sexta-feira, 28 de setembro de 2018

ENTRE UMA DECEPÇÃO E OUTRA

Foto: Getty Images
Toda a corrida fica a impressão de um "agora vai" para a Ferrari. Quase sempre favorita, quase sempre decepciona e quase sempre brilha a estrela, o talento e a genialidade de Lewis Hamilton. Em Sochi, o panorama é diferente, mas nem tanto.

Ano passado, Bottas dominou o final de semana, enquanto Hamilton sofria para lidar com o desgaste dos pneus em condições extremamente quentes. Agora, a corrida da Rússia pula para o fim da temporada, aproximando-se do inverno, e a Mercedes já superou essas dificuldades. Continua favorita a vencer, tanto é que Hamilton, de hipermacios, meteu meio décimo na Ferrari de Vettel.

Mesmo sabendo que em tese os italianos não têm a obrigação de vencer por ter o melhor equipamento, uma nova vitória de Hamilton pode significar definitivamente o fim do campeonato em termos anímicos para Ferrari e Seb. Por isso, os italianos vivem uma delicada situação nesse final de semana. Precisam de algo que não estão mostrando nas últimas semanas: sorte e competência, não necessariamente nessa ordem.

Interessante notar a grande presença de jovens e futuros pilotos da F1 no primeiro treino livre. Com o futuro de quase todas as equipes definida, resta aproveitar os poucos momentos de treinos para já começar uma mínima adaptação, visando o ano que vem, além de observar outros predicados de possíveis candidatos em um curto/médio-prazo. Giovinazzi, Markelov (Renault), Norris e Nicholas Latifi (Racing Point) participaram dessa sessão.

Deixei o pior para o fim. A Haas anunciou que a dupla Magnussen e Grosjean está mantida para o ano que vem, pela terceira temporada seguida. Quarta, tinha escrito que os americanos aparentemente não estavam olhando para o mercado e que a única possibilidade de troca seria a passagem de Leclerc por lá, mas a Ferrari tinha outros planos para o monegasco.

Na boa, Grosjean não dá mais. Faz uma temporada pavorosa. Lento, só se envolve em acidentes e barbeiragens, além de nunca assumir responsabilidade dos erros. Ele falando sobre tirar as bandeiras azuis do regulamento foi de chorar! Piloto que não evoluiu e não acrescenta mais nada para a F1. Uma pena que Gunther Steiner não pense dessa forma. Incrivelmente lamentável ver talentos sem carro enquanto outros que já não rendem mais nada seguem na categoria. Mas tudo bem, uma coisa de cada vez. Já foi difícil tirar o Ericsson, agora basta ter paciência para esperar por Grosjean...

E assim a vida segue na F1, entre uma decepção e outra, assim como nas nossas vidas. Ao menos para o nosso lado as pequenas coisas são suficientes para superar esse sentimento. E com essa eu começo o final de semana. Até!

Confira a classificação dos treinos livres do GP da Rússia:




GP DA RÚSSIA - PROGRAMAÇÃO

A Rússia entrou no calendário da Fórmula 1 pela primeira vez em sua história em 2014, com o GP disputado no circuito urbano de Sochi. A cidade fica às margens do Mar Negro, no sudoeste do país. A estrutura para o circuito se aproveita do que foi construído visando as Olimpíadas de Inverno, realizadas no mesmo ano.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Kimi Raikkonen - 1:36.844 (Ferrari, 2017)
Pole Position: Sebastian Vettel - 1:33.194 (Ferrari, 2017)
Último vencedor: Valtteri Bottas (Mercedes)
Maior vencedor: Lewis Hamilton - 2x (2014 e 2015)


HORNER: MÉXICO É A ÚNICA CHANCE DE VITÓRIA ATÉ O FIM DO ANO

Foto: BT Sport

Com o final nada amigável da parceria entre Red Bull e Renault se aproximando, não resta muitas pretensões e expectativas de grandes resultados nessa temporada. A exceção, segundo o diretor Christian Horner, é a corrida do México, em novembro. Lá, no ano passado, Max Verstappen venceu sem maiores dificuldades.

“Sendo realista, acho que o México é provavelmente a única chance que ainda temos em circunstâncias normais”, disse Horner. “Tomara que consigamos mais alguns pódios antes do fim do ano”, seguiu.

Chefão da Mercedes, Toto Wolff concordou com o rival. “É bom tê-los na mistura, é bom para os fãs e para as corridas. Nós gostamos”, comentou. A corrida do México é a próxima onde, no papel, eles devem ser realmente rápidos, mas quem sabe o que vai acontecer em Sóchi e em Suzuka”, completou.

É o que resta para a Red Bull. Foram três vitórias no ano, o que não é ruim para quem está tão atrás de Mercedes e Ferrari, mas só em uma a equipe dominou (Mônaco), as outras foram circunstanciais (China e Áustria). Com um Ricciardo aguardando a ida para Renault e a Red Bull preocupada com o início da relação com a Honda e a chegada do Gasly, talvez uma vitória para a saideira seja um final menos conturbado para esse dueto tão vencedor quanto polêmico

LIBERTY QUER COLOCAR Q4 NOS TREINOS EM 2019

Foto: EFP
Depois do fracassado "mata-mata" nos qualyfings do início de 2016, no final da Era Bernie Ecclestone, a F1 retornou para a fórmula tradicional, existente desde 2006. No entanto, agora a Liberty quer tentar fazer a própria mudança. De acordo com a "Auto Motor und Sport", a ideia é criar uma quarta parte no qualyfing, o Q4, que teria apenas oito carros no final. O objetivo é aumentar a emoção nos sábados. Pra isso acontecer, teriam que acontecer algumas mudanças. 

O Q1 teria quatro ao invés de cinco eliminações, mas nada está certo, inclusive a duração de cada qualyfing. É importante frisar que historicamente o treino antigamente tinha duas horas, passando para uma.

Ross Brawn, diretor esportivo da categoria, diz que o treino tem potencial de embolar os carros para a corrida, tornando o domingo mais atrativo e emocionante para todos.Quando se pensa na classificação como elemento que influencia no desenrolar da corrida, você quer que haja certa desordem para que os carros mais fortes terminem em posições equivocadas. Nesses casos, a classificação melhora a corrida”, disse o britânico.

No entanto, a questão não é simples. A mudança precisaria ser aprovada pelas equipes, habituadas há décadas com esse sistema. Quando se pensa na classificação como elemento que influencia no desenrolar da corrida, você quer que haja certa desordem para que os carros mais fortes terminem em posições equivocadas. Nesses casos, a classificação melhora a corrida”, disse o britânico.

