segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

SEGUNDA CHANCE

Foto: MotorSport

Aos 23 anos, Ocon tem uma rara segunda oportunidade na Fórmula 1. Claro que sua primeira passagem pela categoria foi interrompida por questões alheias a sua pilotagem, mas voltar numa equipe de fábrica é sempre um bom sinal.

Sempre apadrinhado pela Mercedes e cortejado pela Renault, Esteban foi mais um que caiu no conto de ser o parceiro de Hamilton um dia. Wehrlein foi traído e o francês entendeu que precisava salvar a carreira saindo das garras de Toto Wolff.

Muito badalado quando chegou por ter vencido Max Verstappen na base, essas expectativas foram em parte cumpridas. Boas (e tensas) disputas com Pérez, criando uma rivalidade na equipe e um terceiro lugar no grid da Bélgica. Bem, nos dois anos que esteve na Force India/Racing Point, foi derrotado por Pérez, uma boa nota de corte. Nada definitivo, mas nada tão maravilhoso assim.

Agora na Renault, o desafio é ainda maior: Daniel Ricciardo. O agravante é o ano parado. Simulador não é a mesma coisa. A competição será interessante e apenas nos próximos movimentos é que iremos saber qual é o real nível e a posição de Esteban Ocon na prateleira da Fórmula 1.

Ser rival de Max já é meio caminho andado. Só falta mostrar mais na pista. A Renault, sempre com os “poréns”, ainda é um bom parâmetro para as próximas temporadas. É o que Ocon precisa apostar nesta segunda chance. Qualidade já mostrou ter, mas as vezes nem isso basta, e sim estar no lugar certo e na hora certa.

Até!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

ANÁLISE FINAL DE 2019 - PARTE 2

Foto: Getty Images

Fala, galera! Estou de volta com a parte final da minha análise da temporada 2019 com as equipes que faltaram. Vamos lá!

McLAREN

Foto: Getty Images
Carlos Sainz – 9,0: o melhor do resto, sem dúvida. Em Interlagos, o pódio que faltava para coroar um grande trabalho. Se o espanhol foi vítima de desconfianças ao ser superado por Max e Hulk na Toro Rosso e Renault, na McLaren o “sucessor de Alonso” foi quase perfeito. Apesar de não muito rápido nas voltas rápidas, soube usar o grande ritmo de corrida para se afirmar perante a competição de seu calibre. Com a evolução dos ingleses, pode ser questão de tempo para que o espanhol seja o novo piloto regular mas com uma pitada de sorte, estilo Pérez, mas a concorrência é dura.

Lando Norris – 7,5: a temporada decepcionante na F2 me deixou com desconfiança, mas Lando foi muito melhor nesta temporada do que na anterior. Parece que a qualidade e o desafio que enfrentaria o fizeram entrar no nível. Muito rápido, ele mesmo admite que falta administrar melhor os pneus e o ritmo de corrida nos domingos. É normal, faz parte do processo, é da juventude. Com uma McLaren melhor estruturada, um companheiro comprovadamente capaz e um Lando mais experiente é a receita ideal para que as coisas sejam no mínimo iguais em 2020, mas a expectativa é de superação.

RACING POINT

Foto: Reprodução/Racing Point
Sérgio Pérez – 8,0: Uma primeira metade de campeonato bem apagada, onde chegou a ser superado por Stroll, o que seria uma aberração. O pódio anual não veio, mas no segundo semestre o mexicano voltou a ser regular, junto com a melhora do carro. Mesmo com o aporte do pai Stroll, a Racing Point não conseguiu superar McLaren e Renault, o que talvez seja normal. No próximo ano, a expectativa é a mesma: somar pontos e bater Stroll, o que não é difícil.

Lance Stroll – 6,5: tirando o aborto que foi o quarto lugar na Alemanha, foi o de sempre. Lento e sem ritmo de corrida, somando poucos pontos com o carro que tinha a disposição. Sorte dele (e azar o nosso) que seu emprego nunca está sob risco, mas isso prova uma questão: por mais que exista estrutura e repetição de trabalho, se não existir talento, já era. 

