novo regulamento. Qualidade ele tem de sobra e mostrou força no jogo mental, embora ainda falte um pouco de tempero no ímpeto do agora campeão. Pérez, o fiel escudeiro, precisa ser mais regular para ajudar Max, tanto para manter o emprego quanto para ajudar a Red Bull, pois a disputa com a Mercedes tende a ser ainda mais difícil agora que os alemães estão com sangue novo inglês na equipe.

MERCEDES-AMG PETRONAS F1 TEAM

Foto: Divulgação/Mercedes

PILOTOS: LEWIS HAMILTON (#44) E GEORGE RUSSELL (#63)

Título de Pilotos: 9 (1954, 1955, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020)

Título de Construtores: 8 (2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021)

Vitórias: 124

Pódios: 264

Pole Positions: 135

Voltas Rápidas: 94

Com Hamilton e Toto Wolff mordidos pelo fim da última temporada, a Mercedes promete “vingança” para reconquistar o título de pilotos e buscar o eneacampeonato consecutivo de construtores, recorde absoluto. Dessa vez, o time finalmente subiu George Russell para a equipe principal, depois de uma temporada de destaque na Williams. O jovem inglês pode ser o “novo Hamilton”, o prodígio que chegou na equipe grande e incomodou o veterano multicampeão, a exemplo do que Lewis fez quando chegou na F1, em 2007. Será?

SCUDERIA FERRARI

Foto: Divulgação/Ferrari

PILOTOS: CARLOS SAINZ JR (#55) E CHARLES LECLERC (#16)

Título de Pilotos: 15 (1952, 1953, 1956, 1958, 1961, 1964, 1975, 1977, 1979, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2007)

Título de Construtores: 16 (1961, 1964, 1975, 1976, 1977, 1979, 1982, 1983, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2007 e 2008)

Vitórias: 238

Pódios: 778

Pole Positions: 230

Voltas Rápidas: 254

A maior campeã da F1 aos poucos tenta retomar o protagonismo. O incomodo de 15 temporadas sem título já é grande. Com a dupla de pilotos mantida, o muito regular Carlos Sainz superou o talentoso Leclerc ano passado. Aliás, consistência foi o forte dos dois em 2021 e esse pode ser o grande trunfo para 2022. Com o novo regulamento, a chance de um pulo do gato para brigar com Red Bull e Mercedes outra vez é a grande esperança dos tifosi, pois há pilotos bons, mas falta uma boa gestão, e Mattia Binotto precisa colocar a Ferrari no lugar que ela deveria estar.

 

McLAREN F1 TEAM

Foto: RaceFans

PILOTOS: LANDO NORRIS (#4) E DANIEL RICCIARDO (#3)

Título de Pilotos: 12 (1974, 1976, 1984, 1985, 1986, 1988, 1989, 1990, 1991, 1998, 1999 e 2008)

Título de Construtores: 8 (1974, 1984, 1985, 1988, 1989, 1990, 1991 e 1998)

Vitórias: 183

Pódios: 493

Pole Positions: 156

Voltas Rápidas: 160

Ano passado a McLaren quebrou o jejum de vitórias que durava quase uma década, então o compromisso é por mais. Se houve uma queda na regularidade no final da temporada, o time de Woking aposta no crescimento de Lando Norris para seguir evoluindo. Ricciardo, contratado a peso de ouro, teve uma temporada decepcionante, apesar de ter sido o único a vencer no ano na única dobradinha de uma equipe em 2021. Entra pressionado para que a McLaren também, aos poucos, tente exercer o velho protagonismo na F1.

BWT ALPINE F1 TEAM

Foto: Divulgação/Alpine

PILOTOS: FERNANDO ALONSO (#14) E ESTEBAN OCON (#31)

Vitórias: 1

Pódios: 2

A agora Alpine teve uma temporada de afirmação. Ocon foi o responsável pela “primeira vitória” da nova nomenclatura e a primeira da Renault desde 2008. No retorno a categoria, Alonso manteve a forma e conquistou um pódio. É no novo regulamento que o bicampeão aposta em  um improvável conto de fadas para buscar o tão sonhado tri. Ocon precisa manter a regularidade para ajudar os franceses a figurar na zona de pontos durante o ano.

Nos próximos dias publico a segunda parte! Até mais!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

PUNIDO POR SER BOM

 

Foto: Divulgação/F2

Quando um jovem piloto vence a F3, o passo natural é chegar na F2, o último antes da F1. Dependendo do carro e do talento, teoricamente vira uma questão de tempo para chegar na principal categoria do automobilismo.

