segunda-feira, 30 de setembro de 2019

FALTAM 57 PONTOS

Foto: Getty Images
Mais uma vez alguns vão discutir sobre merecimento ou não de alguém vencer uma corrida, o que é tão relativo... uma bobeira da Ferrari + um problema dos italianos e o acaso gerado por isso fizeram com que Lewis Hamilton voltasse a vencer depois de três corridas.

Começamos pela Ferrari. Nunca tinha visto jogo de equipe em largada. Vettel saiu de trás para ultrapassar Hamilton e se defender dos alemães. Também como parte do acordo, assumiria a liderança para depois devolver ao monegasco. Vettel não fez isso e Leclerc reclamou no rádio. No entanto, o alemão abriu cinco segundos de vantagem ao #16 e, portanto, não estava mais rápido. Como contraponto, pode-se dizer que Leclerc jamais teria sido tão amigável na primeira curva se não fosse Vettel ou um acordo. Na Ferrari não há comando. Não é necessário um 1-2 explícito, mas sim uma hierarquia. Há claramente problemas de ruídos ali que só não são piores porque os italianos não são postulantes ao título.

A ideia de devolver a liderança a Leclerc depois dos boxes deu certo, mas ninguém contava que o motor de Vettel fosse para os ares. Mais um problema no potente porém frágil motor italiano. Vettel, para alguns, parou em um lugar ruim de propósito para causar um Safety Car ou seria somente um carma? Enquanto isso, as Mercedes alongavam o stint porque estavam com os médios. Com Vettel fora e com uma distância considerável graças ao Virtual Safety Car, a dupla das flechas de prata aproveitou para parar e voltar fazendo dobradinha. Vettel e Leclerc, uma guerra (nem tão) fria assim.

Apesar de muito mais rápidos no setor 3 e no 1, a turbulência e o rápido desgaste dos pneus macios não permitiu a Leclerc brigar. Ficou empacado atrás de Bottas e teve que se contentar com o terceiro lugar. Mais uma vez o monegasco não conseguiu a vitória após largar na pole. Culpa dele? Talvez. Culpa de Vettel? Talvez. Culpa da Ferrari? Sempre! No entanto, Charles está insuportável, chorão demais para quem está na primeira temporada em uma grande equipe. Imagina quando tiver 5 ou 10 vitórias ou se for campeão do mundo...

Foto: Getty Images
Verstappen com uma Red Bull distante da competitividade em pistas de alta cumpriu o papel de chegar em quarto. No entanto, deve ser frustrante ver toda a atenção da mídia e dos fãs na "nova estrela" e não poder fazer nada, dependendo da boa vontade e trabalho dos nipônicos. Albon, largando dos boxes, conseguiu chegar em quinto ultrapassando todo mundo, principalmente no final da prova, o que é sua especialidade. Já fez mais que Gasly durante todo esse tempo, isso que não pegou pré-temporada ou meses de simulador na preparação.

Sainz é o melhor do resto e voltou a pontuar com uma McLaren, que terá o retorno do motor Mercedes em 2021, mostrando que é definitivamente a quarta força. Pérez vem reagindo junto com a Racing Point e voltando a ser regular entre os 10. Norris também pontuou e teve uma corrida um pouco mais difícil. Foi beneficiado pela patética punição a Magnussen, que ganhou cinco segundos por não voltar pela pista através do caminho que os comissários tinham orientado. Ridículo. Ao menos a Haas voltou a pontuar. Hulkenberg fechou o top 10 na irregular e grande decepção do ano que é a Renault.

Foi interessante a briga entre as duas Toro Rosso, se estranhando durante quase toda a corrida. A Alfa Romeo não se encontrou depois das férias. Vê-los fechando o grid foi estranho. Primeiro grande erro de Russell e Ricciardo se envolvendo em mais um incidente logo na largada. Ele e Grosjean fizeram GIovinazzi de sanduíche. Pior para os dois primeiros e o coitado do francês dessa vez foi a vítima. Ao menos o australiano tá ganhando muita grana pra dar algumas voltinhas em circuitos pelo mundo.

E os Estados Unidos que fizeram tanto esforço para trocar de data com o México na esperança de ver o amigo dos rappers campeão por lá pode ter seus planos frustrados, isso porque faltam apenas 57 pontos para o hexa de Hamilton, que muito provavelmente pode ser conquistado pelo terceiro ano consecutivo no México. No entanto, o mais interessante do momento é a ascensão ferrarista e a disputa Vettel/Ferrari x Leclerc, enquanto a Mercedes segue vencendo apesar de já estar pensando em 2020 e 2021.

Confira a classificação final do GP do México:




Até!

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

VIROU O JOGO?

Foto: Getty Images
No penúltimo GP da Rússia que será disputado em Sochi (a partir de 2021, a ideia é transferir a prova para São Petersburgo porque serão realizadas obras que irão diminuir o traçado do atual circuito russo), podemos estar vendo uma inversão de forças para o final da temporada.

A Mercedes, já campeã de pilotos e de construtores, concentra suas forças para o carro do ano que vem e o novo regulamento de 2021. Com isso, permite a chegada de Ferrari e Red Bull. Os taurinos seguem com a Honda mostrando que ainda não é confiável o suficiente para chegar no patamar dos italianos e dos alemães. Todos os carros irão trocar o motor e vão largar nas últimas posições. Para brigar por títulos, é necessário melhorar isso. Tem que deixar de ser cobaia. A potência pode ser um bom sinal, afinal Verstappen foi o mais rápido no segundo treino livre.

Só a Mercedes venceu na Rússia até hoje. Será que teremos o fim desse jejum? Leclerc liderou o primeiro treino livre, mostrando que o avanço da Ferrari após as férias de verão é mais do que real. Talvez não seja o suficiente para o título, mas é bom para recuperar a confiança e manter os dois pilotos motivados.

Corrida interessante para ver se o motor da Renault também realmente melhorou, pois sabemos que o chassi está devendo e Riccardo disse que pode sair no final do ano que vem, para surpresa de ninguém e a sempre inquietante briga do meio do pelotão, acrescidos com as duas Red Bull saindo de trás.

Será que a Ferrari vai engatar a quarta? Será que Bottas vai mostrar a força que tem andando em Sochi? Será que a Mercedes já está pensando em 2020 ou a ameaça ferrarista é real? Veremos.

Confira os tempos dos treinos livres:



 Até!

GP DA RÚSSIA - PROGRAMAÇÃO

A Rússia entrou no calendário da Fórmula 1 pela primeira vez em sua história em 2014, com o GP disputado no circuito urbano de Sochi. A cidade fica às margens do Mar Negro, no sudoeste do país. A estrutura para o circuito se aproveita do que foi construído visando as Olimpíadas de Inverno, realizadas no mesmo ano.

ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Valtteri Bottas - 1:35.861 (Mercedes, 2018)
Pole Position: Valtteri Bottas - 1:31.387 (Mercedes, 2018)
Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)
Maior vencedor: Lewis Hamilton - 3x (2014, 2015 e 2018)

UM NOVO RUMO?

Foto: Getty Images

De saída da Williams no final da temporada, Robert Kubica pode ter o futuro ainda ligado à F1. Especulado pela Audi para disputar a DTM, o polonês está sendo sondado pela Haas para ser piloto reserva em 2020. Ao menos é isso que diz o chefão da equipe americana, Gunther Steiner:

“Tudo é possível e estamos conversando com ele”, disse Steiner. “Eu sempre falo com muita gente e tenho melhorar as coisas, mas ainda não sei [o que vai acontecer]. Preciso falar com o Robert [Kubica] para ver se ele topa fazer isso, agora que ele decidiu deixar a Williams. Não sei quais são os outros planos dele”, afirmou.

