terça-feira, 22 de março de 2022

UNS PODEM, OUTROS NÃO

 


A segunda corrida na Arábia Saudita em três meses, fruto do realocamento do circuito noturno e urbano de Jidá para o início de temporada faz com que seja, nesse ponto, impossível não levantar e repetir certas questões.

Em meio a incredualidade e indignação mundial com o conflito envolvendo Rússia e Ucrânia, os russos viraram a Geni da vez. Não, não vou fazer juízo de valor ou escrever sobre isso, mas sim todas as consequências político-esportivas que isso gerou. Na F1, vocês sabem, culminou com a saída da Rússia e de Nikita Mazepin. Esportivamente não foi ruim nenhuma das duas situações, o que deixa mais confortável a decisão para a FIA e a Liberty.

A questão é que a Arábia Saudita, Catar (que retorna em definitivo em 2023) e outros países assinaram com a Liberty mesmo com problemas de falta de liberdade e perseguição a jornalistas e minorias. Fatos comprovados. 

Logo a Liberty, que entrou no negócio para colocar a F1 no século XXI e tirar aquela aura do Bernie Ecclestone de que o que vale é o dinheiro. Além disso, ao tornaram o esporte mais atrativo para os jovens e o grande engajamento nas redes sociais, além das campanhas de maior inclusão e diversidade no automobilismo. Tudo isso é um discurso muito bonito na prática, colocar arcoíris no Safety Car, banir as grid girls, mas o que adianta se depois assinam contrato plurianual com países controversos em questões tão sensíveis, justamente o que a F1, na figura da Liberty, diz combater?

Como venho escrevendo há anos, o problema é o discurso e a prática. O problema do discurso é você virar refém dele e não ter jogo de cintura. Ao falar sobre diversas e se posicionar do jeito que se posiciona, não faz sentido a Liberty tirar a Rússia pela pressão política e manter Hungria, Arábia Saudita, Catar, entre outros.

A história mostra: uns podem e outros não. Mesmo com o verniz da modernidade, empatia e contra o preconceito, a F1 se mostra conivente e, pior, hipócrita, ao lidar com essas contradições. Pelo menos antigamente o discurso era único e coerente: dane-se o resto, o que vale é o dinheiro. Agora, é "somos contra x ou y, mas pagando bem que mal tem?"

Até!

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