Quando você tem talento, vence a F3 e é filiado a uma academia de pilotos, tudo fica mais fácil, principalmente se você vence a F2 na primeira temporada, certo? Não tem nem discussão.

O australiano Oscar Piastri repetiu o feito de Charles Leclerc, por exemplo, mas a recompensa não foi a mesma. Por quê?

Bom, primeiro vamos analisar a conjuntura onde Piastri está inserido. Sendo piloto da Alpine, juntamente com Lundgaard, o brasileiro Caio Collet e outros, já existe uma pequena desvantagem em relação a Ferrari e Mercedes, que possuem influências em outras equipes. A Alpine/Renault só tem a própria equipe, então as vagas ficam limitadas aos dois titulares.

O caso de Zhou é diferente: ex-Alpine, conseguiu muito dinheiro dos patrocinadores e foi parar na Alfa Romeo, então não foi uma ascensão puramente técnica, fecha parênteses.

Esteban Ocon, outrora piloto da Mercedes e sempre relacionado a Renault, tem um pódio e uma vitória nas últimas duas temporadas. Vem evoluindo junto com a equipe. A confiança é tanta que renovou até 2024.

No outro lado, está simplesmente Fernando Alonso. Ele define quando vai sair de cena. A princípio, 2022 pode ser definitivamente o último ano do espanhol na categoria. Vai depender de como vai estar o carro francês em relação aos demais.

Como o campeão da Fórmula 2 não pode correr na categoria no ano seguinte, Piastri ficou num beco sem saída. A Super Fórmula, do Japão, seria uma alternativa, o problema é que o Covid acabou com os planos. Deixar o jovem australiano na Fórmula E, WEC ou DTM também não é o ideal porque são carros diferentes.

É por isso que Piastri, em tese, foi alavancado para piloto de testes, ou piloto reserva, como queiram. Na teoria, o australiano vai aprender ainda mais e se preparar para provavelmente substituir Alonso no curto prazo. Na prática, duvido.

Ser piloto reserva e nada é a mesma coisa. Depender de alguém se acidentar ou ter covid é demais. Lembro que um outro campeão da antes GP2 esteve na mesma situação. Davide Valsecchi virou o reserva da Lotus para 2013. Quando Raikkonen brigou e saiu do time no final da temporada, era natural o jovem ter a grande chance. Realidade: a Lotus optou por contratar Kovalainen.

É por isso que não empolgo com essa situação de Oscar Piastri. Ele teve “azar” de não estar em uma montadora mais influente na F1, mas tudo isso poderia ser resolvido se a categoria não fosse um clubinho de três montadoras, uma DTM com grife. Com mais equipes, há mais chances para jovens e experientes pilotos, o que amenizaria alguns casos, principalmente esse, que é bizarro.

Oscar Piastri está sendo punido por ser bom. A F1 deveria se preocupar com essas situações ao invés de forçar falsas competitividades e finais netflixeanos.

Até!


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

OUTLIER

 

Foto: Getty Images

O livro de Malcolm Gladwell, com o mesmo título, se propõe a explicar como e porquê algumas pessoas são mais bem sucedidas que as outras. Afinal, o que torna alguém "fora de série"? No livro, Gladwell deixa que não é apenas o "talento" ou o trabalho duro. Outras valências envolvem a geração, a profissão dos pais, a condição financeira, o local onde nasce e, claro, a sorte.

Esse texto aqui não pretende fazer uma ampla análise sobre Fernando Alonso, até porque nós já fizemos a biografia dele aqui, relembre nos posts de novembro e dezembro de 2018. O texto de hoje vai explicar e reiterar porque Alonso é um fora de série.

Que o espanhol é um piloto fantástico todos sabemos. A biografia da Fênix é conhecida. São décadas de sucesso. É claro que tem o outro lado: a má sorte, o temperamento difícil e escolhas equivocadas levaram o espanhol a um limbo. Mesmo bicampeão, era considerado um "talento desperdiçado" porque usou boa parte do fim da carreira como um figurante no meio do grid. Fruto, claro, de escolhas erradas (má sorte) e as portas que fechou por ser quem é (ou era). As vezes apenas o talento não basta.

Quando Alonso acertou o retorno a Renault/Alpine pela terceira vez, dois anos sem estar no grid e em vias de virar quarentão, o temor de ser um "novo Schumacher" era grande. No entanto, essa sensação não se confirmou por dois motivos: as regras não mudaram radicalmente e o espanhol, ao contrário do alemão, retornou ainda jovem e continuou competindo no automobilismo.