O piloto resserva trabalha com os testes no simulador para dar feedback a equipe. Atualmente, quem faz isso pela equipe americana é o brasileiro Pietro Fittipaldi, que também disputa a DTM.

“Ele tem muita experiência e é conhecido por ser um dos melhores pilotos de teste e de simulador que temos. Nunca trabalhei com ele, mas temos muita gente que trabalhou com ele. Todos os respeitam muito. Acho que ele não vai poder, ou não quer, trabalhar em tempo integral. Mesmo assim, ele é uma boa referência”, encerrou Steiner.

Kubica já era piloto de testes na Williams antes de assumir a titularidade. Infelizmente, mostrou que as lesões no braço comprometeram sua capacidade competitiva na F1, mas em outra função sua experiência pode ser de grande valia. No entanto, é isso que a Haas realmente precisa? Eles estão perdidinhos, perdidinhos.


"NÃO ESTAMOS A VENDA"

Foto: Getty Images
Mais uma notícia sobre a Haas, a grande personagem da F1 nesse ano. Com o fim do patrocínio com a tal Rich Energy, surgiram especulações de quem será o novo patrocinador do time. Um tweet da ex-parceira aponta que o grupo Haas será vendido para investidores da Arábia Saudita. Não é bem assim, segundo o chefão Gunther Steiner:

"Eu nem sei como responder. Desejo boa sorte e agradeço os investidores. Não os conheço. É um dos tweets da Rich Energy, e eu não respondo a tweets ou coisas parecidas. Não somos nós, não quero ir para lá", afirmou para a revista inglesa "Autosport".

É uma questão importante. Sem o patrocínio (e o dinheiro?) dos charlatões do energético, a Haas precisa de investimento para melhorar um carro que é uma verdadeira tragédia em 2019. Apesar de baratear custos usando peças da Ferrari e chassi Dallara, é muito pouco para um desempenho competitivo na F1, como está sendo provado. Difícil é encontrar alguém que acredite em um projeto de F1, ainda mais com essa crise mundial.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 296 pontos
2 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 231 pontos
3 - Charles Leclerc (Ferrari) - 200 pontos
4 - Max Verstappen (Red Bull) - 200 pontos
5 - Sebastian Vettel (Ferrari) - 194 pontos
6 - Pierre Gasly (Toro Rosso) - 69 pontos
7 - Carlos Sainz Jr (McLaren) - 58 pontos
8 - Alexander Albon (Red Bull) - 42 pontos
9 - Daniel Ricciardo (Renault) - 34 pontos
10- Daniil Kvyat (Toro Rosso) - 33 pontos
11- Nico Hulkenberg (Renault) - 33 pontos
12- Lando Norris (McLaren) - 31 pontos
13- Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 31 pontos
14- Sérgio Pérez (Racing Point) - 27 pontos
15- Lance Stroll (Racing Point) - 19 pontos
16- Kevin Magnussen (Haas) - 18 pontos
17- Romain Grosjean (Haas) - 8 pontos
18- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 4 pontos
19- Robert Kubica (Williams) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 527 pontos
2 - Ferrari - 394 pontos
3 - Red Bull Honda - 289 pontos
4 - McLaren Renault - 89 pontos
5 - Renault - 67 pontos
6 - Toro Rosso Honda - 55 pontos
7 - Racing Point Mercedes - 46 pontos
8 - Alfa Romeo Ferrari - 35 pontos
9 - Haas Ferrari - 26 pontos
10- Williams Mercedes - 1 ponto

CLASSIFICAÇÃO



quarta-feira, 25 de setembro de 2019

O INESQUECÍVEL NURBURGRING

Foto: Getty Images
Há 20 anos, a F1 vivia um enredo diferente na briga pelo título e o surgimento de forças surpreendentes. Na ocasião, há exatas duas décadas a Alemanha recebia o Grande Prêmio da Europa, em Nurburgring, a antepenúltima etapa da temporada.

Com Schumacher ausente da disputa em virtude do acidente em Silverstone que quebrou uma das pernas, a Ferrari recorreu a Mika Salo e fez o segundão Eddie Irvine ser alçado a esperança italiana para quebrar o jejum de 20 anos sem taças. Na McLaren, Hakkinen buscava o bicampeonato. Os dois brigavam com muita irregularidade e erros individuais e da equipe. Em Monza, Frentzen, com a Jordan, venceu e se aproximava como uma terceira força, com duas vitórias na temporada. Lembra muito 2008: Hamilton e Massa irregulares e Kubica uma alternativa por algum tempo.

Em Nurburgring, Hakkinen e Irvine estavam empatados, com Frentzen 10 pontos atrás e Coulthard 12. Estava tudo em aberto. O alemão conquistou a segunda pole da história da equipe de Eddie Jordan, seguido por Coulthard, Hakkinen, Panis (Prost), Fisichella (Benetton), Hill (Jordan), Villeneuve (BAR) e Irvine apenas em nono.

Na largada, um problema com as luzes vermelhas forçou uma nova volta de apresentação. Na sequência, após a primeira curva, a Jordan de Hill ficou muito lenta. A Benetton de Wurz desviou dele mas não do brasileiro Pedro Paulo Diniz, que capotou e chegou a perder o aparato do santantônio. Ele foi para o hospital realizar exames de rotina mas não passou de um susto.

Foto: Divulgação
Frentzen, Hakkinen, Coulthard e Ralf Schumacher seguiam no primeiro pelotão, enquanto Irvine demorou para se desvencilhar da Benetton de Fisichella. Começou a chover, mas não em todos os setores da pista. Apresentando a habitual dificuldade, Hakkinen foi perdendo rendimento e foi para os boxes. Irvine e Salo também. A Ferrari queria botar pneus de chuva, mas Irvine não quis. Resultado: o irlandês perdeu muito tempo e estava praticamente alijado da prova. A impressão é que a Ferrari não queria que ele fosse campeão. Imagina todo o investimento para o Schumacher fazer história e a taça parar no Irvine, que sequer continuaria na equipe em 2000?

A chuva parou e Hakkinen se deu mal, precisando parar novamente. Com o tempo seco, Frentzen e Ralf foram aos boxes para reabastecer. Logo ao sair do pit, um problema elétrico sepultou as chances do alemão da Jordan em ser campeão.

Com a pista ainda escorregadia, Coulthard perdeu o controle e bateu. A chuva voltou forte e Ralf liderava. Enquanto isso, Hakkinen e Irvine se engalfinhavam lá atrás, prejudicados pela estratégia e pela má pilotagem. Enquanto isso, Trulli, Herbert, Barrichello, Villeneuve e a dupla da Minardi (Badoer e Gené) escalavam as primeiras posições.

Foto: Sutton Images
A liderança virou uma batata quente. A chuva voltou com tudo e Coulthard bateu. Pouco depois, a pista secou e Ralf parou para trocar de pneus. Fisichella assumiu a liderança, mas na quarta escapada de pista bateu e ficou fora. Na sequência, o líder Ralf teve o pneu traseiro direito estourado e precisou ir para os boxes. Herbert, com a Stewart, assumia a liderança, seguido por Trulli (Prost) e Barrichello (Stewart). Irvine e Hakkinen tentavam de tudo para somar algum ponto. Luca Badoer, com a Minardi, alcançava uma histórica quarta posição.

Até que o motor explodiu e a maior chance do italiano pontuar na carreira também. Ao sair do carro, irritado, começou a chorar copiosamente. Uma das cenas mais tristes da história. Uma crueldade com a Minardi e com Luca.

