domingo, 10 de abril de 2022

AVASSALADOR

 

Foto: Peter J. Fox/Getty Images

Fazia tempo que não via a Ferrari dominar uma corrida do início ao fim sem ser incomodada, sem correr riscos. Desde os tempos de Schumacher e também os dois anos que Massa e Raikkonen brigaram pelos campeonatos, em 2007 e 2008. Nem mesmo o Safety Car e a rápida ameaça de Max foram algo digno de algum drama.

Charles Leclerc vence a quarta corrida na carreira e a segunda no ano, liderando de ponta a ponta e fazendo a volta mais rápida, além da pole. É um início avassalador. Ele não dá chances a ninguém. Como Galvão Bueno sempre fala: o piloto bom é aquele que na hora decisiva mostra o que sabe. Leclerc, desde o surgimento, sempre foi um prodígio. Agora, maturando, parece mais próximo do que imagina para encontrar a glória eterna (além da Libertadores, é também a F1).

O contrário é Carlos Sainz. Fui um dos que bradou aos quatro cantos que o espanhol seria páreo duro por ter temporadas consecutivas de excelência. De novo, como diz Galvão: "fazer graça no meio do grid é fácil, difícil é ter consistência na pressão de disputar um campeonato". Sainz teve um péssimo final de semana. Teve azar no sábado e no domingo errou, ficou fora. O espanhol vai sentir ainda mais a pressão de ser Ferrari porque agora menos que a dobradinha será considerado um fracasso. 

Sainz antecipa um drama que a Ferrari "viveria": no fim das contas, o espanhol será o escudeiro de Leclerc. Não aproveitou a chance e, mesmo em três corridas, pode-se escrever que é tarde para alcançar um talento como o monegasco.

A dificuldade também está no carro número um. Max Verstappen. Brigando com o bólido, tentou de tudo para pressionar Leclerc mas não há carro suficiente para a briga. E nem motor ou combustível. Com dois abandonos em três corridas, a Red Bull sofre com a confiabilidade e pode ficar fora da briga mais cedo que imaginava. Numa F1 que quebrar é raro, 36 pontos a menos é um pecado. Dá tempo de recuperar? Com a Ferrari nesse nível, começa a parecer improvável, mesmo que falte vinte corridas. Aposto que Adrian Newey lembra desse carro da mesma forma que lembra a McLaren de 2005: velozes e inconfiáveis.

Por outro lado, Pérez parece mais competitivo e conseguiu o primeiro pódio no ano. Está mais perto de Verstappen e parece ser mais importante para o time nesse ano, além de mais ajustado ao novo carro. Um piloto muito útil. 

A Mercedes parece muito distante nas voltas lançadas pelo motor deficitário de potência e a dificuldade em aquecer os pneus, mas o ritmo de corrida é consistente. Os pneus duram mais, ao contrário da Red Bull, o que permitiu disputas com Pérez. A Mercedes não está no meio do pelotão e sim estabelecida como terceira força. Se a Red Bull e Sainz bobearem, eles estarão lá. Foi o caso. Russell teve sorte de um Safety Car surgir e conseguiu o primeiro pódio em uma corrida, superando Hamilton que tinha ritmo superior. O caminho é longo, mas os alemães estão na briga, hein? Não descartem eles!

A McLaren evoluiu desde a segunda etapa e retomou o padrão do ano passado. Norris foi perfeito e Ricciardo fez os primeiros pontos no ano diante da massa australiana. Entra de vez no bolo do pelotão intermediário, buscando os ajustes no decorrer da temporada. É uma parada dura, mas hoje foi um sinal positivo de reação.

Esteban Ocon foi regular e mesmo assim é o cara que traz pontos para a casa na Alpine. Dessa vez a culpa é da ex-Renault e a crueldade que fizeram com Don Alonso, o injustiçado do final de semana. Brigaria pela pole até o carro apagar. Uma estratégia equivocada de demorar a parar fez o espanhol desperdiçar uma grande oportunidade. Carro tinha, faltou visão e confiabilidade, menos para o francês.

Bottas conseguiu dois pontos importantes para a Alfa Romeo mas o nome da corrida foi Alexander Albon. Em uma estratégia quase suicida, conseguiu render 57 voltas com o pneu duro, parando na última e garantindo o décimo lugar, largando de último! Soube se beneficiar das circunstâncias da corrida, no agitado e remodelado Albert Park (viva as britas! mesmo mais rápida, ainda é difícil ultrapassar por lá, mas é um circuito belíssimo!) e traz um ponto importante para a Williams.

Fica cada vez mais claro que Latifi não consegue domar os carros da nova F1, assim como Stroll. Duas chicanes ambulantes. Não é surpresa, mas são os dois que bancam as equipes que guiam, então reclamar não vai adiantar nada.

Definitivamente a pior equipe do grid é a Aston Martin. Não adianta investimento maciço se não for nas áreas certas. Vettel estreou na temporada e parecia ainda com sequelas do covid, brincadeiras à parte: bateu o final de semana todo. Faz tempo, mas nem parece que o alemão é um tetracampeão mundial. Inacreditável o processo de decadência estabelecido pelo alemão. Virou uma chicane ambulante, quando Galvão falava sobre Villeneuve e Coulthard no final da carreira. Assim como Stroll, só sai quando quer, porque é acionista, mas vou dar um desconto: estreando e se recuperando da covid, Vettel precisa de tempo.

A Ferrari e Charles Leclerc começam o ano num ritmo avassalador, sem brechas para a concorrência. Com a Red Bull inconfiável e a Mercedes ainda distante de uma briga igualitária, pode parecer precoce mas a sensação é que os italianos talvez estejam mais próximo do ouro do que eles imaginavam...

Confira a classificação final do GP da Austrália:


Até!

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