segunda-feira, 5 de agosto de 2019

DIMENSÕES

Foto: Getty Images
O último GP antes das férias da Fórmula 1 deixou um gostinho de quero mais e mostrou a reação da categoria ao adentrar no calendário tradicional europeu em substituição aos chatíssimos tilkódromos. Talvez aí possa estar uma solução para o futuro.

O travado GP da Hungria não permite muitas ultrapassagens, mas é bonito olhar as estratégias, o xeque-mate, a disputa por posições. Max Verstappen e Lewis Hamilton sumiram, travaram um duelo particular, anos-luz a frente do resto. Esta é, portanto, a primeira dimensão.

Max segurou Lewis o quanto pode. No primeiro stint, a vantagem nunca passou dos três segundos. Com os compostos duros, Hamilton tentou atacar, mas o holandês se defendeu bem. A parte da estratégia percebeu que, diante da distância dimensional que existia em relação ao resto, era possível colocar os pneus macios e tirar a vantagem contra o desgastado pneu duro dos taurinos no fim. E foi exatamente o que aconteceu.

Com o grande talento que tem, Hamilton foi fazendo volta mais rápida atrás de volta mais rápida, tirando rapidamente uma vantagem que parecia impossível de ser alcançada. Verstappen tentou responder para quebrar mentalmente o inglês, mas parece ter desgastado o que sobrou dos "neumaticos".

No início, a impressão era óbvia: a Red Bull poderia ter parado imediatamente depois e, com pneus novos, poderia segurar a vitória. No entanto, depois entendi que a vantagem seria pequena e, com um novo composto, talvez Hamilton já voltasse a frente ainda na parada dos boxes e não teria disputa. Max não vence mas mostra, mais uma vez, o aprimoramento enquanto piloto, cada vez menos salvagem, cada vez mais cerebral. A primeira pole era o que faltava, mas é claro que perder faltando três voltas depois de liderar quase toda a corrida não deixa de ser frustrante. Crueldade, agora com o holandês.

Foto: Getty Images
Na segunda dimensão estava a Ferrari, um minuto atrás mais precisamente. Impressionante o "downgrade" daquela que consideravam a favorita no início da temporada. Uma corrida tranquila e melancólica. A exemplo de Verstappen-Hamilton, a Ferrari pode fazer estratégias diferentes com seus pilotos. Vettel, superado o final de semana todo, apostou em um stint maior para terminar com os macios. Conseguiu ultrapassar Leclerc, desgastado com os pneus duros, também na reta final e conquista um pódio um tanto quanto recompensador mas sem brilho coletivo, talvez pessoal. Já Leclerc de novo "morre na praia", uma outra "crueldade". Ele mesmo disse em entrevista que talvez precise administrar melhor os pneus, sobretudo os traseiros. Só assim para evitar mais decepções nas retas finais das corridas.

Na terceira dimensão estava Carlos Sainz Jr, que mal aparece nas corridas mas é um piloto extremamente competente, veloz e tudo aquilo que uma equipe de meio de tabela precisa: um acumulador de pontos. Tá guiando o fino com a McLaren Renault e com ela o espanhol segurou Gasly quase a corrida inteira para chegar em quinto. Sainz teve uma certa badalação por ser filho de uma lenda do rally, mas nos monopostos está vivendo um momento muito bom depois de alguns anos turbulentos no fim da Toro Rosso e na Renault. Para Gasly, o mesmo de sempre: a cada corrida que passa, a moral fica pior e a confiança quase que inexiste. É cruel ser companheiro de Verstappen. O matadouro está sendo ligado...