Foto: Reprodução

Foto: Getty Images
Villeneuve, com problemas eletrônicos, também abandonou. Hakkinen pressionou tanto Irvine que fez o irlandês escapar da pista para fazer a ultrapassagem. No final, sem mais surpresas, Johnny Herbert guiou para a terceira vitória na carreira e a primeira e única da Stewart, já vendida para a Ford, que virou Jaguar em 2000. Trulli resistiu a pressão de Rubinho e chegou em segundo, com o brasileiro atrás. Ralf foi o quarto e Hakkinen conseguiu um ótimo quinto lugar numa péssima corrida. Se Badoer ficou fora, coube a Marc Gené voltar a fazer a Minardi pontuar depois de quatro anos, com Irvine em sétimo.

Foto: Getty Images
Jackie Stewart fazia história ao ser mais um a vencer como piloto e dono de uma equipe própria. Hakkinen abriu dois pontos de vantagem para Irvine faltando duas etapas: a estreia da Malásia e o tradicional Japão. Nada melhor do que falar desta grande corrida em momentos onde se questiona se a vitória de Vettel foi merecida. Herbert mereceu vencer? Ou seria Frentzen, Coulthard, Ralf ou Fisichella? O que vale é que é isso que entra para a história: a disputa, o imponderável e a emoção da incerteza.

Até!

terça-feira, 24 de setembro de 2019

O VELHO PROBLEMA

Foto: RaceFans
O post de hoje será simples. Uma das declarações mais interessantes no pós-corrida foi de Lance Norris, sétimo colocado. Feliz por ser o "melhor do resto" (ou F1.5.), o inglês não estava satisfeito com a corrida por um simples porém importante motivo: passar a maior parte do tempo poupando pneus, não acelerando o máximo do carro em virtude da estratégia definida de todos em fazer apenas uma parada.

Desde que a Pirelli assumiu a exclusividade da fabricação dos pneus, em 2011, diversas reclamações estão sendo feitas: primeiro era porque o composto era uma "farofa que acabava facilmente", a mando do então chefe Bernie Ecclestone. Nos últimos anos, os compostos ficaram mais resistentes, mas nesta temporada muitas equipes estão reclamando que é muito difícil atingir a temperatura ideal de aquecimento dos pneus, o que prejudica, é claro, o desempenho de vários bólidos.

Claro que isso não é o principal problema. Com a era híbrida e peças cada vez mais caras, além do uso de apenas poucas peças para trocar peças do motor, câmbio e etc, a F1 não explora mais a velocidade pura, e sim virou uma espécie de Endurance: administrar motor, pneus e câmbio o máximo possível para não desgastar e perder algum componente.

Se os próprios pilotos não se sentem satisfeitos quanto a isso, imagina nós, os fãs. Por menos soluções artificiais como DRS, grid invertido e mais competição real, com aquilo que é realmente feita a F1: velocidade máxima, os pilotos dando tudo de si sem pensar em limite de motores, pneus estourando e troca de câmbio.


Até!

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

DE REPENTE, VITÓRIA!

Foto: Getty Images
Existe vitória injusta? Existe, tipo a do Hamilton no Canadá esse ano. Existe vitória que caiu do céu? Aos montes na história, cada vez mais impossível diante da confiabilidade dos motores híbridos e das equipes poupando equipamento até não poder mais, como bem criticou Lando Norris. Enfim, existe a vitória de Johnny Herbert pela Stewart em 1999.

A vitória de Vettel, que encerrou um jejum de 22 etapas sem subir no lugar mais alto do pódio, pode ter dois desses elementos. Sorte, competência ou incompetência da Ferrari? Desde o início da corrida, quando Hulkenberg parou cedo com danos no carro, ele virava mais rápido com pneus duros, de Renault. Apostando no desgaste dos pneus ferraristas, a Mercedes esperou, como uma raposa velha.

A Ferrari, protegendo Vettel do terceiro lugar para evitar o undercut de Verstappen, chamou o alemão. Na volta seguinte, o surpreendente pole, Leclerc, veio fazer o mesmo. Aliás, é muito surpreendente o rendimento da Ferrari em Cingapura. Sem longas retas e o circuito com mais curvas do ano, esperava-se um domínio dos alemães e uma briga com o holandês da Red Bull. Não foi bem assim.

Enfim, voltando, a volta livre com os pneus duros foi o suficiente para Vettel retornar à frente de Leclerc. Não só se protegeu de Verstappen como conseguiu duas posições em uma tacada só! Sorte, competência da Ferrari ou injustiça com o monegasco? Geralmente o melhor posicionado tem a preferência de parar primeiro. Não foi o que aconteceu, e por isso Leclerc ficou irritadíssimo no pós-corrida. Tá chorando demais e se fazendo de vítima, apesar de ter sido mais uma vez sacaneado.

Foto: Getty Images
A 53a vitória da carreira de Vettel, a quinta em Marina Bay, surge no momento mais duro da carreira do tetracampeão, que segurou o choro no pódio. Cena bonita, logo duas semanas após uma rodada justo em Monza, onde Leclerc se consagrou o novo ídolo. Merecia ter vencido antes, no Canadá, assim como Leclerc pode reclamar de ter perdido sua terceira corrida no ano: Bahrein, Áustria e agora. Se, se, se... Pela primeira vez em onze anos a Ferrari emplaca três vitórias seguidas, a mesma coisa na era híbrida, iniciada em 2014. O campeonato e os construtores já estão definidos, mas é sempre bom a Mercedes abrir o olho, ainda mais diante dessa inesperada derrota de hoje.

Quem também reclamou da estratégia foi Hamilton. Segundo ele, seria uma vitória fácil se tivesse parado antes. Perdida, a Mercedes alongou o stint temendo voltar no meio do tráfego e perdeu as posições. Mesmo assim, já são três corridas sem vencer. Mesmo que o campeonato já esteja definido, é a primeira vez que os alemães enfrentam essa situação em cinco anos. Ah se o #44 tivesse um rival do outro lado...

Verstappen já andou reclamando da Red Bull/Honda. É um desperdício vê-lo com a possibilidade de brigar apenas por dois vitórias no ano. Com Leclerc sendo a "nova sensação" em uma equipe grande e mais encorpada que os taurinos hoje, não é de se duvidar que esse casamento possa ruir caso as coisas não tenham uma perspectiva de melhora. Albon, mais uma vez seguro, fez o que pode: o sexto lugar.

Na "zona do agrião", destaque para Norris, o melhor do resto. Hulkenberg, com uma boa corrida de recuperação, contou com o Safety Car para ficar em nono nesse clima de despedida da categoria. Gasly deve ter feito sua segunda melhor corrida no ano e conquista pontos importantes. Por falar em ponto, de um em um Giovinazzi tenta sobreviver na Alfa Romeo, apesar de todos os dramas.

Grosjean já mostrou o cartão de visitas renovado ao alijar Russell da prova e começar o caos dos três Safety Car. Kvyat e Raikkonen se estranharam e ficaram pelo caminho. A Haas segue o calvário sem perspectiva de melhora. Ricciardo parece mais preocupado em dar show e se divertir nas disputas de pista do que propriamente com a pontuação. E tá errado?

Justa ou não, a vitória de Vettel pode ser um combustível para o alemão finalmente sair da maré negativa, apesar dos prognósticos não serem bons. Afinal, para alguns ele "herdou" o resultado hoje e vem de seguidas derrotas nos treinos. Não parece estar bem adaptado ao SF90. Mesmo assim, que a cabeça volte a ficar no lugar e se imponha como um tetracampeão deve fazer.

Confira a classificação final do GP de Cingapura:


Até!



sexta-feira, 20 de setembro de 2019

ENCONTROS E DESPEDIDAS

Foto: Divulgação
A medida que a temporada vai se encerrando, as especulações viram (ou não) confirmações. A Williams, por exemplo, não terá Kubica em 2020. O polonês vai sair no final da temporada, provavelmente com destino para a DTM. Trata-se de uma linda história de superação ao retornar sete anos após o grave acidente de rali que quase tirou o braço direito, mas claramente o polonês não é mais competitivo. Apesar disso, é o responsável pelo único ponto da equipe no ano, o que mostra que o talento ainda está lá. Parabéns Kubica pela história de superação e que siga bem nos próximos passos da carreira. Nicholas Latifi, vice-líder da F2 e atual piloto de testes, é o favorito.

