terça-feira, 20 de setembro de 2022

UM PROBLEMA PELO OUTRO

 

Foto: Getty Images

O motivo da adoção da pontuação para ter a superlicença da FIA para disputar os campeonatos organizados pela Federação era simples: criar um critério mínimo para evitar bizarrices, seja um Yuji Ide da vida, seja Max Verstappen, Lance Stroll ou Kimi Raikkonen, que estrearam na categoria com 18 anos (Max 17). Claro que dois desses três justificaram a precocidade, mas a questão era: qualquer um poderia ter a superlicença e estava virando bagunça.

Com a adoção de uma pontuação mínima, a partir das categorias de base da FIA, os campeonatos ficariam mais competitivos e os pilotos que só tem dinheiro precisariam do mínimo para ter a confirmação, também mínima, de estarem aptos para a F1. Isso poderia empurrar o problema para a base: um espaço onde sempre teve o equilíbrio poderia ser transformado em uma discrepância incrível nos últimos estágios antes da F1.

Uma questão que pouco foi debatida porque na época não era importante foi a pontuação da Indy. Ao longo da história, tivemos muito intercâmbio entre as categorias: de Villeneuve a Montoya, passando por Michael Andretti lá atrás.

De forma surpreendente, segundo a FIA, a pontuação da Indy vale menos para a superlicença do que a F2 ou a F3. Campeão de Indy e F2 ganham 40 pontos, a da F3, 30. Eurocentrismo. Absurdo puro. Muita gente argumenta: “ah, mas fulano que não fez nada na F1 chega lá e se dá bem: Sato ganhou duas Indy 500, Ericsson e Rossi também venceram”. Certo, mas a comparação não é com a F1.

É como se a Copa São Paulo de Futebol Júnior valesse mais que os Campeonatos Estaduais. A comparação não faz nenhum sentido. A Indy é muito mais difícil que um campeonato de base. O grid, na maioria das vezes, é melhor. Na F2, a geração conta muito.

Em um ano, é possível ter Norris, Russell e Albon, mas no outro os principais são De Vries e Latifi. Tem Raghunathan e Tatiana Calderón. O grid muito fraco foi um grande fator para a morte do bom Anthoine Hubert em 2019, no pior grid da história da categoria. Neste ano, a nominata também não é lá grandes coisas. Poucos talentos, como Drugovich, Pourchaire e Enzo Fittipaldi. O resto ainda não mostrou a que veio.

Nessa polêmica da pontuação necessária para a superlicença, Colton Herta ficou de fora da F1. A Red Bull desistiu do americano porque a FIA não abriria exceção. Quem perde é a categoria.

Herta é jovem e tem resultados consistentes na Indy. Além do mais, tem o pacote completo: um piloto americano para alavancar a categoria de vez na terra da Liberty Media. Não é isso que vai acontecer, porque a Europa não respeita e não valoriza a Indy como deveria. Ainda estão nessa rixa e arrogância que vem desde os tempos de Bernie Ecclestone.

É muito mais interessante ter um Herta, sobrenome pesado no automobilismo americano, do que algum piloto mediano, sem carisma e sem grandes qualidades da F2 subindo para a F1, ainda mais esse grid tão mais ou menos.

O que você prefere: Herta ou Iwasa, Lawson, Daruvala ou qualquer outro piloto de academia?

É preciso mudar a regra. Claro, ter o equilíbrio e o bom senso para tentar frear a ditadura do dinheiro absurdo dos bilionários e os sobrenomes famosos das academias de pilotos, assim como não desvalorizar algo de fora da Europa. É interessante pensar nisso porque agora a dona da F1 é americana. Não deve ser um embate que interesse quem paga as contas do jogo.

Pontuações e regras estúpidas não podem ser respeitadas. Uma pena que a Red Bull já desistiu do negócio. Herta deveria estar na F1 e azar da pontuação. Nesse caso, faltou bom senso.

Que isso seja uma luz para o assunto e, que, em breve, seja uma questão debatida e modificada para melhor. Todos saem ganhando, principalmente a F1, que precisa do último passo dentro dos Estados Unidos para virar uma marca mais global do que nunca: o surgimento ou até mesmo a criação de um superastro americano na categoria

(sim, Mario Andretti já foi campeão, mas não se encaixa no contexto do rockstar).

Até!


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