Era tudo uma questão de adaptação. Alonso sofreu no início da temporada. A "ferrugem" era evidente. Além do mais, viu o jovem companheiro Esteban Ocon ser o responsável pela primeira vitória dos franceses nesse retorno como escuderia. Uma pressão que o espanhol foi tirando de letra durante o ano. Mesmo sem vencer, Alonso tinha mais pontos e largava mais à frente.

A coroação veio ontem. Incrível pensar que alguém com tanto talento e gabarito tenha sido renegado a figurante. Alonso esteve diante dos nossos olhos em todo esse tempo, mas não tinha o que fazer, muito por culpa dele, é claro.

Aos 40 anos, Alonso faz uma temporada muito correta e, como escrevi na ocasião do retorno, agora devemos desfrutá-lo. Sabe-se lá o que vem pela frente, mas uma coisa é certa: pra mim, o espanhol superou as expectativas ainda nesse primeiro e talvez penúltimo ano do retorno e da carreira na F1.

A corrida em Lusail é um novo capítulo que explica porque Fernando Alonso é um outlier, um fora de série.

Até!

terça-feira, 22 de junho de 2021

ALPINE E A RENOVAÇÃO

 

Foto: Getty Images

O futuro da Alpine está definido no médio prazo. Alonso tem mais um ano de contrato e, na semana passada, a equipe anunciou a permanência de Esteban Ocon até 2024. O francês frisou que, agora, não tem mais vínculo algum com a Mercedes.

O contrato longo é uma grande vitória para Esteban que, vítima da própria Mercedes e de uma categoria com poucos carros, se viu forçado a fazer um ano sabático ainda com vinte e poucos anos. Apesar da incerteza, retornou em uma grande equipe de fábrica que sempre esteve de olho no talento, fechando definitivamente as portas com a Mercedes, que o colocou dentro do jogo.

Apesar de não ser um post para falar exclusivamente sobre isso, Ocon sempre foi considerado um prodígio mas até agora não engrenou. Enfrentou dura competição interna mas perdeu para todos. Conquistou um pódio no ano passado, o que tira essa pressão, mas fica claro que talvez não seja esse fenômeno que foi vendido, apenas um bom piloto.

O intuito do post é frisar que, sendo uma equipe de fábrica e com jovens pilotos na academia, a Renault fez uma escolha: Ocon tem um longo contrato e Alonso vai escolher quando se aposentar. Com isso, os jovens talentos da equipe não vão ter muito espaço por agora. Estou falando, é claro, de Guanyu Zhou, atual líder da F2, Christian Lundgaard e até o brasileiro Caio Collet, iniciando na F3 nessa temporada.

Diferente das outras montadoras, que podem desovar os jovens em outros carros, a Renault não tem essa opção. Apesar de reunir esses talentos, a montadora opta, por agora, em "brecar" a carreira desses jovens em prol de Ocon e do bicampeão Alonso. 

Como fica para o chinês, caso seja campeão da F2 nesse ano? Não dá para descartar um "chinês viável" na F1... mas isso é problema da Renault e assunto para mais adiante. A Alpine/Renault fez a sua escolha por agora.

Até!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

(SEM) VÍDEOS E CURTINHAS #41

 

Foto: Reprodução/Instagram

Olá, pessoal. Agora que estou de volta com o meu notebook, vou lançar os meus dois centavos sobre as notícias do automobilismo nos últimos dias ou o que eu lembrar delas, claro. Vamos lá:

Alonso: A fênix deu mais um susto. Ontem, foi atingido por um carro enquanto andava de bicicleta na Suíça. Por sorte, quebrou alguns dentes e teve fratura no maxilar. Ainda não se sabe em quais condições o espanhol estará atê o fim do mês, quando começam os preparativos para a temporada 2021. Mas, para a alegria dos bons, o espanhol soberbo, como uma fênix, está bem. Em todo o caso, Zhou e Hulkenberg devem estar preparados para o ofício. Bicicletas e rali, os grandes inimigos dos pilotos de Fórmula 1. Webber e Kubica que o digam.