A Haas é assustadora. Dois pilotos inconstantes, um carro e ruim e o que é feito? Continuidade no trabalho. Mais um ano com Magnussen e Grosjean. Ao menos a diversão está garantida. Depois não adianta criticar a F1 pelos custos com uns pilotos desses, ainda mais agora sem dinheiro de uma patrocinadora. Que decepção, Gunther Steiner. E o Hulk, hein? Agora as chances de permanecer estão quase escassas.

Bom, indo para a pista, tivemos no primeiro TL1 Verstappen como o mais rápido e uma batida de Bottas. No segundo treino, Hamilton dominou. Como é de se esperar, Mercedes é favoritaça para dominar, com Verstappen em segundo plano. A Ferrari será coadjuvante. Pelo traçado travado, Cingapura exige bastante dos freios e sempre é promessa de Safety Car e corridas malucas. Espero que isso aconteça.

Confira a classificação dos treinos livres:



Até!

GP DE CINGAPURA - PROGRAMAÇÃO

O Grande Prêmio de Cingapura é disputado desde 2008 e foi a 1a corrida noturna da história da Fórmula 1, que foi vencida de forma polêmica por Fernando Alonso, pilotando a Renault, após se beneficiar de um Safety Car oriundo de uma batida proposital de seu companheiro de equipe Nelsinho Piquet e o abandono do então líder da corrida Felipe Massa, da Ferrari, após a mangueira de reabastecimento ter ficado presa em seu carro. O caso ficou conhecido como Cingapuragate.

Foto: Wikipédia
ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Kevin Magnussen - 1:41.905 (Haas, 2018)
Pole Position: Lewis Hamilton - 1:36.015 (Mercedes, 2018)
Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)
Maior vencedor: Sebastian Vettel (2011, 2012, 2013 e 2015) e Lewis Hamilton (2009, 2014, 2017 e 2018) - 4x

SEGUE O JOGO

Foto: Getty Images
Depois da constrangedora crise e troca de farpas via redes sociais, finalmente chegou ao fim a "parceria" entre a Haas e a Rich Energy. Isso é apenas a ponta do iceberg da péssima temporada que vive a equipe americana, estagnada na evolução do carro e com dois pilotos no mínimo inconstantes.


Apesar disso, a pintura da VF19 vai seguir a mesma: preta e dourada, sem o logo da ex-patrocinadora, é claro. Talvez o grande acerto desta temporada tenha sido a cor do carro, realmente muito bonito. Com a temporada perdida, é hora de pensar em 2020. Grosjean não pode mais receber oportunidades e tem Hulkenberg dando sopa no mercado. Uma dupla (ou trio) explosiva com o desafeto Magnussen mais a figura carismática de Gunther Steiner é tudo que a "F1 Lado B" precisa neste momento.


BERNIE QUER CALENDÁRIO MAIS CURTO

Foto: Getty Images

O ex-chefão da Fórmula 1 é contra o atual longo calendário de corridas da Fórmula 1. Nesta temporada, são 21 etapas. No ano que vem, teremos um recorde de 22, com as entradas de Zandvoort e Vietnã e a saída da Alemanha. Para 2021, é possível que sejam até 24 grandes prêmios, o que Bernie é contra:

“Isso seria muita coisa, definitivamente. 16 corridas já seria o suficiente. Quanto mais corridas, mais o produto se desvaloriza. Já tivemos essa supersaturação no tênis. São mais de 100 torneios, mas nem dez deles importam", afirmou à revista alemã "Auto Motor und Sport".

Bernie concluiu a linha de raciocínio:
“Se forem só 16 corridas, os organizadores vão precisar pagar mais, de acordo com isso. E eles vão pagar, porque o evento se torna mais valioso, já que o número de GPs fica escasso”, destacou.

O calendário de 16 corridas era comum até o início dos anos 2000. De março a outubro. Da Austrália ao Japão. Bem simples. O mais engraçado e irônico é que o aumento desse número foi justamente na gestão Bernie, que passou a explorar o mercado asiático com corridas no Bahrein, Índia, Coreia do Sul, etc. No último ano de Bernie como chefão, o número de etapas foi exatamente igual ao atual: 21 corridas.

Bernie é um personagem maravilhoso, para o bem e para o mal. Na lógica de gestor, talvez não esteja errado. No entanto, para os fãs, quanto mais melhor, de preferência todas as semanas.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 284 pontos
2 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 221 pontos
3 - Max Verstappen (Red Bull) - 185 pontos
4 - Charles Leclerc (Ferrari) - 182 pontos
5 - Sebastian Vettel (Ferrari) - 169 pontos
6 - Pierre Gasly (Toro Rosso) - 65 pontos
7 - Carlos Sainz Jr (McLaren) - 58 pontos
8 - Daniel Ricciardo (Renault) - 34 pontos
9 - Alexander Albon (Red Bull) - 34 pontos
10- Daniil Kvyat (Toro Rosso) - 33 pontos
11- Nico Hulkenberg (Renault) - 31 pontos
12- Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 31 pontos
13- Sérgio Pérez (Racing Point) - 27 pontos
14- Lando Norris (McLaren) - 25 pontos
15- Lance Stroll (Racing Point) - 19 pontos
16- Kevin Magnussen (Haas) - 18 pontos
17- Romain Grosjean (Haas) - 8 pontos
18- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 3 pontos
19- Robert Kubica (Williams) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 505 pontos
2 - Ferrari - 351 pontos
3 - Red Bull Honda - 266 pontos
4 - McLaren Renault - 83 pontos
5 - Renault - 65 pontos
6 - Toro Rosso Honda - 51 pontos
7 - Racing Point Mercedes - 46 pontos
8 - Alfa Romeo Ferrari - 34 pontos
9 - Haas Ferrari - 26 pontos
10- Williams Mercedes - 1 ponto

TRANSMISSÃO:







quarta-feira, 18 de setembro de 2019

ANDARILHO

Foto: Divulgação
Depois do passado tenso com a Ferrari, os escândalos na primeira passagem da McLaren e a má fama de desagregador, Alonso deixou a F1 no fim do ano passado cansado de andar no fim do grid e com a estagnação da McLaren, além do fracasso com a Honda.

Isso fez do espanhol, o bicampeão, considerado ainda um dos melhores pilotos do mundo, cair no limbo, sem saída. Diante do objetivo de conquistar a tríplice coroa, continuou na WEC até a metade do ano, onde foi campeão e mais uma vez vencedor das 24 Horas de Le Mans, tentou outra vez a sorte na Indy 500. A parceria McLaren/Carlin foi um fracasso e o espanhol sequer ficou entre os 33. Um mico mundial.

Embora a McLaren esteja de volta ao grid em tempo integral na junção com a Peterson no ano seguinte, a participação de Alonso é uma grande incógnita. Um ponto de interrogação gigante no que se refere ao médio/longo-prazo da Fênix. Qual será o próximo passo de Alonso?

Ao menos na página seguinte, o próximo objetivo é o Rali Dakar, no início de 2020. Alonso já havia realizado alguns testes com a Toyota no ano passado e agora os intensificou. É o novo alvo do andarilho.

Na semana passada, Alonso participou de uma etapa da Série Cross Country, na África do Sul, o Lichtenberg 400, tendo como co-piloto Marc Coma, campeão do rally de motos. Na fase de treinos, o "prólogo", Alonso foi competitivo: fez o terceiro melhor tempo, apenas atrás de Henk Lanegan, líder do campeonato, e Giniel De Villers, campeão da competição e vencedor de Dakar em 2009.