Liberty, não inventa: isso não vai dar certo. Treino sempre foi para ver qual é o carro mais veloz na pista. Com exceções da chuva ou mudança de clima é que as coisas se embaralham. Isso é exceção e não pode ser regra. O único sistema que eu gostava era o de 2003, com volta única lançada em ordem. Essa sim poderia dar certo.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 281 pontos
2 - Sebastian Vettel (Ferrari) - 241 pontos
3 - Kimi Raikkonen (Ferrari) - 174 pontos
4 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 171 pontos
5 - Max Verstappen (Red Bull) - 148 pontos
6 - Daniel Ricciardo (Red Bull) - 126 pontos
7 - Nico Hulkenberg (Renault) - 53 pontos
8 - Fernando Alonso (McLaren) - 50 pontos
9 - Kevin Magnussen (Haas) - 49 pontos
10- Sérgio Pérez (Racing Point) - 46 pontos
11- Esteban Ocon (Racing Point) - 45 pontos
12- Carlos Sainz Jr (Renault) - 38 pontos
13- Pierre Gasly (Toro Rosso) - 28 pontos
14- Romain Grosjean (Haas) - 27 pontos
15- Charles Leclerc (Sauber) - 15 pontos
16- Stoffel Vandoorne (McLaren) - 8 pontos
17- Lance Stroll (Williams) - 6 pontos
18- Marcus Ericsson (Sauber) - 6 pontos
19- Brendon Hartley (Toro Rosso) - 2 pontos
20- Sergey Sirotkin (Williams) - 1 ponto

* Com a venda da Force India, a equipe foi rebatizada de Racing Point Force India e teve a pontuação dos construtores zerada. No entanto, os pilotos mantiveram os pontos que conquistaram até o GP da Hungria, quando a equipe era Force India.

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 452 pontos
2 - Ferrari - 415 pontos
3 - Red Bull TAG Heuer - 274 pontos
4 - Renault - 91 pontos
5 - Haas Ferrari - 76 pontos
6 - McLaren Renault - 58 pontos
7 - Racing Point Force India Mercedes - 32 pontos
8 - Toro Rosso Honda - 30 pontos
9 - Sauber Ferrari - 21 pontos
10- Williams Mercedes - 7 pontos

* Com a venda da Force India, a equipe foi rebatizada de Racing Point Force India e teve a pontuação dos construtores zerada. No entanto, os pilotos mantiveram os pontos que conquistaram até o GP da Hungria, quando a equipe era Force India.

TRANSMISSÃO:







quarta-feira, 26 de setembro de 2018

EXERCÍCIO DE ADIVINHAÇÃO

Foto: MotorSport
Geralmente, este seria um post para falar brevemente sobre a etapa da Rússia. Meses depois, impossível não lembrar da Copa. Que saudades. O circuito ainda não tem muito a oferecer para algo ser escrito, então vou pegar o gancho do anúncio da Sauber para fazer algumas projeções para o ano que vem.

Agora, oficialmente, temos seis equipes que já confirmaram seus dois pilotos para o ano que vem. São eles: Mercedes (Hamilton e Bottas), Ferrari (Vettel e Leclerc), Red Bull (Verstappen e Gasly), Renault (Ricciardo e Hulkenberg), McLaren (Sainz e Norris) e os suíços (Raikkonen e Giovinazzi). Portanto, 12 dos 20 assentos já têm dono, incluindo as principais equipes.

Em tese, restam oito vagas. No entanto, algumas já estão confirmadas, mas ainda não de forma oficial. São os casos da Racing Point, com Pérez e Stroll e a provável permanência de Magnussen na Haas. A lista aumentaria para 15.

Restariam as definições na Toro Rosso, Williams e uma vaga na Haas. É aí que entra a adivinhação (ou tentativa, ou nem tanto). Vejamos:

- Toro Rosso: dizem que Daniil Kvyat (sim!) vai ser anunciado como piloto da equipe pela 3423432 vez. Dan Ticktum, piloto da academia dos taurinos, não terá pontos suficientes da super-licença para entrar na F1 e deve ir para a Super Fórmula, no Japão, ainda mais agora que tem a Honda como parceira. Pascal Wehrlein, que não será mais piloto Mercedes no ano que vem, surge como principal candidato e minha aposta para ser companheiro do russo.

- Williams: sem Stroll e o patrocínio da Martini, a equipe de Grove encontra-se em dificuldades financeiras e parece ter sinalizado para a permanência de Sirotkin justamente para isso. No entanto, a imprensa europeia noticia que o George Russell, virtual campeão da F2 e piloto Mercedes, está com um pé na equipe. Por ter motor Mercedes, a tendência é que a equipe tenha descontos no pagamento anual deles através da colocação dos pilotos da academia dos alemães por lá. Nesse caso também se encaixa Esteban Ocon, incrivelmente com grandes possibilidades de estar de fora do grid. Colocando dois pilotos Mercedes ali, a Williams paga menos também. Assim, todos saem ganhando, dentro e fora das pistas.

- Haas: situação mais indefinida do grid. Leclerc seria o ficha um, mas foi alçado para a Ferrari. Os americanos chegaram a sondar Pérez, que optou por permanecer onde está, agora com o capital de Lawrence Stroll. Realmente não vi especulações de nome ventilados por aqui. Magnussen deve ficar e, pelo que vem dizendo o chefão Gunther Steiner, Grosjean não fica. Afinal, não está fazendo por onde. Giovinazzi, outro piloto Ferrari, foi para a Sauber. Como é adivinhação ou palpites esdruxúlos, eu colocaria Vandoorne ali. Outro piloto talentoso chutado pela McLaren formado a dupla dos americanos seria interessante, até para ver se o belga, com um carro e ambiente melhores, seria capaz de demonstrar todos os predicados que possui do tempo das categorias de base.

E vocês? O que acham que vai acontecer com essas últimas vagas abertas na F1? Dê seu palpite!

Até!

terça-feira, 25 de setembro de 2018

FERRARI B

Foto: Fórmula Spy
No ano passado, ficou claro que com a nova parceria dos italianos com a Sauber e a colocação do espólio da Alfa Romeo na nomenclatura e nos carros do time que a ideia era fazer com que a Sauber virasse novamente a equipe B da Ferrari. Isso foi se confirmando.

Primeiro, a chegada de Charles Leclerc. Apesar da permanência de Ericsson, apenas pelo fato de ser experiente e ambientado ao time, isso significava que o sueco, outrora dono da Sauber, estava perdendo terreno. E isso se confirmou hoje.

Antonio Giovinazzi, 24 anos, vice-campeão da então GP2 em 2016, foi anunciado como parceiro de Kimi Raikkonen na Sauber para 2019. O italiano disputou as duas primeiras corridas da temporada passada quando substituiu Pascal Wehrlein, machucado. Na Austrália, foi o 12°. Na China, teve um desempenho muito ruim, batendo duas vezes no final de semana, inclusive na corrida.