Band e Rio: fim do mistério - A F1 volta para a Rede Bandeirantes depois de mais de 40 anos. A Liberty não chegou a um acordo com a Globo e sim com a emissora dos Saad. Mariana Becker também vai para lá, assim como o produtor Jaime Brito. Falta um narrador. Reginaldo Leme, contratado no fim do ano passado, volta aos comentários da F1. A emissora também tem a Stock Car, a Indy e adquiriu os direitos da F2 e F3 que, juntos com a classificação, serão transmitidos na BandSports, o canal pago da Band. Ou seja: não mudou quase nada, a F1 continua em TV aberta e com a F2 e a F3 na TV também, além dos campeonatos europeus. O acordo é por dois anos. No mínimo ansioso para ver o que sai disso aí. 

Vou tentar resumir o máximo possível: a prefeitura do Rio engavetou o tal projeto de corrida no meio da floresta. Sem Chase Carey e o pessoal da Rio Motorsports, o retorno de Eduardo Paes e a chegada de Stefano Domenicali como novo chefão da F1, tudo isso virou um monte de papel inútil. Ainda bem.

Invenções e motores: A Red Bull conseguiu o congelamento dos motores para 2022. Isso significa que, para o ano que vem, vai continuar tudo como está, e os taurinos podem comprar e adquirir o conhecimento técnico da Honda, futura ex-parceira no fim do ano. Os treinos livres agora duram apenas uma hora e querem votar corridas classificatórias com grid invertido para a corrida de domingo. Por que já não proíbem o Hamilton de correr, afinal? Tenho certeza que isso seria emocionante.

Último ano? Hamilton renovou com a Mercedes por uma temporada, ganhando entre 40 e 55 milhões de euros anuais. Foi uma negociação difícil e arrastada. Pensando em 2022, tanto Wolff quanto Hamilton parecem exaustos do sucesso. Parece que pode ser uma despedida para ambos nessa temporada, teoricamente a última onde supostamente a Mercedes teria ampla vantagem em relação aos demais. Para ganhar o octa de uma vez e curtir a vida de pop star. Hamilton tem o meu apoio.

Brasileiros na base: Vamos lá - Enzo Fittipaldi saiu da Academia da Ferrari e foi para a base da Indy. Deve voltar a priorizar o automobilismo americano. Outro que deixou a Academia dos italianos foi Gianluca Petecof, que conseguiu um assento da Campos para disputar a F2. Não é o melhor e Petecof não tem patrocínio, embora o empresário seja um dos sócios do time. Ele não vai ter tempo para se adaptar e terá o "veterano" Ralph Boschung como parceiro de equipe. O brasileiro vai ter que mostrar serviço para não encerrar o sonho cedo demais.

Felipe Drugovich foi para a Uni Virtuosi. Caio Collet, da Alpine/Renault, vai disputar a F3. Sempre bom lembrar que essa é a aposta de Felipe Massa como próximo brasileiro na F1, afinal ambos são empresariados por Nicolas Todt. Igor Fraga deixou a academia da Red Bull. Vai ser uma F2 interessante para os talentos brasileiros, uma pena que esse calendário ridículo afaste o interesse do fã mais casual. Sem sequência de corridas, vai ser complicado acompanhar religiosamente os torneios de base. Culpa do Covid ou do quão caro tornou-se o automobilismo, ou as duas coisas?

Só consigo lembrar disso... ah, o ainda em recuperação Grosjean vai para a Indy. Meu Deus, que nunca chegue perto de um circuito oval. 

É isso, voltarei quando o início da temporada se aproximar. 

Até!


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

ARREGAÇANDO AS MANGAS

 

Foto: Getty Images

Nesse ano, por decisão do CEO Luca Di Meo, a Renault será substituída pelo nome Alpine, da mesma marca, responsável pela produção dos carros esportivos dos franceses. Além de alavancar a marca, o CEO do grupo Renault não para por aí nas mudanças.

Fernando Alonso vai ter um novo chefe. Cyril Abiteboul, chefão da Renault desde o retorno do grupo como equipe em 2016, foi desligado do cargo. Marcin Budkowski, atual diretor esportivo, será o novo chefe.

Com uma evolução lenta e aquém do investimento de uma montadora, a Renault engrenou minimamente na última temporada, quando conseguiu três pódios. Ainda assim, é muito pouco, mesmo que o regulamento congelado e a ausência de testes também prejudique.

Ainda que a Alpine/Renault comece, aos poucos, a pensar alto, o trabalho de Abiteboul não foi bom. Muito bélico na relação com a Red Bull, não foi o líder necessário para que o desenvolvimento dos franceses fosse mais rápido. Talvez ser chefe de equipe não seja sua aptidão, tal qual a situação de Mattia Binotto na Ferrari.

