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terça-feira, 17 de outubro de 2023

TANTA COISA ERRADA

 

Foto: Reprodução

Ao mesmo tempo que a F1 cresce em audiência e no sentido de espetáculo nos últimos anos graças a entrada da Liberty Media na categoria e a administração à la Hollywood, essa tentativa de transformar tudo em show também traz consequências embaraçosas para a F1.

2021 mesmo terminou com um erro humano de Michael Masi, que passou por cima do regulamento para transformar o fim da corrida de Abu Dhabi em algo de cinema. Foi tão equivocado que acabou sendo demitido, não só por isso, mas por uma série de regras e interpretações errôneas nas corridas durante aquele ano, juntamente com os comissários.

Talvez seja até repetitivo escrever isso aqui, mas temos novos elementos para mostrar como a F1 está indo por um caminho esportivamente equivocado. As punições (ou a falta delas), proibição de correr na chuva e agora casos que ficaram extremos e ridicularizaram a F1 no Catar.

Primeiro: correr num calor desgraçado onde diversos pilotos passaram mal, vomitaram e/ou quase desmaiaram durante e depois da corrida, no centro médico. Sargeant desistiu da corrida, por exemplo. Outros diziam que apagavam nas retas. Enfim, num clima desses, não deveria ter corrida. É colocar a saúde de todo mundo em risco. Imagina se o cara desmaia na reta e passa reto na curva?

A outra é o já conhecido limite de pista. Sem zebras ou britas, a F1 tem que ficar colocando sensor pra ver se o carro fica com as quatro rodas na pista. Se não, haja punições. Tivemos a questão ridícula de Piastri e Norris punidos enquanto davam entrevista na classificação de sexta e a mudança de resultados muito depois do fim da corrida.

É tão simples brita ou zebra? Ah, mas danifica o carro. É lógico, é por isso que os pilotos não podem errar e são muito bem pagos para isso, desde que o mundo é mundo. O que não faz sentido é não existir diferença entre estar ou não na pista.

Aliás, outra punição inútil é o tal dos segundos acrescentados no fim da prova para o infrator. Parece até uma tática: pega a Red Bull do Pérez, sai batendo por todo mundo e que as “punições” não vão ser suficientes para nada, pois o carro é tão mais rápido que os demais que é fácil fazer mais tempo que a punição imposta pela FIA. Quem se ferra, na verdade, é só quem teve o carro batido.

Por uma F1 menos artificial, não custa repetir. O presidente da FIA falou que são situações inaceitáveis e que até ameaçou tirar Catar e Áustria do calendário se algo não for feito, por exemplo.

O chefão também disse que tem muitas corridas no calendário. Concordo demais. O problema é que sabemos o que é mais fácil de ser feito para desinchar o calendário: tirar as corridas tradicionais como Interlagos, Spa, Suzuka, Monte Carlo e manter aberrações como Miami, Arábia Saudita, Catar, Holanda, entre tantas outras, porque elas pagam mais e sustentam toda essa brincadeira.

Bom, pelo menos Spa está garantida por mais dois anos. Vamos aproveitar enquanto dá tempo, afinal a campanha por vilanizar uma reta curva (Eau Rouge) é uma das maiores bizarrices que eu já vi na imprensa e nas redes sociais em muito tempo.

Até!

segunda-feira, 24 de julho de 2023

OLHANDO PARA O FUTURO

 

Foto: Getty Images

A temporada 2023 já acabou. Fruto da competência da Red Bull e menos competência das demais no novo regulamento. E ainda teremos mais dois anos assim até a “nova F1” que vai entrar em vigor a partir de 2026, ainda que a renovação do Pacto de Concórdia não tenha sido assinada.

Uma das disputas relevantes na queda de braço entre FIA e Liberty/equipes é a entrada de uma 11ª equipe. Andretti, Hitech e outros projetos estão interessados. A Liberty e os times não querem porque isso significa menos dinheiro para eles. A FIA, rompida com o showbiz da F1 a partir do novo presidente pós-Jean Todt, pensa com carinho.

O que falta para que isso se materialize? Quais os interesses? Recentemente, tivemos os retornos da Renault e a entrada da Haas. Antes disso, Caterham, Marussia e HRT naufragaram. Lembram quando tinha 24 carros no grid de 2010 e 2011? Era fantástico, mas os times novatos ficaram muito para trás em termos de competitividade.

Isso pode ser um risco, aquilo que o Galvão chamava de “carro de F2 na F1”, mas considerando o tempo que falta para o novo regulamento e a competência de nomes experientes no automobilismo como a Andretti (a compatriota Haas não deixa mentir), a má vontade financeira poderia ficar para trás em prol do bom senso.

Mais carros, mais pilotos, mais funcionários. Claro, a F1 assinou um compromisso de ser mais sustentável, em diversas práticas. Ter mais pessoas e, consequentemente, mais gastos não é algo que ajude, mas pensem: a Red Bull tem 20% do grid, a Alpine/Renault sempre está de vai e vem da categoria (e já vendeu uma parte das ações para os americanos), a Audi está chegando e o restante tem déficit, incluindo as equipes grandes.

A conta não fecha para eles, certo, imagina para os novatos. Claro, é preciso que o projeto escolhido seja sério e coeso, mas a partir daí é impossível prever qualquer coisa. Esse corporativismo dos times e a burocracia da Liberty é um contrassenso na história da categoria: garagistas que tinham o sonho de colocar os próprios carros na pista e fazer a coisa acontecer.

O amor e romantismo não existem mais, o importante são os likes e o engajamento na série da Netflix. A preocupação é não correr na chuva ou enfiar um monte de sprint race como se alguém gostasse disso ou achasse o suprassumo do entretenimento. Pra quê mais carros, afinal?

Nesse lado da situação, torço para que a FIA encontre o bom senso e faça o que Max Mosley transformou a categoria antigamente: as montadoras comendo na mão da F1, e não contrário como estamos vendo hoje.

Até!

terça-feira, 23 de maio de 2023

A MESMA DANÇA

 

Foto: Getty Images

Quase três meses de temporada e a impressão é que a F1 não engrenou, de fato. Um motivo é óbvio: não há competição. Serão 22 corridas onde a Red Bull vai reinar sozinha e apenas questões pontuais que vão impedir um ano perfeito, até porque isso nunca existiu e nem vai existir.

As coisas parecem mornas não só pela falta de um antagonista a um inevitável tri de Max Verstappen, mas também porque a F1 só corre em circuito de rua. É uma coisa sem graça, que foge do histórico da categoria. Parece uma F-E. Não tem espaço, não tem emoção, só apostam em bandeiras amarelas ou vermelhas como se fosse a Indy para forçar alguma pseudo emoção.

A corrida cancelada de Ímola adiou as atualizações prometidas por quase todas as equipes. É evidente que um circuito de rua como Mônaco não é o palco ideal para nada, então tudo será novamente adiado para a outra semana, em Barcelona, tradicional palco da pré-temporada (menos nesse ano).

Então, novamente, teremos que confiar na mística de Mônaco ou na metereologia diferente, desde que não cancele as atividades igual semana passada.

E assim, parece que não será um ano que vai engrenar. Falta sal, faltam personagens, tramas, narrativas. Fica difícil até de tentar construir um texto durante a semana. Está difícil, talvez eu não consiga mais extrair algo de diferente ou enxergar relevância nos detalhes atuais.

Ou talvez esteja de saco cheio de escrever sobre F1, ou da F1 em si, ou do rumo que a categoria está levando, ou do marasmo provocado pelos acontecimentos que fogem de algum controle da categoria.

Ah, eu finalizo esse texto com o óbvio: Mônaco é um lugar histórico e tem que ter cadeira cativa na categoria, assim como Silverstone, Interlagos, Monza, Suzuka, entre outros circuitos antigos e históricos. O problema não é correr lá uma vez por ano, e sim dar um monte de volta em circuitos genéricos como Baku, Arábia Saudita, Miami ou Las Vegas.