No entanto, existem os perigos e armadilhas de uma corrida num rali. Aos 23 quilômetros do primeiro estágio, Alonso capotou. Com o impacto, o para-brisa quebrou e os dois precisaram usar óculos de proteção para finalizar o estágio. Com o carro reparado, a dupla foi autorizada a começar o segundo estágio 15 minutos antes dos demais, só que logo no início o carro atingiu um bando de pássaros que novamente danificou o pára-brisas. Coma teve que segurar a tela de danos no lugar que desmontou até o final. A dupla terminou a prova mas não se classificou em virtude do tempo perdido. Lategan venceu, seguido de De Villers e Chris Visser.

Foto: Divulgação


A prova era uma espécie de aquecimento para Alonso, estreante na Toyota Hilux, para o próximo desafio: o rali de Marrocos, que acontece entre 3 e 9 de outubro e vai ter as presenças de grandes nomes do rali como Carlos Sainz (o pai), Nani Roma e o atual campeão Nasser Al-Attiyah. É um preparatório pesado para o Rali Dakar, portanto é uma prova bem importante para Alonso ganhar experiência. São 2500 km disputados, sendo 1.868 deles cronometrados.

E assim segue a saga da Fênix, provando que o mundo da velocidade é muito mais que a F1. Claro que ele está sendo forçado a fazer isso pela figura controversa que era na categoria, mas mesmo assim não deixa de ser interessante e um pouco triste um talento desses longe dos grandes palcos. Me lembrei, de certa forma, do Ronaldinho jogando no Querétaro. Um desperdício, mas uma experiência muito interessante e um aprendizado enorme.

Seguimos acompanhando a saga da Fênix, o andarilho da velocidade.

Até!

terça-feira, 10 de setembro de 2019

O MONSTRO

Foto: Getty Images
No texto da corrida do GP da Itália do ano passado, fiz um paralelo entre a obra "O Médico e o Monstro". Nela, traçei um paralelo dividindo as duas personalidades, onde o "Médico" seria Lewis Hamilton e o "Monstro" seria Sebastian Vettel, um pela frieza nos momentos importantes e o outro pelo oposto nas mesmas situações.

Nada mudou. Hamilton segue cerebral e dominante, a caminho do hexacampeonato. Enquanto isso, Vettel tem zero vitórias nesse meio termo, está longe de brigar pelo título e vê um fantasma se repetir: o novato que chega botando banca e, aos poucos, vai conquistando o espaço que deveria ser do tetracampeão.

Até domingo, Vettel estava na frente de Leclerc nos pontos, mas as atuações não condiziam. De modo geral, desde a França que o monegasco estava começando a bater o tetracampeão, que deveria ter uma vitória, que foi roubada no Canadá, enquanto Leclerc perdeu o Bahrein graças a Ferrari e na Áustria por uma certa ingenuidade diante do visceral Verstappen.

Logo em Monza, outro erro. Uma escapada de traseira enquanto era o quarto colocado. Sempre foi sua dificuldade lidar com esses problemas na traseira, acentuados após a era Adrian Newey. Pior foi a saída de juvenil, batendo em Stroll e quase provocando uma catástrofe. Agora com nove pontos na carteira, se Vettel "conquistar" mais três pontos em Cingapura ou na Rússia, será suspenso por uma corrida.

Errar assim em meio a vitória do novo ídolo local e em casa, quebrando um jejum de nove anos sem vitórias em Monza é mais um baque psicológico para Seb. Além das deficiências que vêm apresentando na pista, me parece que a cabeça também anda bem ruim. Muitas críticas, muita pressão por resultados, por ser o líder que não parece ter mais condições de ser na equipe. E pensar que se não fosse a honra da palavra do falecido Marchionne era para Raikkonen ainda continuar na equipe, com tudo isso sendo mascarado.

Vettel nunca venceu largando abaixo do top três. Isso quer dizer muita coisa. Claro que teve grandes atuações, como Abu Dhabi 2012 e mais recentemente na Alemanha, mas a tônica do alemão é: se não sair voando na ponta logo no início, as coisas se complicam. Na Red Bull, essas deficiências praticamente não se mostravam pela eficiência do carro. Agora está tudo mais claro.

Como escrito até durante o auge da Era Vettel/Red Bull em outros lugares, Seb nunca foi piloto para quatro títulos mundiais, não é demérito disso. Dois já estaria de bom tamanho. Concluo que, diante das más atuações, erros e ascensão de Leclerc, o futuro do alemão não é dos mais promissores. Sem Hamilton, a tendência é que o protagonismo seja do #16 e de Max. Com contrato até ano que vem, talvez não seja surpreendente que o emocional Vettel peça o boné no fim do ano. Não há espaço em outras equipes. Aguentaria andar em uma equipe intermediária para coletar pontos e andar sem pressão?

O monstro está quase tomando conta do piloto Sebastian Vettel. O tetracampeão ainda existe ou é um estado acelerado de decomposição da carreira do terceiro maior vencedor da história da categoria?

Até!

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

ERA PARA SER - PARTE 2

Foto: Getty Images
Depois de tanto namorar com a vitória, Charles Leclerc já teve mais um encontro com a bandeira quadriculada. Mais uma vez, teve muita emoção e incerteza até o final, mas diferentemente da semana passada, o monegasco pode extravasar em frente aos tifosi, quebrando um jejum de nove anos sem vitória ferrarista em Monza, templo segredo do automobilismo que anualmente mostra porque é a alma da Fórmula 1. A reta toda tomada para saudar o novo herói que veste macacão vermelho.

Ninguém é capaz de engolir a Ferrari nas retas e, consequentemente, em circuitos de alta. No entanto, o miolo do carro ferrarista é claramente inferior as Mercedes e até mesmo a Red Bull. Leclerc teve que ir até o limite para garantir duas vitórias italianas que podem demorar a acontecer outra vez. Diante de uma pressão incessante de Hamilton por mais de 40 voltas, o monegasco chegou a cometer erros e foi malandro ao correr o risco ao passar pela salsicha da chicane e espremer Hamilton na saída do retão. Para punição? Não, embora tenham feito isso com o brasileiro Sette Câmara na F2, uma injutiça, mas o inglês deixou bem claro que não gostou: no jogo mental, entendeu o que o monegasco é capaz de fazer. Depois de Verstappen na Áustria, "Charlinho" adotou uma postura completamente agressiva que vai dando resultados até aqui.

Os pneus de Hamilton não aguentaram a pressão e passou reto na chicane. Deixou mastigadinho para Bottas, com pneus mais frescos, matar a questão. Pra variar, Bottas não foi combativo e sequer ameaçou Leclerc. Quando tentou, travou e errou. Essa é uma das corridas que se nota claramente a diferença entre as "prateleiras dos pilotos", e o finlandês não está no topo delas. Inexplicavelmente ganhou mais um ano com as flechas de prata. Que desperdício.

Foto: Getty Images
E o que escrever sobre Sebastian Vettel? Não haveria lugar e momento pior para errar mais uma vez. Talvez seja mais uma ação emblemática. Entrarei em detalhes no texto de amanhã, mas tenho que frisar: como pode um tetracampeão voltar para a pista como se fosse um amador, causando o risco de causar uma catástrofe gigantesca naquela freada? Pior: Stroll, que sofreu a barbeiragem do alemão, fez a mesma coisa com o coitado do azarado Gasly logo depois! Inacreditável! Vettel está sendo engolido por Leclerc, finalmente os números mostram isso: 2 vitórias e 4 poles, agora 13 pontos a frente na tabela. Erros que não acabam, mental abalado, mais de um ano sem vencer, falta de adaptação ao estilo do carro... vários são os motivos para Ferrari e Vettel repensarem seus futuros até o final do ano.