A quarta dimensão teve, posso escrever, Kimi Raikkonen voltando a pontuar e carregando a Alfa Romeo e Valtteri Bottas. Largou mal, foi ultrapassado por Hamilton e danificou o bico com um "chega pra lá" desnecessário do Leclerc que não teve punição. Além do mais, demoraram a chamá-lo para os boxes e voltou no fim do grid. Com o carro esquentando ao ficar sempre colado nos carros mais lentos, a Mercedes não tem mais aquela dominância nas retas e o finlandês perdeu boa parte da estratégia colado em Ricciardo, no fim das contas o oitavo lugar foi o que dava. No entanto, fica claro que, a exemplo de Gasly, os dias do finlandês nas flechas de prata está com os dias contados.

A quinta dimensão finaliza com Lando Norris trazendo bons pontos para a McLaren, que se consolida como quarta força, e mais uma daquelas provas onde Albon aparece do nada nos pontos. O tailandês faz uma estreia segura na categoria e já é candidato para futuro companheiro de Max Verstappen. A Renault é uma decepção. Quanto mais dinheiro, menos resultados. É um crime Ricciardo ser um coadjuvante, mesmo que hoje tenha aparecido bastante, disputando e defendendo posições. Azar na pista, muita grana no bolso pelo menos.

Hamilton vai ser hexa. No entanto, parece que a Red Bull (ou melhor, Verstappen) virou a segunda força da F1 e pode nascer aí um embate interessante para o segundo semestre. Para o título não tem como, mas é admirável perceber que os taurinos estão podendo competir além das condições anormais de temperatura e pressão. A F1 encerra uma sequência de boas corridas, sempre com a expectativa de que algo acontecia na mãe das pistas sagradas Spa Francorchamps, mas isso é assunto para daqui um mês, infelizmente.

Confira a classificação final do GP da Hungria:


Até!

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

PRA FICAR MAL ACOSTUMADO

Foto: Getty Images
Depois de Paul Ricard, uma revolução aconteceu. Três belas corridas disputadas de diferentes formas mas com a mesma emoção ou mais. Não se tratou apenas da chuva ou da aleatoriedade de um Safety Car, mas sim disputas genuínas na pista, roda com roda, com batidas e tudo mais. Era o respiro que a F1 precisava em meio a uma insuportável dominância da Mercedes que não parece ter fim.

Com uma corridaça como a da Alemanha, ainda bem que no calendário já teremos outra prova logo agora. O bom é que se for uma corrida ruim na Hungria, como tradicionalmente é, teremos uma pausa de três semanas para esquecê-la e até compreender que sonhamos demais, que a Fórmula 1 é isso mesmo. O ruim é que, se uma boa corrida se repetir, ficaremos três semanas sonhando com mais corridaças na Bélgica e na Itália para no fim ser desapontado, mas vai lá, vai que a sina continua.

É com esta fé renovada e querendo aprender com o "karma do salto alto" que a Mercedes tem, pela 3242 vez, a faca e o queijo na mão para vencer sem problemas. Apesar do problema do desgaste em virtude do calor e da chuva nos treinos livres, a previsão é de sol para domingo. Em pista travada, os alemães corrigiram os problemas e mostram força. A Red Bull, que dominava este aspecto até 2014, deve ter mais facilidade que a Ferrari, de carro mais longo.

Os treinos de hoje não podem dizer muita coisa. Com a garoa que caiu nas duas sessões, tudo fica muito embaralhado, a exceção de Williams e Mercedes, ainda mais um treino onde Gasly foi o mais rápido... Alfa Romeo, querendo reverter a decisão da Alemanha, e Renault precisam reagir. A dupla Debi e Lóide da Haas sempre é garantia de entretenimento. Pérez precisa reagir contra o riquinho. Algumas das respostas no meio do pelotão. Lá em cima, o mesmo de sempre: Bottas será apático e irá sepultar suas chances de permanecer? Vettel vai renascer depois da corrida circunstancial? Leclerc vai ter sorte ou não ter um erro bobo capital? Gasly vai passar vergonha contra Max outra vez?

Só domingo para descobrirmos as respostas, seja na via do entretenimento ou na da procissão e marasmo total.