ALFA ROMEO

Foto: Getty Images
Kimi Raikkonen – 7,0: funcionário público batendo carteira. É bom e também estranha a longevidade do IceMan. No primeiro semestre, foi quase perfeito. Aproveitou as oportunidades e somou pontos como um líder de equipe. No verão europeu, ele e a Alfa tiveram uma queda vertiginosa, sendo Raikkonen mais lento que o próprio Giovinazzi. Pra 2020, temos que somente desfrutar da carreira e do grande personagem que é esse finlandês para a F1, não a toa será o piloto com mais largadas na história.

Antonio Giovinazzi – 6,5: Um começo muito aquém das credenciais que tem na base. Pode se dizer que os dois anos inativos podem ter influenciado, mas Antonio foi lento e só começou a ter melhores resultados no final do ano. Para sua sorte, parece que fica mais por falta de opção e a perspectiva somente para 2021 do que qualquer outra coisa. Essa rápida melhorada no fim do ano pode ser o combustível que faltava para engrenar de vez na categoria. 

TORO ROSSO

Foto: Motorsport
Daniil Kvyat – 7,0: O pódio inesperado da Alemanha foi um grande alento para aquele que só estava vendo o lado ruim das coisas. Com experiência, estava superando Albon em pontos e fez boas corridas. Na segunda metade, com Kvyat, perdeu um pouco da regularidade e conseguiu poucos pontos, com alguns erros. Talvez Kvyat seja isso mesmo, um piloto irregular mas que agora ganhou mais um ano de sobrevida, graças também a estagnação do programa de pilotos da Red Bull. Seguirei na torcida.

Pierre Gasly – 7,0: se não fosse o pódio no Brasil, seria um dos piores do ano. Na Red Bull, foi uma tragédia, mas na Toro Rosso voltou a normalidade e foi brindado com um pódio. Talvez Gasly também esteja na mesma prateleira que Kvyat: irregular demais para voos maiores. No entanto, é mais jovem e ainda tem o benefício da dúvida. No entanto, com os dois rejeitados, fica improvável uma segunda chance, mesmo se acontecer algo na equipe mãe.

WILLIAMS

Foto: Autoracing
George Russell – 6,5: na verdade a nota é porque basicamente é impossível ter um critério objetivo para avaliar o inglês. Superou Kubica em todas as corridas mas não pontuou. É cruel. Com o carro fraco da Williams e um companheiro com limitações físicas, fica complicado traçar um parâmetro, apesar dos predicados da F2 serem animadores. Pra 2020 a situação não vai ser muito diferente, a não ser que talvez tenha virado o novo “ficha 1” da Mercedes, se é que isso ainda vale alguma coisa.

Robert Kubica – 6,5: o retorno valeu pela superação pessoal e o ponto conquistado na Alemanha. É o que entra nos livros de história. De resto, se não fosse pelo histórico e pela ciência de suas limitações (além do dinheiro), Robert teria sido dispensado no meio da temporada. Com um carro ruim, pertencia a outra categoria e isso é até bom, porque também foi prejudicado por ter poucos parâmetros, mas ser brutalizado por Russell não é positivo. Que seja feliz em outra categoria com o alento de que o tal Latifi não vai fazer muita coisa diferente, isso que este está com 100% das capacidades físicas e técnicas.

E essa foi a minha análise. Concorda? Discorda? Comente!

Até mais!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

ANÁLISE FINAL DE 2019 - PARTE 1

Foto: Getty Images

Fala, galera! Com o término da temporada, teremos o tradicional post analisando o desempenho dos 20 pilotos durante o ano. Nesta primeira parte, vou começar com Mercedes, Ferrari, Red Bull, Renault e Haas:

MERCEDES

Foto: RaceFans

Lewis Hamilton – 9,5: No auge da forma. Mesmo com “apenas” cinco poles, teve muito mais vitórias, mostrando que o ritmo de corrida, consistência e senso de oportunidade estão lá. Tirando Alemanha e Brasil, onde cometeu erros, no resto sobrou, não a toa conquistou mais um título sem fazer grande esforço, seja pela incapacidade de Bottas e os inúmeros erros da Ferrari. No último ano de regulamento, 2020 pode ser histórico para ele e para a F1.

