segunda-feira, 25 de abril de 2022

REALIDADE INÉDITA

 

Foto: Hamad Mohammed/Reuters

Em 2021, enquanto brigava por mais uma taça, a Mercedes sempre frisava que o foco era o desenvolvimento do carro de 2022, das novas regras. O objetivo era claro e evidente: manter a hegemonia mesmo com a “nova F1” chegando.

Apostando em um conceito ousado na pré-temporada, os sinais de alerta ligados no Bahrein se confirmaram na sequência. O carro é lento e sofre muito com a aerodinâmica e o porpoising. De positivo, a confiabilidade e o ritmo de corrida. A Mercedes é claramente a terceira força do grid e, contando com a sorte, conseguiu dois pódios, um para Hamilton e outro para Russell.

Distante de brigar por uma vitória mas ainda assim em uma boa posição no pelotão. Russell está sendo perfeito, pontuou em todas as corridas e está vencendo Hamilton na batalha interna nesse início de trajetória. Lewis, pelo que dizem, está com um acerto diferente para buscar soluções mais rápidas ao lento W13, mas é o compatriota que se sobressai até o momento.

Quem poderia imaginar? Com contrato até o ano que vem, Hamilton hoje é um coadjuvante na pista. Impossibilitado de brigar pelas vitórias, depende do acaso para sonhar com algo além. Em Ímola, largou mal e não conseguiu se livrar do pelotão intermediário. Russell conseguiu e foi quarto. Hamilton ficou brigando lá atrás e sem um motor potente e boa aerodinâmica, amargou um 14° lugar. Já tinha sido eliminado no Q1 na Arábia Saudita, algo que não acontecia desde quando estava na McLaren.

Ver Hamilton batendo roda um pouco mais atrás no grid não é inédito. Em 2009, a McLaren sofreu na primeira metade do ano que também marcava um novo regulamento, o famoso difusor duplo. No entanto, a equipe se ajeitou e tudo melhorou. O primeiro ano de Mercedes também foi diferente. Era um carro muito rápido em voltas de classificação mas o pneu acabava muito rápido. Hamilton basicamente se arrastava na pista em algumas corridas, mesmo tendo vencido a primeira pelo time na Hungria.

A questão é que ali Hamilton tinha apenas um título,era promissor, tinha uma vida social conturbada e muitos acreditavam que era o novo Mansell: rápido mas errava muito. Agora é diferente: Hamilton é o rosto da F1 para o mainstream. Mais títulos, mais poles, engajamento pela postura fora da pista, ações sociais, posicionamento. É um popstar no pelotão intermediário, sem a perspectiva de melhora a curto prazo.

Hamilton vive um ano parecido com o de Schumacher em 2005. Depois de quatro títulos seguidos com a Ferrari, o regulamento que proibia a troca de pneus acabou com a Ferrari e Schummi sofreu. Reagiu justamente em Ímola, quando teve aquele pega com o jovem Alonso e foi 2°, mas durante o ano bateu e ficou lá no meio do grid. A única vitória do ano foi na infame Indianápolis e a corrida dos seis carros.

Hamilton de 2022 é o Schumacher de 2005. A diferença é que a temporada é longa e a Mercedes pode evoluir, até mesmo o acaso pode beneficiar o Sir, que conseguiu o pódio no Bahrein assim. No entanto, o que Hamilton e a F1 vivem é uma realidade inédita:  o piloto mais popular está longe dos holofotes esportivos. É claro que Hamilton não precisa provar mais nada para ninguém, mas certamente a Liberty não deve estar feliz com isso...

Até!


domingo, 24 de abril de 2022

A AULA DE MAX

 

Foto: ANP

Max Verstappen teve em Ímola um final de semana perfeito. 100% de aproveitamento. Dominante, veloz, seguro, técnico e pilotando com a frieza e categoria de um campeão mundial. Tudo isso em um momento onde já está consideravelmente atrás de Leclerc no campeonato, vinha de dois abandonos em três corridas e a tendência era de outro domínio da Ferrari. Era.

A chuva embaralhou as coisas e a corrida classificatória teve uma largada sensacional de Leclerc. Verstappen, precisando reagir, foi frio na caçada e passou na penúltima volta, diminuindo o prejuízo. Choveu antes da largada de domingo. Quem estava no lado molhado de menos aderência se deu mal. Max disparou para vencer e não foi incomodado em nenhum momento. Pérez saiu muito bem de trás e a Red Bull conseguiu uma dobradinha pela primeira vez desde 2016, na Malásia. Para completar o domingo perfeito, Max venceu o Prêmio Laureus de melhor atleta masculino de 2021, quando bateu as hegemonias de Mercedes e Lewis Hamilton para conquistar o título mundial. Quer mais?

Como sempre escrevemos, a imprevisibilidade é a alma de qualquer esporte. O sentimento do risco de perda é essencial para manter o engajamento do público. Quem vai assistir um campeonato onde o Bayern sempre vence fácil, por exemplo? A largada, no entanto, teve um ato previsível: o azarado Sainz, de novo. Foi tirado da corrida por Ricciardo e ficou atolado na brita outra vez. Na hora decisiva, está falhando. Vai ter que servir para Leclerc vencer o campeonato pois já desperdiçou qualquer chance de briga por título. Tremeu.

