segunda-feira, 5 de agosto de 2019

DIMENSÕES

Foto: Getty Images
O último GP antes das férias da Fórmula 1 deixou um gostinho de quero mais e mostrou a reação da categoria ao adentrar no calendário tradicional europeu em substituição aos chatíssimos tilkódromos. Talvez aí possa estar uma solução para o futuro.

O travado GP da Hungria não permite muitas ultrapassagens, mas é bonito olhar as estratégias, o xeque-mate, a disputa por posições. Max Verstappen e Lewis Hamilton sumiram, travaram um duelo particular, anos-luz a frente do resto. Esta é, portanto, a primeira dimensão.

Max segurou Lewis o quanto pode. No primeiro stint, a vantagem nunca passou dos três segundos. Com os compostos duros, Hamilton tentou atacar, mas o holandês se defendeu bem. A parte da estratégia percebeu que, diante da distância dimensional que existia em relação ao resto, era possível colocar os pneus macios e tirar a vantagem contra o desgastado pneu duro dos taurinos no fim. E foi exatamente o que aconteceu.

Com o grande talento que tem, Hamilton foi fazendo volta mais rápida atrás de volta mais rápida, tirando rapidamente uma vantagem que parecia impossível de ser alcançada. Verstappen tentou responder para quebrar mentalmente o inglês, mas parece ter desgastado o que sobrou dos "neumaticos".

No início, a impressão era óbvia: a Red Bull poderia ter parado imediatamente depois e, com pneus novos, poderia segurar a vitória. No entanto, depois entendi que a vantagem seria pequena e, com um novo composto, talvez Hamilton já voltasse a frente ainda na parada dos boxes e não teria disputa. Max não vence mas mostra, mais uma vez, o aprimoramento enquanto piloto, cada vez menos salvagem, cada vez mais cerebral. A primeira pole era o que faltava, mas é claro que perder faltando três voltas depois de liderar quase toda a corrida não deixa de ser frustrante. Crueldade, agora com o holandês.

Foto: Getty Images
Na segunda dimensão estava a Ferrari, um minuto atrás mais precisamente. Impressionante o "downgrade" daquela que consideravam a favorita no início da temporada. Uma corrida tranquila e melancólica. A exemplo de Verstappen-Hamilton, a Ferrari pode fazer estratégias diferentes com seus pilotos. Vettel, superado o final de semana todo, apostou em um stint maior para terminar com os macios. Conseguiu ultrapassar Leclerc, desgastado com os pneus duros, também na reta final e conquista um pódio um tanto quanto recompensador mas sem brilho coletivo, talvez pessoal. Já Leclerc de novo "morre na praia", uma outra "crueldade". Ele mesmo disse em entrevista que talvez precise administrar melhor os pneus, sobretudo os traseiros. Só assim para evitar mais decepções nas retas finais das corridas.

Na terceira dimensão estava Carlos Sainz Jr, que mal aparece nas corridas mas é um piloto extremamente competente, veloz e tudo aquilo que uma equipe de meio de tabela precisa: um acumulador de pontos. Tá guiando o fino com a McLaren Renault e com ela o espanhol segurou Gasly quase a corrida inteira para chegar em quinto. Sainz teve uma certa badalação por ser filho de uma lenda do rally, mas nos monopostos está vivendo um momento muito bom depois de alguns anos turbulentos no fim da Toro Rosso e na Renault. Para Gasly, o mesmo de sempre: a cada corrida que passa, a moral fica pior e a confiança quase que inexiste. É cruel ser companheiro de Verstappen. O matadouro está sendo ligado...

A quarta dimensão teve, posso escrever, Kimi Raikkonen voltando a pontuar e carregando a Alfa Romeo e Valtteri Bottas. Largou mal, foi ultrapassado por Hamilton e danificou o bico com um "chega pra lá" desnecessário do Leclerc que não teve punição. Além do mais, demoraram a chamá-lo para os boxes e voltou no fim do grid. Com o carro esquentando ao ficar sempre colado nos carros mais lentos, a Mercedes não tem mais aquela dominância nas retas e o finlandês perdeu boa parte da estratégia colado em Ricciardo, no fim das contas o oitavo lugar foi o que dava. No entanto, fica claro que, a exemplo de Gasly, os dias do finlandês nas flechas de prata está com os dias contados.

A quinta dimensão finaliza com Lando Norris trazendo bons pontos para a McLaren, que se consolida como quarta força, e mais uma daquelas provas onde Albon aparece do nada nos pontos. O tailandês faz uma estreia segura na categoria e já é candidato para futuro companheiro de Max Verstappen. A Renault é uma decepção. Quanto mais dinheiro, menos resultados. É um crime Ricciardo ser um coadjuvante, mesmo que hoje tenha aparecido bastante, disputando e defendendo posições. Azar na pista, muita grana no bolso pelo menos.

Hamilton vai ser hexa. No entanto, parece que a Red Bull (ou melhor, Verstappen) virou a segunda força da F1 e pode nascer aí um embate interessante para o segundo semestre. Para o título não tem como, mas é admirável perceber que os taurinos estão podendo competir além das condições anormais de temperatura e pressão. A F1 encerra uma sequência de boas corridas, sempre com a expectativa de que algo acontecia na mãe das pistas sagradas Spa Francorchamps, mas isso é assunto para daqui um mês, infelizmente.

Confira a classificação final do GP da Hungria:


Até!

Um comentário:

  1. A RBR já passou a Ferrari, mas a ruindade do Gasly nao deixa isso tão claro

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