Confira os tempos dos treinos livres:




quinta-feira, 1 de agosto de 2019

GP DA HUNGRIA - Programação

O Grande Prêmio da Hungria (Magyar Nagydíj, em húngaro) foi disputado pela primeira vez em 1936, no circuito urbano de Népliget, na cidade de Budapeste. Somente em 1986 voltou a ser disputado, quando entrou para o calendário da Fórmula 1, agora no sinuoso e travado circuito de Hungaroring.


Melhor volta em corrida: Michael Schumacher - 1:19.071 (Ferrari, 2004)
Pole Position: Sebastian Vettel - 1:16.276 (Ferrari, 2017)
Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)
Maior vencedor: Lewis Hamilton - 6x (2007, 2009, 2012, 2013, 2016 e 2018)

SEM PACIÊNCIA

Foto: Haas
Apesar do melhor resultado da equipe no ano graças ao caótico GP da Alemanha, não é por isso que Gunther Steiner, chefão da Haas, está satisfeito. Depois dos dois pilotos se tocarem e abandonarem em Silverstone, novamente Magnussen e Grosjean se encontraram na pista de Hockenheim. Na volta 56, K-Mag passou pelo francês mas sem deixar de tocá-lo.

Com as punições para a Alfa Romeo, a dupla herdou a sétima e oitava posições, mas Steiner não se ilude. Sabe que o resultado da corrida foi circunstancial e não está satisfeito com o desempenho do carro e a conduta dos dois pilotos:

"Eu estou surpreso como todo mundo depois do que aconteceu em Silverstone. Eles fizeram de novo. Eu não falei com eles depois da corrida, não tem motivo. Vou falar antes de Budapeste e achar um caminho do que fazer e não fazer. Se eles não entenderem o que significa, terei que falar a cada volta o que fazer, e acho que isso vai acontecer.

Nosso ritmo não foi bom. Ficamos em nono e décimo sem méritos e velocidade. Não vou ficar aqui falando que está fantástico. Não fomos rápidos. Nunca vi isso. Como um carro pode ser tão rápido na classificação e cair desse jeito na corrida? A única coisa que podemos fazer é seguir trabalhando e entender o porquê. Não tem mágica, e hoje, fomos sortudos de nos manter na pista e chegar em nono e décimo, que são pontos duplos, mas foi o único bom momento do dia", afirmou.


Pelo jeito a batata vai assar para os dois muito em breve. Não sei se o carro da Haas é ruim de fato, mas chama a atenção a queda de desempenho entre a classificação e a corrida. Talvez com uma dupla melhor os resultados possam vir, mas o carro também é um problema. O que ficou claro é que Grosjean já deveria ter saído e Magnussen, mesmo que seja um pouquinho melhor (ou menos pior), também parece não servir para a conturbada equipe de Gene Haas.

GASLY "PRESTIGIADO"

Foto: Getty Images

Mais uma vitória e um show de Max Verstappen. Com o mesmo carro, Gasly já tinha ficado uma volta atrás na Áustria e, na Alemanha, ficou atrás das duas Toro Rosso até bater ao tentar passar Alexander Albon. Em metade da temporada, já são mais de 100 pontos atrás do holandês. Parece que guia uma Toro Rosso pintada de Red Bull. Mesmo assim, o francês parece estar prestigiado. Helmut Marko descartou, ao menos da boca para fora, trocá-lo nesta temporada. Christian Horner apenas lamentou a chance desperdiçada dos taurinos encostarem na Ferrari nos construtores:

"São altos e baixos. Ele teve uma classificação forte e um problema no primeiro pit-stop na roda traseira direita, e precisaram segurá-lo pela quantidade de carros no pit-lane. Ele estava se recuperando bem e passou o Vettel na última relargada, mas escapou três vezes na curva 1 e outros carros passaram ele.

"E teve o incidente com o Albon, o que foi frustrante porque era uma boa oportunidade para tirar pontos da Ferrari. Em vez de tirarmos 20 pontos, tiramos apenas 8. Acho que se conseguirmos pontuar com os dois carros, diminuir a distância é o nosso objetivo para a segunda metade da temporada", afirmou em entrevista ao 'Motorsportweek.com'.