Leclerc tentou de todas as formas caçar Pérez. A Red Bull conseguiu ser mais competitiva com uma nova atualização do carro. A Ferrari ainda mantém o que está dando certo. A distância diminuiu e hoje a vitória dos taurinos foi inapelável. Os italianos não podem sentar na vantagem e precisam reagir. A temporada é longa e a história já mostrou que Adrian Newey melhora a Red Bull e a Ferrari vai perdendo força pelo caminho.

Hoje era pra Leclerc engolir o P3 e manter uma vantagem confortável no campeonato. Afinal, Max tem duas vitórias e dois abandonos. Ao colocar o pneu macio no fim para tentar um último ataque em Pérez, rodou e quase colocou tudo a perder. Ainda conseguiu chegar em sexto, mas perdeu sete pontos. A vantagem ainda é de mais de uma corrida para Max (27 pontos), mas o monegasco precisa ser mais cerebral. Numa maratona, nem sempre vai dar para andar forte. Hoje era o dia para capitalizar na vantagem. Uma rodada dessas pode definir um campeonato.

A McLaren reage e mostra que o problema não é o motor. No Bahrein, batiam cabeça para não ficar em último. Hoje, Norris consegue um pódio merecido. Lando segue sendo o piloto do time, enquanto Ricciardo se embola. Certamente o inglês merecia um carro melhor, mas aparentemente o time de Woking pode estar indo para o caminho certo até o fim da temporada.

George Russell é o cara da Mercedes. Pontuou em todas as corridas. Está melhor nos treinos e no ritmo de corrida. Hoje também teve sorte. Fugiu do bolo e correu livre, conseguindo evitar o ataque de Bottas e segurar o quarto lugar. É uma maturidade impressionante. O britânico deixa um recado: me deem um carro... Hamilton vem sofrendo e a cada corrida que passa lembra a “ressaca” de Schumacher em 2005 quando o regulamento proibia a troca de pneus e a Ferrari foi para o meio do grid. Com um acerto diferente, está passando por apuros. Está inferior a Russell e teve azar. Ficou a corrida toda atrás de Gasly com uma parada lenta e sem motor ou aerodinâmica capaz de tentar a ultrapassagem. Um constrangedor  14° lugar e uma volta atrás de Max. Hamilton já teve anos difíceis na McLaren, mas a Mercedes estar assim mostra que 2022 está perdido em termos competitivos. É diminuir os danos e voltar ao protagonismo em 2023. Mesmo assim, precisa estar mais próximo de Russell nos pontos.

Foi só falar que a Aston Martin conseguiu seus primeiros pontos no ano com os dois pilotos. São bons de chuva e pistas escorregadias. Um belo desempenho de Vettel e um pontinho suado para Stroll, que pressionou e foi pressionado a corrida toda.

Excelente trabalho de Tsunoda, mostrando evolução. Como sempre escrevi, pessoal esquece que ele tem só 20 e poucos anos... superou Gasly no final de semana. Magnussen conseguiu mais pontinhos preciosos para a Haas depois de um grande treino na sexta. Enquanto isso, Mick Schumacher segue zerado. Por enquanto, não está sendo aprovado desde que passou a ter alguma concorrência interna. Nunca é demais lembrar que Magnussen teve um treino na pré-temporada praticamente.

Bottas faz o que sabe de melhor: acumular pontos sem pressão, exercendo a liderança esperada na Alfa Romeo. Zhou bateu no sábado e teve um momento difícil. Acredito que vai ser o mesmo caso de Tsunoda em 2021: a adaptação de um F2 para um F1 com novas regras, o que torna tudo mais difícil, é brutal. Paciência que o chinês é bom piloto.

Max reage num final de semana perfeito para ele e a Red Bull. Há campeonato. A Ferrari sofreu um duro baque em casa mas ainda tem gordura para queimar, especialmente Leclerc. O que vimos hoje foi a aula de Max, campeão mundial e vencedor do Laureus.

Confira a classificação final da corrida:



Até!

sexta-feira, 22 de abril de 2022

UM VELHO PERCALÇO

Foto: Clive Mason/Getty Images

 Ímola, um circuito tradicional, naturalmente tem muitas armadilhas. Quando chove, então... Foi exatamente o que aconteceu nesse início de tarde de sexta-feira, com o treino classificatória para as corridas de sábado e domingo.

Em condições normais, o favoritismo claro era confirmado pela Ferrari e por Leclerc. Sem chance para os concorrentes. O treino já começou atribulado quando os freios de Albon pegaram fogo e a sessão ficou parada por um bom tempo. Sofrendo em ritmo de volta rápida e o purpoising, quase que a Mercedes já bailou no Q1. Sorte deles que Ocon teve problemas e as duas Alpha Tauri ficaram fora.

Chega o Q2 e, agora com o contrato renovado, Carlos Sainz continua dando mostras de que sucumbiu a pressão. Rodou sozinho e larga mais atrás. Pelo carro que tem isso não é um problema, mas as chances de vitória são diminutas. Mais um erro consecutivo. No meio disso tudo, começa a chover e fica tudo como está. Pela primeira vez desde 2012, a Mercedes não foi para o Q3: Russell 11° e Hamilton 13°.