Quem aproveitou isso foi a Renault, que conquistou seu melhor resultado desde o retorno à F1. O criticado motor mostrou boa resposta em um circuito de alta. Ricciardo e Hulk reinaram tranquilos na quarta e quinta posições, aproveitando-se da inconsistência da Honda, que voltou a lembrar os tempos da McLaren, apresentando problemas de potência e durabilidade com suas equipes. Albon de novo fez seu papel dentro do possível. Verstappen já estava com a corrida prejudicada, piorando ainda mais na largada ao trocar o bico e somar apenas alguns pontos.

Pérez voltou bem das férias, assim como a Racing Point, e herdou a boa corrida que fazia Stroll até Vettel aparecer no meio do caminho. Giovinazzi finalmente passou Kubica nos pontos e ameniza a pressão. Norris fez o que pode e sai com um pontinho. A Haas é uma bagunça e um fracasso em 2019. Um carro até veloz, mas que vai caindo até o final do grid de forma assustadora.

Depois do desabafo da corrida da França, a F1 vem numa sequência de grandes corridas, decididas no detalhe, deixando todo mundo tenso, atento e torcendo até o fim. Por um momento, até se esquece que Hamilton será campeão daqui algumas semanas. O engraçado é escrever que, paradoxalmente, apesar de brigar com Leclerc e Verstappen, Lewis não teve concorrentes para o campeonato, apenas para as corridas. Se melhorar isso, será a cereja do bolo.

Confira a classificação final do GP da Itália:


Até!

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

CHOVE E NÃO MOLHA

Foto: Getty Images
Com a provável possibilidade de que todo o final de semana seja chuvoso na Itália, desta vez os pilotos foram para a pista para continuar os testes ao invés daquela modorrenta volta de instalação que frustra e irrita todos que pagaram caríssimo para passar três dias em um autódromo.

Ainda assim, não é possível tirar uma conclusão. Escrevo isso enquanto chove em Porto Alegre. Leclerc foi o mais rápido nos dois treinos mas na chuva as condições mudam. Nas CNTP, a Ferrari é favoritaça para a pole, mas enfrenta um sério problema no desgaste dos pneus. Uma condição mista ou diferente favorece sempre quem está inferior naquele contexto, que no caso deste final de semana são Mercedes e Red Bull. Só lembrar do que foi em Hockenheim.

O final de semana promete ser épico, com chuva, sol ou os dois ao mesmo tempo. A Ferrari pode repetir o drama do ano passado quando Raikkonen liderou a prova toda mas no final, sem pneus, sucumbiu para Hamilton. Com a chuva, entra em questão Verstappen e o sempre imponderável de uma pista em condições úmidas. Hoje tivemos várias escapadas e batidas pois há muita dificuldade para todos em achar a temperatura ideal dos pneus.

Como é bom estar de bem com a Fórmula 1, mesmo que sejam necessário muitas coisas para que ela fique cada vez melhor.

Confira os tempos dos treinos livres desta sexta em Monza:



Até!


GP DA ITÁLIA - Programação

O Grande Prêmio da Itália foi disputado pela primeira vez em 1921, em Montichiari, na província de Bréscia, num circuito feito de vias públicas. Está desde sempre no calendário da Fórmula 1, e sempre é realizado em Monza, à exceção de 1980, quando o GP foi disputado em Ímola para atender a demanda dos fãs da Romagna.

Foto: Wikipédia
ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Rubens Barrichello - 1:21.046 (Ferrari, 2004)
Pole Position: Kimi Raikkonen - 1:19.119 (Ferrari, 2018)
Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)
Maior vencedor: Michael Schumacher (1996, 1998, 2000, 2003 e 2006) e Lewis Hamilton (2012, 2014, 2015, 2017 e 2018) - 5x

COM O PÉ DIREITO

Foto: Reprodução/ Red Bull
Alexander Albon teve uma grande estreia na Red Bull. Largando das últimas posições em virtude da punição por ter trocado de motor, começou com os pneus mais duros e na parte final da prova, com os macios, engoliu todos que eram possíveis para chegar em quinto.

O tailandês nascido e criado na Inglaterra lembrou das atuações que o consagraram vice-campeão da F2 ano passado, sempre aparecendo na reta final. Contou com a sorte para chegar em quinto, mas a sorte acompanham os bons e fez uma ultrapassagem indo até a grama para superar Sérgio Pérez.
É claro que tudo isso lhe rendeu elogios dos exigentes chefes da equipe, principalmente de Christian Horner:

“Alex me impressionou durante todo o fim de semana com sua abordagem, seu feedback e seu ritmo. Na corrida, ele fez um trabalho muito maduro. Na primeira metade da corrida, não fomos tão competitivos com os pneus duros quanto fomos com os macios, mas ele não cometeu nenhum erro bobo e nem correu riscos bobos", falou.

Horner também elogiou muito as ultrapassagens de Albon, sobretudo em cima de Ricciardo:
“Nós sabemos que Daniel é um corredor duro. A manobra dele para cima de Daniel e para cima de Sergio na última volta foram impressionantes”, reconheceu Horner. “Ir de 17º para 5º foi um início muito bom”, concluiu.


Em uma corrida, Albon se destacou mais que Gasly durante toda a primeira metade da temporada. É um piloto que sabe poupar pneus e dar o bote no final. É claro que teve a sorte de Verstappen ficar fora e ter mais holofotes, porque todos sabemos qual será seu papel no time dos energéticos: o segundão do holandês, mas com um bom ritmo e o maior número possível de pontos. Conseguiu chegar na melhor posição possível no final de semana, o que já é um ótimo cartão de visitas para este novato, sempre bom frisar.

SEM HIERARQUIA

Foto: Getty Images

Durante a temporada, em várias oportunidades a Ferrari priorizou Sebastian Vettel em detrimento do jovem Charles Leclerc, o que é normal, comparando-se o currículo dos dois. No entanto, em alguns casos, o alemão não era o mais rápido entre os dois, o que dava uma sensação de injustiça e de protecionismo.

Todavia, na Bélgica, foi o contrário. Com estratégias diferentes, Vettel estava na liderança mas Leclerc era muito mais rápido e fez a ultrapassagem a partir de uma ordem do chefão Mattia Binotto. Então isso quer dizer que agora o #16 é o primeiro piloto e o #5 é o segundo?

“Os dois pilotos têm e vão ter o mesmo tratamento. Simplesmente, se você é mais rápido e pode vencer a corrida, a equipe intervém e pede que um piloto ajude o outro. Isso aconteceu em muitas equipes ao longo dos anos e não vai mudar na Ferrari. “Ainda haverá oportunidades para Sebastian. Vamos seguir corrida após corrida, e o melhor piloto vai ser o que ocupar a liderança. Vamos seguir vendo como vai ser em Monza”, disse Binotto para a agência ‘GMM’.