Até!


quarta-feira, 17 de maio de 2023

OUTRA PAUSA FORÇADA

 

Foto: Reprodução/Twitter

As fortes chuvas e alagamentos no norte da Itália anteciparam uma tendência que começava a se desenhar ontem, quando o autódromo de Ímola foi evacuado: a pedido do vice primeiro-ministro, Matteo Salvini, o GP de Emília Romagna foi cancelado.

Em virtude do calendário inchado, certamente a prova só deverá voltar ao calendário no ano que vem. Com contrato expirando em 2025, a tendência é uma renovação automática de um ano como compensação ao que aconteceu, embora seja muito prematuro afirmar qualquer coisa.

Sendo bem sincero, eu só acredito nesse cancelamento justamente pela imposição do governo italiano. Mesmo com o autódromo alagado, ainda acho que a F1 tentaria correr até as últimas circunstâncias, tudo pelo contrato, mesmo que isso significasse mais constrangimento, como o que aconteceu na Bélgica em 2021.

A F1 não cancelava um evento nas vésperas desde a Austrália, em 2020, quando a pandemia começou. Talvez seja só coincidência, mas no tão falado "maior calendário da história", voltamos agora para o número padrão de 2022, que já é alto.

Sem China e Ímola, o início de temporada é ainda vagaroso, embora agora é que as coisas apertem de vez. Talvez seja um sinal para que o número de corridas diminua, pois o ritmo de trabalho e as viagens são desumanas para quem está na base da pirâmide.

Por outro lado, o número excessivo de corridas também pode ter sido um fator para que a F1/Liberty não tenha se desgastado, pois assim também ajuda na própria imagem, posando de sensata e mandando solidariedade e apoio para quem precisa nesse momento difícil lá no norte da Itália.

Afinal, antes seriam três corridas seguidas, agora são duas: a F1 volta na semana que vem, em Mônaco, e depois vai para Barcelona.

Até!

terça-feira, 2 de maio de 2023

O DESESPERO DA ARTIFICIALIDADE

 

Foto: F1

O texto é até repetitivo, mas a F1 não tem novos assuntos ou personagens para discussão. A temporada será longa e, consequentemente, a Red Bull vai ter outro domínio. Tudo que a categoria não queria está acontecendo: o tal do novo regulamento não surtiu efeito.

Aí, como tentativa de solução, a F1 está apelando para o artificial: pistas de rua repetitivas, trocentas corridas no mesmo país e corridas classificatórias que são um fiasco. Um falso espetáculo não se sustenta, e me parece que muitas pessoas estão percebendo isso.

Parece tudo uma cortina de fumaça até esperar o novo regulamento de motores em 2026 e a chegada de Audi, Ford e talvez Porsche e Honda. Sem testes, talvez essas gigantes demorem um tempo para serem competitivas, tal qual Renault e Honda quando retornaram a categoria.

O novo Pacto de Concórdia, a partir de 2024, ainda não foi assinado pelos times. Isso também será um grande motivo de discussão e notícias nos próximos tempos, até porque existe uma nítida rixa entre a Liberty, que organiza os direitos da categoria, e a FIA. Quem ganha essa queda de braço? A FIA quer novos times, as equipes querem proteger os investimentos. Mais equipes, mais pilotos, mais oportunidades, menos dinheiro. Contas a pagar.

No fim das contas, como também sempre escrevo, a F1 sempre foi e sempre será marcada por eras. A diferença é que antigamente, com os testes liberados, os mais endinheirados podiam se recuperar mais rapidamente. Agora, dependendo do nascimento do projeto no novo regulamento, é um processo que leva muito tempo.

Enquanto isso, o desespero da artificialidade pelo engajamento e manchetes fáceis, onde o clique que importa, nos leva a ter coisas que são contra o verdadeiro espírito da F1. É bom que alguns bem intencionados já estão caindo na real. O fiasco de Baku foi muito necessário.

Nesse desespero, só falta fazer o que todo mundo clama: grid invertido, para priorizar o entretenimento fácil e vazio, ou então proibir a Red Bull de ganhar, algo do tipo.

O desespero da artificialidade rende cliques vazios, mas torna a F1 mais desinteressante de forma cada vez mais rápida durante as eras e os domínios de uma equipe/piloto.

Até!

segunda-feira, 3 de abril de 2023

FORÇA DE VONTADE

 

Foto: Getty Images

A FIA e a direção de prova, com Charlie Whiting, tinham preceitos, regras e situações muito bem definidas. Raramente existiam polêmicas. Só lembro de uma, quando Vettel mandou o finado diretor de prova ir “se foder”, mas mesmo assim, a regra era clara, parafraseando outro.

Apenas a morte de Charlie Whiting não justifica o deus dará e a falta de bom senso que tomou conta da F1. Interpretações dúbias, hipocrisias, pressões das equipes e influência, decisões que precisam ser tomadas rapidamente... Todos nós estamos vendo os efeitos disso.

Quando há um campeonato decidido, sem grandes variações, esses erros podem se tornar menores, quase imperceptíveis. O problema é o que vimos em 2021, quando uma interpretação de uma pessoa ajudou a mudar o rumo de um campeonato.

Os problemas continuam, mesmo com a Red Bull, hoje em dia, quase intocável, e também a saída de Michael Mais. Dois diretores de prova já foram conduzidos, hoje são só um, existe uma espécie de VAR fixa em Londres para analisar tudo nos mínimos detalhes e o resultado, até aqui, é muita confusão e falta de critério.

A F1 optou por um caminho que está ficando sem volta: a espetacularização de tudo e a artificialidade em prol de um engajamento enganoso e momentâneo. Se discutem apenas superficialidades, como bandeira vermelha e Safety Car pra qualquer cocô de passarinho na pista, pneus de chuva que nunca são usados porque a categoria não corre mais na chuva, dramas forçados de série enquanto a competitividade do novo regulamento não emplaca e por aí.

Pouco se vê as discussões acerca de 2026, a tão propagada nova era da F1, mas o intuito do texto também não é esse.

A espetacularização forçada de tudo e qualquer coisa, sobretudo nas regras, cria a falta de bom senso na aplicação das regras e punições. O resultado são essas confusões: punições anunciadas e canceladas, tempo de espera para resolver o que ser feito na pista e a incapacidade de fazer o público entender bulhufas, mesmo quando as vezes acontecem casos quase extraordinários.

Lembram do ano passado, quando a FIA teve que explicar bem depois da bandeirada que Max Verstappen tinha sido campeão no Japão? Nem o piloto sabia. O momento mais importante da temporada veio num anúncio frio, agridoce e confuso.

Tá faltando clareza e entendimento no tratamento e na criação das regras e normas. O bom senso ajudaria. É claro que a ausência de um novo número um incontestável após a morte de Whiting dificulta o processo. São formas diferentes de gerir e avaliar os casos. As pessoas são diferentes, mas as interpretações e aplicações não podem ser. Baumeister e Tierney escreveriam que a F1 precisa redescobrir a própria força de vontade.

Tudo bem, se eles não escrevessem isso, eu escrevo, então, azar.

A FIA poderia ser mais assertiva em situações de corrida ao invés de achar que o piercing do Hamilton e os mecânicos na grade na bandeirada são os verdadeiros problemas da categoria.

Até!


domingo, 5 de fevereiro de 2023

VELHA CONHECIDA

 

Foto: Getty Images

Na última sexta-feira, tivemos um anúncio importante para a F1 porque envolve grandes marcas. A atual campeã do mundo, a Red Bull, depois de quase fechar com a Porsche, anunciou que terá como parceira a Ford a partir de 2026, quando entra em vigor a nova especificação de motores.

Até lá, os taurinos mantém a parceria com a Honda, embora o nome oficial da unidade de potência seja Red Bull Power Trains. As duas empresas já foram parceiras no Mundial de Rali, então não é exatamente uma novidade essa junção.