Vettel teve senso de oportunidade e foi para o Q3, assim como Magnussen, os grandes destaques e até zebra. Com a chuva, a pista foi mais traiçoeira ainda e as condições desconhecidas equilibraram tudo. Quando parou de chover, Max estava com a volta mais rápida: na hora certa no lugar certo. A sorte dele e azar de Leclerc e que dali em diante não teve mais treino.

Bottas teve um problema no carro e Norris rodou. Magnussen também, mas conseguiu sair do lugar. Com muita bandeira vermelha e pouco treino de fato, Max Verstappen conquistou a primeira pole no ano e vai largar duas vezes na primeira posição nesse final de semana. Surpreendente, embora não seja o favorito. Talvez chova sábado e domingo.

Leclerc está logo atrás, seguido por Norris e Magnussen em quarto! A chuva embaralhou tudo, o que dá um tempero especial para sábado e domingo. Se as condições normais existirem, Leclerc tem a grande chance de se isolar mais ainda no campeonato, principalmente na corrida de domingo que é a mais importante. Inteligente do jeito que é, duvido que vá correr riscos desnecessários no sábado, principalmente na largada.

Com a nova pontuação e regras da corrida classificatória, sábado perde ainda mais o valor, considerando que o grid de domingo é o mesmo. No entanto, com a possibilidade de chuva em um circuito tão cheio de armadilhas, o imponderável pode agir outra vez e nos brindar com duas belas manhãs de disputas. Se embaralhar o campeonato, melhor ainda.

Confira o grid de largada do GP de Emília Romagna:


Até!

GP DE EMÍLIA ROMAGNA: Programação

 O Autódromo Internacional Enzo e Dino Ferrari recebeu corridas da Fórmula entre 1980 e 2006. Desde 1981 era realizado o Grande Prêmio de San Marino. Em 2020, em virtude da pandemia de Coronavírus, o autódromo volta para o calendário para sediar o GP de Emília-Romagna, região onde fica o autódromo na cidade de Ímola.

Em 2021, a corrida entrou novamente no calendário de última hora, substituindo o cancelado GP do Vietnã, mas desde 2022 voltou a ser fixa no calendário da F1.

Foto: Reprodução/Wikipédia

ESTATÍSTICAS:

Pole Position: Valtteri Bottas - 1:13.609 (Mercedes, 2020)

Volta mais rápida: Lewis Hamilton - 1:15.484 (Mercedes, 2020)

Último vencedor: Max Verstappen (Red Bull)

Maior vencedor: Lewis Hamilton (2020) e Max Verstappen (2021) - 1x


CLASSIFICAÇÃO:

1 - Charles Leclerc (Ferrari) - 71 pontos

2 - George Russell (Mercedes) - 37 pontos

3 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 33 pontos

4 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 30 pontos

5 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 28 pontos

6 - Max Verstappen (Red Bull) - 25 pontos

7 - Esteban Ocon (Alpine) - 20 pontos

8 - Lando Norris (McLaren) - 16 pontos

9 - Kevin Magnussen (Haas) - 12 pontos

10- Valtteri Bottas (Alfa Romeo) - 12 pontos

11- Daniel Ricciardo (McLaren) - 8 pontos

12- Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 6 pontos

13- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 4 pontos

14- Fernando Alonso (Alpine) - 2 pontos

15- Guanyu Zhou (Alfa Romeo) - 1 ponto

16- Alexander Albon (Williams) - 1 ponto


CONSTRUTORES:

1 - Ferrari - 104 pontos

2 - Mercedes - 65 pontos

3 - Red Bull RBPT - 55 pontos

4 - McLaren Mercedes - 24 pontos

5 - Alpine Renault - 22 pontos

6 - Alfa Romeo Ferrari - 13 pontos

7 - Haas Ferrari - 12 pontos

8 - Alpha Tauri RBPT - 10 pontos

9 - Williams Mercedes - 1 ponto

PÉREZ QUER EXPANSÃO E TRADIÇÃO NA F1

Foto: Divulgação

Sérgio Pérez está feliz com a F1 cada vez mais inserida no continente norte americano. Com três corridas nos Estados Unidos e mais o GP do México, Canadá e Brasil, "Checo" também faz um alerta: a F1 precisa manter as pistas históricas e tradicionais e as novas que entram precisam ter alguma identidade.

"Primeiramente, acho ótimo que a Fórmula 1 esteja crescendo tanto em outro continente. É uma grande oportunidade para a Fórmula 1, para o esporte, e acho que todos nós vamos nos beneficiar. Então é fantástico.

Mas, ao mesmo tempo, seria bom preservar a história do esporte, e nós precisamos ter sempre as pistas históricas. E, sempre que formos para um lugar novo, temos que ter certeza que os circuitos tenham certa identidade. Sinto que falta isso para algumas das pistas novas. Então é algo que vai ser bem importante, disse.

