terça-feira, 24 de agosto de 2021

MISTÉRIOS (DES)MASCARADOS

 

Foto: Getty Images

Hoje começam as Paraolímpiadas de Tóquio. Nas últimas semanas, sobretudo também pela realização dos jogos olímpicos no Japão, o país teve um aumento muito grande no número de casos e mortes decorrentes da Covid-19. Em virtude disso, e pelo país estar em estado de emergência, não teremos Grande Prêmio do Japão pela segunda temporada consecutiva.

A decisão não é surpreendente. Rejeitado pela população, os jogos olímpicos só aconteceram pelos contratos amarrados, onde não fazer seria muito mais danoso financeiramente do que a realização das Olímpiadas. Agora, a F1 precisa preencher a lacuna em pouco tempo, pois a prova estava marcada para o dia 10 de outubro.

Na contramão da história, neste final de semana a Bélgica vai colocar 75 mil pessoas em Spa Francorchamps, sem obrigatoriedade de distanciamento e/ou máscaras. Por quê? Na Bélgica, há o "Corona Safe Ticket", onde as pessoas precisam mostrar a comprovação de vacinação com segunda dose duas semanas antes da corrida, teste PCR negativo ou um certificado que comprove a infecção nos últimos seis meses.

Cada caso é um caso, mesmo que seja bem extremo. Apesar de termos lotação máxima na Inglaterra e na Hungria, pela primeira vez em muito tempo que teremos uma liberação total na F1, por isso não se estranhem com as imagens das arquibancadas.

O GP da Bélgica será realizado diante de estranhas circunstâncias. Ultimamente, o circuito tem lidado com tempestades e inundações, sem contar que já faz dois anos do acidente fatal de Anthoine Hubert na F2. Apesar disso, também há motivo para ter lembranças positivas: há 30 anos, Michael Schumacher estreava na F1 em solo belga. Eu já contei essa história bem aqui. Agora, será a vez de Mick Schumacher. Como sempre, um momento emocionante e significativo.

No entanto, há ainda mais circunstâncias sombrias e tristes que pairam essa corrida. Tudo porque, há duas semanas, Nathaile Maillet, 51 anos, CEO do circuito, foi assassinada junto da companheira Ann Lawrence Durviaux pelo ex-marido, o ex-piloto Franz Dubois, que depois se matou, na cidade de Gouvy, distrito de Luxemburgo. Um duplo feminicídio, portanto.

No início, a história parecia de certa forma "justificar" o ato ou até mesmo lembrar de Euclides da Cunha, mas às avessas: o homem chega em casa e encontra, de surpresa, a esposa com uma outra mulher e decide matá-las e depois a si mesmo pela "honra", o que antigamente seria chamado de "crime passional".

No entanto, relatos da amiga nos dias seguintes desmentem tudo isso. Nathaile e Franz estavam em processo de divórcio e o relacionamento com Ann Lawrence, advogada, não era surpresa para ninguém. As duas estavam juntas há algum tempo e, inclusive, elas e Franz se reuniram num restaurante na noite do crime.

A motivação de tudo isso seria financeira em virtude do divórcio. As duas partes não se entendiam e, depois do restaurante, Franz saiu primeiro do local e chegou na antiga casa depois para matar as duas e depois se matar antes da chegada da polícia.

Nathalie Maillet era CEO de Spa Francorchamps desde 2016. Graças aos esforços dela, o circuito passou a receber diversas provas de rali e outras modalidades do automobilismo além da F1 e dos carros de turismo. Spa foi homologada perante a Federação Mundial de Motociclismo e vai receber no ano que vem as 24 Horas de Spa para motos.

Nathalie era de uma família de pilotos mas era arquiteta de formação, apesar de ter vencido corridas na Fan Cup, em 2006. 

Curioso como a FIA vai se portar perante a esse caso, mesmo que aparentemente ele esteja resolvido diante da morte de todos os envolvidos. No entanto, em um momento onde todos ficam assustados com o retorno do Talibã mas reproduzem, mesmo que involuntariamente, preconceitos e agressões diárias as mulheres (seja verbal ou físico), a morte de uma mulher que estava em uma posição de poder no automobilismo reforça que, infelizmente, esses direitos precisam estar permanentemente sob luta e vigia para que não se percam em todos os âmbitos.

O mundo pode até mudar, mas é sempre preciso estar atento contra as forças retrógradas que veem tudo isso como uma ameaça ao "poder" e querem manter tudo do jeito que está, sem o menor pudor de utilizar a força, a desproporção e a covardia para isso.

Até!

terça-feira, 17 de agosto de 2021

ANÁLISE PARCIAL DA TEMPORADA: Parte 2

 

Foto: Getty Images

Olá! Agora vamos com a parte final das análises dos pilotos nessa metade de temporada da F1!


