terça-feira, 30 de julho de 2019

INFERNO E CÉU

Foto: Motorsport Images
Um ano atrás, Vettel era líder do campeonato e parecia a salvação da lavoura da F1 para brecar o domínio da Mercedes, como um certo ídolo Michael Schumacher. Na Alemanha, uma pole consagradora, enquanto que o concorrente Hamilton largaria lá atrás, com problemas no treino.

Uma corrida que parecia tranquila colocou tudo a perder no próprio erro do alemão, em casa, em frente a torcida. O que seriam 33 pontos de vantagem viraram 17 atrás. A partir dali, Vettel não se recuperou mais. Pelo contrário. Mergulhou em uma sequência de erros inacreditáveis para alguém tão gabaritado com quatro títulos.

Nada mudou neste ano, mais pressionado ainda com a chegada do jovem queridinho Leclerc. Uma vitória no Canadá seria a resposta consagradora, mas o próprio alemão voltou a errar na hora decisiva. Apesar disso, saiu por cima porque uma boa parte do público considerou injusta a punição. Portanto, um vencedor moral, mas a moral não conta em nada no fim das contas.

De volta para a Alemanha, tudo parecia para uma zica renovada. Sem treinar e largando em último, as chances do errático alemão conquistar um bom resultado eram nulas, e estavam sendo, mesmo com todos os acontecimentos caóticos. A sorte enfim decidiu sorrir (?) no último Safety Car e, com pneus mais novos, foi fácil chegar em segundo. No caso de Vettel, o resultado vale mais que o meio. Uma redenção em casa, no mesmo palco onde a maior espiral negativa da carreira começou pode ser um indício de recomeço na cambaleante confiança e motivação do alemão na categoria. Será?

O próprio Kvyat disse que a corrida resume a carreira: altos e baixos. Discordo levemente. Na corrida, o russo não lembrou nenhum pouco o arremedo de piloto que tinha virado após ter o mental quebrado pelo rebaixamento à Toro Rosso, as más atuações e também ter sido obliterado por Carlos Sainz. Tudo isso logo depois de ter feito, até então, seu último pódio, na China, em 2016. Na corrida seguinte, Verstappen foi o vencedor com o mesmo carro.

Depois, foi demitido antes do fim de 2017 para dar vaga a Pierre Gasly, que agora ocupa duas vagas que já foram a dele. Tudo isso com alguém que superou Daniel Ricciardo logo no ano de estreia. O "torpedo" já viveu essa situação de caça e caçador, todos sabemos como o programa da Red Bull é sedutor e cruel ao mesmo tempo com suas jovens vítimas.

Um ano afastado e relegado a piloto de simulador da Ferrari, a saída de Ricciardo provocou um efeito dominó que fez Kvyat retornar a F1 repleto de desconfianças, é claro. "De novo ele? Vai ser humilhado de novo!". O que estamos vendo até aqui é um Kvyat sólido, maduro, com resultados semelhantes a sua estreia na equipe B, cinco anos atrás. Por já ter feito parte e não ter dado certo, parece ser carta fora do baralho caso a equipe canse de Gasly, o que não vai demorar. Será mesmo? Não seria inteligente colocar outro jovem talento no matadouro que é enfrentar Max Verstappen.

O próprio Kvyat tem como objetivo voltar a matriz. Não sei se conseguirá. Faltava um resultado diferente, e ele veio. Bonito e simbólico ver três gerações diferentes do programa de pilotos da Red Bull no pódio, dois deles os únicos que conseguiram fazer isso com a equipe satélite (Vettel em Monza-2008 e agora Kvyat). Se até o ano passado o novo pai da praça estava no fundo do poço, no início da temporada ele conseguiu equilibrar as ações e agora passa a um grande momento, o maior diria eu, porque fazer pódio com a Red Bull é obrigação, com a Toro Rosso nunca será, mesmo em circunstâncias excepcionais.

Está tarde, mas gostaria de mencionar também no texto um caso que já abordei, o de Verstappen. Até o ano passado ele também estava por baixo e começou a amadurecer e unir o talento com regularidade e agora vive o melhor momento da carreira. Jovem e já relativamente experiente na categoria, acostumado a algumas glórias e grandes frustrações, os três pilotos estavam no inferno e agora chegaram ao céu. Ok, talvez Vettel esteja no purgatório, mas o simbolismo ainda assim não deixa de ser bonito e chamativo. As reviravoltas da vida e da Fórmula 1, que ocorrem em milhares de giros em um autódromo, representam inícios, meios, fins, recomeços e todas as coisas juntas. É por isso que é maravilhoso escrever sobre esta categoria, que resolveu me calar nas últimas três corridas.

Ainda bem. Até!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, esse é o espaço em que você pode comentar, sugerir e criticar, desde que seja construtivo. O espaço é aberto, mas mensagens ofensivas para outros comentaristas ou para o autor não serão toleradas.