Com tantas corridas perto de casa, Checo até considera voltar a morar no país em breve, além de estar muito contente com a inclusão da corrida de rua de Las Vegas no calendário:

“A Fórmula 1 está se tornando um pouco mais americana, definitivamente está mais próxima do México. Então talvez eu acabe finalmente morando em casa, o que seria ótimo. Acho que Vegas vai ser uma oportunidade fantástica para o esporte e para os fãs verem os carros e a Fórmula 1. Penso que é uma excelente combinação: Vegas e Fórmula 1”, completou.

Seria a combinação ideal, mas o ideal não existe. A F1 se expande para quem pode pagar mais e custar menos. O problema é que tudo parece igual: circuito de rua, à noite... sem o perigo, a brita, o desafio, tanto para o público quanto para os próprios pilotos. A expansão desenfreada e sem critério pode ser um perigo para a categoria, no sentido competitivo da coisa.

MAX, A "BOMBA-RELÓGIO"?

Foto: Divulgação/ Red Bull Content

O início da Red Bull é difícil, principalmente para o atual campeão Max Verstappen. Uma vitória e dois abandonos em três corridas já deixam o holandês distante de Charles Leclerc, líder do campeonato. 

Sempre um piloto sanguíneo, as reclamações são constantes no rádio. Apesar do natural amadurecimento, Helmut Marko acredita que, se os taurinos não resolverem os problemas, Max pode virar uma "bomba-relógio" emocional.

“Está muito mais calmo. Depois do abandono na Austrália, voltou ao pit-lane e conversou conosco de maneira muito calma. Neste caso, entretanto, sabíamos que o problema era uma possibilidade, porque tivemos de lidar com ele na classificação. Não veio do nada.

Max é um piloto passional e emotivo que sempre dá sua opinião. Na minha visão, está muito mais calmo que no passado.

Se não vencermos novamente rápido, então ele será realmente uma bomba relógio”, disse para a TV ORF, da Áustria.

Ainda segundo Marko, Max ainda não se adaptou com a parte técnica da nova F1:

“Com o setup do carro, às vezes falta a confiança de manter o estilo extremo com que ele guia o carro. Dá para ver que Checo está mais perto dele que no ano passado”, concluiu.

Max com o emocional abalado é um perigo. É um cara que prefere abandonar a perder. Como o novo contrato tem a cláusula de desempenho e confiabilidade, é bom a Red Bull tomar cuidado, principalmente agora que está desenvolvendo os próprios motores. A bomba-relógio pode explodir, destroçar Milton Keynes e ir para um rival. Uma certa equipe alemã certamente está atenta a tudo isso...

TRANSMISSÃO:
22/04 - Treino Livre 1: 8h30 (Band Sports)
22/04 - Classificação: 12h (Band Sports)
23/04 - Treino Livre 2: 7h30 (Band Sports)
23/04 - Corrida Classificatória: 11h30 (Band e Band Sports)
24/04 - Corrida: 10h (Band)

terça-feira, 19 de abril de 2022

O DINHEIRO COMO MALDIÇÃO

 

Foto: Divulgação/Aston Martin

Lawrence Stroll é um das pessoas mais ricas do mundo. Não a toa, conseguiu fabricar a carreira do filho Lance no automobilismo. Desde sempre ele teve a disposição os melhores equipamentos e pessoas que o desenvolvessem enquanto piloto. O talento natural não existe, mas o dinheiro faz repetir algumas situações e permite um desenvolvimento tranquilo até atingir a plenitude.

Com a falida Racing Point, Lawrence viu que a Williams não seria o melhor cenário para desenvolvimento do filho e comprou uma estrutura muito competente, mesmo sem dinheiro. Com a grana, atraiu o retorno de uma montadora de peso. Uma montadora de peso precisa de um piloto de cacife para comandar o projeto e ser até mesmo uma peça chave de publicidade.

Vettel e Stroll. O veterano tetracampeão em baixa sendo líder e acionista de um projeto seria um bom cartel para o filho. Se Lance vence o alemão, não há o que questionar no talento até então baseado no nepotismo. A expectativa é animadora. Montadora, investimento e um tetracampeão = longo-prazo esperançoso.

O primeiro ano foi tímido. Sem ter como copiar o carro da Mercedes, que foi a base do sucesso de 2020 do então time rosa, o jeito é começar do zero. Um ano de transição pensando no novo regulamento. A esperança era agora, mesmo sabendo que os frutos podem ser colhidos somente mais para frente, quando a nova fábrica e o novo túnel de vento ficarem prontos.

2022 está começando de forma preocupante para a Aston Martin. Começando pelo fato de Vettel ter perdido duas corridas com o novo regulamento em virtude da Covid. É nítido que não está ambientado com o carro e o tempo fora fez a diferença na corrida da Austrália. Stroll vem batendo e fazendo o que pode, mas o erro é achar que ele vai guiar o time. É apenas o filho do dono.

Investimento, dinheiro, estrutura... o que está dando errado? É necessário ter paciência? Sem dúvida, desde que as apostas e escolhas sejam corretas. A saída do Otmar Szanafauer não parece um bom indício. É uma equipe que ainda está em adaptação em meio a um novo regulamento e covid no piloto tetracampeão acionista cada vez mais decadente. Não me parece a receita correta.