A Itália vai voltar a ter um piloto na temporada regular, algo que não acontecia desde 2011, com o Trulli ainda na finada Caterham. O mais impressionante é que finalmente Marcus Ericsson foi chutado da F1. Não é um piloto horroroso, mas perdeu para todos os companheiros de equipe e simplesmente todos eles acabaram saindo da categoria (Kobayashi, Nasr e Wehrlein). É insuficiente.

Só Charles Leclerc para mudar esse panorama viciado da Ferrari. Primeiro, ganha de Ericsson e vai ser promovido. Não só isso, mas também tirou Raikkonen de lá, que volta para a Sauber e faz com que Giovinazzi tire Ericsson. Que maravilha!

Mais uma grande notícia para a Sauber. Na GP2, Giovinazzi se mostrou muito bom piloto. Quase foi campeão, em uma dura disputa com Pierre Gasly, agora futuro Red Bull. Com a fraca Sauber, não pode fazer muita coisa, ainda mais sem testes e sem experiência. Agora, com um campeão do mundo do lado, o apoio técnico da Ferrari e a competência de Frederic Vasseur, o italiano tem tudo para se firmar na F1. É um grande talento e sua promoção é uma grande notícia, ainda mais em tempos do dinheiro se sobrepondo a qualidade.

A Alfa Romeo Sauber, aos poucos, vai voltando a ser o que era antes. Uma equipe simpática, de meio de grid, com pilotos bons e talentosos. No fundo, as vontades do finado Marchionne continuam se concretizando. Mesmo morto, o homem segue mandando. Ainda bem para a Ferrari e a Sauber, claro.

Até!

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

DESESPERADOR

Foto: Getty Images
17 de setembro, mais conhecido como hoje, é o aniversário do talentoso Esteban Ocon, agora com 22 anos de vida (é mais novo que eu; ou seja, estou velho). É evidente que o francês teria muitos motivos para comemorar mais uma data querida (e vai comemorar, obviamente), mas as questões profissionais não coincidem com a alegria da celebração de mais um ano de vida.

Depois do retorno das férias, foram dois acidentes aonde foi vítima. Ontem, foi jogado para o muro por Sérgio Pérez. De novo uma rusga com o mexicano que é repleto de movimentos de caráter duvidoso. Certamente essas coisas não ajudam na definição do futuro de Ocon, mais uma vez vítima.

Na F1 de hoje, como já vimos, não basta ter só talento. Assim como em quase tudo na vida, é necessário ter o que as pessoas chamam de "networking" (ou contatos, fontes, essas coisas todas). Teoricamente, ser piloto da academia da Mercedes já seria um baita contato e porta de entrada para a F1 além do talento. Como foi, aliás, dois anos atrás, ao substituir Haryanto na finada Manor. Ou é isso ou ser piloto pagante ou ter um sobrenome de grife.

Pois bem. Com a Mercedes se recusando a apostar em seus jovens talentos e o grid cada vez mais dominado por pagantes bilionários e sobrenomes, o talento de Ocon hoje não está servindo como referência para nada. Ser piloto da Mercedes, ao invés de ajudar, acaba fechando mais portas. Toro Rosso (pertencente a Red Bull), Sauber, Haas (pertencentes a Ferrari) e a McLaren não irão apostar em alguém que não será possível contar por longos anos. Todos, pelo mesmo motivo, descartaram o francês.

Entenda que não é a falta de qualidade de Ocon (muito pelo contrário) que incrivelmente pode estar deixando ele de fora do grid para o ano que vem. É uma sucessão de fatores políticos e econômicos. Com as grandes adquirindo equipes para abrigar suas jovens promessas, esse seria um caminho natural até chegar um bilionário para ocupar seu espaço. A Mercedes não tem, oficialmente, uma equipe B, apesar de inúmeros acordos com a Force India e a Williams.

Talvez essa pode ser a salvação da lavoura. A falida e decadente equipe de Grove não vai ter mais o canadense rico e o patrocínio da Martini. Já existem informações que George Russell, virtual campeão da F2, vai ocupar uma das vagas. A Mercedes vai dar um belo desconto para a utilização de seus motores na próxima temporada. Seria lógico, portanto, colocar Ocon lá, a única vaga que sobrou. Mais desconto e todos ganhariam nesse negócio.

Ocon não pode fazer o mesmo que Wehrlein, chutado da categoria por falta de vagas e refém da Mercedes. O alemão voltou para o DTM, onde também a Mercedes vai sair, e anunciou que será "agente livre" no ano que vem. Com isso, virou o principal favorito para ocupar um dos assentos da Toro Rosso, sem as amarras de algo que em tese iria ajudar. Outra questão que a imprensa europeia pontua é que Ocon ficaria um ano como piloto reserva da Mercedes para que, se tudo der certo, ser efetivado em 2021. A pergunta óbvia é: e se não der? É desesperador não só para Ocon, mas para todos que gostam da F1 ver que o francês possivelmente vai estar fora da próxima temporada por motivos alheios a sua pilotagem.

Enfim, um feliz aniversário para Ocon. Que o inferno astral tenha acabado e que os astros e negócios se alinhem para que permaneça na F1, mesmo que seja na hoje fraquíssima Williams. É o que tem.

Até!

UM DEGRAU ACIMA

Foto: Getty Images
Foi difícil acompanhar a corrida hoje. Dormi pouco, como sempre, e dessa vez a corrida começou mais cedo, no então tradicional horário das 9h. Dei uns cochilos porque não tinha como não ser diferente.

As únicas coisas que podem animar uma corrida como Cingapura são os acidentes. Só teve um, na segunda curva. Pérez fechou Ocon, que bateu por ali. Mais um incidente entre os ainda parceiros de Racing Point. Todos sabem que sou fã do mexicano, mas hoje ele fez a pior corrida na carreira. Inadmissível a quantidade de erros que cometeu. Aquela fechada no Sirotkin foi criminosa. Incompatível com as oito temporadas e a experiência que possui na categoria. Instabilidades como essa é que não lhe permitiram maiores oportunidades no topo da F1.

A corrida foi uma porcaria, então não há muitos tópicos para comentar. Vou continuar pelo óbvio: mais uma atuação irretocável de Lewis Hamilton. Até agora não sei se a Mercedes escondeu o jogo nesse final de semana todo, mas parece que finalmente o fantasma de Marina Bay foi exorcizado. Pole e corrida magistrais. Sem sustos ou quase isso, só quando Grosjean (outro irresponsável que está fazendo hora extra na F1) ignorou as bandeiras azuis e permitiu a aproximação de Verstappen. Depois disso, seguiu a procissão.