A Ford voltará para a F1 depois de mais de 20 anos. Sempre com o motor Cosworth, a empresa entrou de vez após comprar a Stewart no fim de 1999 e transformar na Jaguar. A operação não teve grandes resultados e, para vocês verem como é o destino, quem comprou a equipe foi uma tal de Red Bull. O último ano da Ford na F1 foi justamente com o motor Cosworth pela Jordan, em 2005.

Até lá, os americanos vão ter tempo para trabalhar em um regulamento inédito para todos. A opção da Red Bull é novamente interessante pois, assim como a Honda, a aposta é pela exclusividade. Os americanos também vão, obviamente, ser os motores da Alpha Tauri.

E a relação com a Honda? Segundo Christian Horner, a propriedade intelectual não será afetada. Os japoneses vão seguir nessa parceria vencedora e sairão definitivamente de cena. O desafio da Ford, depois de tanto tempo fora, é continuar mantendo a Red Bull competitiva. É claro que não sabemos como estarão as coisas daqui três temporadas, mas a pressão nos americanos já é imensa. A Honda demorou alguns anos para se acertar, mas deu certo. A Ford tem essa responsabilidade.

A popularidade da F1, principalmente no país da empresa, foi um fator influente. São os benefícios do modelo da Liberty, assim como o interesse da Andretti, que Domenicali e os europeus insistem em esnobar, o que é lamentável.

A F1, aos poucos, volta a ser atraente para as montadoras. Falta a Porsche, eterna lenda. Falta mais uma equipe. Que seja a Andretti. O que falta, também, é que a F1 não seja refém delas, e isso o presidente da FIA parece que não quer ser. 

O futuro parece animador em termos de estrutura. Esperamos que também seja em termos de competição. Até lá, alguns bons anos, mas já estamos começando a nos preparar para uma nova era na categoria.

Até!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

MEDO, DELÍRIO E ESPERANÇA

 

Foto: Getty Images

A grande notícia desse início de ano da F1, ainda de férias ou então num retorno lento aos trabalhos no início do inverno europeu, foi a declaração mais incisiva da Andretti no desejo de entrar na F1 como uma equipe.

Não só em declaração, mas também em uma ação. Michael Andretti anunciou o projeto da equipe Andretti em parceria com a gigante General Motors, com o apoio dos motores Cadillac. No primeiro momento, pela falta de tempo, o nome seria apenas um batismo de marketing e a busca seria com uma parceira, por exemplo a Honda ou a Renault. Depois, os americanos entrariam de cabeça para serem competitivos.

No início do ano, o presidente da FIA, Mohammed Bin Sulayem, disse que a categoria estava disposta e precisava de mais equipes na F1. Há uma nítida rixa entre a Federação e a F1. Stefano Domenicali sempre foi mais frio e esnoba o desejo americano, assim como a maioria das equipes. Somente Alpine e McLaren, do também americano Zak Brown, que hoje são favoráveis a ideia da inserção de Andretti.

Há aí o choque: a F1 não quer mais uma equipe porque as equipes teriam que repartir em mais uma parte o bolo do que ganham. Isso, claro, num contexto de crise, pós-pandemia e novo regulamento, é um desastre para todos, sobretudo quem está no meio e final de tabela. A F1 não quer repetir a última experiência, quando Marussia, Caterham e HRT entraram e pareciam times de GP2 na categoria principal.

Bom, o processo é lento. A Honda demorou anos para ser competitiva. Grandes montadoras fracassaram. Só agora que a Alpine é quarta força e, em seis anos, teve apenas uma vitória. A Andretti não é liderada por amadores aventureiros. Claro, a F1 é um animal diferente, mas o descrédito existente da categoria com os americanos é surreal. É contra a lógica, aliás.

Com três corridas no calendário e agora Logan Sargeant, outro time americano, com Colton Herta, seria mais um passo para popularizar ainda mais a categoria na terra do Tio Sam, trazendo mais visibilidade, engajamento e oportunidade de negócios para todos os envolvidos. É uma mesquinharia do clubinho europeu, no fundo, esse protecionismo de Domenicali e os times. O que os compatriotas da Liberty pensam sobre isso?

A palavra é esperança. Não, isso não é uma peça publicitária de banco, supermercado ou manteiga, mas a insistência da Andretti (e de outros projetos, segundo Domenicali), a insistência e aprovação da FIA e a presença dos americanos da Liberty na liderança do negócio é um ótimo sinal. Vai ser difícil desatar esse nó com os times e o lado europeu mas, em todo caso, Ben Sulayem poderia dar uma canetada. Afinal, ele quem manda, certo?

Mais equipes são mais trabalhadores, pilotos, patrocínios e um circo cada vez mais cheio. O bolo cresce, não diminui. Ok, ele pode diminuir no primeiro momento e isso soa desesperador para quem não tem os bolsos fundos, mas estamos falando da Andretti. Há de se ter crédito e respeito por esse sobrenome tão importante no automobilismo. A F1 precisa de no mínimo mais uma equipe para o bem da própria competição.

Chega de soluções artificiais e Netflix. A F1 precisa de medidas realmente eficazes e realmente competitivas para que a categoria cresça ainda mais, de forma natural, fluida e próspera em todos os sentidos. Que esse seja o primeiro sopro de esperança da Andretti nessa jornada rumo a 2026, que já tem a Audi e, esperamos, também tenha a Porsche acompanhada do grande sonho americano.

Até!

terça-feira, 20 de setembro de 2022

UM PROBLEMA PELO OUTRO

 

Foto: Getty Images

O motivo da adoção da pontuação para ter a superlicença da FIA para disputar os campeonatos organizados pela Federação era simples: criar um critério mínimo para evitar bizarrices, seja um Yuji Ide da vida, seja Max Verstappen, Lance Stroll ou Kimi Raikkonen, que estrearam na categoria com 18 anos (Max 17). Claro que dois desses três justificaram a precocidade, mas a questão era: qualquer um poderia ter a superlicença e estava virando bagunça.

Com a adoção de uma pontuação mínima, a partir das categorias de base da FIA, os campeonatos ficariam mais competitivos e os pilotos que só tem dinheiro precisariam do mínimo para ter a confirmação, também mínima, de estarem aptos para a F1. Isso poderia empurrar o problema para a base: um espaço onde sempre teve o equilíbrio poderia ser transformado em uma discrepância incrível nos últimos estágios antes da F1.

Uma questão que pouco foi debatida porque na época não era importante foi a pontuação da Indy. Ao longo da história, tivemos muito intercâmbio entre as categorias: de Villeneuve a Montoya, passando por Michael Andretti lá atrás.

De forma surpreendente, segundo a FIA, a pontuação da Indy vale menos para a superlicença do que a F2 ou a F3. Campeão de Indy e F2 ganham 40 pontos, a da F3, 30. Eurocentrismo. Absurdo puro. Muita gente argumenta: “ah, mas fulano que não fez nada na F1 chega lá e se dá bem: Sato ganhou duas Indy 500, Ericsson e Rossi também venceram”. Certo, mas a comparação não é com a F1.

É como se a Copa São Paulo de Futebol Júnior valesse mais que os Campeonatos Estaduais. A comparação não faz nenhum sentido. A Indy é muito mais difícil que um campeonato de base. O grid, na maioria das vezes, é melhor. Na F2, a geração conta muito.

Em um ano, é possível ter Norris, Russell e Albon, mas no outro os principais são De Vries e Latifi. Tem Raghunathan e Tatiana Calderón. O grid muito fraco foi um grande fator para a morte do bom Anthoine Hubert em 2019, no pior grid da história da categoria. Neste ano, a nominata também não é lá grandes coisas. Poucos talentos, como Drugovich, Pourchaire e Enzo Fittipaldi. O resto ainda não mostrou a que veio.

Nessa polêmica da pontuação necessária para a superlicença, Colton Herta ficou de fora da F1. A Red Bull desistiu do americano porque a FIA não abriria exceção. Quem perde é a categoria.