Que a Aston Martin vai crescer, não há dúvidas. Para isso, precisa acertar no carro, nos chefes e também nos pilotos. Essa é a função para o longo prazo. Stroll é uma benção e uma maldição. Sem ele, não há dinheiro e nem Aston Martin. O que fazer? Aposentar Vettel e trazer quem para liderar um processo tão centralizado no filho do dono?

Até aqui, a Aston Martin me lembra muito a Jaguar, não só pelas cores, mas por todo o contexto: pompa, grife, dinheiro, investimento e resultados aquém do esperado. É cedo e oportunista, mas ser a pior equipe do grid nesse momento não deixa de ser constrangedor para uma organização que chegou na F1 prometendo tanto.

Até!


segunda-feira, 11 de abril de 2022

CONSIDERÁVEL

 

Foto: Reuters

Um novo regulamento é um sopro de renovação e esperança na F1. Hierarquias consolidadas podem terminar e patinhos feios desacreditados podem ousar sonhar com o protagonismo e a beleza da vitória.

A Ferrari, por exemplo. 2020 foi o pior da equipe em quatro décadas. Os números comprovam. Com o motor "trapaceiro", os dois últimos anos foram de acertos internos, apostando na nova F1 que viria, enquanto Mercedes e Red Bull brigavam pelos holofotes.

Hoje, o que nós vemos? Os italianos finalmente acertaram nos investimentos e a Ferrari, delegada a coadjuvante, vira o bicho papão nesse início de 2022. Não só isso, mas vê Mercedes instável e Red Bull com sérios problemas de confiabilidade. Um campeonato, até aqui, muito a favor, mesmo considerando que essa é a temporada mais longa da história e tudo pode acontecer.

Lembra um pouco 2009, o ano do difusor, quando a Brawn GP tomou de assalto a temporada e, no início, Button venceu 6 das primeiras sete corridas, garantindo assim o campeonato. Do meio para o final, as equipes grandes cresceram e a Brawn diminuiu o ímpeto, mas ainda assim Jenson celebrou o único título mundial.

Em 2022 é tudo diferente. A Ferrari e Leclerc possuem grande possibilidade de repetir o feito daquela Brawn arrassadora, mas existe muita margem de crescimento para Mercedes e Red Bull, as rivais. Se a Ferrari relaxar, a possível vantagem pode virar água. Se a temporada de 2009 fosse nos mesmos moldes atuais, Vettel no mínimo teria grandes chances de brigar pelo primeiro título um ano antes, mas não foi o caso.

A própria Haas aproveitou para ganhar uns pontinhos importantes nas primeiras corridas. Sem dinheiro e com todo aquele imbróglio envolvendo Mazepin, vai ser difícil repetir a dose até novembro. A própria McLaren já evoluiu e apenas a Aston Martin segue empacada, embora tenha recursos para brigar além.

Duas vitórias em três corridas, 71 pontos dos 78 disponíveis conquistados, 34 pontos de vantagem para o vice-líder do campeonato (Russell)... o início da Ferrari é melhor que a encomenda e uma vantagem considerável. Não dá para negar, embora os italianos tentem manter os pés no chão.

Como já escrevi: talvez seja cedo, mas a Ferrari pode estar começando a construir a conquista do campeonato mais cedo e mais fácil do que imaginava.

Até!

domingo, 10 de abril de 2022

AVASSALADOR

 

Foto: Peter J. Fox/Getty Images

Fazia tempo que não via a Ferrari dominar uma corrida do início ao fim sem ser incomodada, sem correr riscos. Desde os tempos de Schumacher e também os dois anos que Massa e Raikkonen brigaram pelos campeonatos, em 2007 e 2008. Nem mesmo o Safety Car e a rápida ameaça de Max foram algo digno de algum drama.

Charles Leclerc vence a quarta corrida na carreira e a segunda no ano, liderando de ponta a ponta e fazendo a volta mais rápida, além da pole. É um início avassalador. Ele não dá chances a ninguém. Como Galvão Bueno sempre fala: o piloto bom é aquele que na hora decisiva mostra o que sabe. Leclerc, desde o surgimento, sempre foi um prodígio. Agora, maturando, parece mais próximo do que imagina para encontrar a glória eterna (além da Libertadores, é também a F1).

O contrário é Carlos Sainz. Fui um dos que bradou aos quatro cantos que o espanhol seria páreo duro por ter temporadas consecutivas de excelência. De novo, como diz Galvão: "fazer graça no meio do grid é fácil, difícil é ter consistência na pressão de disputar um campeonato". Sainz teve um péssimo final de semana. Teve azar no sábado e no domingo errou, ficou fora. O espanhol vai sentir ainda mais a pressão de ser Ferrari porque agora menos que a dobradinha será considerado um fracasso. 

Sainz antecipa um drama que a Ferrari "viveria": no fim das contas, o espanhol será o escudeiro de Leclerc. Não aproveitou a chance e, mesmo em três corridas, pode-se escrever que é tarde para alcançar um talento como o monegasco.