Verstappen fez uma ótima corrida, consistente e cerebral, quem diria. Perdeu a posição na largada e depois conseguiu recuperar em um undercut. Soube administrar a situação do momento sem reações emocionais e colheu um ótimo resultado, o máximo que podia com a atual Red Bull em fim de relação com a Renault.

Vettel e a Ferrari. Quando não é um que vai mal é o outro, quando não os dois. Vettel fez uma largada limpa e tentava conter o dano. Chegando em segundo, as coisas não ficariam tão ruins quanto já estão. No entanto, de forma inexplicável, a Ferrari resolveu parar cedo demais e, com pneus hipermacios, restou ao alemão se arrastar na pista por mais de 40 voltas e chegar em terceiro. Bem distante do favoritismo pré-corrida. Ferrari e Vettel vivem uma grande crise de relação e resultados. A saída de Raikkonen, sempre defendido por Seb, é um forte indício. O alemão está longe da melhor forma e também muito longe de sequer ser competitivo diante de um cirúrgico e excepcional Lewis Hamilton. Está sendo engolido tal qual Rosberg em 2015. A vantagem agora é de 40 pontos.

Bottas conseguiu, sem problemas, ficar quase a um minuto do vencedor da prova. Queda brusca de rendimento. Enquanto isso, Ocon deve ser seu reserva no ano que vem... Alonso tem razão: se a Haas tivesse pilotos melhores, era para estar sobrando como a quarta colocada nos construtores, ainda mais que a Force India perdeu os pontos da metade do campeonato. Os dois ficaram bem longe da zona de pontuação. A Fênix brilhou e foi o melhor do resto, o único que não levou uma volta de Hamilton. É o que pode fazer nessas corridas finais. Leclerc voltou a pontuar, assim como a dupla da Renault.

40 pontos. Diante da fase de Hamilton e Vettel, não é absurdo dizer que o inglês começa a pavimentar o caminho para o penta. O título pode ser sacramentado bem antes do que imaginávamos. No ano passado, foi no México. E agora? Claro, isso tudo pode ir por água abaixo caso Lewis quebre e Vettel se recupere, mas convenhamos: esse não parece ser o quadro mais provável, até porque mesmo quando sofre um revés, Hamilton volta mais forte que nunca, enquanto Vettel desmorona. O emocional está justificando a diferença técnica dos dois tetras.

Confira a classificação final do GP de Cingapura:


Até!

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

SEM MAIS ERROS

Foto: Reuters
Diante do geralmente imprevisível circuito de rua de Cingapura, Sebastian Vettel começa uma difícil empreitada para tentar conquistar o penta: sem mais erros. Se contar com a sorte de Hamilton errar, bater ou ter problemas, ótimo. Se não, precisa fazer o que não tem feito: constância e equilíbrio.

Pode ser que a cota de erros tenha se esgotado hoje, quando lambeu o muro no TL2 e não pode mais treinar. A Ferrari tem um carro levemente superior. Cingapura sempre foi um lugar que a Mercedes sofreu. Se não fosse o acidente na primeira curva, possivelmente Hamilton e Bottas ficariam em quinto e sexto. Lewis ganhou e o finlandês chegou em terceiro.

A conferir a Red Bull. Será que chegam com favoritismo? Lideraram o TL1, mas ficariam relativamente distantes no TL2. É agora ou nunca. Se nem lá se mostrarem competitivos é porque os taurinos já estão pensando na próxima temporada, completamente desassistidos pela Renault no final desse outrora relacionamento vencedor.

No meio do grid, Renault e Haas podem se sobressair. Por outro lado, pode ser a última esperança da McLaren conquistar algo positivo. Está jogada as traças. Toro Rosso e Racing Point correm por fora, mas na corrida tudo pode acontecer.

Enfim, não há muito o que escrever quando um treino é realizado de dia e não serve pra nada em termos de acerto para a corrida. Só resta acompanhar os próximos desdobramentos dessa corrida que pode começar a definir o novo penta ou então a reação daquele que também deseja a mesma coisa.

Confira a classificação dos treinos livres do GP da Cingapura:





Até!

GP DE CINGAPURA - Programação

O Grande Prêmio de Cingapura é disputado desde 2008 e foi a 1a corrida noturna da história da Fórmula 1, que foi vencida de forma polêmica por Fernando Alonso, pilotando a Renault, após se beneficiar de um Safety Car oriundo de uma batida proposital de seu companheiro de equipe Nelsinho Piquet e o abandono do então líder da corrida Felipe Massa, da Ferrari, após a mangueira de reabastecimento ter ficado presa em seu carro. O caso ficou conhecido como Cingapuragate.

Foto: Wikipédia
ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Kimi Raikkonen - 1:45.599 (Ferrari, 2008)
Pole Position: Sebastian Vettel - 1:39.491 (Ferrari, 2017)
Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)
Maior vencedor: Sebastian Vettel - 4x (2011, 2012, 2013 e 2015)

DESANIMADO

Foto: LAT Images

Diante da expectativa de fazer uma temporada de evolução com o motor Renault e o tão badalado chassi, a McLaren até que começou bem, mas depois involuiu. Apesar de vários pacotes de atualização, nenhum deu resultado satisfatório. Diante desse cenário, o diretor Zak Brown não se disse animado com o final da temporada e espera a tão sonhada evolução na próxima temporada.

“Vamos continuar tentando, mas infelizmente desenvolvemos um carro extremamente fraco, que não responde às mudanças, o que consequentemente indica que não temos um bom carro”, disse Brown, entrevistado pelo ‘Motorsport.com’. “Espero, infelizmente, o mesmo tipo de resultados [até o fim do ano]. Talvez dependendo um pouco das características de cada circuito, mas certamente não espero milagres”, lamentou.

O cenário da McLaren é simplesmente melancólico e desesperador. Com os dois pilotos fora da equipe para o próximo ano e aguardando as chegadas de Carlos Sainz e Lando Norris, parece que não há motivação necessária para buscar o algo a mais, apenas o talento de Fernando Alonso. Com um chassi problemático, motor mais fraco em relação aos demais e com pilotos inferiores pro ano que vem, o cenário da McLaren é desanimador não só hoje, mas também para os próximos anos.


SEM DESISTIR

Foto: Getty Images

Ao contrário da McLaren mas em situação igualmente desconfortável por motivo diferente, Esteban Ocon vive um 2019 incerto. Praticamente fora da Racing Point, onde será substituido por Lance Stroll talvez ainda nesse ano e sem espaço nas principais equipes, na Mercedes e nas equipes médias por pertencer ao programa de pilotos da equipe alemã, talvez o único lugar disponível para o francês é a Williams, que tem motores Mercedes. Recebendo o apoio dos fãs e de outros pilotos da categoria, o francês desabafou em suas redes sociais:

“Tenho que agradecer a todo mundo pelas boas mensagens e pelo apoio que recebo a cada dia. Estive em situações difíceis antes e sempre as superamos, minha carreira não foi nada fácil, como vocês sabem. Posso prometer que não vou jogar a toalha neste momento”, escreveu.