Valtteri Bottas – 8,5: Tirando poucas corridas onde rendeu bem, não está no nível de Hamilton. Isso se torna um problema quando o finlandês passa a ser talvez o único adversário para o campeonato. Bottas não deixou de tentar, mas a falta de ritmo e outros erros, além de várias corridas apagadas o transformaram em um vice sem brilho. Ao menos venceu várias corridas e largou na pole mais vezes que Hamilton até, o que é uma grande evolução em relação ao ano passado, onde terminou zerado. Talvez tenha a última chance de brigar por algo grandioso nessa abençoada Mercedes.



FERRARI

Foto: Getty Images
Sebastian Vettel – 7,5: Um tetracampeão com mais baixos do que altos. A vitória vinda dos céus em Cingapura o livrou de um ano zerado. Muitos erros injustificáveis e infantis de alguém com mais de 50 poles e vitórias, principalmente os incidentes patéticos na Itália e em Interlagos. Vettel está pressionado e sabe disso, parece não conseguir lidar bem com a competição interna. Prefere ver outro brilhar do que Leclerc, por exemplo. Ao perder no confronto direto, já começa 2020 enfraquecido. Mesmo com toda a aura que tem, 2020 também pode ser um ano derradeiro nas pretensões competitivas de Seb.


Charles Leclerc – 8,5: Entregou mais que o esperado, mesmo com todos destacando o imenso talento que tem. A velocidade está lá, derrotou o tetracampeão, mas é normal que ainda falte equilíbrio e experiência. Além disso, também teve azar em algumas chances. Charles poderia ter vencido muito mais que apenas duas corridas, mas essas duas foram talvez nos dois palcos mais icônicos do automobilismo. A mudança de postura na defesa de posições após o caso Verstappen na Áustria o transformou em um piloto mais “sujo”. Precisa de mais experiência e se fazer menos de vítima. Charles está no caminho certo e é, mais do que nunca, o queridinho da Ferrari.

Foto: Getty Images
Max Verstappen – 9,0: Tirando o retorno das férias e a lamentável “malandragem” do México, Max conseguiu, com um carro inferior, superar as duas Ferrari. Isso é um feito e tanto e diz quase tudo. Muito mais cerebral e regular, ainda tem aquela fagulha que pelo jeito é intrínseca a sua personalidade. Ao colocar tudo a perder em uma curva, oportunidades são desperdiçadas. Os taurinos ainda não têm carro para título, então isso não é tão cobrado. Por outro lado, com outro jovem de destaque na mesma posição, os holofotes podem ser divididos e perdidos. Encarar um personagem sincero de vilão talvez não seja o suficiente. Max, mais do que nunca, precisa amadurecer ainda mais.

Alexander Albon – 8,0: Coisas do destino: foi o único piloto Red Bull da temporada ao não chegar no pódio, mas por incrível que pareça foi o mais consistente deles. Um início razoável na Toro Rosso o “credenciou” (na verdade foi Gasly quem se desprestigiou) a vaga de cima. Lá, quase sempre fez o que era necessário: ficar em quinto ou sexto, aproveitando as quebras e acidentes. A grande corrida do Brasil teve um final catártico para o jovem tailandês, mas é questão de tempo para que brilhe de fato. Não será competição para Max pela questão técnica e organizacional da Red Bull, então é imprescindível estar no lugar certo e na hora certa, sem erros, para brilhar.

RENAULT

Foto: Getty Images
Daniel Ricciardo – 7,5: Uma temporada decepcionante onde é difícil fazer qualquer avaliação. Se não fosse pelo dinheiro, escreveria que Ricciardo está bastante arrependido da troca. Os franceses não oferecem uma perspectiva animadora. Na pista, o aussie fez o que pode, como grande destaque o quarto lugar na Itália. No meio do pelotão, suas ultrapassagens não foram mais tão cirúrgicas e estar lá também significa mais incidentes. Aguarda ansiosamente um novo regulamento e novas oportunidades. Não há o que fazer.

Nico Hulkenberg – 7,0: temporada melancólica de despedida. Na hora H, fraquejou. A corrida na Alemanha foi simbólica e definitiva. Apesar de bons resultados na base da regularidade, faltou aquela corrida de encher os olhos, além de ter sido derrotado por Ricciardo na maioria das vezes. Um fim triste de categoria para quem foi promessa há tanto tempo e sai de mãos vazios, sem um pódio sequer.