Herta é jovem e tem resultados consistentes na Indy. Além do mais, tem o pacote completo: um piloto americano para alavancar a categoria de vez na terra da Liberty Media. Não é isso que vai acontecer, porque a Europa não respeita e não valoriza a Indy como deveria. Ainda estão nessa rixa e arrogância que vem desde os tempos de Bernie Ecclestone.

É muito mais interessante ter um Herta, sobrenome pesado no automobilismo americano, do que algum piloto mediano, sem carisma e sem grandes qualidades da F2 subindo para a F1, ainda mais esse grid tão mais ou menos.

O que você prefere: Herta ou Iwasa, Lawson, Daruvala ou qualquer outro piloto de academia?

É preciso mudar a regra. Claro, ter o equilíbrio e o bom senso para tentar frear a ditadura do dinheiro absurdo dos bilionários e os sobrenomes famosos das academias de pilotos, assim como não desvalorizar algo de fora da Europa. É interessante pensar nisso porque agora a dona da F1 é americana. Não deve ser um embate que interesse quem paga as contas do jogo.

Pontuações e regras estúpidas não podem ser respeitadas. Uma pena que a Red Bull já desistiu do negócio. Herta deveria estar na F1 e azar da pontuação. Nesse caso, faltou bom senso.

Que isso seja uma luz para o assunto e, que, em breve, seja uma questão debatida e modificada para melhor. Todos saem ganhando, principalmente a F1, que precisa do último passo dentro dos Estados Unidos para virar uma marca mais global do que nunca: o surgimento ou até mesmo a criação de um superastro americano na categoria

(sim, Mario Andretti já foi campeão, mas não se encaixa no contexto do rockstar).

Até!


terça-feira, 19 de julho de 2022

CHEGA DE CLUBINHO

 

Foto: Getty Images

Já faz alguns anos que a F1 virou uma WEC com grife, dividida entre duas montadoras (Mercedes e Ferrari) e a Red Bull, uma empresa de energéticos. A única exceção é a Renault, que de tempos em tempos deixa a categoria. De resto, todas as outras têm alguma ligação com as três citadas.

Com o alto custo da F1, principalmente do novo regulamento, Jean Todt não se importou em agir contra o constrangimento de ter só 10 equipes e 20 carros no grid. A F1 sempre foi sinônimo de garagistas tentando a sorte, histórias dos “journeyman” e o lado B do glamour da F1. É óbvio que aquilo não existe mais porque os custos não permitem, mas o clubinho protegido já passou dos limites.

Com menos equipes, o fundo de prêmios da categoria fica maior para todos. Essa questão ganha mais importância a partir do momento que a F1 colocou em prática o teto orçamentário. Uma equipe a mais significa menos receitas coletivas, o que seria pior para os times mais pobres, apesar de todos terem alguma dificuldade, principalmente após o Covid.

Menos times, menos vagas. Seja para os pilotos talentosos, aqueles que só têm dinheiro ou aqueles das academias. Que sonho ter 11 ou 12 times, igual em 2010 e 2011.

Claro, se é para ter uma equipe que ande muito distante do resto do grid, melhor não ter. Por isso que a F1 e o clubinho colocaram uma alta taxa para qualquer sonhador entrar na categoria: 200 milhões de dólares. Um valor inviável, ainda mais no pós-Covid. Tudo para proteger o clubinho e as principais montadoras. O último aventureiro foi Gene Haas, em 2016.

Eis que existem algumas possibilidades para isso mudar. Tirando algumas equipes, o status quo não parece muito satisfeito com essa possibilidade e vai tentar barrar isso o quanto for possível.

Audi e Porsche só precisam da confirmação do novo regulamento de motores para 2026 para oficialmente anunciarem o plano de finalmente estarem na F1. Dizem que o grupo Volkswagen vai fazer parcerias com a Red Bull e outras equipes, mas não descarta a possibilidade de um time próprio. Se tudo for realmente confirmado, seriam quatro anos de preparação.

Há uma outra esperança americana: Michael Andretti. No ano passado, ele quase comprou a Sauber/Alfa Romeo, mas não deu certo. Agora, o ex-F1 e campeão da Indy quer, assim como a Haas, ter a própria equipe Andretti na F1. A ideia é entrar a partir de 2024.

Para isso, os americanos aguardam a resposta da FIA sobre o pedido de entrada do grid. Uma equipe a mais, como já escrevi, significa repartir em mais uma parte as receitas da F1, o que ninguém quer. Por outro lado, a Andretti pode ter um trunfo dentro da própria categoria: a também americana Liberty Media.

Depois de três circuitos americanos no calendário, falta a cereja do bolo: pilotos dos Estados Unidos. Apesar da Haas ser uma equipe do país, toda a sede e estrutura é da Europa, além das parcerias com a Ferrari. A Andretti já deixou claro que pretende apostar nos pilotos do país, o que seria comercialmente muito interessante para a F1, caso eles também consigam desenvolver bem o projeto nos anos posteriores para brigar por pódios ou vitórias.

Até lá, é tudo hipótese e especulação. Os Andretti, na figura de Michael e do pai, o campeão Mario, quase imploram de joelhos pela atenção dos europeus, que parecem céticos e querem proteger o clubinho de investimentos.

Que a F1 pare de ser uma WEC com grife e entenda que todos ganham com a entrada de mais equipes: mais vagas para todos, mais empregos, desde que tudo seja devidamente controlado financeiramente, com teto orçamentário e uma F1 menos intocável.

Por mais Andrettis, Porsches e Audis, de preferência em várias equipes. Que volte a pré-classificação, o caos e o romantismo de antigamente na era moderna da F1. Me deixem sonhar, porque esse grid esvaziado é um pesadelo de olhos abertos.

Até!

terça-feira, 3 de maio de 2022

VEM AÍ?

Foto: Reprodução/Internet

 Uma das maiores lendas da história pode estar sendo desfeita daqui quatro anos.

O grupo Volkswagen confirmou que vai entrar na F1 em 2026, com a Audi e a Porsche. E por quê só daqui quatro anos? É quando a F1 vai passar por uma nova regulamentação técnica, que obviamente foi feita para adequar os interesses e atrair o grupo alemão.

Depois de décadas de especulações, o que aconteceu dessa vez para finalmente convencer os alemães irredutíveis? Lembrando que esse papo tinha esquentando alguns anos atrás, antes de estourar o Dieselgate.

A diferença foi o aumento da popularidade da F1 na América do Norte e na Ásia,possivelmente influenciados pela disputa Hamilton vs Verstappen do ano passado, o aumento do engajamento da F1 nas redes graças ao sucesso da série Drive To Survive e, por quê não, a presença de dois pilotos asiáticos no grid (Tsunoda e Zhou).

E o que a F1 teve que abrir mão para finalmente concretizar a vinda dos alemães? Bem, considerando que a Honda deixou a categoria e a Renault não é confiável, a partir de 2026 a F1 fica cada vez mais sustentável. Segue trecho do “Grande Prêmio”:

“Os motores manterão a tecnologia V6 turbo, mas com a extinção do MGU-H, bateria responsável por gerar energia elétrica nos carros, enquanto o MGU-K passa a compensar neste aspecto. Cerca de 476 cv devem ser entregues pelo motor de combustão e o motor elétrico.”

Além disso, o combustível será 100% neutro em CO² e o teto de gastos deve ser mantido em US$ 140 milhões.

É claro que as atuais montadoras já chiaram, temendo uma possível vantagem para os alemães até chegar lá. No entanto, falta muito tempo e esse papo de Audi e Porsche na F1 é tão antigo que não duvido nada que os alemães deem para trás. Nunca se sabe quando pode aparecer um Dieselgate por aí...

No entanto, dessa vez os planos parecem mais ousados, além de uma “ameaça”: se os alemães não entrarem na categoria agora, vai demorar uns 10 anos para que possa voltar a ser ventilado, porque tudo sempre vai depender de quando a F1 vai definir um novo regulamento técnico.