A situação fica mais angustiante ao perceber que seus rivais da base (Verstappen e agora Leclerc e Gasly em 2019) já ocupam os principais carros da categoria, enquanto Bottas segue na Mercedes, lugar que poderia ser dele. “A motivação é grande, e meus velhos rivais estão em carros de ponta, e isso me faz ter mais vontade do que nunca. Sonho com a F1, treino F1, como F1, jogo F1 e penso na F1. Nasci para pilotar e meu único objetivo é ser campeão, e vai continuar sendo. Vejo todos vocês neste fim de semana”, completou.

Com apenas 20 carros e a infetação de pilotos pagantes, apenas a academia de pilotos poderia abrir portas. No caso de Ocon, estão fechando. É inacreditável que um cara com o talento de Ocon tenha talvez como única chance de ficar na categoria pilotando a fraquíssima Williams. A F1 está preocupada com tantas coisas, mas parece não ligar para o mais importante: a qualidade das corridas e dos pilotos. Preocupante e lamentável.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 256 pontos
2 - Sebastian Vettel (Ferrari) - 226 pontos
3 - Kimi Raikkonen (Ferrari) - 164 pontos
4 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 159 pontos
5 - Max Verstappen (Red Bull) - 130 pontos
6 - Daniel Ricciardo (Red Bull) - 118 pontos
7 - Nico Hulkenberg (Renault) - 52 pontos
8 - Kevin Magnussen (Haas) - 49 pontos
9 - Sérgio Pérez (Racing Point) - 46 pontos
10- Esteban Ocon (Racing Point) - 45 pontos
11- Fernando Alonso (McLaren) - 44 pontos
12- Carlos Sainz Jr (Renault) - 34 pontos
13- Pierre Gasly (Toro Rosso) - 28 pontos
14- Romain Grosjean (Haas) - 27 pontos
15- Charles Leclerc (Sauber) - 13 pontos
16- Stoffel Vandoorne (McLaren) - 8 pontos
17- Lance Stroll (Williams) - 6 pontos
18- Marcus Ericsson (Sauber) - 6 pontos
19- Brendon Hartley (Toro Rosso) - 2 pontos
20- Sergey Sirotkin (Williams) - 1 ponto

* Com a venda da Force India, a equipe foi rebatizada de Racing Point Force India e teve a pontuação dos construtores zerada. No entanto, os pilotos mantiveram os pontos que conquistaram até o GP da Hungria, quando a equipe era Force India.

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 415 pontos
2 - Ferrari - 390 pontos
3 - Red Bull TAG Heuer - 248 pontos
4 - Renault - 86 pontos
5 - Haas Ferrari - 76 pontos
6 - McLaren Renault - 52 pontos
7 - Racing Point Force India Mercedes - 32 pontos
8 - Toro Rosso Honda - 30 pontos
9 - Sauber Ferrari - 19 pontos
10- Williams Mercedes - 7 pontos

* Com a venda da Force India, a equipe foi rebatizada de Racing Point Force India e teve a pontuação dos construtores zerada. No entanto, os pilotos mantiveram os pontos que conquistaram até o GP da Hungria, quando a equipe era Force India.

TRANSMISSÃO







quarta-feira, 12 de setembro de 2018

JÁ FAZ 10

Foto: Getty Images
O Grande Prêmio de Cingapura de 2008 tinha diversos motivos para entrar na história da F1. O primeiro, o mais simples: o primeiro a ser realizado nas ruas da cidade-estado. O segundo: a primeira corrida noturna da história do Mundial. A terceira: O GP número 800 da F1. Convenhamos que nenhuma (ou quase) delas foi lembrada.

Hamilton e Massa disputavam ponto a ponto o campeonato. Vantagem do inglês por um ponto. Entretanto, o brasileiro simplesmente voou no Q3 pra largar na pole, seis décimos mais veloz que o inglês. Raikkonen, Kubica e Kovalainen completaram os cinco primeiros. Rubens Barrichello foi só o décimo oitavo.

28 de setembro de 2008. Na largada, Massa mantém a primeira disposição e abre boa vantagem pra Hamilton. A corrida transcorre normalmente, até que o inesperado acontece.

Alonso, que só largou em 15°, para na volta 12, muito cedo segundo as projeções, para colocar os pneus duros. Voltou na distante última posição. Duas voltas depois, seu companheiro de equipe, Nelsinho Piquet, rodou e bateu de traseira. Safety Car.

Foto: Getty Images
Todo mundo nos boxes. O líder Massa se prepara paro o pit stop padrão. Na época, ainda era possível reabastecer e existia aquela mangueira. Pois bem, a parada é realizada, mas o sistema da Ferrari acaba acionando o sinal que libera Massa a sair dos pits, mas aí o grande problema: a mangueira ainda estava na bomba de combustível. E assim ele saiu...

Foto: Gazeta Press


Massa voltou em último. Com a corrida completamente modificada, Rosberg assumiu a ponta e Alonso, que parecia fora de jogo, pulou entre os ponteiros porque havia parado voltas antes. Com o desenrolar da prova, a maioria dos pilotos fez duas paradas, menos o espanhol.

Líder desde a 34a volta, a Fênix rumou para a vitória com uma fraquíssima Renault na primeira corrida noturna da história, o GP n° 800 da F1. Rosberg, ainda na Williams, foi o segundo e Hamilton conseguiu ficar em terceiro. Massa foi só o 13°e viu a vantagem aumentar para 7 pontos. Esses e outros erros da Ferrari e do brasileiro custaram o título daquela temporada. Golpe de sorte ou genialidade? Alonso tirou o coelho da cartola.

Bem, na verdade não. Um ano depois, quando foi demitido da Renault, Nelsinho Piquet e o pai revelaram para Reginaldo Leme que a batida do brasileiro foi proposital, em uma armação de Flávio Briatore e Pat Symonds. Uma bomba mundial. De novo Alonso estava envolvido, mesmo que de maneira indireta.

A investigação da FIA confirmou a versão brasileira. Briatore fez aquilo porque os franceses ameaçaram abandonar a categoria no fim do ano caso aquele carro ruim não ganhasse até o final da temporada (apesar de tudo, Alonso ganhou em Fuji, semanas depois). Briatore foi banido da F1 e Symonds suspenso por cinco anos. Voltou a trabalhar na Williams, justamente com Felipe Massa.