Por muito menos Kvyat foi chutado da Red Bull. Gasly não está pronto e nem a Red Bull estava. Foi pega de surpresa com a saída de Daniel Ricciardo. Albon também não estaria e Kvyat, mais experiente e confiante, pode fazer algo melhor, mas este é o problema da academia de pilotos: ser refém esperando que surja toda hora um Vettel, Verstappen ou Ricciardo. É improvável. No entanto, com Verstappen ali, aparentemente não há muita preocupação quanto a isso.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 225 pontos
2 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 184 pontos
3 - Max Verstappen (Red Bull) - 162 pontos
4 - Sebastian Vettel (Ferrari) - 141 pontos
5 - Charles Leclerc (Ferrari) - 120 pontos
6 - Pierre Gasly (Red Bull) - 55 pontos
7 - Carlos Sainz Jr (McLaren) - 48 pontos
8 - Daniil Kvyat (Toro Rosso) - 27 pontos
9 - Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 25 pontos
10- Lando Norris (McLaren) - 22 pontos
11- Daniel Ricciardo (Renault) - 22 pontos
12- Lance Stroll (Racing Point) - 18 pontos
13- Kevin Magnussen (Haas) - 18 pontos
14- Nico Hulkenberg (Renault) - 17 pontos
15- Alexander Albon (Toro Rosso) - 15 pontos
16- Sérgio Pérez (Racing Point) - 13 pontos
17- Romain Grosjean (Haas) - 8 pontos
18- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 1 ponto
19- Robert Kubica (Williams) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 409 pontos
2 - Ferrari - 261 pontos
3 - Red Bull Honda - 217 pontos
4 - McLaren Renault - 70 pontos
5 - Toro Rosso Honda - 42 pontos
6 - Renault - 39 pontos
7 - Racing Point Mercedes - 31 pontos
8 - Haas Ferrari - 26 pontos
9 - Alfa Romeo Ferrari - 26 pontos
10- Williams Mercedes - 1 ponto

TRANSMISSÃO:







quarta-feira, 31 de julho de 2019

TOMBANDO

Foto: Reprodução
Quando a Renault anunciou o retorno para a F1, em 2015, tinha ficado que o plano e o planejamento seriam para os anos seguintes, talvez 2018 ou 2019.

Pois bem, os franceses pouco evoluíram, mesmo sendo uma equipe de fábrica e, portanto, com dinheiro quase que a vontade. No início, apostaram em pilotos sem a estatura da equipe, mas era o que tinha: Magnussen, Palmer e etc. A contratação de Hulkenberg seria o início de um crescimento que até teve, mas não é o suficiente.

A chegada surpreendente de Daniel Ricciardo era um recado claro: o australiano vai ser o protagonista deste renascimento. No entanto, nem ele parece realmente acreditar nisso, assinando um contrato de apenas dois anos e mais preocupado em esperar o que vai acontecer em 2021 e com Ferrari e Mercedes.

É muito pouca evolução em tantas temporadas. A McLaren, que passou vergonha com a Honda, em dois anos com o motor francês está a frente deles. O fato de nenhum dos dois terem somado pontos no caótico GP da Alemanha pode fazer com que esses pontos façam falta na briga pelo quarto ou quinto lugar nos construtores.

A Renault já foi e já veio várias vezes na F1. Cyril Abiteboul precisa entregar mais. Depois de um péssimo final de semana, Alain Prost, apenas um consultor de luxo, virou um diretor sem maiores detalhes explicados. Tudo para que a Renault reaja.