Com Alonso e Alpine, o CEO Luca Di Meo dá um recado claro: não há mais tempo a perder. A Alpine/Renault precisa de uma evolução maior nas próximas temporadas. Do contrário, o futuro pode ser voltar a ser apenas uma fornecedora de motores, até porque a pandemia está causando estragos gigantescos para todos, inclusive as grandes corporações.

Até!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

ANÁLISE DA TEMPROADA 2020: Parte 1

 

Foto: Getty Images

Olá, pessoal. Nesse calendário maluco, o ano já está terminando e só agora é possível destrinchar uma análise desta temporada 2020 tão diferente. Nesta primeira parte, vamos analisar Mercedes, Ferrari, Red Bull, McLaren e Renault:

Foto: Getty Images

MERCEDES:

Lewis Hamilton – 10,0: Não tem muito o que escrever contra. A temporada de Hamilton só não foi totalmente perfeita em virtude do Covid que o derrubou em Sakhir. Ademais, venceu 11 corridas, fez história com o número de vitórias, campeonatos e está se aproximando das 100 poles. Além de veloz, é um piloto que sabe quando poupar e quando acelerar, tem um QI de corrida apuradíssimo. Melhor do que nunca, apenas o tempo pode bater Lewis Hamilton nesse momento;

Valtteri Bottas – 7,5: Não está no nível da Mercedes. Até começa bem, faz todo mundo pensar que “agora vai” e depois sucumbe. Foram várias corridas fracas e algumas horríveis, como Itália, Turquia e Sakhir. Também teve azar, mas ser dominado por George Russell deixa claro que 2021 deve ser seu último ano na Mercedes para vencer e fazer poles porque todos sabemos que não é adversário para Hamilton.

Foto: F1

FERRARI:

Charles Leclerc – 8,0: Diante de um carro ruim, Charles fez o que pode. Dois pódios inesperados e andando mais que o carro. É o jovem líder que os ferraristas precisam. Como todo jovem, é claro, ainda precisa amadurecer e parar com alguns barbeiragens ou se culpar tanto. Nesta temporada, mais uma vez não é possível absolver a Ferrari e o péssimo carro + motor. Charles vai precisar ter paciência e agir como um jovem líder que pode guiar o cavalinho rampante para os dias de glória.

Sebastian Vettel – 6,5: Demitido pelo telefone, fez uma temporada melancólica, seja pela pilotagem e colocação no campeonato, seja pelo evidente clima azedo entre ele e Mattia Binotto que nos deixam imaginar se o alemão realmente correu em igualdade de condições. O pódio na Turquia é um alento porque mostra que ali ainda existe alguém que se aproxime do tetracampeão que é. Em um novo (e último) desafio na Aston Martin, quem sabe a motivação e o apreço na montadora (apesar de Stroll) possam fazer voltar a velha forma.

Foto: Getty Images

RED BULL:

Max Verstappen – 8,5: Foi sempre constante. No entanto, quando a Mercedes vacilou, não aproveitou as chances. Se envolveu em alguns acidentes na primeira volta que lembraram o velho novo Max inconsequente. Quando for o protagonista pelo título, precisa rever esse comportamento. Sem um segundo piloto combativo, correu sozinho e se intrometeu constantemente entre Hamilton e Bottas. Fez seu papel, portanto. Precisa de carro para ser mais cobrado também.

Alexander Albon – 6,5: A boa vontade em defendê-lo mesmo sabendo que não está em igualdade a Max foi se esvaindo conforme passou a temporada. O contexto não ajuda, mas ele também não. Distante de Max e também do meio de tabela, conseguiu dois pódios por acaso, muito pouco pelo carro que tem. É verdade que no final foi mais constante, mas será que fez o suficiente para continuar na equipe? Por mim, que voltasse para a Alpha Tauri, mas o tailandês nascido e criado na Inglaterra não merece uma nova temporada na Red Bull.

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McLAREN:

Carlos Sainz Jr – 8,5: Constante. Sempre nos pontos e beliscando um pódio. Tem um ritmo de corrida muito bom e apesar dos azares e de saída, o espanhol segue em franca evolução. Não é o mais virtuoso, mas o que mais se aproxima da regularidade de Sérgio Pérez, por exemplo. É exatamente disso que precisa a Ferrari agora: um acumulador dos pontos disponíveis. É notável a evolução do espanhol desde quando chegou a F1.