Voltando para os planos ousados: Audi e Porsche vão deixar as outras categorias de esporte a motor e focar somente na F1. A Porsche tem negociações avançadas com a Red Bull, reeditando a parceria que já fizeram no Mundial de Rali.

A Audi quer uma equipe própria e um motor autoral. No entanto, ela não tem planos de começar uma equipe do zero, e sim comprar alguma das atuais. Dependendo da situação financeira, Haas e Williams são candidatas naturais nesse processo, além da Alfa Romeo, que quase foi comprada por Michael Andretti ano passado.

Duas marcas pesadas entrando na F1 dessa forma é algo que não aconteceria desde o boom das montadoras no início dos anos 2000. Questões políticas e econômicas contribuíram para criar esse clubinho de dez equipes. Tomara que a Audi ou alguém consiga uma equipe extra, seria ótimo para todo mundo.

Até lá, em quatro anos, vou continuar cético perante a esse acordo. Já vi muitas idas e vindas desse negócio envolvendo Audi e Porsche. Agora, vou fazer igual o Detox do Dr. Dre: só acreditar quando ver e ouvir.

Até!

quinta-feira, 31 de março de 2022

MEDO E DELÍRIO

 

Foto: Reprodução/F1

A Liberty Media conseguiu em meia década o que Bernie Ecclestone falhou a vida inteira: fazer o público dos Estados Unidos se interessar pela F1. Com Miami estreando esse ano e Austin renovando até 2026, a F1 anunciou uma corrida noturna em Las Vegas a partir do ano que vem. A ideia é realizar no final do ano, no feriado de ação de graças nos EUA, no horário nobre americano (22h horário local, domingo de madrugada aqui no Brasil).

O circuito, obviamente, será de rua, o que está sendo uma tendência mundial, diante da inviabilidade de manter autódromos. Infelizmente. Com 25 corridas sob contrato, a F1 vai implantar o sistema de rodízio e uma corrida europeia ficará de fora. É impossível avançar no número de provas. 

A prova será realizada perto dos cassinos e pontos turísticos icônicos de Las Vegas, aquela coisa de filme, livro e para quem teve a sorte de visitar lá. A diferença é que é uma iniciativa própria da F1 em bancar os custos e organizar tudo. A expectativa é que tudo se pague com os ingressos, contratos de publicidade, entre outros.

A F1 sempre tentou diversos circuitos de rua nas cidades americanas mas nenhuma pegou. O próprio estacionamento do Caesar's Palace fechou algumas temporadas, incluindo um dos títulos de Nelson Piquet. Como escrevi anteriormente, o que mudou nos últimos 30 anos?

O grande trunfo foi a mudança na gestão e a F1 entrando nos tempos atuais. Com a série na Netflix firme e forte na audiência e as publicações voltadas para o mundo virtual, o engajamento e o interesse de jovens aumentou bastante, principalmente também com a identificação destes com os pilotos, sobretudo a nova geração que tem Russell, Leclerc, Norris, entre outros. Tornar a F1 algo popular nunca foi o interesse de Bernie mas, graças a esses mecanismos do engajamento e do jogo digital, a F1 teve uma guinada na marca, e os Estados Unidos é um resultado evidente disso.

Austin teve 400 mil pessoas na última corrida, recorde absoluto de público em um final de semana da F1. A audiência da F1 nos EUA também está aumentando exponencialmente: na abertura da temporada, superou a abertura da Indy, por exemplo. Um mercado consumidor desse interessado e ativo é o sonho para qualquer empresa, ainda mais uma que também é americana.

É justo um país ter três corridas? Evidente que não. Duas pistas de rua mais as outras milhares de pistas noturnas e de rua fazem com que tudo seja a mesma coisa, quase uma Fórmula E com grife. Não é questão de purismo, mas sim de velocidade, risco, etc. No entanto, é também um discurso utópico. A propriedade é ganhar dinheiro e fechar as contas, sobretudo num mundo pós pandemia e com consequências ainda devastadoras em todos os âmbitos.

Que os enviados a Las Vegas consigam realizar o trabalho sem se deixar envolver com as armadilhas da cidade do pecado.

Até!


terça-feira, 22 de março de 2022

UNS PODEM, OUTROS NÃO

 


A segunda corrida na Arábia Saudita em três meses, fruto do realocamento do circuito noturno e urbano de Jidá para o início de temporada faz com que seja, nesse ponto, impossível não levantar e repetir certas questões.

Em meio a incredualidade e indignação mundial com o conflito envolvendo Rússia e Ucrânia, os russos viraram a Geni da vez. Não, não vou fazer juízo de valor ou escrever sobre isso, mas sim todas as consequências político-esportivas que isso gerou. Na F1, vocês sabem, culminou com a saída da Rússia e de Nikita Mazepin. Esportivamente não foi ruim nenhuma das duas situações, o que deixa mais confortável a decisão para a FIA e a Liberty.

A questão é que a Arábia Saudita, Catar (que retorna em definitivo em 2023) e outros países assinaram com a Liberty mesmo com problemas de falta de liberdade e perseguição a jornalistas e minorias. Fatos comprovados. 

Logo a Liberty, que entrou no negócio para colocar a F1 no século XXI e tirar aquela aura do Bernie Ecclestone de que o que vale é o dinheiro. Além disso, ao tornaram o esporte mais atrativo para os jovens e o grande engajamento nas redes sociais, além das campanhas de maior inclusão e diversidade no automobilismo. Tudo isso é um discurso muito bonito na prática, colocar arcoíris no Safety Car, banir as grid girls, mas o que adianta se depois assinam contrato plurianual com países controversos em questões tão sensíveis, justamente o que a F1, na figura da Liberty, diz combater?

Como venho escrevendo há anos, o problema é o discurso e a prática. O problema do discurso é você virar refém dele e não ter jogo de cintura. Ao falar sobre diversas e se posicionar do jeito que se posiciona, não faz sentido a Liberty tirar a Rússia pela pressão política e manter Hungria, Arábia Saudita, Catar, entre outros.

A história mostra: uns podem e outros não. Mesmo com o verniz da modernidade, empatia e contra o preconceito, a F1 se mostra conivente e, pior, hipócrita, ao lidar com essas contradições. Pelo menos antigamente o discurso era único e coerente: dane-se o resto, o que vale é o dinheiro. Agora, é "somos contra x ou y, mas pagando bem que mal tem?"

Até!

sexta-feira, 4 de março de 2022

POR QUEM OS SINOS DOBRAM

 

Foto: Motorsport Images

Um movimento de Vladimir Putin, entre milhares de consequências importantes para a humanidade e que todos vocês já sabem, também pode ter contribuído para a falência de uma equipe de Fórmula 1 em breve.

A consequência da invasão a Ucrânia não poderia deixar de ser política, até em agremiações que normalmente repudiam isso ou fazem vista grossa. Estou falando da FIFA e da FIA, é claro. Com toda a comunidade internacional isolando a Rússia por um motivo e ignorando outras nações que fizeram o mesmo ao longo da história (e continuam fazendo), isso só prova que alguns países têm licença para matar, de fato.

Fugi um pouco do assunto, mas nem tanto. A F1, assim como o futebol, excluiu a Rússia permanentemente do calendário da categoria. Ano que vem entraria o circuito de São Petersburgo no lugar de Sochi, não mais. A pressão nos oligarcas russos fizeram Roman Abramovich anunciar a venda do Chelsea e o pai de Mazepin deixar de patrocinar a Haas e uma equipe da F2. A Uralkali e a bandeira da Rússia foram retirados do carro da equipe americana.

Sim, a equipe de Gene Haas desde o ano passado é (ou foi) sustentada pelo dinheiro russo. Ou era isso ou a equipe acabava. E aqui entra o ponto principal do texto: como a Haas vai sobreviver no curto prazo? Pode parecer irrelevante para os elitistas esportivos da categoria, mas uma falência iminente caso não aconteça a venda do time seria péssimo para a imagem da F1.