O limite é 2021. Uma equipe de fábrica não pode ficar tanto tempo tão distante do "trio de ferro". A fase não é nada boa. Até o caminhão da equipe bateu durante o caminho para chegar até Hungaroring, na Hungria. O famoso "que fase". Bem, uma hora isso tudo vai acabar. É improvável uma reação tão imediata, então resta a Renault somar pontos e fazer um carro mais confiável para Ricciardo e Hulkenberg, que não pode mais desperdiçar tantas chances que talvez não lhe apareçam mais.

Até!

terça-feira, 30 de julho de 2019

INFERNO E CÉU

Foto: Motorsport Images
Um ano atrás, Vettel era líder do campeonato e parecia a salvação da lavoura da F1 para brecar o domínio da Mercedes, como um certo ídolo Michael Schumacher. Na Alemanha, uma pole consagradora, enquanto que o concorrente Hamilton largaria lá atrás, com problemas no treino.

Uma corrida que parecia tranquila colocou tudo a perder no próprio erro do alemão, em casa, em frente a torcida. O que seriam 33 pontos de vantagem viraram 17 atrás. A partir dali, Vettel não se recuperou mais. Pelo contrário. Mergulhou em uma sequência de erros inacreditáveis para alguém tão gabaritado com quatro títulos.

Nada mudou neste ano, mais pressionado ainda com a chegada do jovem queridinho Leclerc. Uma vitória no Canadá seria a resposta consagradora, mas o próprio alemão voltou a errar na hora decisiva. Apesar disso, saiu por cima porque uma boa parte do público considerou injusta a punição. Portanto, um vencedor moral, mas a moral não conta em nada no fim das contas.

De volta para a Alemanha, tudo parecia para uma zica renovada. Sem treinar e largando em último, as chances do errático alemão conquistar um bom resultado eram nulas, e estavam sendo, mesmo com todos os acontecimentos caóticos. A sorte enfim decidiu sorrir (?) no último Safety Car e, com pneus mais novos, foi fácil chegar em segundo. No caso de Vettel, o resultado vale mais que o meio. Uma redenção em casa, no mesmo palco onde a maior espiral negativa da carreira começou pode ser um indício de recomeço na cambaleante confiança e motivação do alemão na categoria. Será?

O próprio Kvyat disse que a corrida resume a carreira: altos e baixos. Discordo levemente. Na corrida, o russo não lembrou nenhum pouco o arremedo de piloto que tinha virado após ter o mental quebrado pelo rebaixamento à Toro Rosso, as más atuações e também ter sido obliterado por Carlos Sainz. Tudo isso logo depois de ter feito, até então, seu último pódio, na China, em 2016. Na corrida seguinte, Verstappen foi o vencedor com o mesmo carro.

Depois, foi demitido antes do fim de 2017 para dar vaga a Pierre Gasly, que agora ocupa duas vagas que já foram a dele. Tudo isso com alguém que superou Daniel Ricciardo logo no ano de estreia. O "torpedo" já viveu essa situação de caça e caçador, todos sabemos como o programa da Red Bull é sedutor e cruel ao mesmo tempo com suas jovens vítimas.

Um ano afastado e relegado a piloto de simulador da Ferrari, a saída de Ricciardo provocou um efeito dominó que fez Kvyat retornar a F1 repleto de desconfianças, é claro. "De novo ele? Vai ser humilhado de novo!". O que estamos vendo até aqui é um Kvyat sólido, maduro, com resultados semelhantes a sua estreia na equipe B, cinco anos atrás. Por já ter feito parte e não ter dado certo, parece ser carta fora do baralho caso a equipe canse de Gasly, o que não vai demorar. Será mesmo? Não seria inteligente colocar outro jovem talento no matadouro que é enfrentar Max Verstappen.

O próprio Kvyat tem como objetivo voltar a matriz. Não sei se conseguirá. Faltava um resultado diferente, e ele veio. Bonito e simbólico ver três gerações diferentes do programa de pilotos da Red Bull no pódio, dois deles os únicos que conseguiram fazer isso com a equipe satélite (Vettel em Monza-2008 e agora Kvyat). Se até o ano passado o novo pai da praça estava no fundo do poço, no início da temporada ele conseguiu equilibrar as ações e agora passa a um grande momento, o maior diria eu, porque fazer pódio com a Red Bull é obrigação, com a Toro Rosso nunca será, mesmo em circunstâncias excepcionais.