Alonso e Nelsinho foram inocentados. O espanhol não sabia da jogada, apesar das suspeitas existirem até hoje. O brasileiro perambula por várias categorias e foi campeão da Fórmula E em 2015. Alonso ficou mais um ano na Renault e encontrou Massa na Ferrari.

Além das questões históricas já citadas no primeiro parágrafo, a primeira corrida em Cingapura sempre será a mais lembrada: a corrida da marmelada, da entregada. Uma vergonha mundial. A Ferrari e Massa tentaram reverter o resultado, mas isso não aconteceu.

O mais incrível é que esse episódio já faz dez anos e um dos pivôs, indiretos, se despede desse palco nesse final de semana. Qualquer toque no muro, desde então, virou motivo para desconfiança.

Cingapura, dez anos. Corrida noturna, modernidade, circuito de rua, Safety Car, Cingapuragate, acidentes (o do ano passado também já entrou para a história). Como as coisas passam rápido. Impossível não lembrar. Estava assistindo na casa de um colega de escola, fazendo um trabalho. No fim do dia, o Inter goleou por 4 a 1 no Gre-Nal. Que dia, amigos.

Até!

terça-feira, 11 de setembro de 2018

LECLERC, RAIKKONEN E O MONOMITO

Foto: This Is F1
O que era tendência foi anunciado oficialmente hoje. A Ferrari contrariou sua lógica conservadora de não apostar em jovens talentos e acabou efetivando Charles Leclerc como companheiro de Vettel para a próxima temporada. Ela não fazia isso desde 2006, quando Felipe Massa substituiu Rubens Barrichello. A diferença é que Massa guiou na Sauber por três anos e ficou mais um como piloto de testes. Leclerc fica apenas essa temporada, impulsionada pelos grandes resultados pela Sauber em treinos e corridas.

Nos últimos anos, Vettel era quem bancava o amigão Kimi nas renovações. Entretanto, dessa vez a cúpula da Ferrari (capitaneada pelo falecido Sérgio Marchionne) pareceu dar um recado para o atrapalhado alemão: chega de erros e barbeiragens. Claro que Leclerc não vai correr ainda em igualdade de condições, mas será um indicativo para ver se um sangue-novo é capaz de ameaçá-lo com maior frequência ou irá sentir a pressão de estar na maior equipe da F1.

Leclerc vai ser o mais jovem piloto da Ferrari desde Pedro Rodríguez, em 1961. Na época, o mexicano tinha 19 anos e 211 dias. Na Austrália, na estreia, Charles vai ter 21 anos e 5 meses. É um feito e tanto, mas tudo isso foi fruto de muito talento e competência. O monegasco não esqueceu de Jules Bianchi, espécie de "mentor" do início da carreira e que poderia estar agora no seu lugar. Agora ele está, de certa forma. Ainda assim, acho a escolha precipitada. Meu medo é que os italianos queimem o jovem, que dificilmente pode fazer frente a Vettel, ao menos no início de sua caminhada. Um ano na Haas para evoluir e amadurecer ainda mais seria o ideal, mas pelo visto o grande objetivo era se livrar de Kimi Raikkonen.

Um jovem na Ferrari, dois na Red Bull e a Mercedes com Bottas... Leclerc pode ser finalmente a menina dos olhos da F1, se mantiver a maturidade e a regularidade em um carro que lhe dará condições de vencer. Resta saber como Verstappen vai reagir nesse contexto, se vai evoluir ou vai ver um cara menos experiente que ele em um carro de ponta com atuações melhores. Vai ser interessante.

Foto: ESPN
18 anos. A maioridade. Muita coisa mudou de lá pra cá na vida de Kimi Raikkonen e Sauber. Peter não está mais lá (Relembre a série que publiquei AQUI, em especial a passagem relâmpago do finlandês), nem a cor e tampouco a Red Bull. Parece um prêmio de consolação para o Iceman, rebaixado da Ferrari. Todo mundo imaginaria que iria se aposentar, mas o retorno para a Sauber (e por duas temporadas) é algo exótico e aleatório. Lembra bastante Alan Jones na Lola Haas.

Um prêmio caro, diga-se. As informações apontam que a Ferrari vai continuar pagando Kimi para correr na Alfa Romeo Sauber e fortalecer a marca. Aquele que no auge parecia nem estar aí para a F1 (tanto é que ficou dois anos fora) vai ser o último dos moicanos, no fim das contas. O remanescente da geração 2001, o meu primeiro contato com a F1. Meu medo é que Kimi se aposentasse, mas isso vai ser só em 2020 (!). Meu saudosismo agradece.

Resta saber como Raikkonen vai render em um carro médio, no meio do grid e com poucas chances de vitórias e pódios, apesar da gritante evolução nessa temporada. Será que o finlandês vai se sobressair ou os efeitos da idade avançada e um possível relaxamento irão falar mais alto?. Até escreveria desmotivação, mas assinar dois anos com a equipe "onde tudo começou" não parece ser o termo mais adequado. Também vai ser interessante como Raikkonen vai se portar em suas últimas corridas pela segunda passagem na Ferrari. Vai ajudar ou não Vettel, que chegou a declarar "estar correndo contra três carros"?

Incomum na história do automobilismo começar, sair e terminar onde começou. Raikkonen repete o que é comum no futebol: começar em um clube médio/pequeno, conquistar o mundo e depois encerrar a carreira no clube do início.

As trajetórias de Leclerc e Raikkonen, embora em direções contrárias, remetem a mesma coisa: o monomito. O conceito vem de 1948, quando depois de estudar as mitologias, o escritor Joseph Campbell publicou o livro "O Herói de Mil Faces" (Hero Of Thousand Faces; Pensamento, 2018). Ao analisar mitos de várias partes do mundo, Campbell concluiu que todos pareciam ter elementos de uma mesma fórmula universal, denominada de "monomito".

Funciona mais ou menos assim: a jornada do herói é dividida em três fases - separação, iniciação e retorno. O herói deixa o solo familiar, enfrenta uma série de obstáculos/aventuras e, mais maduro, volta pra casa. Segundo Wendell de Oliveira Albino, "é uma estrutura muito utilizada por cineastas, escritores de literatura e de histórias em quadrinhos de super-heróis", tendo como grande exemplo do cinema o filme Star Wars.

Raikkonen saiu do lar, enfrentou grandes desafios e obstáculos, atingiu o ápice e grandes dificuldades e finalmente volta pra casa para cumprir a parte final de sua jornada. Leclerc saiu do lar, enfrentou algumas aventuras e obstáculos e agora chega, com maturidade, para o ápice da carreira. Como será essa jornada e o seu retorno? Só poderemos descobrir nos próximos anos.