A dificuldade também está no carro número um. Max Verstappen. Brigando com o bólido, tentou de tudo para pressionar Leclerc mas não há carro suficiente para a briga. E nem motor ou combustível. Com dois abandonos em três corridas, a Red Bull sofre com a confiabilidade e pode ficar fora da briga mais cedo que imaginava. Numa F1 que quebrar é raro, 36 pontos a menos é um pecado. Dá tempo de recuperar? Com a Ferrari nesse nível, começa a parecer improvável, mesmo que falte vinte corridas. Aposto que Adrian Newey lembra desse carro da mesma forma que lembra a McLaren de 2005: velozes e inconfiáveis.

Por outro lado, Pérez parece mais competitivo e conseguiu o primeiro pódio no ano. Está mais perto de Verstappen e parece ser mais importante para o time nesse ano, além de mais ajustado ao novo carro. Um piloto muito útil. 

A Mercedes parece muito distante nas voltas lançadas pelo motor deficitário de potência e a dificuldade em aquecer os pneus, mas o ritmo de corrida é consistente. Os pneus duram mais, ao contrário da Red Bull, o que permitiu disputas com Pérez. A Mercedes não está no meio do pelotão e sim estabelecida como terceira força. Se a Red Bull e Sainz bobearem, eles estarão lá. Foi o caso. Russell teve sorte de um Safety Car surgir e conseguiu o primeiro pódio em uma corrida, superando Hamilton que tinha ritmo superior. O caminho é longo, mas os alemães estão na briga, hein? Não descartem eles!

A McLaren evoluiu desde a segunda etapa e retomou o padrão do ano passado. Norris foi perfeito e Ricciardo fez os primeiros pontos no ano diante da massa australiana. Entra de vez no bolo do pelotão intermediário, buscando os ajustes no decorrer da temporada. É uma parada dura, mas hoje foi um sinal positivo de reação.

Esteban Ocon foi regular e mesmo assim é o cara que traz pontos para a casa na Alpine. Dessa vez a culpa é da ex-Renault e a crueldade que fizeram com Don Alonso, o injustiçado do final de semana. Brigaria pela pole até o carro apagar. Uma estratégia equivocada de demorar a parar fez o espanhol desperdiçar uma grande oportunidade. Carro tinha, faltou visão e confiabilidade, menos para o francês.

Bottas conseguiu dois pontos importantes para a Alfa Romeo mas o nome da corrida foi Alexander Albon. Em uma estratégia quase suicida, conseguiu render 57 voltas com o pneu duro, parando na última e garantindo o décimo lugar, largando de último! Soube se beneficiar das circunstâncias da corrida, no agitado e remodelado Albert Park (viva as britas! mesmo mais rápida, ainda é difícil ultrapassar por lá, mas é um circuito belíssimo!) e traz um ponto importante para a Williams.

Fica cada vez mais claro que Latifi não consegue domar os carros da nova F1, assim como Stroll. Duas chicanes ambulantes. Não é surpresa, mas são os dois que bancam as equipes que guiam, então reclamar não vai adiantar nada.

Definitivamente a pior equipe do grid é a Aston Martin. Não adianta investimento maciço se não for nas áreas certas. Vettel estreou na temporada e parecia ainda com sequelas do covid, brincadeiras à parte: bateu o final de semana todo. Faz tempo, mas nem parece que o alemão é um tetracampeão mundial. Inacreditável o processo de decadência estabelecido pelo alemão. Virou uma chicane ambulante, quando Galvão falava sobre Villeneuve e Coulthard no final da carreira. Assim como Stroll, só sai quando quer, porque é acionista, mas vou dar um desconto: estreando e se recuperando da covid, Vettel precisa de tempo.

A Ferrari e Charles Leclerc começam o ano num ritmo avassalador, sem brechas para a concorrência. Com a Red Bull inconfiável e a Mercedes ainda distante de uma briga igualitária, pode parecer precoce mas a sensação é que os italianos talvez estejam mais próximo do ouro do que eles imaginavam...

Confira a classificação final do GP da Austrália:


Até!

sexta-feira, 8 de abril de 2022

MAIS UMA AMOSTRA

 

Foto: Bryn Lennon/F1/Getty Images

É estranho ver o agora remodelado circuito de Albert Park não ser sinônimo de início de temporada, e sim a terceira corrida do ano. São os novos tempos.

Os novos tempos também seguem a todo vapor na hierarquia do novo regulamento da Fórmula 1. Nos treinos livres dessa madrugada, algo inédito para nós desde 2019, a mesma tônica: Ferrari e Red Bull.

O circuito favorece os italianos. As retas não são tão longas e privilegia o conjunto mais equilibrado, no caso o ferrarista. Leclerc tem a chance de continuar ditando as regras, mas é claro: treino é uma coisa, ritmo de corrida é outra. O que não se esconde é a animação na manutenção da Ferrari entre os ponteiros.

Max teve dificuldades para encaixar uma volta limpa, seja pelo tráfego ou por erros próprios. Ainda assim, mesmo que tudo se alinhe, a Ferrari parece ter a vantagem nesse final de semana. A conferir se resulta isso em uma vitória.