Está tarde, mas gostaria de mencionar também no texto um caso que já abordei, o de Verstappen. Até o ano passado ele também estava por baixo e começou a amadurecer e unir o talento com regularidade e agora vive o melhor momento da carreira. Jovem e já relativamente experiente na categoria, acostumado a algumas glórias e grandes frustrações, os três pilotos estavam no inferno e agora chegaram ao céu. Ok, talvez Vettel esteja no purgatório, mas o simbolismo ainda assim não deixa de ser bonito e chamativo. As reviravoltas da vida e da Fórmula 1, que ocorrem em milhares de giros em um autódromo, representam inícios, meios, fins, recomeços e todas as coisas juntas. É por isso que é maravilhoso escrever sobre esta categoria, que resolveu me calar nas últimas três corridas.

Ainda bem. Até!

segunda-feira, 29 de julho de 2019

FOGO E ÁGUA

Foto: Getty Images
Foto: Getty Images

25 anos atrás, em Hockenheim, Jos Verstappen quase virou churrasquinho em um pit stop onde a gasolina acabou vazando do carro e causando uma grande explosão. Hoje, o filho Max Verstappen venceu em Hockenheim diante da chuva. Apesar da corrida caótica, foi a vitória mais cerebral de Max, que ainda teve alguns percalços, como não poderia deixar de ser.

Começando pela largada, onde o torque da embreagem (falaremos mais disso depois) fez com que o holandês saísse muito mal, caindo para quarto. Aliás, a corrida teve três voltas atrás do Safety Car porque parece proibido correr na chuva. A primeira prova do ano nesta condição, aliás. Enfim. Mesmo que a chuva trouxesse ares de imprevisibilidade, a corrida parecia estar afeição da Mercedes, que fazia 1-2. Logo na segunda volta, Sérgio Pérez, que sempre tira pódios da cartola em ambientes caóticos iguais ao que se apresentava hoje, bateu. Primeiro Safety Car da tarde.

A primeira troca foi tranquila. Dos pneus de chuva para o intermediário. Hamilton disparava enquanto Max estava preso atrás de Bottas. Com a pista secando, quem estava atrás começou a arriscar com o pneu macio, como foi o caso de Magnussen. O erro de muitos. Para quem está atrás, não há nada a perder. Vettel, que largou em último e estava em oitavo, seguiu, assim como os outros. Depois de algumas voltas, deu para perceber que, embora em alguns trechos a pista estava seca, em outros ela continuava molhado, pois chovia na parte do estádio. Os tempos não melhoravam. E assim todo mundo seguiu. Max deu um 360°, Sainz rodou, Stroll rodou. Estes conseguiram se salvar, outros...

Leclerc forçou demais. Estava com uma boa estratégia, era o quarto colocado. Rodou num ponto onde a pista parecia sabão e tinha nenhuma aderência, praticamente empurrando os carros para a brita. Lembrou vagamente o ponto onde todo mundo rodou e bateu no GP do Brasil de 2003. 

Aí a corrida virou uma algazarra. Alguns não tinham colocado os pneus macios e se deram bem, trocando apenas o intermediário, casos das Mercedes e de Hulkenberg. Outros chegaram para o topo, como Albon. Max, mesmo assim, se manteve entre os ponteiros. Não por muito tempo. Alguns também caíram na armadilha...

