segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O MÉDICO E O MONSTRO

Foto: Will Taylor-Medhurst/Getty Images
De novo o post de sexta zicou o panorama todo. Em minha defesa, é possível afirmar que a incompetência de Vettel e Ferrari nesse domingo superam qualquer poder que a nossa palavra é capaz de ter, claro.

Se Vettel e Ferrari bateram cabeça e jogaram pela janela uma vitória, quiçá uma dobradinha, tudo isso tem a ver com mais uma extraordinária jornada de Lewis Hamilton. Dessa vez, a tática da Mercedes funcionou com maestria. Um La Boba em plena Monza.

Muito criticado nos primeiros anos de carreira por ter um "psicológico fraco" e reagir mal as adversidades, principalmente quando as coisas na badalada vida pessoal não estavam bem, Hamilton parece ter amadurecido e agora atinge o ápice como piloto. Além da velocidade e do talento, está sabendo administrar as situações de corridas. Quando vê que não pode vencer, consegue o possível. Quando há uma mínima possibilidade, vai lá e aproveita. Com uma dose de sorte, também. Dr. Jekyll.

Na largada, aproveitou a estranha indecisão e disputa das Ferrari para se posicionar por fora na variante, passando Vettel. O alemão, pensando se tratar da última curva do campeonato, insistiu na posição até rodar e cair para a última posição. Sorte de Seb que bateram em Hartley depois de alguns metros e teve Safety Car.

Foto: Reprodução/FOM
Raikkonen não conseguiu abrir para Lewis, que manteve-se no máximo um segundo atrás do Ice-Man. Aí o instante que começou a mudar tudo. A Mercedes se posicionou duas vezes nos boxes, pronta para chamar alguém. A Ferrari resolveu ir, e Raikkonen parou. A Mercedes, nada. Nas voltas seguintas, diante de alguns pingos de chuva, poderia ser possível imaginar que a estratégia não deu certo. Hamilton parou e voltou bem atrás de Raikkonen. Eis que entra em ação o escudeiro.

Sem essa de igualdade de condições. Sempre foi trabalhar em prol de Vettel e Hamilton. O finlandês sacrificou o primeiro stint na briga pelo pódio para ficar na frente de Raikkonen, fazendo com que o #7 desgastasse os pneus e permitisse a aproximação de Lewis. Me veio a lembrança de um certo David Coulthard...

Cumprindo a missão, agora Hamilton continuava a menos de um segundo de Raikkonen. Mais rápido no miolo, o #44 via a Ferrari sumir nas retas. As oito voltas a mais com os pneus macios começaram a fazer a diferença. Na volta 45, depois de dar pistas, o bote certeiro. Por fora. Diferente do que foi em 2007, por dentro. De novo com Raikkonen. De novo calando os tifosi, que seguem sem vitória da sua equipe por lá desde 2010. O finlandês fez o que pode, hoje. Pode ter perdido a última grande chance de vitória na carreira, ainda mais depois dos boates apontarem Leclerc para seu lugar. Prefiro me posicionar apenas quando algo oficial estiver claro.

Mais uma atuação extraordinária de Lewis Hamilton na temporada. A exemplo do que ocorreu na Alemanha, a corrida da Itália entra no rol das melhores da carreira do (por enquanto?) tetracampeão. Para mostrar que o piloto sim faz a diferença. Um golpe duro na confiança da Ferrari e um grande ânimo para a Mercedes nessa reta final. 30 pontos de vantagem e inferior na maioria dos circuitos, está longe de acabar, mas Hamilton mostra indícios de que, sendo cerebral, pode ser capaz de administrar essa situação.

Foto: Dan Istitene/Getty Images
Diferentemente de Vettel. Na hora das grandes decisões, o instinto demoníaco está tomando conta. Erros de julgamento e acidentes na primeira volta mostram a recorrente afobação do tetracampeão, além da falta de concentração. Já perdeu pontos que seriam suficientes para ser campeão com algumas corridas de antecedência. Me parece que os anos de dominância do Vettel mascararam a falta de sangue frio nesses momentos de disputa roda-a-roda. Eles têm sido recorrentes, principalmente depois que chegou na Ferrari. Mr. Hyde.

Os inúmeros erros, aliados a perfeição do maior rival, minam com a confiança de qualquer um. Se a Mercedes parecia estar nas grades na Bélgica, Hamilton, ao estilo Ali e Tyson (ou McGregor?), contragolpeou a Ferrari. Um knockdown. Nem tudo está perdido, mas Vettel tem sentido o baque emocional. A pressão está toda nele.

Nem tudo foi ruim para o alemão. Passando todo mundo lá de atrás, conseguiu herdar um quarto lugar em virtude de uma punição dada a Max Verstappen. Terceiro na corrida, quinto no "tapetão". Não deu espaço para Bottas dividir a chicane e quase provocou um grande acidente. É o estilo Verstappen de ser: não admitir os erros e xingar tudo e todos. Confesso que gosto desse personagem dentro da pista. O escudeiro finlandês do dia teve seus serviços prestados a Lewis reconhcidos com um pódio imerecido. Um fim de semana bem Kimi Raikkonen, convenhamos. Sorte de Seb.

Vejamos o resto: Grosjean foi o sexto, mas o "tapetão" desclassificou a Haas da corrida por irregularidades no assoalho. A Renault está por trás disso tudo. O francês é tão azarado que isso acontece bem quando ele anda bem. Muita sacanagem. Bom, o restante herdou as posições. Ocon em sexto, com Pérez em sétimo (chegou menos de um segundo, mesmo largando lá atrás), Sainz em oitavo e, pasmem os senhores, duas Williams nos pontos. E sim, Sirotkin marca seu primeiro ponto na F1. Agora todos os 20 pilotos não estão zerados.

A Williams do dia foi a McLaren. Vandoorne parece já saber que não fica e não tem perspectiva. O outro assento do time de Woking pode ganhar contornos interessantes caso Raikkonen não fique mesmo na Ferrari. Ademais, não tenho medo de afirmar que essa foi a melhor corrida do ano. E por que? Bom, foi a única que não precisou de elementos artificiais extra-pista para manter a emoção do início ao fim. Uma raridade.

Com mais uma grande atuação na carreira, o "médico" Hamilton se fortalece demais na casa do grande adversário, enquanto que o "monstro" Vettel precisa dosar seus instintos se quiser reverter a situação. Não é falta de equipamento, é cabeça.

Confira a classificação final do GP da Itália (imagem ainda com Grosjean em 6°; ele foi desclassificado):


Até!


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