segunda-feira, 29 de julho de 2019

FOGO E ÁGUA

Foto: Getty Images
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25 anos atrás, em Hockenheim, Jos Verstappen quase virou churrasquinho em um pit stop onde a gasolina acabou vazando do carro e causando uma grande explosão. Hoje, o filho Max Verstappen venceu em Hockenheim diante da chuva. Apesar da corrida caótica, foi a vitória mais cerebral de Max, que ainda teve alguns percalços, como não poderia deixar de ser.

Começando pela largada, onde o torque da embreagem (falaremos mais disso depois) fez com que o holandês saísse muito mal, caindo para quarto. Aliás, a corrida teve três voltas atrás do Safety Car porque parece proibido correr na chuva. A primeira prova do ano nesta condição, aliás. Enfim. Mesmo que a chuva trouxesse ares de imprevisibilidade, a corrida parecia estar afeição da Mercedes, que fazia 1-2. Logo na segunda volta, Sérgio Pérez, que sempre tira pódios da cartola em ambientes caóticos iguais ao que se apresentava hoje, bateu. Primeiro Safety Car da tarde.

A primeira troca foi tranquila. Dos pneus de chuva para o intermediário. Hamilton disparava enquanto Max estava preso atrás de Bottas. Com a pista secando, quem estava atrás começou a arriscar com o pneu macio, como foi o caso de Magnussen. O erro de muitos. Para quem está atrás, não há nada a perder. Vettel, que largou em último e estava em oitavo, seguiu, assim como os outros. Depois de algumas voltas, deu para perceber que, embora em alguns trechos a pista estava seca, em outros ela continuava molhado, pois chovia na parte do estádio. Os tempos não melhoravam. E assim todo mundo seguiu. Max deu um 360°, Sainz rodou, Stroll rodou. Estes conseguiram se salvar, outros...

Leclerc forçou demais. Estava com uma boa estratégia, era o quarto colocado. Rodou num ponto onde a pista parecia sabão e tinha nenhuma aderência, praticamente empurrando os carros para a brita. Lembrou vagamente o ponto onde todo mundo rodou e bateu no GP do Brasil de 2003. 

Aí a corrida virou uma algazarra. Alguns não tinham colocado os pneus macios e se deram bem, trocando apenas o intermediário, casos das Mercedes e de Hulkenberg. Outros chegaram para o topo, como Albon. Max, mesmo assim, se manteve entre os ponteiros. Não por muito tempo. Alguns também caíram na armadilha...

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Logo ele. No mesmo ponto. Mesmo com Safety Car, Hamilton bateu. Como estava na cara dos boxes, cortou o caminho de forma insegura e foi para o pit. A Mercedes não estava preparada e bateram cabeça, literalmente. Mais de 30 segundos parado. Tinha uns caras de boina (outra ação comemorativa dos 125 anos da Mercedes no final de semana) que só depois percebi que eram mecânicos. O clima de festa estava preparado, com homenagens e patrocínio da corrida. A consagração alemã estava ameaçadíssima. Entre perder um minuto e ser punido com cinco segundos, Hamilton optou pelo lógico. Teve que remar tudo de novo. Tentou, mas rodou, bateu e caiu para o fim do grid, atrás até mesmo das Williams.

Outro que desperdiçou, mais uma vez, a chance de finalmente brilhar foi Nico Hulkenberg. É impressionante como as coisas parecem afeição dele e o alemão se borra e estraga tudo. Definitivamente não vai fazer pódio nunca, não tem jeito. Uma pena que perca tantas chances assim. 

Com a batida de Hulkenberg, ainda faltavam umas 15 voltas. Com o SC um bom tempo na pista, ela foi voltando a secar. Os ponteiros não queriam arriscar muito porque era reta final. Já quem estava atrás... 