Até!

terça-feira, 4 de setembro de 2018

KAMIKAZE

Foto: The Telegraph
Poderia até estar falando do novo CD do Eminem (aliás, um dos melhores do ano! Shady is back!), que tem esse título, mas o assunto de hoje é Sebastian Vettel e os constantes acidentes que está envolvido nessa temporada.

Depois de um 2014 onde foi facilmente batido por Ricciardo, a transferência para a Ferrari parecia um renascimento (outra referência ao Marshall rs), com três vitórias em 2015. Em 2016, o retorno da instabilidade emocional mostrada no início da carreira. Natural. No entanto, justamente nos momentos de maior pressão, Seb se sobressaiu nas decisões de título em Abu Dhabi e em Interlagos para garantir os títulos mundiais.

Desde 2016, parece que para Vettel a corrida se define nas primeiras voltas. Os dois acidentes com Kvyat e o descontrole com todo mundo, incluindo xingamentos a Charlie Whiting mostraram a faceta do alemão quando as coisas não andam do jeito que espera. Não é o primeiro e não é o último a fazer isso. Em um 2017 onde parecia brigar pelo título, novos erros e a falta de confiabilidade da equipe no momento o deixaram pelo caminho. Outra vez, um acidente na largada: Cingapura, que envolveu Raikkonen e Verstappen.

Vettel parece não aceitar ser ultrapassado. Levando essa lógica, acaba tomando decisões equivocadas e coloca tudo a perder. Em Monza, ao tentar passar Raikkonen para definir a corrida, espalhou demais e acabou sendo presa de Hamilton. Ao invés de recolher e buscar a ultrapassagem durante a corrida, sabendo que tinha o melhor carro, Vettel simplesmente não aceitou a ação e tentou fechar Lewis. Se deu mal. A decisão não seria a mais inteligente de qualquer forma. A coisa se agrava quando Vettel está cada vez mais atrás na tabela do campeonato. Mesmo com o melhor equipamento, está enfrentando um adversário que vive o ápice da forma técnica e mental.

Vettel precisa mostrar por que é tetracampeão mundial. Velocidade ele tem, talento também. Está faltando o emocional, tão abalado pelos erros, capitalizados pelo Hamilton. Um bom passo para tentar buscar o penta é largar na pole. Se não, colocar na cabeça que a corrida tem 300 km ao invés de partir para o tudo ou nada, até porque erros e acidentes a essa altura só beneficiariam Hamilton.

Seb precisa pensar. Ele não está em posição para atacar sem pensar nas consequências. Deixe o Kamikaze para o Eminem.

MATADOURO

Foto: Motorsport
O óbvio aconteceu. Faltava apenas a confirmação oficial. Stoffel Vandoorne não fica pro ano que vem. Ao contrário do que era especulado, permanece na McLaren até o fim do ano. A lógica: o pupilo Lando Norris será o parceiro de Carlos Sainz no ano que vem.

A Red Bull/Toro Rosso ficou com a fama de incinerar quase todos os pilotos (Liuzzi, Klien, Bourdais, Alguersuari, Buemi, Vergne e Kvyat). No entanto, nos últimos anos, o cartel da McLaren também é de respeito: Pérez, Magnussen e agora Vandoorne.

O belga teve que esperar um ano correndo no Japão enquanto Button arrastava a carreira. Na estreia, um pontinho heroico no Bahrein. As expectativas sempre foram altas. O currículo mais do que vencedor na base, além do talento, respaldavam Vandoorne, tanto que teve post especial por aqui na estreia, em 2016, no já citado Bahrein.

Se no ano passado teve até um início razoável, o segundo semestre não foi bom. Ainda assim, foi blindado por Alonso e a equipe, afinal não era possível (e não continua sendo) render algo logo na primeira temporada e na zona que virou a McLaren.

Uma breve repetição disso tudo nessa temporada. O agravante: a McLaren não evoluiu o que se imaginava com o motor Renault. O buraco é mais embaixo. O chassi não é tão bom assim. Alonso, o extraordinário, sempre entrega mais do que pode. Desde o ano passado foi revelado que o espanhol recebia as peças atualizadas primeiro e, portanto, aumentava ainda mais a diferença natural de desempenho de um bicampeão contra um novato promissor. O belga não se ajudou. Sempre distante do espanhol, passou a ir vagarosamente para o fim do grid. Ficou sem defesa.

Vandoorne é vítima de uma grife decadente, uma equipe ávida por resultados imediatos, mas que não possui mais o know-how e a grana necessária para ressurgir rapidamente. Uma tremenda confusão, com reestruturação ocorrendo em meio a temporada. E o futuro? Anteriormente especulado na Sauber pelo bom relacionamento com Frederic Vasseur, chefão nos tempos de ART na GP2, a coisa parece que esfriou. Nos próximos meses, Vandoorne vai anunciar o sem futuro. Certamente não será na F1. Uma pena. Uma grande vítima da zona que virou a McLaren.

É aí que entra o jovem Lando Norris. Menos de nove meses atrás, também fiz um post especial (será uma maldição?) sobre ele.

"Bom, fatalmente Lando chegará a F1 se nada der errado. A questão é quando. Fique de olho. O menino é uma promessa e se você piscar, lá estará ele alinhando no grid com a McLaren em um futuro nada distante."

E chegou. Entretanto, Lando não chega a categoria confirmando as expectativas da base. Na F2, vem sofrendo para ficar na frente do Sérgio Sette Câmara, vítima de vários infortúnios e acidentes que o deixaram ausente de algumas provas. Lando não deve ser o campeão da F2, onde é o favorito, afinal a Carlin é o melhor carro. Está 24 pontos atrás de George Russell (ART), que tem boas chances de ir para a Williams no ano que vem.

Norris não vem entregando na pista o domínio que se imaginava. Sem o título, o que naturalmente lhe credenciaria, dá a entender que está sendo promovido por motivos bem simples: o aporte financeiro e por ser empresariado pelo chefe, Zak Brown.

O momento não é dos melhores para estrear: possivelmente sem a credencial do título e somado a decadência da McLaren e a pressão em alcançar resultados melhores, o trunfo de Lando pode ser justamente a paciência do chefe/empresário, coisa que não durou muito com Vandoorne, até porque a responsabilidade vai cair toda nos ombros de Sainz. Ele é o cara mais experiente e o primeiro piloto.

Agora, francamente... Uma equipe vencedora como a McLaren ter Sainz e Norris no ano que vem mostra o assustador progresso quase final de "Williamszação" da equipe. É muito triste ver essas escuderias históricas fechando o grid e sem perspectiva de um futuro competitivo. Bom, infelizmente estão pagando o preço de escolhas equivocadas.

