segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

MAIS UMA PARTE DO LEGADO

 

Foto: Getty Images

Até esquematizei mentalmente algumas linhas sobre o 2023 histórico da Red Bull e de Max Verstappen, a morte repentina de Gil de Ferran e a situação de Wilsinho Fittipaldi. O tempo passou, perdi o timing e a vontade. 2024 parece que vai ser a mesma coisa de 2023. Mesmos carros, mesmas equipes, nenhuma mudança e o problema de tudo, para os americanos, é a Andretti. Qual o sentido de repetir a mesma coisa? Sim, exatamente: 2024 na F1 será um pleonasmo, repetitivo e chato.

O que me faria escrever, afinal? Se Verstappen fez o que a gente achava que só Fangio conseguiria nos tempos antigos e o timing passou... Eu não gosto de despedidas, mas o blog precisa de um tempo. Ironia do destino: justo neste ano que ele vai completar 10 anos de existência.

A grande notícia surgiu, como vocês sabem. É geracional, fura a bolha. É o esportista, uma celebridade, um pop star.

Todo ano Hamilton ia para a Ferrari. Dessa vez, ele realmente foi. Quer dizer, irá. É a maior transferência da história da categoria. O maior vencedor, pole, pódio e sete títulos na equipe mais vencedora e com mais torcida, a que mais se aproxima de um clube de futebol.

O que fez Lewis Hamilton tomar essa ousada decisão se ele já parecia estar rumando para a aposentadoria e concentrar outros esforços em novas jornadas, sociais e de outros interesses secundários, como a moda e a música?

Claro, ele vai ganhar o maior salário da história da F1. É o Lewis Hamilton. Existem também as promessas dos benefícios aos projetos sociais de Lewis, iniciados na Mercedes, sobretudo após a pandemia. Finanças e vida pessoal, ok.

Mas e a questão esportiva? A Ferrari é a Ferrari, mas também é a Ferrari que todos sabemos: sem títulos desde 2007. Equipe grande é equipe grande, mas existem apostas.

Alguns funcionários da Mercedes, que trabalharam com Hamilton, estão indo para a Ferrari a partir do ano que vem. O chefe de equipe é o Frederic Vasseur, que foi o chefão de Hamilton no título da GP2, hoje F2, lá em 2006.

Assim como a saída da McLaren para a Mercedes, existem duas leituras. A primeira é que dois anos sem vitórias e sem incomodar a Red Bull nesse novo regulamento cansou Lewis. Competidor voraz, que até então vencia em todos os anos, do nada ele se encontrou em uma posição incomoda inédita: perder o título de 2021 da forma que sabemos, enfrentar um jovem piloto de grande potencial (e perder no primeiro ano, sem vencer) e com o tempo passando.

A Mercedes bateu cabeça nessas duas temporadas e andou em círculos, enquanto a Red Bull disparou e parece inalcançável. Assim como em 2012, agora Hamilton perdeu a confiança e decidiu apostar. Sair da zona de conforto.

Para quem gosta de discussões sobre os melhores e tal, é inegável que, nesse sentido, Hamilton é um caso a parte. Tirando Kovalainen e Bottas, sempre enfrentou competição de altíssimo nível e sem medo. Um certo Alonso no auge, Button, Rosberg e agora vai pra cima de Leclerc, que até então era o menino de ouro da Ferrari. A imaturidade esportiva e os erros da própria Ferrari também culminaram na concretização do grande sonho, da grande grife, do impacto mundial.

2026 é o ano do novo regulamento e da chegada dos novos motores. A nova F1. O novo Pacto de Concórdia ainda vai ser assinado até lá. Tudo novo, as equipes já priorizando essa nova era, algumas precisando se ajustar com a chegada de novas organizações como a Ford e a Audi.

Assim como em 2014 a Mercedes deu o pulo do gato e Hamilton se viu em posição de fazer jus ao talento também em número de títulos, a Ferrari aposta nisso para voltar a ser hegemônica: o pulo do gato de Maranello. Trabalhando juntos no novo regulamento e com a chegada de pessoas de confiança de Lewis, 2025 seria um laboratório para azeitar tudo, visando o começo da nova era.

Quarentão, a questão física de Hamilton seria um grande ponto de interrogação, mas vimos Raikkonen guiando até essa idade e Alonso mais velho e ainda no grid fazendo o que fez com a Aston Martin. A idade é um número. É a última chance de uma grande mudança e uma nova aventura onde Hamilton não tem nada a perder.

Repito, nada a perder. O motivo é simples: Hamilton não precisa mais se provar. A Ferrari em sua carreira é como se fosse um filler, uma cena pós-créditos de uma história extraordinária. É evidente que ele não vai lá de sangue doce. Se não fosse competitivo, jamais seria heptacampeão e provavelmente já teria largado o esporte há muito tempo. A chama para voltar ao topo depois desses últimos anos está muito alta. Um labaredo. É assim que os superatletas de todos os esportes são forjados, na competitividade extrema.

Se der errado, Hamilton responde a sua e a pergunta de muita gente, além de realizar sonhos. Mas o que seria dar errado? Não ser campeão? Ok, na Ferrari não tem meio termo. Se der certo, Hamilton poderia se coroar como o maior campeão isolado e tirando a Ferrari da fila, assim como um certo Michael Schumacher fez, encerrando de vez qualquer discussão sobre quem senta no trono da F1.

Que 2024 passe bem rápido, porque ninguém se interessa. Todos os olhos estarão em Maranello e no vermelho do cavalinho rampante do Sir. Tons rubro-negros no legado de Lewis.

Vale a pena continuar sobre o espaço deixado na Mercedes e possíveis candidatos? Talvez eu pense nisso nas próximas semanas antes do campeonato começar.

Até!

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