segunda-feira, 30 de abril de 2018

CAIU DO CÉU - PARTE 2

Foto: Getty Images
É, sem dúvida nenhuma, o início de temporada mais discreto de Lewis Hamilton desde 2013, quando chegou nas flechas de prata. Também coincide com a primeira vez na era híbrida onde a Mercedes não é dominante. Pelo contrário, está levemente inferior a Ferrari. Sendo assim, o tetracampeão está sendo apenas burocrático, chegando onde é possível e contando com a famigerada sorte. Se na Austrália ela lhe faltou, não é o que pode ser dito nas duas últimas etapas. Graças a acidentes, erros e azares alheios, Lewis Hamilton encerrou um jejum de seis provas sem vitória, levou os alemães para a primeira vitória no ano e assumiu a liderança do campeonato, mesmo com o carro inferiorizado. O que mais chamou a atenção depois da corrida foi a solidariedade com o companheiro Bottas, que era quem mais merecia ganhar, fato este reconhecido pelo tetracampeão.

Isso tudo possível por quatro atos que se desencadearam nas últimas 15 voltas. Antes, um adendo: de novo a corrida só foi boa porque teve um Safety Car, o que embaralhou tudo. Como escrevi antes: parece a Indy, o que é bom, mas a corrida depender de um acidente ou bandeira amarela sempre para ter relevância é preocupante.

 A explosiva dupla da Red Bull estava se estranhando desde o início. Ricciardo e Verstappen brigavam pelo quarto lugar. Max fazia o jogo duro de sempre, espalhando e não dando espaço. Daniel respondia, até que uma hora acabou passando. Como estava na frente, era lógico que fosse o primeiro a parar. Mais ou menos. Os supermacios estavam realizando voltas mais rápidas. O #3 foi o primeiro a parar e acabou voltando atrás de Verstappen.

Por quê a melhor estratégia daquele momento foi passada para o holandês? Lá foi Ricciardo remar tudo de novo. Sempre cirúrgico, tentou "driblar" Max, que acabou mudando de direção duas vezes, o que não é permitido. Sem ter para onde fugir, a batida foi inevitável, à la Istambul 2010 com Vettel e Webber. Mais pontos perdidos em uma disputa interna. Mais uma vez Max envolvido e (meio) culpado pela situação. Ricciardo também errou, e os dois foram duramente criticados interna e externamente. Quem sabe isso não possa ter desdobramentos para a permanência (ou não) do australiano ano que vem?

Foto: Getty Images

Ato número 2: a corrida já estava na reta final. A liberação do Safety Car faria com que houvesse uma disputa desenfreada nas voltas finais. Poderíamos ter mais, de fato, se não fosse o bisonho Romain Grosjean ter conseguido a proeza (mais uma) de bater durante o Safety Car. Até Prost já fez isso... mas o que impressiona é a sequência de erros juvenis do pseudo francês (é suíço) em um ano crucial da carreira. Perdeu mais pontos importantes para a Haas no campeonato e impediu mais voltas de briga na corrida, fazendo o Safety Car ficar mais tempo na pista. Não contente em ter feito outra cagada, Grosjean acusou Ericsson (?) de causar tudo e ainda deu piti nos boxes. Tá sentindo a pressão de quem sabe que pode estar jogando a última chance pela janela. Pra quem conseguiu bater na volta que levava o carro pro grid, é possível esperar de tudo. Aliás, Grosjean será o assunto do texto de amanhã aqui.

Foto: Getty Images

Ato número 3: Bottas aproveitou o Safety Car para fazer o pit stop e voltar a frente de Vettel. A Ferrari, de novo, errou na estratégia. Fez a parada cedo, quando Seb tinha 7 segundos de vantagem para Hamilton, que parou mais cedo porque estragou os pneus em um erro. A impressão é que marcaram apenas o inglês porque ele é o adversário direto, e talvez imaginaram que Bottas faria o papel de escudeiro tal qual Raikkonen. Não foi o caso. Com pneus novos e líder, Vettel via outra corrida com boas chances de vitória indo pelo ralo.

O caminho natural seria administrar e, na pior das hipóteses, garantir o segundo lugar e aumentar a vantagem para Hamilton? O tetracampeão não pensou assim e, na relargada, forçou demais ao tentar ultrapassar Bottas e caiu para quinto, superado na sequência por Hamilton, Raikkonen e Pérez. Faltou inteligência para Vettel. Um campeão de sua estirpe deveria ter administrado a situação, pensado no macro. Optou por tentar vencer, o que obviamente não é errado, mas correu muitos riscos. Perdeu o pódio, a vitória e a liderança do campeonato em duas corridas onde tinha condição para vencer ou chegar em uma posição melhor do que ficou.