Foto: Getty Images

Charles Leclerc – 7,5: Um piloto muito rápido. Poucos conseguem extrair do carro o que o monegasco consegue, não a toa conseguiu a façanha de fazer dois poles seguidas com essa Ferrari. No entanto, por ser muito rápido, explora e também passa dos limites, como em Mônaco, além de estar sendo um “ímã” de acidentes. Um pouco de azar. Falta mais equilíbrio para Leclerc, mas essa agressividade pode ser aproveitada enquanto a Ferrari não dá um carro competitivo.

Carlos Sainz Jr – 8,0: Sainz é um piloto constante. A evolução do espanhol na F1 se pauta nesse ritmo. Não é o mais rápido, mas compensa  em um ritmo de corrida excelente. Enquanto Leclerc é mais “showman”, o espanhol come pelas beiradas e é igualmente eficiente. Quem esperava um vareio do monegasco no campeonato se enganou. Se as circunstâncias ajudarem, Sainz vai aproveitar. Erra pouco, embora ainda erre. É tudo o que a Ferrari esperava, com o adicional de ser mais barato que o tetracampeão. Está no caminho certo.

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Pierre Gasly – 7,5: A Alpha Tauri baixou de nível, o que prejudica o francês na briga por melhores posições. Apesar disso, conseguiu mais um pódio. O francês, para ser sincero, precisa olhar mais para o futuro fora da equipe do que qualquer outra coisa. Gasly conseguiu dar a volta por cima. Agora, precisa encontrar um lugar que lhe permita o próximo passo, pois a Red Bull não o quer e a Alpha Tauri está ficando pequena para isso.

Yuki Tsunoda – 6,5: O japonês começou com tudo no Bahrein, mas depois sofreu de uma oscilação normal, tanto pela idade, inexperiência e também a diferença entre a F1 e a F2. Nunca é demais lembrar que Tsunoda tem apenas 19 anos e mal se preparou para o desafio. Está batendo demais e já leva reprimendas, mas o japonês, além de precisar melhorar imediatamente, necessita de tempo e paciência. Qualidade ele já mostrou, o desafio agora é deixar a maturação acontecer.



Kimi Raikkonen – 6,5: Com mais de 40 anos, os reflexos não são mais os mesmos. O acidente com Vettel pode ser considerado um sinal de alerta. Apesar da velocidade natural também não ser a mesma, o ritmo de corrida equilibra tudo com Giovinazzi. Raikkonen é daqueles casos que decide quando e onde parar. Já passou do auge mas ainda não é uma chicane ambulante. Deixem o homem de gelo em paz!

Antonio Giovinazzi – 6,5: É um piloto que já poderia estar fora do grid mas apresentou evoluções, embora sempre na hora H parece que falta ou acontece algo. O italiano é mais veloz que Kimi, mas não corresponde na corrida por vários fatores. Apesar do carro não ajudar, a verdade é que Giovinazzi não explodiu conforme o imaginado depois da GP2. A impressão que fica é que espera a chegada de alguém superior vindo da academia da Ferrari, e apenas uma arrancada na segunda metade do ano pode impedir isso.


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Mick Schumacher – 6,5: Com a Haas, não há muito o que exigir. Está sendo muito mais rápido que Mazepin e é isso. O alemão está batendo demais nos treinos, o que é aceitável até um certo ponto. Na Hungria, mostrou ser um piloto combativo, que briga o quanto pode para se defender, mesmo que o carro não permita. A Haas é um laboratório para que Mick consiga escalar montanhas antes de, quem sabe, chegar a Ferrari. Para isso, precisa bater menos.

Nikita Mazepin – 5,0: Era óbvio que não deveria estar na categoria, não tem nível para isso. As batidas, trapalhadas e deslealdades não são novidade para ninguém. Ao menos parou de rodar sozinho e está batendo menos do que se imaginava. É apenas isso o que dá para escrever.


Foto: Getty Images

George Russell – 7,0: Que Russell precisa de um carro melhor, todo mundo já sabe. Passando para o Q2 com facilidade, o inglês é o futuro da categoria. Na Hungria, finalmente exorcizou o fantasma dos pontos pelo time de Grove. No entanto, há um “problema”: na hora decisiva, Russell parece ser azarado ou não corresponde a pressão, seja justamente por problemas alheios ou erros. De novo, corre risco de perder na tabela para alguém muito inferior, e isso pega mal. Na Mercedes, se for para lá, vai ser o caçador e não a caça. No entanto, o mais difícil ele já está fazendo: elevando a Williams a um patamar mais competitivo.

Nicholas Latifi - 6,5: o simpático canadense tem o benefício da dúvida. Já se sabia que ele está aí pelo dinheiro do pai, mas pelo menos salvou a Williams do fim. Na pista, não faz feio: não é demérito algum ser superado por Russell. Não se envolve em acidentes, erra pouco e fica na frente da Haas. Na Hungria, foi premiado com uma pontuação importante, acima do badalado companheiro. Latifi não incomoda ninguém e ainda ajuda uma equipe tradicional. Também não há muito o que comentar, mas isso não é um problema nesse caso.