HAAS

Foto: RaceFans
Kevin Magnussen – 6,5: o carro e a gestão tenebrosa da Haas respingaram no carro. Os pilotos podem não ser uma Brastemp mas também são reféns e vítimas disso tudo. Um carro veloz em classificação e com um ritmo de corrida péssimo com pneus que degradam rapidamente só poderiam resultar em algo catastrófico. O resultado foi esse. Magnussen foi o menos pior deles.

Romain Grosjean – 5,5: “Inacreditável terem renovado com ele, apenas isso. Uma série incrível de erros e cagadas. Talvez nem o próprio Grosjean tenha contado com a renovação através do duro Gunther Steiner. Com um grid extremamente jovem e dominado pelas “academias de pilotos”, talvez a única coisa positiva da Haas é ainda manter essa independência no que tange a escolha dos pilotos. Que venha mais um ano de trapalhadas do francês, talvez pode ser a última, pense nisso.” Escrevi exatamente isso ano passado e nada mudou. Nenhuma palavra a mais ou a menos.

E essa foi a primeira parte da minha análise. Concorda? Discorda? Comente aí! Até mais, com o resto dos resumos!

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

MAIS UM ALPHA

Foto: Getty Images
Apesar da única vitória da história da antiga Minardi ter sido em 2008 com Sebastian Vettel, pode-se dizer que a Scuderia Toro Rosso encerra suas atividades na Fórmula 1 na melhor temporada da história da equipe, justamente quando veio os dois pódios improváveis com os renegados Daniil Kvyat e Pierre Gasly.

Na verdade, quase tudo será a mesma coisa, apenas o nome irá mudar. A Toro Rosso vai virar Scuderia Alpha Tauri, uma marca de roupas cujo dono é o Dietrich Mateschitz, o mesmo da Red Bull. O nome, obviamente, serve para alavancar a evidência em relação a tal marca.

Toro Rosso vai virar Alpha Tauri. Foto: Reprodução/Internet

Com o novo nome, pode existir a possibilidade que a cor do carro seja diferente. Desde 2006, quando foi comprado o espólio da Minardi, a Toro Rosso sempre usou um roxo com azul escuro. Somente nos últimos anos foi adotado um azul mais claro.

Em 14 temporadas, foram 268 corridas e 1 vitória, 1 pole, 3 pódios e 499 pontos. Indiscutivelmente, pelos resultados, Vettel, Kvyat e Gasly podem ser considerados os melhores e mais importantes pilotos da escuderia.

Comprada da Minardi no fim de 2005, a Toro Rosso sempre serviu como equipe satélite da titular Red Bull. Com o tempo, passou a ser a equipe laboratório, que tinha somente os jovens pilotos da academia, que estreavam lá e poderiam ser aproveitados (ou não) no time de cima.

Tudo começou com os fracos Scott Speed e Vitantonio Liuzzi. Com as sobras da Minardi, era natural começar no pelotão de baixo, ainda mais sem experiência. No entanto, com a administração de Gerhard Berger, a equipe começou a subir.

A equipe satélite começou a andar melhor que a titular. A Toro Rosso sempre usou as sobras da Red Bull, mas o motor em algumas temporadas chegou a ser diferente e isso foi um fator desequilibrante: enquanto os taurinos usavam Renault, os "taurininhos" chegaram a usar motor Ferrari por alguns anos. Com Vettel, uma pole e vitória improvável em Monza fizeram história com a equipe "italiana" de sede em Faenza, utilizando as estruturas da Minardi.

Berger e Vettel: a única vitória da Toro Rosso na história. Foto: Getty Images
Mais do que resultados concretos, o objetivo da Toro Rosso sempre foi claro: revelar talentos para a Red Bull, tal qual uma categoria de base do futebol que abastece o time principal. Vettel foi alçado e fez história, tornando-se um padrão e exemplo de sucesso. No entanto, nem todos são Vettel na Red Bull, e alguns entenderam isso...

Helmut Marko e algumas de suas vítimas... Foto: Getty Images
A Red Bull pode ser um sonho para jovens pilotos que sonham com grandes carros, equipes, vitórias e títulos, mas também é um grande pesadelo, ao menos para a maioria deles. Para cada Vettel, vários outros foram queimados pela exigência de Helmut Marko, que também estimulava a rivalidade entre os jovens. Speed, Liuzzi, Bourdais, Buemi, Alguersuari, Vergne e posteriormente Kvyat e o próprio Gasly são exemplos da faca de dois gumes. Isso sem contar aqueles que ficaram no meio do caminho e sequer chegaram no topo, e o caso de outros que voltaram de forma inesperada, como Hartley e agora a sensação Alexander Albon.