Foto: Reprodução
Ato número 4: com o erro de Vettel e Hamilton com um pneu bastante desgastado, faltavam três voltas para consagrar Bottas como vencedor e, com aqueles resultados, líder do campeonato. Vitória magnífica e incontestável. Até que o finlandês passa por cima de um detrito, não retirado da pista pelos comissários, o que causa um pneu furado... e assim acabou todo o esforço de quem, desde o erro no treino da Austrália, vem fazendo uma grande temporada. Se continuar assim, o #77 tem boas chances de continuar nas flechas de prata e exorcizar a ameaça Ricciardo. O abatimento foi tão grande que o finlandês chorou ao sair do carro e prometeu beber até cair para esquecer desse final de semana. É o que todos nós fazemos, sem precisar necessariamente passar por uma experiência traumática dessas. Ou coisas piores, até. Saúde, Bottas! O jeito burocrático de Raikkonen o premiou com um segundo lugar. Até ele está andando melhor que o ano passado, mas para uma Ferrari isso é muito pouco, ainda mais pelo seu já longínquo histórico na F1.

Foto: Reprodução
Menções honrosas: Checo Pérez! Escrevi sobre ele essa semana. Mais um fim de semana onde ele mostra que poderia estar em uma equipe de ponta, se tivesse regularidade e um carro compatível. Em Baku, deu tudo certo: sobreviveu aos incidentes de largada (ao contrário do companheiro Ocon, tocado por Raikkonen)e, ao parar cedo, conseguiu subir posições conforme os acontecimentos da prova. Ele era o único com supermacio, e foi assim que passou Vettel de forma linda. Em um circuito onde o motor Mercedes faria a diferença, o mexicano capitalizou pontos importantíssimos para a equipe indiana nos construtrores: 15 x 1 contra o francês, mas é evidente que isso não reflete a capacidade de ambos. Entretanto, mais uma vez ficou claro: Pérez sempre vai aproveitar a oportunidade que tiver, não interessa como.

Foto: The Chequered Flag


Charles Leclerc e seus primeiros oito pontos! Brilhante sexto lugar. Já tinha feito um grande trabalho ao passar para o Q2. Subindo posições, conseguia se sustentar em oitavo. Na relargada, chegou a brigar pelo quinto lugar com Sainz, mas o sexto já era demais. Importante na disputa direta contra Ericsson e na briga da Sauber pelos construtores. O monegasco pode ter começado a pavimentar sua evolução na carreira aqui, logo na quarta etapa de sua primeira temporada. O piloto do dia!

Foto: LAT Images
Ah, Alonso... é um privilégio vê-lo desfilar todos os domingos! Pena que faz tempo que não briga lá na frente... hoje na largada teve os dois pneus avariados por Sirotkin, ficou se arrastando e batendo no muro pra chegar aos boxes aos trancos e barrancos para fazer os reparos, voltar para a corrida e pontuar. Sim, apesar disso ter sido ocasionado somente graças aos abandonos e ao Safety Car, Don Alonso conseguiu pular com maestria para o sétimo lugar, e ali ficou. 28 pontos com uma McLaren por enquanto claramente inferior a Renault e Haas. Para a alegria dos bons, deixando em êxtase aqueles que acompanhavam o grande prêmio.

Foto: Reprodução
Para completar: Sainz finalmente estreou em 2018 pela Renault. Bom quinto lugar para reagir e ver se engrena na temporada. Hulkenberg, ao contrário de Pérez, sempre desperdiça as chances quando elas aparecem na F1: mais um erro bobo ao bater no muro e perder bons pontos, incluindo talvez um pódio. Ocon não é diferente. É jovem, é talentoso, é constante, mas na hora do "vamos ver", por enquanto, vem se mostrando errático. Vandoorne conseguiu dois pontos que não merecia - está bem abaixo de Alonso - e precisa ter cuidado com um certo Lando Norris. Até Hartley conseguiu chegar aos pontos, meio décimo à frente de Ericsson!

Ah, Stroll foi o oitavo. Foi bem, marcou os primeiros pontos. Mesmo assim, ainda bem, a Williams segue em último nos construtores! Veremos se irão deixar Sirotkin ultrapassá-lo na tabela (e se o russo colaborar também).

Confira a classificação final do Grande Prêmio do Azerbaijão:


A F1 volta em duas semanas com o Grande Prêmio da Espanha, em Catalunha, nos dias 11, 12 e 13 de maio.

Até!

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