Foto: Getty Images
Logo ele. No mesmo ponto. Mesmo com Safety Car, Hamilton bateu. Como estava na cara dos boxes, cortou o caminho de forma insegura e foi para o pit. A Mercedes não estava preparada e bateram cabeça, literalmente. Mais de 30 segundos parado. Tinha uns caras de boina (outra ação comemorativa dos 125 anos da Mercedes no final de semana) que só depois percebi que eram mecânicos. O clima de festa estava preparado, com homenagens e patrocínio da corrida. A consagração alemã estava ameaçadíssima. Entre perder um minuto e ser punido com cinco segundos, Hamilton optou pelo lógico. Teve que remar tudo de novo. Tentou, mas rodou, bateu e caiu para o fim do grid, atrás até mesmo das Williams.

Outro que desperdiçou, mais uma vez, a chance de finalmente brilhar foi Nico Hulkenberg. É impressionante como as coisas parecem afeição dele e o alemão se borra e estraga tudo. Definitivamente não vai fazer pódio nunca, não tem jeito. Uma pena que perca tantas chances assim. 

Com a batida de Hulkenberg, ainda faltavam umas 15 voltas. Com o SC um bom tempo na pista, ela foi voltando a secar. Os ponteiros não queriam arriscar muito porque era reta final. Já quem estava atrás... 

Stroll e Kvyat botaram os macios e tacaram o foda-se. Não tinham nada a perder. Logo que a corrida reiniciou, ficou claro que era preciso botar os pneus de pista seca. E, com todo mundo nos boxes, os dois assumiram a liderança faltando umas 10 voltas! Stroll e Kvyat! Inacreditável! O canadense, por mais fraco que seja, parece capitalizar nas situações caóticas, sobretudo na chuva. Max, que tinha uma boa vantagem, conseguiu voltar próximo e rapidinho retomou a liderança. Bottas estava em quarto, pressionando Stroll, até que bateu. Incrível. Além de não conseguir passar o riquinho, o finlandês simplesmente bate de forma vergonhosa e perde a chance de tirar alguns pontos em relação a Hamilton. Não que fosse voltar a briga pelo título, mas enfim. A reação de Toto pode implicar em mudanças. Bottas pode ter escrito o seu fim na Mercedes.

Vettel, que ficou 40 voltas atrás da Alfa Romeo de Kimi Raikkonen, aproveitou o novo Safety Car para colocar pneus mais novos. Com o grid realinhado, foi questão de tempo para galgar as posições e chegar em segundo porque Max já havia se mandado para vencer pela sétima vez. Kvyat precisava deste resultado. A corrida foi a síntese da carreira: cheia de altos e baixos, de demitido duas vezes para recontratado em dois anos, o russo consegue o segundo pódio da história da Toro Rosso! O agora papai (cuja mãe é Júlia Piquet, filha do Nelson) deu um passo importante para a retomada da confiança e coroa uma temporada segura neste retorno cheio de desconfianças. De quebra, viu Gasly ficar atrás das duas Toro Rosso e ainda bater pateticamente ao tentar ultrapassar Albon. Parece que depois das férias o futuro do francês é o rebaixamento para Toro Rosso, lugar onde Kvyat parou depois de ser preterido por Verstappen. Que pódio é este, composto por três membros da academia Red Bull!

Foto: Getty Images

Para Vettel, um segundo lugar enganoso, onde teve a competência de não cometer erros mas não soube se sobressair. É estranho falar isso de alguém que não treinou e chegou em segundo largando de último. Enfim, que seja um pequeno passo mas muito importante para a retomada de confiança de Sebastian, justamente onde a perdeu no ano passado.

Coube ao rico um quarto lugar, o melhor da Racing Point no ano, fato que geralmente Pérez é o responsável. Difícil ser hater do canadense hoje. Carlos Sainz foi outro que teve altos e baixos. Caiu para último após rodar, voltou para a prova graças as circunstâncias e fica numa ótima quinta posição. Albon, ofuscado por Kvyat mas igualmente muito bem, o sexto.

Agora voltamos para o torque da embreagem na largada. Foi isso que desclassificou a dupla da Alfa Romeo. Segundo o Globoesporte.com, "os comissários detectaram que o torque na embreagem de ambos na largada não correspondia ao exigido pelo regulamento, com a liberação da embreagem tendo sido feita em 70 milissegundos, enquanto o estipulado é de 300 milissegundos.