Ricciardo e Verstappen: casos raros de sucesso, até um deles ser preterido pelo outro... Foto: Divulgação/Red Bull
Durante meia década a Toro Rosso foi constantemente cobrada por Marko pela falta de resultados. No entanto, este ano finalmente veio algum retorno depois da evolução da Honda e também de um pouco de sorte e oportunismo de seus pilotos outrora renegados.

Se antes era abundante a entrada de talentos, as dificuldades na base mostram que a Red Bull tem mais cuidado ao incinerar seus pilotos, sendo agora mais comum o "rebaixamento" do que a total ruptura. Ainda assim, a Toro Rosso/Red Bull cumpre seu papel de abastecer o grid em suas equipes (ou não), como Sainz pode muito bem provar.

Agora, a F1 tem mais uma alfa querendo se provar no bando, quer dizer, Alpha, tal qual o Athletico. De resto, segue tudo como está, com Gasly e Kvyat como pilotos. Ansioso para ver se o novo carro terá coloração diferente.

A exemplo da Force India, Toro Rosso era outro nome que nos acostumamos e vamos sentir falta. Em todo o caso, bem vinda a mais uma Alpha, a Alpha Tauri.

Até!

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

PELA PORTA DA FRENTE

Foto: Motorsport Images

Robert Kubica tinha uma vitória na carreira, vários pódios e grandes desempenhos na BMW Sauber quando foi contratado pela Renault para ser o grande líder da equipe nos anos 2010. Um bom ano de 2010 poderia ser um presságio para que ele e os franceses continuassem avançando. Kubica também era bola da vez para pegar a vaga de Felipe Massa na Ferrari. Até hoje existem histórias de que já haviam negociações em andamento.

Até que um acidente de rali em fevereiro de 2011 quase colocou tudo a perder. Kubica ficou entre a vida e a morte. O movimento do braço poderia estar comprometido. As seqüelas poderiam ser graves.
Uma carreira em sucessão interrompida. Com uma lenta recuperação, restava ao polonês se aventurar no rali que tanto gostava. Era notícia quando capotava com frequência, algo até normal na dinâmica do esporte.

Com o passar do tempo, o nome de Kubica tinha um misto de alegria e lamentação, de alguém poderia ter sido mais do que foi se não fosse o acidente. Sem contar a pancada assustadora no Canadá que resultou “apenas” em um tornozelo quebrado.

Nos últimos anos, começaram a surgir movimentos de que o polonês gostaria de se testar na F1 de volta. Carros mais pesados e difíceis, além das lesões e limitações que tinha, deixavam tudo uma grande dúvida.

Kubica não se deu por vencido. A Renault, antiga equipe, abriu as portas mas viu que o polonês não seria competitivo o suficiente para pilotar. Com o passar do tempo, o que era grande expectativa virou dúvida: por que Kubica não foi aproveitado pelos franceses e até preterido por Sirotkin na Williams? Restou ser piloto de testes.

Naquele momento, o desempenho esportivo passou a ser segundo plano. O que valia era a história, a redenção, o retorno de um esportista que, mesmo diante de algumas limitações, mostrava que era possível estar lá. Tudo bem que ele comprou a vaga, mas Kubica na Williams nesse ano foi um sopro. Uma história pessoal que envolve a todos, como se fosse um filme de superação, em um mundo tomado por adolescentes endinheirados.

É claro que somente o nome Kubica estava no cockpit. Aquele piloto não existe mais. Com limitações, foi obliterado por George Russell. Perdeu todos os treinos, mas não dá pra fazer pouco caso. Russell derrotou Albon e Norris na F2, não é qualquer galinha morta e, mesmo assim, na hora decisiva, valeu a estrela e até sorte do polonês para ser o responsável pelo único ponto da equipe no ano, graças a desclassificação da Alfa Romeo na Alemanha.