A categoria é elitista e caríssima e foi fechado um clubinho. Dificilmente haverá uma décima primeira equipe. Se a Haas não conseguir um novo dono ou algum dinheiro e sair, teremos 18 carros e nove equipes, o que seria inédito para o esporte. Dentro da política, acomodar os interesses de Red Bull (que possui duas equipes), Ferrari e Mercedes será cada vez mais difícil.

Mas a Liberty se importa? A prioridade pra eles é conseguir correr mais cinqüenta vezes por ano nos Estados Unidos e forçar enredo na série forçada da Netflix. Ao mesmo tempo que uma punição severa foi feita, a mesma FIA/Liberty assinou um acordo de múltiplos anos com Catar e Arábia Saudita. Mas o importante é pintar o Safety Car com as cores do arco-íris e gerar engajamento na semana da corrida, certo?

A Inglaterra também já vetou qualquer russo de disputar corridas por lá. Sem o dinheiro russo, Mazepin perde influência e, sem influência, provavelmente vai perder a vaga na equipe, prevendo que outras sanções feitas por outros países podem interferir na ida e vinda dos cidadãos russos.

Não é o ponto do texto, mas é claro que as chances de Pietro Fittipaldi aumentaram. Muitos dizem que ele é o ficha um por já ter experiência de corrida e de testes com a equipe há anos, além dos pontos na superlicença graças ao título da World Series em 2017, num grid enxuto e fraco. Evidente que seria legal um brasileiro de volta como titular no grid e seria uma redenção, pois em 2013 o Luiz Razia perdeu a a vaga na Marussia porque um patrocinador deu pra trás. O brasileiro foi substituído por um certo Jules Bianchi.

No entanto, é claro que a presença de Pietro seria muito mais pelo sobrenome e por algum aporte financeiro que poderia ter. O irmão Enzo vai ser abastecido para disputar a F2 e certamente Pietro também estaria na jogada. Seria o melhor dos dois mundos: dinheiro e sobrenome, formando dupla com um Schumacher. A imprensa europeia também especula um nome mais experiente e vinculado a Ferrari, que ainda tem parceria com a Haas: Antonio Giovinazzi, que já assinou com a Fórmula E mas certamente voltaria correndo pra F1, mesmo na pior equipe do grid.

Giovinazzi é um nome mais seguro e tem credenciais superiores a de Pietro, embora não tenha confirmado na F1. Eu escolheria o italiano, ou tentaria colocar ali Oscar Piastri, mas sendo um piloto Alpine/Renault seria difícil.

É raro, mas dessa vez o dinheiro e a força de composição política saíram derrotados no esporte.

Assim escreveu John Donne em 1624, na Devoção XVII do livro “Devotions upon emergent occasions” (Devoções Numa Ocasião de Emergência, em tradução livre), obra que escreveu enquanto esteve doente na cama por dias sem saber se iria sobreviver, em 23 “devoções” sobre a doença, a cura e outras questões humanas:

“Nenhum homem é uma ilha, todo em si; todo homem é uma parte do continente, uma parte da terra; se um torrão de terra é levado pelo mar, a Europa é diminuída, tanto se fosse um promontório, como também se fosse uma casa de teus amigos ou a tua própria; a morte de todo homem me diminui, porque sou parte na humanidade; e então nunca pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”

No quarto de Donne, ele ouvia os sinos tocando. Isso significava que alguém tinha morrido. Os vizinhos se perguntavam: “por quem os sinos dobram?”, como quem pergunta “quem morreu?”

Essa expressão virou o título da obra de Ernest Hemingway, que relata a história de um americano professor de espanhol que se tornou conhecedor do uso de explosivos e tem a missão de explodir uma ponte em virtude de um ataque simultâneo a cidade de Segóvia. A referência é a própria experiência de Hemingway na Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

Os sinos continuam dobrando todos os dias, seja em guerras, chacinas, pobreza, fome, ganância, etc. No entanto, nesse caso específico e político, é claro, o sino dobrou para o dinheiro e a política (ou uma parte dela) no automobilismo.

Até!


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

PALIATIVO

 

Foto: Getty Images

O que era óbvio aconteceu. Michael Masi não tinha condição alguma de permanecer como diretor de provas e foi sacado pela nova gestão da FIA, eleita em dezembro passado.

As decisões de Masi sempre foram polêmicas, confusas e sem uma linearidade lógica aceitável, o que culminou no polêmico fim do campeonato do ano passado. A gestão de Ben Sulayem, aliás, promoveu outras mudanças: não tem mais membro de equipe enchendo o saco do diretor de provas e agora existe um cara, o eterno Herbie Blash vai assistir de tudo numa cabine em um prédio em Londres e pode interferir (auxiliar) nas decisões, como se fosse um VAR na F1.

Os substitutos de Masi? o português Eduardo Freitas, com muita experiência no WEC e nas 24 Horas de Le Mans e o alemão Niels Wittich, diretor de provas da DTM e que nesse ano já assumiria o mesmo posto na F2 e F3. Os dois dividem o posto, conforme o calendário.

Outras situações interessantes: agora os pilotos do Q3 podem largar com o pneu que quiser, o que ajuda o pelotão intermediário mas deixa todas as estratégias praticamente iguais para o domingo.

Além disso, uma atualização sobre o procedimento do Safety Car foi feito: agora, não é mais necessário esperar que todos os retardatários saiam para que a corrida possa ser reiniciada. Basta o aviso e o SC se retirar no final da volta. 

O que ficou mantido foi, segundo a informação e a interpretação da Julianne Cesaroli, "que o diretor de prova tem 'autoridade derrogatória', ou seja, suspensiva, em alguns casos. Esta regra tem cinco subitens, falando sobre suspensão de uma sessão ou corrida, por exemplo. Nos três primeiros, está explícito que, mesmo com essa autoridade, o diretor de prova tem de respeitar o código desportivo da FIA e o regulamento esportivo da F1. Mas isso não é citado nos dois últimos itens: em relação ao procedimento de largada e ao uso do Safety Car.

Portanto, o diretor de prova decide como quiser essas situações, em casos extremos, e essas alterações não impactariam em nada o ocorrido em Abu Dhabi. Pelo contrário, um item foi modificado justamente para que a corrida seja reiniciada mais rapidamente caso o tempo ou as voltas sejam poucas.

Sendo assim, Michael Masi agiu conforme o regulamento e a interpretação que caberia. Fim de caso e de choro. O problema foi não ter causado bandeira vermelha e outros erros grotescos desde 2020, mesmo quando Hamilton foi campeão sem adversários.

A nova gestão da FIA resolve o problema que ela mesma criou, dando o recado claro para a Liberty de que aprendeu a lição: a F1 não é igual série Netflix para forçar plot twists e finais de tirar o fôlego de forma forçada. É um esporte e precisa ser tratado como tal, não um entretenimento de 2 horas. 

A FIA usa um paliativo contra ela mesma.

Até!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

MUDANÇAS E CONTINUAÇÕES

 

Foto: Lars Baron/Getty Images

Em uma temporada marcada pelo novo regulamento técnico, que pretendo escrever sobre no momento mais oportuno, hoje a FIA annciou mudanças importantes nas pontuações das corridas classificatórias. 

Primeiramente, a FIA anunciou que elas serão realizados na Áustria (Spielberg), Silverstone e Interlagos. As duas últimas, portanto, uma continuação. Convenhamos que apenas no Brasil houve alguma movimentação interessante a partir da escalada do grid que Hamilton fez na ocasião.

As diferenças são simples: antes, somente os três primeiros da corrida que pontuavam. Agora, serão os oito melhores colocados, numa pontuação de 8 até 1, respectivamente.

Outra diferença importante é que, diferente do ano passado, quando o vencedor da corrida classificatória era declarado o pole e as colocações definiam o grid de largada, agora a largada de domingo é definida no classificatório de sexta. Portanto, o resultado de sábado não terá relação com a largada do dia seguinte.

