segunda-feira, 6 de março de 2023

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Foto: Andy Hone/Getty Images

Lembro que estava na cozinha do prédio onde morava, em Canoas, quando acompanhei o GP da Malásia de 2003. Foi uma das últimas vezes que meu pai acordou e se dispôs a assistir a uma corrida pela madrugada. Como era pequeno, não conseguia levantar sozinho, embora dormisse facilmente.

Não lembro o motivo de estarmos na cozinha sendo que podíamos ver na TV da sala. O barulho em relação aos quartos que eram próximos? Não sei, não é essa a questão.

Aquela corrida, no fundo das memórias infantis, teve algumas reverberações históricas na F1. Lá, Kimi Raikkonen venceu pela primeira vez na carreira, provocando emoções surpreendentes em Ron Dennis. Naquela corrida, também, tivemos a primeira pole e o primeiro pódio de um certo espanhol que surpreendia depois de ficar 2002 inteiro como reserva da Renault.

Fernando Alonso Díaz. Não demorou muito para que o espanhol soberbo vencesse a primeira na carreira, em Hungaroring, e fizesse com que a Espanha se interessasse também pela F1, juntamente com a Moto GP e o rali.

A história é longa e cansativa, mas mostra e impressiona o talento e a longevidade. Com mais de 40 anos e muitas frustrações pelo temperamento e escolhas equivocadas, a carreira de Fênix tem muito mais a sensação do "e se" do que lembrarmos que ele é um bicampeão mundial. 

A mudança para a Aston Martin parecia mais um problema para quem já havia esgotado o tempo. Mesmo num projeto ambicioso liderado por um cara com muito dinheiro, até aqui a antiga Force India só teve um pódio e resultados aquém do investimento, muito semelhante com o verde da Jaguar de duas décadas. 

Eis que os testes impressionam, mas os pés ficam bem no chão. Chega a corrida de abertura da temporada. Quinto lugar, nada mal, nada fora da normalidade em relação a hierarquia. A corrida.

Foi uma típica jornada de Fernando Alonso nos dias áureos de suor, luta e vitórias. Muitas brigas na pista, ultrapassagens, disputas épicas e um terceiro lugar mais do que merecido, além da sorte do abandono de Leclerc. Um resultado e tanto, com muitos significados.

Ver Alonso, quarentão, bicampeão e perto da aposentadoria sair do carro com ânimo, alegria e euforia daquele garoto de 2003 foi impactante. Parece que o tempo não passou para a Fênix. É uma jornada daquelas. 20 anos não parecem nenhum. Nas tentaria escrever algo nesse sentido de forma, obviamente, muito melhor e poética.

Se a Renault é a Illmatic, a Aston Martin seria King's Disease? Já escrevi algumas vezes sobre como, mais do que nunca, Alonso é uma das coisas que ligam o que eu sou aos meus primórdios. 

Olhar em retrospectiva a carreira do espanhol e, consequentemente, a minha vida, é um processo interessante. Muita coisa aconteceu e mudou, mas quando assisto a uma corrida, aquele sentimento da infância é o que me domina por alguns instantes. 

A fera voltou. A Aston Martin não vai ser campeã do mundo, mas a jornada pode ser muito divertida e satisfatória. O importante é me trazer a tona as memórias, como o retorno de Jon Jones no sábado, que me arrancou sorrisos, espanto e aquela sensação de voltar a adolescência, sendo um adulto de quase 30 anos.

Tudo isso veio a tona assistindo a corrida, dessa vez na sala, comendo churrasco enquanto relaxo antes de sair para trabalhar num GreNal. 20 anos que parecem 20 séculos, mas que o tempo insiste em mostrar como se fosse meras 20 horas ou 20 minutos.

Até!

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