Lando Norris – 8,0: Começou bem a temporada e foi caindo, igual a McLaren. É um bom piloto, talvez não aquele prodígio que foi vendido antes de estrear e principalmente na F2. A McLaren prova que é melhor ter uma boa dupla de pilotos do que um primeiro e um segundo declarados, não a toa os ingleses ficaram em terceiro na tabela mesmo sem ter o terceiro melhor carro do grid. O inglês precisa brilhar um pouco mais, mas a consistência é ótima para a idade que tem. O amigo Daniel Ricciardo é um teste e tanto.

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RENAULT:

Daniel Ricciardo – 8,0: Com a evolução da Renault, anda bem. É um grande piloto e merecia um carro que brigasse por vitórias, coisa que nem a própria McLaren ano que vem terá, mas é uma aposta com o motor Mercedes. Conseguiu pódios e andando na parte de cima, sendo regular. Uma pena que o tempo joga contra o australiano, então o jeito é torcer para um pulo do gato da McLaren no regulamento de 2022. Talento todos sabemos que ele tem.

Esteban Ocon – 7,0: Também não é aquele fenômeno que foi pintado antes, muito pelo contrário. Não sei se o ano ausente da F1 o deixou enferrujado, mas foi uma temporada bem mediana de Ocon, distante de Ricciardo. O pódio em Sakhir dá alento, esperança e confiança ao menos, até porque vai precisar: mesmo que Alonso esteja velho e enferrujado de dois anos ausentes da categoria, será um desafio logístico muito maior que o australiano, e bem menos amigável também. O francês está, sim, devendo.

E essa foi a primeira parte da análise. Nos próximos dias sai o post com as outras equipes.

Até!



domingo, 13 de dezembro de 2020

ZZZ...

 


Abu Dhabi é irritante, insuportável. Essa pista não dá mais. Não dá uma corrida boa ou com alguma lembrança marcante tirando 2010, 2012, 2014 e 2016. É sempre aquele clima de fim de festa, de pelada de fim de ano, despedidas e as pessoas pensando já no Natal e ano novo. Parece que só está lá para aquele foguetório e pirotecnia na chegada e mostrar o hotel. O traçado não tem atrativo algum.

Além do mais, hoje ainda tiveram azar. O Safety Car causado pelo abandono de Pérez fez todo mundo parar e ir com os pneus duros até o final. Uma verdadeira procissão. Vitória de Max Verstappen, seguido de Bottas que chegou a correr riscos contra o debilitado Lewis Hamilton em terceiro. Alexander Albon, distante de Max, ficou em quarto e não se sabe se fez o suficiente para a Red Bull para permanecer em 2021. Para o resto de nós, a resposta é óbvia.

Na sequência veio a dupla da McLaren, Lando Norris e Carlos Sainz Jr, que garantiram o terceiro lugar da equipe nos construtores, a melhor posição dos ingleses desde 2012. O renascimento é em passos lentos. Vejamos agora como será com o retorno da Mercedes na unidade de potência. Valeu a importância de ter dois pilotos semelhantes na equipe para garantir consistência e bons pontos. 

Ricciardo, Gasly, Ocon e Stroll completaram a pontuação. O canadense filho do dono conseguiu a proeza de ficar em 11° no campeonato com o terceiro melhor e 50 pontos atrás do mexicano mesmo com as peças novas sendo colocadas antes no carro dele e ter disputado uma corrida a mais. Patético.

Na parte final, Pietro Fittipaldi vinha atrás das Williams e inexplicavelmente fez uma parada a mais para não terminar a frente de Kevin Magnussen, que se despediu da categoria. Segundo a equipe, houve um superaquecimento do motor e o brasileiro poderia tentar a melhor volta com pneus novos. Tá bem... o brasileiro evoluiu mas mostrou que Schumaquinho e o psicopata Mazepin terão trabalho. Pode-se afirmar que a Haas virou a pior equipe do grid e não há um George Russell para extrair algo a mais.

Uma corrida medonha dessas poupou o meu trabalho de escrever bastante. Abu Dhabi não pode estar na F1, tampouco no calendário. E assim termina o louco ano de 2020 na categoria que, apesar do marasmo na frente, proporcionou grandes histórias de superação e reviravoltas. Um período histórico e memorável, sem dúvidas. Depois de sete meses sem corridas, os três meses que separam até a Austrália (será?) nem parecem muita coisa (será?). 

Confira a classificação final do GP de Abu Dhabi:


Até!