Stroll e Kvyat botaram os macios e tacaram o foda-se. Não tinham nada a perder. Logo que a corrida reiniciou, ficou claro que era preciso botar os pneus de pista seca. E, com todo mundo nos boxes, os dois assumiram a liderança faltando umas 10 voltas! Stroll e Kvyat! Inacreditável! O canadense, por mais fraco que seja, parece capitalizar nas situações caóticas, sobretudo na chuva. Max, que tinha uma boa vantagem, conseguiu voltar próximo e rapidinho retomou a liderança. Bottas estava em quarto, pressionando Stroll, até que bateu. Incrível. Além de não conseguir passar o riquinho, o finlandês simplesmente bate de forma vergonhosa e perde a chance de tirar alguns pontos em relação a Hamilton. Não que fosse voltar a briga pelo título, mas enfim. A reação de Toto pode implicar em mudanças. Bottas pode ter escrito o seu fim na Mercedes.

Vettel, que ficou 40 voltas atrás da Alfa Romeo de Kimi Raikkonen, aproveitou o novo Safety Car para colocar pneus mais novos. Com o grid realinhado, foi questão de tempo para galgar as posições e chegar em segundo porque Max já havia se mandado para vencer pela sétima vez. Kvyat precisava deste resultado. A corrida foi a síntese da carreira: cheia de altos e baixos, de demitido duas vezes para recontratado em dois anos, o russo consegue o segundo pódio da história da Toro Rosso! O agora papai (cuja mãe é Júlia Piquet, filha do Nelson) deu um passo importante para a retomada da confiança e coroa uma temporada segura neste retorno cheio de desconfianças. De quebra, viu Gasly ficar atrás das duas Toro Rosso e ainda bater pateticamente ao tentar ultrapassar Albon. Parece que depois das férias o futuro do francês é o rebaixamento para Toro Rosso, lugar onde Kvyat parou depois de ser preterido por Verstappen. Que pódio é este, composto por três membros da academia Red Bull!

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Para Vettel, um segundo lugar enganoso, onde teve a competência de não cometer erros mas não soube se sobressair. É estranho falar isso de alguém que não treinou e chegou em segundo largando de último. Enfim, que seja um pequeno passo mas muito importante para a retomada de confiança de Sebastian, justamente onde a perdeu no ano passado.

Coube ao rico um quarto lugar, o melhor da Racing Point no ano, fato que geralmente Pérez é o responsável. Difícil ser hater do canadense hoje. Carlos Sainz foi outro que teve altos e baixos. Caiu para último após rodar, voltou para a prova graças as circunstâncias e fica numa ótima quinta posição. Albon, ofuscado por Kvyat mas igualmente muito bem, o sexto.

Agora voltamos para o torque da embreagem na largada. Foi isso que desclassificou a dupla da Alfa Romeo. Segundo o Globoesporte.com, "os comissários detectaram que o torque na embreagem de ambos na largada não correspondia ao exigido pelo regulamento, com a liberação da embreagem tendo sido feita em 70 milissegundos, enquanto o estipulado é de 300 milissegundos.

Pelo entendimento dos comissários, essa infração pode ser comparada com uma queima de largada, o que deu uma vantagem em potencial. A decisão foi dar aos dois pilotos uma penalidade de dez segundos num pit stop, que, sem ter sido feito, foi convertido a 30 segundos somados aos tempos finais de Raikkonen e Giovinazzi na corrida."

Sendo assim, pasmem, a dupla da Haas herdou as posições, mesmo com ambos fazendo de tudo para abandonar pois se tocaram de novo. Diante do caos total, Hamilton é um sortudo até quando tem azar: subiu para nono e em décimo ficou Kubica, responsável pelo primeiro ponto da Williams no ano e o primeiro do polonês desde Abu Dhabi 2010, sendo assim o piloto que teve maior diferença entre datas de pontuação: quase nove anos.

Mesmo diante da desgraça, Hamilton sai com mais dois pontos de vantagem em relação a Bottas. A Mercedes, sortuda no sábado, teve a lei do retorno no domingo. Acredito que, depois de hoje, homenagens, pinturas especiais e boinas não estarão no centro das discussões.

Mais uma vitória da Honda, com dois pilotos no pódio. Que karma para a fênix...

Para Verstappen, a confirmação de que ele é o futuro da categoria e só precisa de um carro; para Vettel, um possível renascimento, assim como Kvyat;

O GP da Alemanha é uma das melhores coisas que já aconteceram na década. Viva a chuva, viva as áreas de escape!

Confira a classificação final do GP da Alemanha:


Até!


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