A Alpine, a princípio, desponta como a terceira força, com Alonso muito forte. Aparentemente, a Mercedes esconde o jogo e faz testes, tudo isso para saber se é a terceira força isolada ou consegue algo além, talvez algo aquém também. Mistério.

O meio do pelotão segue a mesma briga encarniçada de sempre, com o acréscimo da McLaren, que consegue ser mais competitiva desde a estreia. Finalmente tivemos a estreia de Vettel na temporada, mas por pouco tempo: problemas no motor Mercedes e o grande momento do tetracampeão foi passear de moto pela pista para voltar aos boxes.

Na ainda nova F1 que estamos nos acostumando, Albert Park nos mostra mais uma amostra dos novos tempos: Ferrari contra Red Bull e Melbourne de cara nova, sendo a terceira corrida do ano. É o tempo...

Confira a classificação dos treinos livres:




Até!


quarta-feira, 6 de abril de 2022

GP DA AUSTRÁLIA: Programação

 O Grande Prêmio da Austrália entrou no circo da F1 em 1985. Foi disputado nas ruas de Adelaide até 1995, quando foi substituído pelo circuito de Albert Park, que é palco do GP até os dias atuais, sempre abrindo a temporada da F1 nos últimos 22 anos (exceção de 2006 e 2010). Em virtude do Covid, a etapa não aconteceu nos dois últimos anos, retornando ao calendário em 2022.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:

Melhor volta em corrida: Michael Schumacher - 1:24.125 (Ferrari, 2004)

Pole Position: Lewis Hamilton - 1:20.486 (Mercedes, 2019)

Último vencedor: Valtteri Bottas (Mercedes)

Maior vencedor: Michael Schumacher - 4x (2000, 2001, 2002, 2004)


CLASSIFICAÇÃO:

1 - Charles Leclerc (Ferrari) - 45 pontos

2 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 33 pontos

3 - Max Verstappen (Red Bull) - 25 pontos

4 - George Russell (Mercedes) - 22 pontos

5 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 16 pontos

6 - Esteban Ocon (Alpine) - 14 pontos

7 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 12 pontos

8 - Kevin Magnussen (Haas) - 12 pontos

9 - Valtteri Bottas (Alfa Romeo) - 8 pontos

10- Lando Norris (McLaren) - 6 pontos

11- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 4 pontos

12- Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 4 pontos

13- Fernando Alonso (Alpine) - 2 pontos

14- Guanyu Zhou (Alfa Romeo) - 1 ponto


CONSTRUTORES:

1 - Ferrari - 78 pontos

2 - Mercedes - 38 pontos

3 - Red Bull RBPT - 37 pontos

4 - Alpine Renault - 16 pontos

5 - Haas Ferrari - 12 pontos

6 - Alfa Romeo Ferrari - 9 pontos

7 - Alpha Tauri RBPT - 8 pontos

8 - McLaren Mercedes - 6 pontos


CULTURA FERRARI
Foto: Reprodução/Ferrari


Em entrevista ao jornal alemão Bild, o chefão Mattia Binotto discorreu sobre o início de temporada positivo da Ferrari. Conquistando 78 dos 88 pontos possíveis, liderando o campeonato de pilotos (Leclerc) e construtores, além de quebrar um tabu de quase três anos sem vitória, Binotto está satisfeito.

No entanto, em meio a empolgação e a esperança da equipe ferrarista sair da fila, Binotto também disse que esse é um processo contínuo, iniciado nos últimos anos e que ainda precisa de muitos reparos. O chefão, mais do que tudo, deseja reconstruir e representar a "cultura Ferrari", da única escuderia presente na categoria desde 1950 e sem dúvidas a mais midiática e vencedora da história da F1.

"Grandes projetos levam anos, e foi uma longa jornada que ainda prossegue. Ainda existe muita coisa a fazer e melhorar. Queremos trazer de volta a cultura Ferrari no time, é isso que nos constrói. Somos os que sempre estiveram na F1 e o time de maior sucesso na história. É isso que representamos”, disse.

Ferrari sempre será Ferrari, simples assim. Tal qual um clube de futebol de massa, as hipérboles sempre estarão presentes, seja para o bem ou para o mal. A pressão sempre vai existir. O início de ano é uma ótima resposta a muitas temporadas decepcionantes. 

Isso acende uma esperança e também a pressão de finalmente quebrar o tabu dos títulos de pilotos (2007) e construtores (2008) para que, enfim, o alto investimento seja justificado. Caso o objetivo seja alcançado, a pressão não vai parar, porque o foco será manter uma possível hierarquia no grid. Ferrari é Ferrari.

SEM CHANCE
Foto: Motor Sport Magazine

No final de semana que marca o retorno da Austrália ao calendário da F1, uma sede outrora tradicional também teve o nome ventilado, ainda mais agora que a F1 se expande cada vez mais.

Realizada entre 1999 e 2017, quando optou por não renovar o contrato, o GP da Malásia está longe de retornar à F1, ao menos é o que falam as fontes oficiais.

O país foi o primeiro do Oriente Médio a adentrar o calendário, mas hoje os planos são outros. É o que explica o diretor executivo Azhan Shafriman Hanif, em entrevista para a agência malaia Bernama.