Pérez, Magnussen e agora Vandoorne. Será que Norris vai ser a próxima vítima do matadouro da McLaren?


Até!


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O MÉDICO E O MONSTRO

Foto: Will Taylor-Medhurst/Getty Images
De novo o post de sexta zicou o panorama todo. Em minha defesa, é possível afirmar que a incompetência de Vettel e Ferrari nesse domingo superam qualquer poder que a nossa palavra é capaz de ter, claro.

Se Vettel e Ferrari bateram cabeça e jogaram pela janela uma vitória, quiçá uma dobradinha, tudo isso tem a ver com mais uma extraordinária jornada de Lewis Hamilton. Dessa vez, a tática da Mercedes funcionou com maestria. Um La Boba em plena Monza.

Muito criticado nos primeiros anos de carreira por ter um "psicológico fraco" e reagir mal as adversidades, principalmente quando as coisas na badalada vida pessoal não estavam bem, Hamilton parece ter amadurecido e agora atinge o ápice como piloto. Além da velocidade e do talento, está sabendo administrar as situações de corridas. Quando vê que não pode vencer, consegue o possível. Quando há uma mínima possibilidade, vai lá e aproveita. Com uma dose de sorte, também. Dr. Jekyll.

Na largada, aproveitou a estranha indecisão e disputa das Ferrari para se posicionar por fora na variante, passando Vettel. O alemão, pensando se tratar da última curva do campeonato, insistiu na posição até rodar e cair para a última posição. Sorte de Seb que bateram em Hartley depois de alguns metros e teve Safety Car.

Foto: Reprodução/FOM
Raikkonen não conseguiu abrir para Lewis, que manteve-se no máximo um segundo atrás do Ice-Man. Aí o instante que começou a mudar tudo. A Mercedes se posicionou duas vezes nos boxes, pronta para chamar alguém. A Ferrari resolveu ir, e Raikkonen parou. A Mercedes, nada. Nas voltas seguintas, diante de alguns pingos de chuva, poderia ser possível imaginar que a estratégia não deu certo. Hamilton parou e voltou bem atrás de Raikkonen. Eis que entra em ação o escudeiro.

Sem essa de igualdade de condições. Sempre foi trabalhar em prol de Vettel e Hamilton. O finlandês sacrificou o primeiro stint na briga pelo pódio para ficar na frente de Raikkonen, fazendo com que o #7 desgastasse os pneus e permitisse a aproximação de Lewis. Me veio a lembrança de um certo David Coulthard...

Cumprindo a missão, agora Hamilton continuava a menos de um segundo de Raikkonen. Mais rápido no miolo, o #44 via a Ferrari sumir nas retas. As oito voltas a mais com os pneus macios começaram a fazer a diferença. Na volta 45, depois de dar pistas, o bote certeiro. Por fora. Diferente do que foi em 2007, por dentro. De novo com Raikkonen. De novo calando os tifosi, que seguem sem vitória da sua equipe por lá desde 2010. O finlandês fez o que pode, hoje. Pode ter perdido a última grande chance de vitória na carreira, ainda mais depois dos boates apontarem Leclerc para seu lugar. Prefiro me posicionar apenas quando algo oficial estiver claro.

Mais uma atuação extraordinária de Lewis Hamilton na temporada. A exemplo do que ocorreu na Alemanha, a corrida da Itália entra no rol das melhores da carreira do (por enquanto?) tetracampeão. Para mostrar que o piloto sim faz a diferença. Um golpe duro na confiança da Ferrari e um grande ânimo para a Mercedes nessa reta final. 30 pontos de vantagem e inferior na maioria dos circuitos, está longe de acabar, mas Hamilton mostra indícios de que, sendo cerebral, pode ser capaz de administrar essa situação.

Foto: Dan Istitene/Getty Images
Diferentemente de Vettel. Na hora das grandes decisões, o instinto demoníaco está tomando conta. Erros de julgamento e acidentes na primeira volta mostram a recorrente afobação do tetracampeão, além da falta de concentração. Já perdeu pontos que seriam suficientes para ser campeão com algumas corridas de antecedência. Me parece que os anos de dominância do Vettel mascararam a falta de sangue frio nesses momentos de disputa roda-a-roda. Eles têm sido recorrentes, principalmente depois que chegou na Ferrari. Mr. Hyde.

Os inúmeros erros, aliados a perfeição do maior rival, minam com a confiança de qualquer um. Se a Mercedes parecia estar nas grades na Bélgica, Hamilton, ao estilo Ali e Tyson (ou McGregor?), contragolpeou a Ferrari. Um knockdown. Nem tudo está perdido, mas Vettel tem sentido o baque emocional. A pressão está toda nele.

Nem tudo foi ruim para o alemão. Passando todo mundo lá de atrás, conseguiu herdar um quarto lugar em virtude de uma punição dada a Max Verstappen. Terceiro na corrida, quinto no "tapetão". Não deu espaço para Bottas dividir a chicane e quase provocou um grande acidente. É o estilo Verstappen de ser: não admitir os erros e xingar tudo e todos. Confesso que gosto desse personagem dentro da pista. O escudeiro finlandês do dia teve seus serviços prestados a Lewis reconhcidos com um pódio imerecido. Um fim de semana bem Kimi Raikkonen, convenhamos. Sorte de Seb.

Vejamos o resto: Grosjean foi o sexto, mas o "tapetão" desclassificou a Haas da corrida por irregularidades no assoalho. A Renault está por trás disso tudo. O francês é tão azarado que isso acontece bem quando ele anda bem. Muita sacanagem. Bom, o restante herdou as posições. Ocon em sexto, com Pérez em sétimo (chegou menos de um segundo, mesmo largando lá atrás), Sainz em oitavo e, pasmem os senhores, duas Williams nos pontos. E sim, Sirotkin marca seu primeiro ponto na F1. Agora todos os 20 pilotos não estão zerados.

A Williams do dia foi a McLaren. Vandoorne parece já saber que não fica e não tem perspectiva. O outro assento do time de Woking pode ganhar contornos interessantes caso Raikkonen não fique mesmo na Ferrari. Ademais, não tenho medo de afirmar que essa foi a melhor corrida do ano. E por que? Bom, foi a única que não precisou de elementos artificiais extra-pista para manter a emoção do início ao fim. Uma raridade.

Com mais uma grande atuação na carreira, o "médico" Hamilton se fortalece demais na casa do grande adversário, enquanto que o "monstro" Vettel precisa dosar seus instintos se quiser reverter a situação. Não é falta de equipamento, é cabeça.

Confira a classificação final do GP da Itália (imagem ainda com Grosjean em 6°; ele foi desclassificado):


Até!