Claro que gostaríamos de pegas inesquecíveis na pista, mas o que aconteceu domingo foi o correto. Leclerc estava bem mais rápido e tinha que passar para não perder tempo, tanto é que venceu com apenas nove décimos de vantagem. Como a Ferrari tem sérios problemas no desgaste dos pneus, o que vai acontecer é que o mais lento dos dois sempre terá a corrida sacrificada em prol da possível vitória do outro. Desta vez foi com Vettel. Em Monza, vai depender deles. Isso é ordem de equipe com inteligência.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 268 pontos
2 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 203 pontos
3 - Max Verstappen (Red Bull) - 181 pontos
4 - Sebastian Vettel (Ferrari) - 169 pontos
5 - Charles Leclerc (Ferrari) - 157 pontos
6 - Pierre Gasly (Toro Rosso) - 65 pontos
7 - Carlos Sainz Jr (McLaren) - 58 pontos
8 - Daniil Kvyat (Toro Rosso) - 33 pontos
9 - Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 31 pontos
10- Alexander Albon (Red Bull) - 26 pontos
11- Lando Norris (McLaren) - 24 pontos
12- Daniel Ricciardo (Renault) - 22 pontos
13- Sérgio Pérez (Racing Point) - 21 pontos
14- Nico Hulkenberg (Renault) - 21 pontos
15- Lance Stroll (Racing Point) - 19 pontos
16- Kevin Magnussen (Haas) - 18 pontos
17- Romain Grosjean (Haas) - 8 pontos
18- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 1 ponto
19- Robert Kubica (Williams) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 471 pontos
2 - Ferrari - 326 pontos
3 - Red Bull Honda - 254 pontos
4 - McLaren Renault - 82 pontos
5 - Toro Rosso Honda - 51 pontos
6 - Renault - 43 pontos
7 - Racing Point Mercedes - 40 pontos
8 - Alfa Romeo Ferrari - 32 pontos
9 - Haas Ferrari - 26 pontos
10- Williams Mercedes - 1 ponto

TRANSMISSÃO:









quarta-feira, 4 de setembro de 2019

A ÚLTIMA VITÓRIA

Foto: Gazeta Press
13 de setembro de 2009. Grande Prêmio da Itália. Rubens Barrichello chegava para o mítico circuito de Monza com 16 pontos de desvantagem em relação ao líder, o companheiro de equipe Jenson Button.

A Brawn não era mais a melhor equipe. McLaren, Ferrari e Red Bull estavam evoluindo bastante e chegaram a superá-los em certo momento. No entanto, a vantagem absurda daquele início de campeonato foi tão grande que foi o suficiente para se tornar apenas uma disputa particular entre Button e Barrichello.

Barrica foi o quinto e Button o sexto. A pole foi de Lewis Hamilton, seguido pela Force India de Adrian Sutil, aproveitando a característica daquele carro que já havia feito a pole na corrida passada com Fisichella, então novo piloto da Ferrari. Os finlandeses Raikkonen e Kovalainen ficaram na segunda fila.

Com mais combustível, a Brawn partiria para uma parada, enquanto o resto ia de duas. Rubinho ainda passou Kova logo no início e perseguiu pacientemente os três ponteiros. Quando todos foram nos boxes duas vezes, Barrica parou e assumiu a liderança faltando 18 voltas para liderar até o fim. Button foi o segundo, o que seria ruim para as pretensões no campeonato. Tentando pressionar o compatriota, Hamilton bateu na última volta e entregou o pódio para Raikkonen.

Foi a terceira vitória de Rubinho em Monza, a última na carreira e a última do Brasil na categoria até então. Hora de relembrar!



Até!

terça-feira, 3 de setembro de 2019

O PREÇO

Foto:
Os três primeiros colocados do ano passado foram para a Fórmula 1: George Russell, Alexander Albon e Lando Norris. A F2 voltava a cumprir com o seu papel de revelar talentos e ser o "último estágio" antes da Fórmula 1, embora não seja uma prática incomum muitos pilotos pularem direto da F3/GP3, casos de Kvyat, Bottas e Max Verstappen. Alguns anos atrás, os campeões eram ignorados, como Fabio Leimer, Davide Valsecchi e mais recentemente tivemos Stoffel Vandoorne, Jolyon Palmer e Charles Leclerc.

Com uma saída de três grandes talentos, seria natural que o grid perdesse qualidade. Outros pilotos, vendo que é inútil ficar dando voltas na F2 sem perspectiva para a F1, se mandam para a Fórmula E. Quase foi o caminho de Alexander Albon, se não fosse a saída de Ricciardo para a Renault e o efeito dominó que isso causou.

O automobilismo moderno virou um clubinho. Claro que sempre teve os ricos que compravam tudo, seja pelo dinheiro, pelo sobrenome ou por alguém lavasse dinheiro ali sem se importar com nada. No entanto, os custos aumentaram. Não há mais equipes, as vagas ficaram mais escassas. A "seleção natural" diminuiu.

Hoje, para se tornar um piloto que chega na F1, é necessário três e somente três coisas: dinheiro, academia de pilotos e sobrenome. Se analisar o grid, os únicos que não encaixam nesse perfil são Kubica (que traz dinheiro sim, mas é uma outra questão) e Raikkonen (que também é de uma geração mais anterior ainda). O resto chegou por algum dos três meios.

Sem o dinheiro e a possibilidade de mostrar o talento natural e aprimorar outras habilidades, o automobilismo está cada vez mais resumido em filhos de pilotos, apadrinhados da academia tal desde os cinco anos e bilionários do Paquistão ou do Canadá que colocam o filhote lá e que, com todo o dinheiro para contratar os melhores profissionais e pilotar os melhores carros, fica impossível não conseguir resultados "consistentes" e que justifiquem uma contratação futura.

O que eu quero dizer? Com menos talento natural e a prioridade cada vez mais por outras circunstâncias (o automobilismo é caro, não existe mais o apoio das empresas tabagistas e é necessário fechar as contas), a qualidade do grid diminui. Se a qualidade do grid diminui, a possibilidade de barbeiragens e má pilotagens é muito maior.

Vamos pegar o grid da Fórmula 2 desta temporada. Teoricamente, como o próprio nome diz, deveriam estar os 20 pilotos mais "próximos" da F1, os que ainda precisam dos últimos aprimoramentos ou de um título para efetivamente serem promovidos. Sem Russell, Gasly e Norris, temos a seguinte situação.

As permanências de De Vries (piloto McLaren, com 24 anos), Nicholas Latifi (com muito dinheiro, o canadense também já está lá há algum tempo), Sérgio Sette Câmara (ex-Red Bull e hoje reserva da McLaren), Matsushita (ligado a Honda), Nikita Mazepin (muito dinheiro da Rússia e ligado a Renault), Sean Gelael (muito dinheiro da Indonésia) e Luca Ghiotto (piloto Ferrari). Razoáveis ou bons pilotos que só estarão na F1 por algum fator circunstancial.

Nesta temporada, ainda tivemos a entrada de diversos pilotos que estavam na antiga GP3, hoje F3, alguns deles: Dorian Boccolacci, Arjun Maini, Callum Ilott, Jack Aitken, Giuliano Alesi, Juan Manuel Correa, Tatiana Calderón, Ralph Boschung, Juan Manuel Correa e o campeão do ano passado, Anthoine Hubert.

Temos também a "cota dos sobrenomes", que tem o já citado Alesi, Louis Delétraz e o mais famoso, Mick Schumacher. Para completar, o caso mais emblemático: o indiano Mahaaver Raghunathan, quase obscuro, bancado por algum indiano que não tem amor ao dinheiro. Já foi suspenso de uma corrida por má pilotagem e em Spa atingiu outra punição. Vai ficar fora de Monza.

Juntando todos esses pilotos ruins e razoáveis, sobram poucos bons valores, como o chinês Zhou, por exemplo. Isso, somado a debandada dos três do ano passado, formou o pior grid da F2 em todos os tempos. Consequência, é claro, dos custos do automobilismo e da quase imbatível tríade dinheiro-academia-sobrenome. Isso, é bom frisar, no "último estágio" antes da Fórmula 1.

Calderón só está lá porque é mulher e o indiano é um outro escândalo. Outros nomes não têm qualidade para estar ali. O resultado são inúmeras barbeiragens e erros de pilotagens. Poucos são os bons valores. De Vries, o provável campeão, deve rumar para F-E. Sérgio Sette Câmara e Zhou, a princípio, seriam os grandes talentos que continuariam, sem contar com o endinheirado Latifi e o midiático Mick.

A morte de Hubert é uma fatalidade e/ou um azar, mas há um porém. Não pode ter sido apenas coincidência que justamente no pior grid de GP2/F2 desde 2005 tenha acontecido um acidente fatal envolvendo pilotos que não estão prontos, sendo um deles o próprio Juan Manuel Correa, hoje hospitalizado e que já vinha sido criticado por incidentes anteriores. Desde o brasileiro Marco Campos, em 1995, que isso não acontecia.