Pelo entendimento dos comissários, essa infração pode ser comparada com uma queima de largada, o que deu uma vantagem em potencial. A decisão foi dar aos dois pilotos uma penalidade de dez segundos num pit stop, que, sem ter sido feito, foi convertido a 30 segundos somados aos tempos finais de Raikkonen e Giovinazzi na corrida."

Sendo assim, pasmem, a dupla da Haas herdou as posições, mesmo com ambos fazendo de tudo para abandonar pois se tocaram de novo. Diante do caos total, Hamilton é um sortudo até quando tem azar: subiu para nono e em décimo ficou Kubica, responsável pelo primeiro ponto da Williams no ano e o primeiro do polonês desde Abu Dhabi 2010, sendo assim o piloto que teve maior diferença entre datas de pontuação: quase nove anos.

Mesmo diante da desgraça, Hamilton sai com mais dois pontos de vantagem em relação a Bottas. A Mercedes, sortuda no sábado, teve a lei do retorno no domingo. Acredito que, depois de hoje, homenagens, pinturas especiais e boinas não estarão no centro das discussões.

Mais uma vitória da Honda, com dois pilotos no pódio. Que karma para a fênix...

Para Verstappen, a confirmação de que ele é o futuro da categoria e só precisa de um carro; para Vettel, um possível renascimento, assim como Kvyat;

O GP da Alemanha é uma das melhores coisas que já aconteceram na década. Viva a chuva, viva as áreas de escape!

Confira a classificação final do GP da Alemanha:


Até!


sexta-feira, 26 de julho de 2019

CALOR E CHUVA?

Foto: Getty Images
Hockenheim registrou hoje a maior temperatura durante uma sessão nesta temporada. 37 graus, em pleno início de verão europeu. Hockenheim está fervendo. Nestas condições, a Mercedes apresenta problemas. Foi assim na Áustria, onde já estava quente. Em voltas rápidas, são superados pela Ferrari. No entanto, mesmo assim, os stints de corrida são melhores. Os italianos têm um sério problema com o alto desgaste dos pneus, o que provocou de certa forma a derrota de Leclerc em Spielberg.

A previsão, apesar do calor, é de chuva. Todavia, como sabemos, previsões metereológicas dificilmente se confirmam na Fórmula 1. Por incrível que pareça, a chuva seria melhor para Mercedes, pois com temperaturas mais baixas o carro é capaz de render o máximo sem precisar poupar tudo visando evitar alguma quebra.

Max Verstappen sempre vai tentar tirar aquele coelho da cartola enquanto a Red Bull não lhe dá condições de brigar por vitórias de uma forma mais consistente. Enquanto isso, Pierre Gasly segue acabando com a paciência do exigente Helmut Marko: batida no fim do TL2 para se pressionar mais ainda na equipe. Por mais que não tenha um substituto óbvio a curto-prazo, nunca duvide do poder do caolho de incinerar jovens talentos lançados para o abatedouro.

Foto: Getty Images
No pelotão intermediário, a briga encarniçada de sempre. Resta saber se a Haas, em crise, consegue reagir. Pelo que fala Gunther Steiner, é apenas questão de tempo para oficializar uma troca ainda para esta temporada. Surpreendente, a McLaren pode continuar bem o seu processo de reestruturação, enquanto Racing Point, Renault e Alfa Romeo buscam as migalhas. A Williams, infelizmente, nem no texto tem espaço, imagina nas corridas.

Esperamos que se a chuva vier ela não atrapalhe com suas 54534 voltas de Safety Car ou que beneficie a Mercedes. É estranho escrever, mas a F1 vive um bom momento, mesmo sabendo que Hamilton deverá vencer de novo, e pela quinta vez em solo alemão. Que isso não seja quebrado.

Confira a classificação dos treinos livres:



Até!