domingo, 2 de abril de 2023

VÁRZEA

 

Foto: Dan Istitene/Getty Images

O problema de um carro muito dominante sem algum adversário qualificado para desafiá-lo é que, como o Lucas Carrano sempre pontua no Sexto Round, a falta de possibilidade de derrota afasta o público porque os resultados são óbvios.

Imagine isso de madrugada. Pois bem, a Mercedes até tentou dramatizar as situações com as boas largadas de Russell e Hamilton, que assumiram as primeiras posições. Verstappen, inexplicavelmente comedido por frear cedo demais na curva 2, era o terceiro e tinha muito a perder. O longo prazo é sempre mais efetivo.

Aí na primeira volta já teve problema. Leclerc foi atropelado por Stroll e ficou fora. Primeiro Safety Car e mais azar para o monegasco que a cada prova que passa vira o Jean Alesi moderno. Relargada. As coisas não mudam muito, mas uma pancada começa a mudar algumas coisas.

Albon, que fazia bom final de semana, bateu forte e sujou bastante a pista, além de estar numa posição perigosa. A primeira bandeira vermelha, logo na volta 7. Quer dizer, antes era Safety Car. Russell parou, Hamilton não. Estratégias diferentes para tentar lutar contra a Red Bull. Bandeira vermelha. Russell se ferra injustamente. Poder mexer em tudo nessas circunstâncias é uma palhaçada, uma das várzeas do regulamento da FIA.

Russell teve mais o que lamentar porque o motor Mercedes de seu carro estourou, o que é um histórico raro na equipe. O problema é que dali em diante a corrida ficou insuportável. Com a bandeira vermelha, todo mundo ficou na mesma estratégia. Algumas disputas soltas e nada demais. Verstappen abria para Hamilton, que controlava Alonso, que controlava Gasly, que brigava com Sainz e Stroll, enquanto Pérez ficava preso atrás de Norris, com um pelotão com Ocon e o resto brigando de foice no escuro.

Tamanha chatice, na madrugada, juntando com meu cansaço vindo da viagem de Caxias me fizeram apagar no sofá. Acordei achando que a corrida já tinha terminado, mas, sem entender nada, vi uma bandeira vermelha faltando duas voltas. Bandeira vermelha faltando duas voltas é sacanagem. Encerra a corrida logo. Não há constrangimento em terminar uma prova com as amarelas, igual na Indy. Não estão copiando tudo dos americanos?

Tentaram remendar um erro usando um regulamento ridículo para evitar outro constrangimento. Aliás, como o Magnussen conseguiu ir reto no muro? Era para bandeira vermelha? Perguntas que podem ser e não ser respondidas. 

O final de semana já mostrava inúmeras barbeiragens na F2 e F3, estreantes no traçado australiano, e a F1 não poderia ficar de fora. Se na largada já acontece algo, imagina numa relargada que define a prova nas voltas finais? Dito e feito. Sainz atropela Alonso, que perderia o pódio. As Alpine se batem, melhorando o clima amistoso entre os compatriotas Ocon e Gasly. Sargeant esquece de fazer a curva, tal qual Salvino, e atropela De Vries. Um caos.

Aí, o tal regulamento que conseguiu ser minimamente coerente. Como aconteceram tantas coisas e o primeiro setor estava um caos, mais bandeira vermelha. Como o líder Verstappen (ele e Hamilton ilesos) não tinha completado a volta então, na prática, aquele caos todo não valeu. Uma pena que os abandonos e barbeiragens não poderiam ser desfeitos.

Ou seja: quem se ferrou nesse caso foram Sainz, punido com cinco segundos, e as Alpine. Com uma volta restante e impossível de relargar, a F1 optou pelo óbvio que deveria ter escolhido antes: terminar com as amarelas ou, no caso, o Safety Car.

Três pódios seguidos de Alonso, mais um com sustos e emoção, algo inédito desde 2013. O primeiro de Hamilton e da Mercedes no ano, mostrando que o carro não é tão ruim quanto as declarações querem induzir. Não há milagre, mas sim uma boa notícia. Primeiros pontos da difícil McLaren e do dono da casa Piastri na carreira. Hulkenberg nos pontos também, assim como Zhou e Tsunoda. Portanto, todas as equipes já pontuaram em três etapas. Pior para Alpine e Ferrari, que saíram zeradas, assim como a Williams.

A Red Bull está em outro patamar, Mercedes, Aston Martin e Ferrari vem para a briga de segundo posto e o resto é resto. O mais importante é mostrar como a FIA está espetacularizando decisões ridículas que ferem a competitividade do esporte, ao mesmo tempo que se importa com idiotices que matam a essência da categoria. Safety Car e bandeira vermelha em tudo é falta de bom senso, mas a preocupação dos caras é encaixar mais uma corrida dos EUA no calendário e proibir piercing de piloto e os mecânicos na grade na hora da bandeirada.

A F1 que conhecíamos está definhando. 

Confira a classificação final do GP da Austrália:


Até!

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