"Precisamos olhar para o quadro geral de forma holística, de como a F1 pode beneficiar não apenas a empresa, mas a Malásia em termos de marca, capacidade de fornecer oportunidades de emprego, desenvolvimento de talentos e outros.

Então, quando pagamos relativamente alto pelos direitos de organizar a corrida, o retorno tem de ser alto no geral, e não apenas no aspecto do circuito”, disse.

No entanto, o diretor executivo não fechou totalmente a porta, acreditando ser possível a realização da corrida no país caso haja interesse da F1 e o apoio do setor privado em parceria com o governo malaio.

O ministro do esporte, Datuk Seri Ahmad Faizal Azumu, disse que está disposto a receber a ajuda das empresas para que Sepang volte a F1. Atualmente, o circuito segue recebendo à Moto GP.

É uma pena. Sepang é com certeza um dos melhores circuitos e nunca deveria ter saído da F1. Além da boa estrutura, o clima semelhante ao de Manaus torna tudo indefinido. Com quase 25 corridas, chega a ser um absurdo as ausências de Sepang e Mugello mas calma, ainda dá tempo de colocar mais duas corridas nos Estados Unidos...

TRANSMISSÃO:
08/04 - Treino Livre 1: 0h (Band Sports)
08/04 - Treino Livre 2: 3h (Band Sports)
09/04 - Treino Livre 3: 0h (Band Sports)
09/04 - Classificação: 3h (Band e Band Sports)
10/04 - Corrida: 2h (Band)

terça-feira, 5 de abril de 2022

SOBRE RUPTURAS E RECOMEÇOS

 

Foto: Visit Melbourne

Coincidência ou não, as últimas edições  do Grande Prêmio da Austrália bateram com alguns acontecimentos interessantes da minha vida pessoal e profissional.

Voltando para 2019, o ano da última corrida. O início da temporada, tradicional. Dias antes, a morte repentina de Charlie Whiting, o diretor geral, o braço direito de Bernie Ecclestone. Aí surge a figura de Michael Mais na F1.

Mas, pra falar a verdade, não lembro de nada desse final de semana. Certamente assisti os treinos livres na madrugada e o classificatório, mas não tem nada na mente. O que lembro daquele final de semana foi a formatura de um amigo que fui, na tarde de sábado. Entre a colação de grau e a festa, iniciada no início da noite, curti bastante e bebi muito, até lembrar que deveria ir para casa descansar. No dia seguinte, faria meu primeiro grenal como narrador na Galera.

E tinha a corrida, é claro. Cheguei em casa, cansado e a ideia era tirar uma soneca e acordar na hora do jogo. A realidade: liguei a TV nas voltas finais, só lembro que Bottas venceu. E no dia seguinte fiz meu primeiro grenal, no período do GP da Austrália.

2020. A F1 voltava na tradicional quinta feira, mas não era uma quinta feira qualquer. Era uma quinta feira de grenal na Libertadores, histórico, o primeiro da história na competição. E lá estava eu, na Arena, naquela quinta feira. Era óbvio que não assistiria os treinos livres, mas naquela altura não era o mais importante. Também foi o dia que nasceu a minha prima, Maria Flor.

Naquele dia, já estava tudo confirmado que haveria uma pausa na outra semana em virtude do surgimento do tal Covid, que na época me parecia mais uma gripe suína do que uma pandemia devastadora. Lembro que enxergava como “frescura” não se cumprimentar e ficar próximo, entre outras coisas. Foi o último jogo com 60 mil pessoas que fiz e as informações eram avassaladoras.

Tudo ia parar, a NBA ia parar, pessoas famosas diagnosticadas. E um Grenal e a Fórmula 1 no meio do caminho. A F1, em Melbourne, estava pronta para começar os trabalhos, sempre na própria bolha e ignorando o mundo. Naquela noite, além do jogo, voltar tarde pra casa sabendo que era uma ruptura o que estava acontecendo, li que a F1 foi cancelada porque um funcionário da McLaren estava com covid.

Dali em diante, o mundo parou, mais precisamente na segunda feira seguinte. Portanto, faz quatro anos que não assisto uma corrida da Austrália ao vivo. Se me lembro? Só lendo no blog para recordar, confesso. Dessa vez, o grenal já passou e o máximo que vai acontecer é o UFC de sábado junto com a corrida, na mesma madrugada. Domingo, faço um concurso. Talvez faça a estreia do Grêmio na Série B na tarde de sábado mas enfim, outra vez todas essas questões se misturam.

O GP da Austrália nos últimos anos representou histórias e rupturas na vida pessoal e profissional. Agora, em 2022, com o retorno, as coisas estão diferentes. Estamos buscando uma normalidade mas certamente somos pessoas diferentes, obviamente. Estamos recomeçando, assim como a corrida em Melbourne, que reformou o traçado para ter mais possibilidades de ultrapassagem.

Passado, presente, futuro, histórias pessoais e profissionais. De certa forma, ao pisar em Melbourne nessa semana, talvez seja um passo quase definitivo de que a normalidade, embora com suas diferenças, foi retomada quase que de fato.

Até!