Honestamente, não sei se o formato com mais pontos para mais pilotos deixa tudo mais interessante. O acerto é que realmente o mais rápido será o pole, o que achava um erro no ano passado. No entanto, a corrida pode ser ainda mais desinteressante, considerando o risco e a recompensa para os principais pilotos e equipes. Qual seria a diferença de ir bem se os pontos não são tão altos e a sexta garante tudo? 

É a equação que a F1 precisa achar para continuar forçando com esse Mario Kart/Netflix na categoria, mas em termos gerais eu gostei, vou dar um voto de confiança para essa mudança.

Foto: Dan Mulan/Getty Images

Depois da palhaçada da Bélgica no ano passado, a FIA vai tentar padronizar situações caso as chuvas, iluminações ou acidentes não permitem que a corrida seja devidamente realizada.

Vou tentar resumir: se não houver duas voltas completadas pelo líder sem o Safety Car ou o Safety Car virtual, a corrida não vai valer pontos.

Se o líder completar mais de 2 voltas e menos de 25% do total da corrida (Sepang 2009 e Adelaide 1993, por exemplo), apenas os cinco primeiros pontuam na seguinte ordem: 6-4-3-2-1.

Se a corrida for interrompida entre 25% e 50% do total da prova, os nove primeiros pontuariam assim: 13-10-8-6-5-4-3-2-1.

Entre 50% e 75% da corrida, os dez primeiros pontuariam assim: 19-14-12-9-8-6-5-3-2-1

Acima de 75%: a pontuação padrão que estamos acostumados: 25-18-15-12-10-8-6-4-2-1.

Eu fiquei pensando sobre o caráter de emergência que essa regra teria, mas considerando que a F1 dificilmente corre na chuva, creio que essas regras possam ser usadas com frequência, e aí mora o perigo. Se houver uma disputa acirrada igual ano passado, os interesses serão prioritários. Como saber se a chuva é suficiente para completar determinado tipo de %? Alguém seria beneficiado e outro seria prejudicado.

Bom, pelo menos uma não corrida agora vai ter o valor que realmente tem: nenhum. A FIA vai passar por esse constrangimento outra vez? É difícil, talvez essas manobras tenham sido criadas justamente para evitar a saia justa de Spa Francorchamps.

Até!


quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

PUNIDO POR SER BOM

 

Foto: Divulgação/F2

Quando um jovem piloto vence a F3, o passo natural é chegar na F2, o último antes da F1. Dependendo do carro e do talento, teoricamente vira uma questão de tempo para chegar na principal categoria do automobilismo.

Quando você tem talento, vence a F3 e é filiado a uma academia de pilotos, tudo fica mais fácil, principalmente se você vence a F2 na primeira temporada, certo? Não tem nem discussão.

O australiano Oscar Piastri repetiu o feito de Charles Leclerc, por exemplo, mas a recompensa não foi a mesma. Por quê?

Bom, primeiro vamos analisar a conjuntura onde Piastri está inserido. Sendo piloto da Alpine, juntamente com Lundgaard, o brasileiro Caio Collet e outros, já existe uma pequena desvantagem em relação a Ferrari e Mercedes, que possuem influências em outras equipes. A Alpine/Renault só tem a própria equipe, então as vagas ficam limitadas aos dois titulares.

O caso de Zhou é diferente: ex-Alpine, conseguiu muito dinheiro dos patrocinadores e foi parar na Alfa Romeo, então não foi uma ascensão puramente técnica, fecha parênteses.

Esteban Ocon, outrora piloto da Mercedes e sempre relacionado a Renault, tem um pódio e uma vitória nas últimas duas temporadas. Vem evoluindo junto com a equipe. A confiança é tanta que renovou até 2024.

No outro lado, está simplesmente Fernando Alonso. Ele define quando vai sair de cena. A princípio, 2022 pode ser definitivamente o último ano do espanhol na categoria. Vai depender de como vai estar o carro francês em relação aos demais.

Como o campeão da Fórmula 2 não pode correr na categoria no ano seguinte, Piastri ficou num beco sem saída. A Super Fórmula, do Japão, seria uma alternativa, o problema é que o Covid acabou com os planos. Deixar o jovem australiano na Fórmula E, WEC ou DTM também não é o ideal porque são carros diferentes.

É por isso que Piastri, em tese, foi alavancado para piloto de testes, ou piloto reserva, como queiram. Na teoria, o australiano vai aprender ainda mais e se preparar para provavelmente substituir Alonso no curto prazo. Na prática, duvido.

Ser piloto reserva e nada é a mesma coisa. Depender de alguém se acidentar ou ter covid é demais. Lembro que um outro campeão da antes GP2 esteve na mesma situação. Davide Valsecchi virou o reserva da Lotus para 2013. Quando Raikkonen brigou e saiu do time no final da temporada, era natural o jovem ter a grande chance. Realidade: a Lotus optou por contratar Kovalainen.

É por isso que não empolgo com essa situação de Oscar Piastri. Ele teve “azar” de não estar em uma montadora mais influente na F1, mas tudo isso poderia ser resolvido se a categoria não fosse um clubinho de três montadoras, uma DTM com grife. Com mais equipes, há mais chances para jovens e experientes pilotos, o que amenizaria alguns casos, principalmente esse, que é bizarro.

Oscar Piastri está sendo punido por ser bom. A F1 deveria se preocupar com essas situações ao invés de forçar falsas competitividades e finais netflixeanos.

Até!


terça-feira, 14 de dezembro de 2021

AUTOMOBILISMO OU ENTRETENIMENTO? (PARTE 2)

 

Foto: Getty Images

Entretenimento, isso já ficou claro. O equilíbrio entre Max Verstappen e Lewis Hamilton durante toda a temporada teve papel dos pilotos e das equipes, mas também de uma interferência da FIA que não privilegia o espírito competitivo que a F1 sempre esteve inserida.

O aumento do público provocado pelo sucesso da série na Netflix e o equilíbrio incomum fez com que a categoria abrangesse um novo e jovem público. A diferença de abordagem é outra desde que a americana Liberty substituiu os já defasados métodos de Bernie Ecclestone.

O que vimos foi como se fosse um “Casa dos Artistas”, onde Michael Masi, o Sílvio Santos da FIA, mexia e manipulava nas regras o quanto entendesse para dar vazão ao equilíbrio das pistas, centralizando todas as atenções e discussões para alguém que não seja piloto ou chefe de equipe.

A chuva de corridas com bandeiras vermelhas e uma “americanização” da categoria, feita de forma artificial, foge do que realmente é a F1. Decisões como a não corrida em Spa, a não punição a Max no Brasil e um rigor na Arábia Saudita, a permissividade em muitas coisas buscando uma composição política e a confusão de ontem dão muita margem para dúvidas.

Claro que é excelente um campeonato ser decidido assim, mas não com a mão do mercado. Parecia roteiro de filme, e tanto Max quanto Lewis não precisam disso, assim como o grid não pode ser olhado de outra maneira porque não tem o protagonismo.

A solução simples de simplesmente (perdão) tirar Michael Mais e colocar outro não é o mais importante, e sim que a Liberty entenda que existe uma diferença entre automobilismo, competição e entretenimento.

Uma corrida não pode ser disputada e decidida sem clareza nas regras e priorizando um espetáculo forçado. Uma vez é legal e histórico, mas a F1 precisa, como já disse, olhar para outros problemas ao invés da artificialidade: mais equipes, por exemplo. 

Assim, nomes como Oscar Piastri, campeão da F2, poderiam estrear de forma direta na categoria, ao invés do australiano ir mofar na reserva da Alpine por não ter espaço num grid de 20 carros.

Apenas uma sugestão.

Até!


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

O QUE BERNIE NÃO SABIA (A F1 FORA DA BOLHA)

 

Foto: Mercedes

Durante décadas de administração de Bernie Ecclestone, o eterno chefão transformou a categoria e é o grande responsável pelo que a F1 é hoje. Não é exagero afirmar que Bernie é tão ou mais importante que os grandes pilotos da história, como Michael Schumacher, Ayrton Senna, Alain Prost, Niki Lauda, Juan Manuel Fangio, Jim Clark, Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Nigel Mansell, entre outros.

