quarta-feira, 24 de julho de 2019

PICARETAGEM

Foto: Divulgação
"O caso é muito complicado... é muita falcatrua, com um pouquinho assim de vadiagem. Inocente juvenil, não tô de bobeira não."

Com essas palavras de Doutor Gilmar, o post começa. A F1 sempre foi um espaço para negócios escusos com milionários desconhecidos, picaretas querendo aparecer e empresas querendo lavar dinheiro. Personagens tão folclóricos quanto corridas, pilotos ruins e qualquer outra aleatoriedade.

Desde o carismático Vijay Mallya, Tony Fernandes, a falência da Lotus fake e o fanfarrão dono da Virgin que a F1 não via uma sequência bizarra de noticiários envolvendo a tal Rich Energy, patrocinadora da Haas. É claro que entre os populares a coisa fica "patrocinadora da Haas", o que obviamente prejudica a moral e a reputação da equipe, coisa tão valiosa que aprendi na única cadeira de relações públicas que fiz durante a faculdade.

Pois bem, no que consiste a tal Rich Energy e como ela veio parar na Haas?

No ano passado, a tal empresa teve interesse em comprar a então Force India (que foi comprada por Lawrence Stroll) e sondou a Williams, sem sucesso. Acabou conseguindo virar a patrocinadora principal da Haas para esta temporada. Uma empresa de energéticos "super conceituada no Reino Unido" que só vendia produtos pela internet dizendo ser multimilionária. No entanto, contas de 2017 mostravam que só existia quase 600 libras na posse da tal empresa.

A empresa surgiu oficialmente em 2015 com o excêntrico empresário barbudo William Stoney. Essa informação é importante. O objetivo era bater a "concorrente" Red Bull, o energético mais famoso e bem sucedido em diversas ramificações do esporte. No entanto, há uma grande diferença entre querer e poder, vocês sabem.

Mesmo com todas as desconfianças, o excêntrico Stoney sempre negou as dúvidas e seguia confiante que a Rich Energy e a Haas iriam crescer bastante nesta temporada, além de uma linda pintura. Todavia, o resultado nós já sabemos que está horrível: com dois pilotos que não entregam o máximo que o carro pode (principalmente Grosjean), o chassi de 2019 enfrenta vários problemas e a Haas não consegue respostas para sair do naufrágio que se encontra.

Os problemas começaram no dia 14 de maio: a empresa perdeu uma ação judicial movida pela empresa britânica de bicicletas intitulada Whyte Bikes, que acusava a Rich Energy de plágio no logo. Convenhamos que é procedente a suspeita, não?

Sendo assim, a Rich Energy perdeu a ação e foi obrigada a deixar de usar a logomarca. Não só isso. Foram obrigados a abrir as contas da empresa e também pagar uma multa de 35 mil libras para a tal Whyte Bikes. O pagamento era para ter sido feito até 11 de julho, duas semanas atrás.

Na data limite, o Twitter da Rich Energy anunciou o fim do patrocínio com a Haas. Segundo o tal comunicado, o motivo da rescisão era o fato da equipe americana estar com um desempenho "inaceitável", andando atrás até da Williams. Não é mentira, mas um apoiador se posicionar assim as vésperas de uma corrida não é o ideal. Sem tempo, a Haas manteve a pintura do carro.

Virou bagunça: foi anunciado que o autor do Tweet, o excêntrico William Storey, o fez sem a aprovação dos outros investidores da companhia. Após todo esse constrangimento público, um comunicado da Rich Energy anunciou que Storey, o criador, estava fora da empresa. O cara com barba horrorosa disse ser vítima de uma tramoia entre Haas, Red Bull e a tal Whyte Bikes. Maluco total.

É óbvio que a Haas não assistiria isso sem tomar alguma providência. Para isso, os assessores mandaram uma espécie de advertência a Storey: rescindir seria quebra de contrato, válido até 2022, ou então que fosse pago o estipulado pelo contrato: 35 milhões de libras. É óbvio que a tal empresa não tem o valor aproximado disso.

Bem, para finalizar: Storey não é mais acionista e CEO da empresa, que mudou o nome para tentar limpar a barra: Rich Energy agora é Lightning Volt. O novo CEO e acionista majoritário é Matthew Kell. Nem por isso os problemas foram varridos, pelo contrário.

A Red Bull está processando o energético pelo uso do slogan "Te Dá Chifres", o que seria uma violação de direitos autorais da famosa "Te Dá Asas" dos taurinos. Além do mais, o novo logo não é algo realmente novo. Comparem com o logo da Black & Yellow Coffee Bar, da Bélgica:



Pra fechar, uma história que não tem nada a ver com a Rich Energy mas também está ligada a Haas: A dinamarquesa Jack & Jones, que apoia obviamente Kevin Magnussen, tem um bilionário que se chama Anders Holch Povlsen, proprietário do grupo de moda Bestseller e o cara mais rico do país, herança dos pais Merete e Troels Holch Povlsen. Além da Bestseller, Povlsen também é acionista majoritário da marca britânica de moda online ASOS e faz parte do capital da Zalando, especialista alemã em vendas pela internet.

Enfim, em abril ele estava de férias no Sri Lanka com a esposa e os quatro filhos bem quando teve uma série de atentados no país no domingo de Páscoa, que vitimou pelo menos 290 pessoas, dentre elas três dos quatro filhos do bilionário dinamarquês. Que lugar para se passar as férias, não?

Bem, este é o inferno astral da Haas e a picaretagem da empresa de energético que ninguém conhece e que já mudou de nome. Como dizem os antigos, onde Gene Haas foi amarrar o bode?

Até!

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