O mais irônico é que a vítima não entra nesse grupo dos "ruins". O francês Hubert chegou a F2 como campeão da GP3 e, em virtude disso, foi contratado para a academia da Renault. Não sei se um dia iria a F1, mas era um caminho interessante, tal qual o chinês Zhou na escuderia francesa.

O preço final dessa conta toda é a chegada de pilotos que não têm condição alguma de estar nas grandes categorias do automobilismo e só estão lá basicamente pelos motivos já citados de dinheiro-patrocínio-sobrenome. O preço é uma família enlutada. Com a evolução da segurança, muitos pilotos se comportam como psicopatas, como se estivessem no iRacing ou no F1 da Codemasters, acelerando sem medir as consequências. Imagina se esses caras chegam na F1?

O automobilismo deveria tentar mudar esse ciclo não só para salvar as raras vidas que se vão e sempre nos deixam um recado, mas também para evitar a proliferação do que está acontecendo nas categorias de base, até porque em pouco tempo esses caras vão subir. O preço seria um espetáculo melhor, o que geraria todo este fascínio que um piloto tem, de desafiar a morte e proporcionar atuações memoráveis para os fãs e o público.

Hashtags e mensagens de força e consternação são paliativos, sensibilidades com prazo de validade. É preciso agir para que outros não paguem um preço tão alto que o automobilismo e Anthoine Hubert pagaram.

Até.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

ERA PARA SER

Foto: Getty Images
Com apenas 21 anos, Charles Leclerc vive muitas emoções para alguém que é tão jovem. Enquanto trilhava o caminho do kart e os primeiros passos nos monopostos, perdeu repentinamente o grande amigo e um de seus maiores incentivadores, o francês Jules Bianchi. Com a naturalidade das coisas, teoricamente era para o francês estar na posição que o monegasco ocupa hoje. Leclerc corre por Bianchi e é uma extensão dele.

Em 2017, outro duro golpe: o falecimento do pai, vítima de câncer. Meses depois, foi confirmado em um das posições de maior prestígio existente no imaginário popular: piloto da Ferrari. Monegasco, com apenas 21 anos, quebrando uma escrita dos italianos, relutantes em apostar nas promessas.

Logo na segunda etapa como ferrarista, a primeira pole para tirar a pressão. Tudo se encaminhava para uma vitória consagradora, mas um problema no motor impediu isso. Uma crueldade.

Na Áustria, o mesmo roteiro. Depois de alguma instabilidade e um erro no treino em Baku, rapidamente Leclerc tinha a chance de vencer. Sem motor problemático e liderando de ponta a ponta. Nada poderia dar errado até Max Verstappen o empurrar para a área de escape, não ser punido e vencer. Outro duro golpe para quem constantemente era escudeiro de Vettel e via uma Ferrari muito instável, desperdiçando raras oportunidades de vitória com estratégias equivocadas e um intenso problema dos pneus se desgastarem muito rápido.

No retorno das férias, a terceira pole e sete décimos para a concorrência. Com sobras. A terceira chance.

Além do pai, Hervé, e de Jules Bianchi, outros grandes contatos de Charles na vida e no automobilismo é o chamado "Os Quatro Mosqueteiros": ele, Pierre Gasly, Esteban Ocon e Anthoine Hubert. Três franceses e o monegasco, que corriam, conviviam e chegavam até a morar juntos.

Foto: Getty Images
O acidente fatal do amigo, justo depois de mais uma pole, é mais um baque emocional em Charles, tão jovem e tão acostumado a lidar com as adversidades da pista. Um jovem morrer fazendo o que gosta em algo que notabiliza pela constante evolução da segurança é chocante para todos nós que não pegamos a época onde "morria um por corrida", como diz meu pai. Um quê de triste coincidência poderia ser o chavão: vai ter que ser por ele.

Corrida controlada o tempo todo. O mesmo cenário de Bahrein e Áustria. Os acontecimentos recentes provaram que, realmente, "a corrida acaba só quando ela termina". Eis que, nas voltas finais, Hamilton, rendendo mais com os médios e desgastando menos os pneus, começa a se aproximar. O tetracampeão Vettel, renegado a escudeiro de luxo, o atrapalhou por algumas voltas até finalmente ser ultrapassado. Estava aberta a caça. Hamilton venceria de novo nas voltas finais? Leclerc perderia de novo nas voltas finais? Justo neste final de semana?

Lewis já estava a menos de um segundo, contornando o segundo setor, onde a Mercedes sobrava. O diferencial dos vermelhos era o mais potente motor ferrarista, que os mantinha na frente. Quando Hamilton poderia se aproximar para usar a asa e tentar o bote final, uma bandeira amarela e mais barreiras de pneus acertadas. Giovinazzi, que fazia a melhor corrida do ano, desperdiça mais uma chance e bate. Todo mundo precisa diminuir a velocidade. Quando iria abrir a última volta, uma crueldade acontece com Norris: o motor de sua McLaren estoura. Se isso acontecesse antes, poderia ser ultrapassado como retardatário pelo líder e chegar nos pontos. Gasly, reestreando na Toro Rosso, se beneficia disso e ganha dois pontos que não conseguiria em condições normais, onde foi superado por Kvyat em mais uma bela atuação do russo em seu grande momento da carreira, no sétimo lugar.

Era para ser. Leclerc vence a primeira na carreira. Por Hervé. Por Bianchi. Por Hubert. Pela Ferrari. A homenagem para o amigo e para tantos outros que partiram tão cedo em sua trajetória. Era para ser. Há o copo meio vazio também. A primeira vitória é justa em Spa, onde os carros não fazem aquela "volta da vitória" onde extravazam e acenam para o público. Rapidamente Bianchi vai para os boxes. Ele está muito feliz, mas não pode comemorar muito porque a vitória vem justo quando perde um amigo na véspera. Era para ser. Tão bonito e tão emocionante ao mesmo tempo. O tal do destino é caprichoso.

Foto: Getty Images
Bottas chegou em terceiro e o escudeiro Vettel em quarto. Alexander Albon, o estreante da Red Bull, fez uma corrida F1 típica no que fazia na F2: largando com pneu médio, foi conservando os pneus para no stint final, mais macio, atropelasse todo mundo. Contou com a sorte de Norris ficar fora mas mostrou arrojo para ultrapassar Pérez passando pela grama na última volta. Só hoje já fez mais que Gasly no ano.

Verstappen foi aquele Verstappen do ano passado. Até então impecável, ele largou mal de novo e tentou recuperar tudo na primeira curva. Tocou em Raikkonen, que quase capotou, e com o carro sem condições, foi se arrastando até ser tocado pelo finlandês e bater na Eau Rouge. Justo um dia depois do que aconteceu (e farei um post sobre isso amanhã), Max mostra que não se decide tudo na largada, que tem carro para recuperar as posições, especialmente diante da Alfa Romeo, que teve a corrida arruinada.

Os outros beneficiados pelos abandonos da última volta foram Hulkenberg, que achou um oitavo lugar, e Stroll, com um pontinho. Inexplicáveis as estratégias de Ricciardo e Magnussen, que praticamente andaram a corrida toda com os macios e foram sendo ultrapassados por todo mundo volta a volta. Que ano constrangedor da Renault, cada vez mais perdida. A Haas então...

Em um contexto que pode ser utilizado para quase tudo, hoje a vitória de Leclerc, a batida de Verstappen e os abandonos de Norris e Giovinazzi eram para ser. Com crueldade para uns, sorte para outros. E assim a F1 segue em um final de semana mais emocional desde a morte de Jules ou até mesmo Ímola. Era para ser.

Confira a classificação final do GP da Bélgica:


Até!