A mão de ferro era administrada com uma única perspectiva: o dinheiro acima de tudo. Bernie nunca escondeu o  que gostava: para ele, a F1 era pra homens ricos acima de 30 anos, de preferência entre 50 e 60, que pudessem comprar e usufruir do luxo que é um final de semana da F1. Um evento único.

Não a toa, Bernie nunca teve problemas em correr na África do Sul durante o Apartheid e o boicote que houve ao país africano. Dinheiro acima de tudo e maquiagem nas questões raciais. A F1 delimitava o público.

Claro que o carisma sempre contou. Antigamente, a F1 era um evento (e continua, claro) que mostra o que há de mais moderno no esporte a motor. Como os carros eram novidades, ver um bólido a 300 km/h era uma sensação de perigo e respeito, porque a qualquer momento um piloto poderia morrer. Arriscar a vida em curvas, retas e chuva fazia parte do cartaz do que era ser piloto e o público comprava esse fascínio pela velocidade, tecnologia, o ronco dos motores e o perigo à 300 km/h.

Mesmo com as mortes e, claro, a perícia dos pilotos, o desenvolvimento tecnológico da categoria e também nas relações brecou essa parte romântica, digamos. Menos carros quebrando, menos disputas pelas vitórias e campeonatos e pilotos cada vez mostrando menos a personalidade, a F1 virou um clube de ricos parado no tempo enquanto a vida, a tecnologia e a sociedade seguiam em frente.

E por isso Bernie ficou para trás, além da idade. A Liberty Media, com muita experiência no showbiz americano, onde cada evento é um espetáculo à la NBA, entendeu que precisava de mudanças. Algumas são superficiais, é claro, e ainda não teve um grande impacto na competitividade e no ecossistema da categoria, mas o texto de hoje não é sobre isso.

A Liberty Media focou no que hoje chamamos de engajamento, sobretudo do público marginalizado por décadas pela própria administração da categoria: mulheres, negros e jovens se sentiam cada vez mais conectados com a sisuda, rica e anticarismática Fórmula 1. Como?

A série da Netflix, que confesso nunca ter assistido, alavancou a popularidade da categoria entre os mais jovens que sequer conheciam a categoria, mostrando o outro lado dos pilotos, que também sabem trabalhar a imagem pessoal nas redes sociais. Exemplos não faltam: Ricciardo, Sainz, Leclerc, Norris, Russell, além de pilotos, viraram influencers para muita gente. 

Não a toa que, depois de décadas passando vergonha e sendo ignorada na terra do Tio Sam, a americana Liberty Media finalmente consegue popularizar a categoria nos Estados Unidos, colocando Miami no mapa da F1 e não descartando uma terceira etapa no país no futuro. Nesse ano, em Austin, 400 mil pessoas acompanharam a corrida.

Outra obviedade nesse quesito é Lewis Hamilton: não só o campeão, o mais carismático, desde sempre popstar e super talentoso. A imagem do primeiro negro na categoria e depois multicampeão, com mais vitórias e poles e podendo ser o maior campeão isolado também ajudaram, mas principalmente o que Hamilton significa fora da pista: a luta pelos direitos das minorias, a luta antirracista e essa postura de quem não é somente um piloto muito talentoso, mas sim um cidadão que dentro do que pode fazer, quer contribuir com a F1 e a sociedade, trazendo mais negros, mulheres e LGBTs para as equipes e arquibancadas.

A identificação com o Brasil é antiga, pelo menos para quem é fã mais hardcore, mas o fenômeno que percebo na minha "bolha" é que, em 2021, a F1 passou dos hardcores, mesmo sem a transmissão da Globo: Netflix, Hamilton e uma temporada emocionante até o fim justificam isso, é claro. Nada mal para um esporte que ninguém vê e perdeu a graça em 1994.

Claro, Hamilton é o único no grid que é mais do que um piloto, é um superstar e um ativista. Saindo da bolha da F1, pouquíssimos pilotos seriam reconhecidos pela massa. Chutaria Verstappen, por ser o "inimigo" da vez de Hamilton, e os campeões Alonso, Raikkonen e Vettel que, mesmo sem ter redes sociais, se mostra tão engajado quanto Hamilton nas lutas humanitárias.

Talvez a F1 fora da bolha termine quando Hamilton se aposentar, afinal carisma não se transfere. A pessoa tem ou não tem. Ser mais do que um piloto ajuda tudo isso. Reverenciar Senna, que até hoje emociona a todos nós, também ajuda. Não basta ser apenas brasileiro para despertar paixões e ódios. Mesmo quando Massa foi quase campeão, não lembro de tamanha comoção fora do público hardcore. Não tinha tanto burburinho nas redes sociais, mas nas ruas não ouvia nada além do "por que tu ainda assiste isso?"

Bernie foi superado pelo tempo e, com um novo toque na categoria, a F1 conquista os Estados Unidos e se aproxima de um público que ainda tem certa resistência, mas que alguns já se encontram apaixonados. Agora, o desafio da Liberty é não tornar isso artificial demais, o like pelo like, o engajamento vazio. Mas isso eu deixo para outros textos, até porque adoro repetir essas coisas, mas hoje não.

É isso mesmo ou as vozes da minha cabeça criaram uma realidade paralela?

Até!

terça-feira, 9 de novembro de 2021

DIFERENÇAS

Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio

 Muita coisa mudou na F1 e, obviamente, no mundo desde a última vez que a categoria esteve em Interlagos. Depois de muita apreensão e a possibilidade de apostar em um circuito falcatrua no meio de uma área de preservação ambiental, a F1 pensou melhor e continuamos com a programação normal: chegou a semana da corrida em Interlagos!

Algumas diferenças sutis, outras nem tanto: se alguém falasse em 2019 que a corrida seguinte da categoria seria transmitida sem Galvão Bueno e na Bandeirantes, certamente seria chamado de louco e pedido para ser internado. Pois bem, a curiosidade é saber se a emissora paulista vai conseguir fazer uma cobertura diferente da Globo. O desafio ajuda: de forma inédita nos últimos anos, a corrida em solo brasileiro vale muito: há disputa entre Max e Lewis e isso deve ser explorado além, claro, de Ayrton Senna.

Outra é a nomenclatura: a guerra com o governo federal e a tal Rio Motorsports que queria levar a corrida para Deodoro teve consequências. Como eles adquiriram o nome "GP do Brasil" por um bom tempo, restou o governo estadual paulista em renomear para Grande Prêmio de São Paulo, tal qual Abu Dhabi e Cidade do México (sim, só descobri hoje que a nomenclatura oficial era GP da Cidade do México!)

Teremos também, pela primeira vez aqui e a última no ano, a corrida classificatória. Ao menos vai agitar os três dias de evento. A previsão para o final de semana é de frio e chuva, como sempre. Diferentemente da chatice de Monza e Silverstone, Interlagos pode ser diferente justamente porque é Interlagos e nada mais. Sempre bom lembrar: são pontos que podem fazer a diferença no final.

Por último e não menos importante, uma despedida, um retorno e uma estreia importante: é a última vez de Kimi Raikkonen no país. Desde 2001 e com pausas em 2010 e 2011, o finlandês sempre esteve na Terra da Garoa, onde conquistou o título mundial em 2007. Vai ser um momento e tanto. Teremos, é claro, o retorno de Don Alonso a Interlagos, onde foi bicampeão e sofreu aquele forte acidente em 2003. Além disso, um Schumacher está de volta. Michael se despediu em 2006 e 2012 e agora, quase uma década depois, Mick vem pela primeira vez para continuar o legado da família.

Entre tantos outros fatores, a corrida em Interlagos desse final de semana terá muitas diferenças e novidades para fãs, imprensa e as equipes.

Até!