No fundo, o retorno de Kubica teve como desempenho técnico talvez uma reação abaixo até das expectativas iniciais, que não eram altas. É um piloto de outra categoria em um carro de outra categoria. Não há demérito e ninguém se importa. O mais importante foi que Robert Kubica mostrou ser possível nunca desistir e dar a volta por cima. Ou alguém acha que o saudável Latifi é capaz de fazer muita coisa diferente?

Num esporte cada vez mais negócio e menos humano, o polonês subverteu a lógica. Entra e sai pela porta da frente, sendo reconhecido por todos. No fundo, isso é o que mais importa e, para quem gosta de vasculhar os livros de história, poderão ver que em 2019 Kubica fez um ponto e Russell nenhum.

Logo, o polonês foi melhor que o britânico na temporada. Ou não. De novo: quem se importa?

Que Kubica siga feliz e alcance os outros objetivos pessoais e profissionais que lhe resta.

Até!

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

O BONDE PASSOU

Foto: Divulgação/Renault
Na vida, existem janelas de oportunidades muito curtas para nós aproveitarmos. Do contrário, fica a eterna sensação do "e se". Uma escolha e um alinhamento das estrelas pode determinar muitas coisas. Estar no lugar certo e na hora certa. No lado contrário, está a maioria que não teve ou não aproveitou essa pequena janela de oportunidades que mudam uma vida.

Nico Hulkenberg ficou dez temporadas quase ininterruptas na F1 (de 2009 até agora; ausente apenas em 2011). Isso não é um fracasso. Pelo contrário. Passou por duas equipes de grife (Williams e Renault), uma tradicional (Sauber) e uma que estava em ascensão e hoje pode-se considerar relativamente tradicional (Force India, atual Racing Point).

Tirando a Renault, em todas as outras Nico teve um desempenho acima da média, "andando além do carro", sendo aquele piloto que todos cravavam que "com um carro melhor, mostraria todo o potencial". O prenúncio disso foi a pole inesperada com a Williams logo na primeira temporada, há quase dez anos.

O jovem Nico. Foto: Getty Images
Mas parecia que desde os primórdios o destino avisava que iria pregar peças no jovem, pois ele não tinha contrato para a próxima temporada. E assim ficou, como piloto de testes da Force India. Que azar. Pois bem, de volta em 2012, outra vez no Brasil a sorte parecia sorrir para Nico. Uma segunda chance.

Decisão de campeonato, tensão no ar, tempo maluco. Uma combinação de fatores que fez Nico liderar com 40 segundos de vantagem em relação ao resto, até que um Safety Car embolou todo mundo. Tudo bem, ao menos ele está em primeiro. A pista seca e Nico roda. Cai para segundo. Sem problema, a Force India está bem na prova, mais veloz. É só passar Hamilton e retomar o controle. No S do Senna, o carro escorrega, o retardatário atrapalha e Hulk bate. Punido com um drive through, chega em quinto. É a sorte e o azar juntos, onde o segundo parece ser mais forte. Justo na hora H, Hulk exita, de novo.

Foto: Getty Images
Foi a grande chance da consagração, mas tudo bem. Hulk é um bom piloto, regular, sempre marca pontos e é o "melhor do resto". O pódio ou algo assim vai acontecer. Na Sauber, em 2013, viveu o melhor momento da carreira. A briga com Alonso e etc na Coreia é o ponto alto de sua trajetória na F1. Ali, muita gente quase que implorava um carro melhor para Nico. Mas o destino...

Hulk deve ter sido a grande vítima da entresafra e da contínua insistência da Ferrari em Massa e Raikkonen. Hulk sempre foi o ficha um para ser o próximo da lista, mas a chance nunca chegava. Com o passar do tempo, a regularidade continuava ali, mas sempre que o imponderável acontecia, não era Nico quem se destacava. Esse cara foi Sérgio Pérez.

O destino sempre foi e vem. Se na F1 não dava, a WEC veio e o salvou. Título nas 24 horas de Le Mans. A sorte sorriu, como bem escrevi em 2015. Poderia ser um indício dos dados virando para seu favor.

Mas, como sempre, o destino... a regularidade já não era mais a mesma. Pérez além de ser mais rápido, ainda aproveitava as chances de pódio. Nesse eterno vai e vem, a ida para a Renault foi até surpreendente. Hulkenberg, experiente e bom piloto, sendo líder de uma equipe de fábrica que buscava a reestruturação? Era bastante, talvez até demais. E foi a sua última chance, como "profetizada" aqui em 2016.

