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Até esquematizei mentalmente algumas linhas sobre o 2023
histórico da Red Bull e de Max Verstappen, a morte repentina de Gil de Ferran e
a situação de Wilsinho Fittipaldi. O tempo passou, perdi o timing e a vontade.
2024 parece que vai ser a mesma coisa de 2023. Mesmos carros, mesmas equipes,
nenhuma mudança e o problema de tudo, para os americanos, é a Andretti. Qual o
sentido de repetir a mesma coisa? Sim, exatamente: 2024 na F1 será um
pleonasmo, repetitivo e chato.
O que me faria escrever, afinal? Se Verstappen fez o que a
gente achava que só Fangio conseguiria nos tempos antigos e o timing passou...
Eu não gosto de despedidas, mas o blog precisa de um tempo. Ironia do destino:
justo neste ano que ele vai completar 10 anos de existência.
A grande notícia surgiu, como vocês sabem. É geracional,
fura a bolha. É o esportista, uma celebridade, um pop star.
Todo ano Hamilton ia para a Ferrari. Dessa vez, ele
realmente foi. Quer dizer, irá. É a maior transferência da história da
categoria. O maior vencedor, pole, pódio e sete títulos na equipe mais
vencedora e com mais torcida, a que mais se aproxima de um clube de futebol.
O que fez Lewis Hamilton tomar essa ousada decisão se ele já
parecia estar rumando para a aposentadoria e concentrar outros esforços em
novas jornadas, sociais e de outros interesses secundários, como a moda e a
música?
Claro, ele vai ganhar o maior salário da história da F1. É o
Lewis Hamilton. Existem também as promessas dos benefícios aos projetos sociais
de Lewis, iniciados na Mercedes, sobretudo após a pandemia. Finanças e vida
pessoal, ok.
Mas e a questão esportiva? A Ferrari é a Ferrari, mas também
é a Ferrari que todos sabemos: sem títulos desde 2007. Equipe grande é equipe
grande, mas existem apostas.
Alguns funcionários da Mercedes, que trabalharam com
Hamilton, estão indo para a Ferrari a partir do ano que vem. O chefe de equipe
é o Frederic Vasseur, que foi o chefão de Hamilton no título da GP2, hoje F2,
lá em 2006.
Assim como a saída da McLaren para a Mercedes, existem duas
leituras. A primeira é que dois anos sem vitórias e sem incomodar a Red Bull
nesse novo regulamento cansou Lewis. Competidor voraz, que até então vencia em
todos os anos, do nada ele se encontrou em uma posição incomoda inédita: perder
o título de 2021 da forma que sabemos, enfrentar um jovem piloto de grande
potencial (e perder no primeiro ano, sem vencer) e com o tempo passando.
A Mercedes bateu cabeça nessas duas temporadas e andou em
círculos, enquanto a Red Bull disparou e parece inalcançável. Assim como em
2012, agora Hamilton perdeu a confiança e decidiu apostar. Sair da zona de
conforto.
Para quem gosta de discussões sobre os melhores e tal, é
inegável que, nesse sentido, Hamilton é um caso a parte. Tirando Kovalainen e
Bottas, sempre enfrentou competição de altíssimo nível e sem medo. Um certo
Alonso no auge, Button, Rosberg e agora vai pra cima de Leclerc, que até então
era o menino de ouro da Ferrari. A imaturidade esportiva e os erros da própria
Ferrari também culminaram na concretização do grande sonho, da grande grife, do
impacto mundial.
2026 é o ano do novo regulamento e da chegada dos novos
motores. A nova F1. O novo Pacto de Concórdia ainda vai ser assinado até lá.
Tudo novo, as equipes já priorizando essa nova era, algumas precisando se
ajustar com a chegada de novas organizações como a Ford e a Audi.
Assim como em 2014 a Mercedes deu o pulo do gato e Hamilton
se viu em posição de fazer jus ao talento também em número de títulos, a
Ferrari aposta nisso para voltar a ser hegemônica: o pulo do gato de Maranello.
Trabalhando juntos no novo regulamento e com a chegada de pessoas de confiança
de Lewis, 2025 seria um laboratório para azeitar tudo, visando o começo da nova
era.
Quarentão, a questão física de Hamilton seria um grande
ponto de interrogação, mas vimos Raikkonen guiando até essa idade e Alonso mais
velho e ainda no grid fazendo o que fez com a Aston Martin. A idade é um número.
É a última chance de uma grande mudança e uma nova aventura onde Hamilton não
tem nada a perder.
Repito, nada a perder. O motivo é simples: Hamilton não
precisa mais se provar. A Ferrari em sua carreira é como se fosse um filler,
uma cena pós-créditos de uma história extraordinária. É evidente que ele não
vai lá de sangue doce. Se não fosse competitivo, jamais seria heptacampeão e
provavelmente já teria largado o esporte há muito tempo. A chama para voltar ao
topo depois desses últimos anos está muito alta. Um labaredo. É assim que os
superatletas de todos os esportes são forjados, na competitividade extrema.
Se der errado, Hamilton responde a sua e a pergunta de muita
gente, além de realizar sonhos. Mas o que seria dar errado? Não ser campeão?
Ok, na Ferrari não tem meio termo. Se der certo, Hamilton poderia se coroar
como o maior campeão isolado e tirando a Ferrari da fila, assim como um certo
Michael Schumacher fez, encerrando de vez qualquer discussão sobre quem senta
no trono da F1.
Que 2024 passe bem rápido, porque ninguém se interessa.
Todos os olhos estarão em Maranello e no vermelho do cavalinho rampante do Sir.
Tons rubro-negros no legado de Lewis.
Vale a pena continuar sobre o espaço deixado na Mercedes e
possíveis candidatos? Talvez eu pense nisso nas próximas semanas antes do
campeonato começar.
Até!