A toada seguia a mesma. Hulk despachou Palmer e Sainz. O carro não ajudava, mas a velha sina seguia. Nas raras chances de pódio, como em Baku ano passado e na Alemanha esse ano, Hulk errou e fraquejou, tal qual em Interlagos 2012. Foi definitivo. A chegada de Ricciardo para ser o líder dos franceses também foi um sinal. O tempo passa. Em uma F1 cada vez mais jovem, precoce e dependente das montadoras e magnatas obscuros, Hulk era um dos poucos que não trazia patrocínio, apenas talento. A falta de estrela, a idade e o desgaste fizeram perder o lugar para Esteban Ocon, que retorna.

A batida na Alemanha: o fim de Hulk na F1. Foto: Getty Images
Como Eminem disse em 'Sing For The Moment':

"É por isso que aproveitamos o momento, tentamos congelá-lo e possuí-lo; Apertar e segurar, porque consideramos esses minutos dourados".

A pole em Interlagos foi esse momento dourado, congelado na eternidade. No entanto, Nico não conseguiu aproveitar os outros momentos que lhe surgiram na F1.

O bonde passou e Hulkenberg não conseguiu entrar por inúmeros fatores, dele próprio e externos do destino, dos negócios e da política da F1. Com a idade chegando e o grid sem mais carros, talvez seja improvável que retorne. O que lhe resta? WEC, para ser campeão ou mais títulos de Le Mans? Fórmula E? Indy? Como todos sabemos, ser piloto é muito mais que ganhar e bater recordes na Fórmula 1, mas Hulk poderia ter sido mais do que foi. Ficaremos sempre com aquele "e se ele vencesse em Interlagos?" ou algo do tipo.

Talvez não fizesse tanta diferença, mas seria um sentimento muito melhor e eterno do que ver pilotos inferiores a ele como Sainz, Stroll, Magnussen, Gasly e Grosjean com pódios e ele não. É a vida. É o bonde.

Até.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

PROTOCOLAR

Foto: Getty Images
Abu Dhabi, juntamente com Paul Ricard e outras, são pistas extremamente descartáveis. Não deveriam estar no calendário. Quando que teve corrida boa por lá? No máximo, com boa vontade, as tensões das disputas de título de 2010, 2012 e 2016. De resto, é uma porcaria. Como foi o post da semana, é um clima de férias e fim de festa total, desinteresse e corridas chatíssimas, sem emoção alguma.

Hoje, Hamilton liderou do início ao fim e venceu fácil, com o sexto Grand Chelem da carreira. Verstappen e Leclerc tiveram um enfrentamento interessante. O monegasco passou Max na largada, mas depois, na estratégia, o holandês parou depois e com o pneu menos desgastado retomou a segunda posição.

O destaque foi Bottas, largando em último em virtude da troca da unidade de potência e que quase conseguiu passar Leclerc. Vettel e Albon vieram depois. Pérez fez mais uma grande corrida e foi o sétimo, seguido por Norris, Kvyat (outra boa recuperação) e Carlos Sainz, definitivamente o "melhor do resto".

Hulkenberg se despediu da F1 e essa prova foi a síntese da carreira. Vinha bem, numa estratégia interessante, parando depois de todo mundo para no final tentar engolir todo mundo. Acabou colocando o pneu médio e perdeu ritmo. Passou a ser atacado e na última volta saiu da zona de pontuação. Uma despedida realmente melancólica e triste, o que de fato virou a carreira do alemão nos últimos anos.

Kubica também foi outro que se despediu com algum lampejo, disputando posição com Giovinazzi. Motivos diferentes, sentimentos semelhantes. Serão os personagens dos textos dessa semana no blog.

Ademais, a temporada 2019 encerra-se com boas corridas, algumas esquecíveis e o desejo desesperado por alguém que consiga enfrentar Hamilton. A Ferrari é errante e uma Red Bull sozinha não faz verão. No entanto, é difícil imaginar isso em um período onde todas já estão pensando em 2021. Talvez 2020 seja um spin-off de agora. Melhor para Hamilton, agora só sete vitórias atrás de Michael Schumacher na história.

Confira a classificação final do GP de Abu Dhabi:


Até!