Concorda? Discorda? Comente! Agora, resta torcer para que os dias passem mais rápidos para que possamos desfrutar da segunda metade da temporada, que promete ser ainda mais emocionante!

Até!


quinta-feira, 12 de agosto de 2021

ANÁLISE PARCIAL DA TEMPORADA: Parte 1

 

Foto: Getty Images

Olá!

Depois de 11 corridas em quatro meses, chegamos apenas a metade da temporada! Enquanto pilotos e funcionários descansam no verão europeu e se preparam para a metade final do ano, o blog faz a tradicional análise parcial dos pilotos sobre o que aconteceu na temporada até aqui.

Sem mais delongas, vamos com a primeira parte:


Foto: Getty Images

Lewis Hamilton – 9,0: O início de temporada parecia confirmar que o octa era questão de tempo. No entanto, com a chegada da Red Bull, pouco pode fazer e também acabou cometendo alguns erros. Embora não pareça, Hamilton já é um “veterano”, e alguns pequenos erros podem ser normais, apesar de alguém do currículo dele não estar habituado a isso. Se antes parecia burocrático e conformado, as duas últimas provas mostraram o contrário e nos lembraram porque alguém como Lewis é heptacampeão. Vai precisar estar nesse nível se quiser levantar o oitavo caneco.

Valtteri Bottas – 7,0: Acontece de tudo com o finlandês nessa temporada. Quando não erra bisonhamente, é vítima da própria equipe. Sendo condescendente, é no máximo razoável. Está de saída da Mercedes de forma melancólica. Nesta temporada, onde a Red Bull cresceu de fato, o escudeiro só apareceu para bater nas Red Bull na Hungria. Bottas está de aviso prévio. É difícil pedir ou encontrar motivação para alguém que precisa estar mais preocupado em definir o futuro do que encarar o presente já estabelecido.

Foto: Getty Images

Max Verstappen – 9,5: Verstappen deu um passo adiante. Antes correndo sem responsabilidade, agora o holandês está maduro em meio a primeira disputa real de campeonato. Os infortúnios que aconteceram não foram por sua culpa, pelo contrário. É da natureza selvagem de Max a agressividade e a imposição. Isso será importantíssimo para um possível sucesso no final da jornada, mas também é necessária maturação e equilíbrio, administrando e sabendo como agir conforme a situação.

Sérgio Pérez – 8,0: Uma montanha russa, como seria esperado. O segundo carro da Red Bull é muito complexo. Ninguém se dá bem por lá. Pérez começou devendo mas engrenou nas corridas seguintes, com destaque para a vitória no Azerbaijão e a briga na França. Depois, foi muito mal de novo e está fazendo falta para Max na briga do título. O mexicano foi contratado para isso. O desafio é encontrar esse equilíbrio e tentar ficar o mais próximo possível do holandês. Vai que sobre outra grande oportunidade igual Baku?

Foto: Getty Images

Daniel Ricciardo – 6,0: A decepção até aqui, dado o custo/benefício. É inegável que é um grande piloto, mas até aqui suas melhores atuações foram no máximo burocráticas. O sarrafo é alto porque Norris está fazendo uma temporada quase perfeita. Ricciardo é bastante lento em qualquer característica de circuito e essa é uma faceta que ninguém poderia imaginar. Pelo dinheiro e pela posição que ocupa, Ricciardo precisa reagir imediatamente. Talento não falta, mas é preciso fazer o encaixe.

Lando Norris – 8,5: Tirando Max e Lewis, é o grande nome do campeonato, não a toa é o terceiro colocado, superando Pérez e Bottas. Está perfeito. Ritmo de corrida e razoavelmente rápido nos treinos. Talvez precisa confirmar mais essa parte de agora em diante. Está tirando um “potencial campeão” para nada, como se fosse um mero iniciante. Norris encaixou bem com essa McLaren, que de passo em passo aos poucos volta para as primeiras prateleiras da F1. Se continuar sendo o melhor do resto, já será um passo extraordinário desse piloto que cada vez é mais realidade do que já foi uma promessa.

Foto: Getty Images

Sebastian Vettel – 7,5: O começo foi muito difícil, quase constrangedor. No entanto, Vettel reagiu rapidamente e justificou a contratação feita pela Aston Martin, de onde também é sócio.  Não é o piloto espetacular de antes  mas também não é o que vimos nos últimos dois anos de Ferrari. Com a experiência e aproveitando as oportunidades da pista que aparecem, lembrando os tempos de Toro Rosso, o alemão precisa aliar essas oportunidades com maior regularidade para que elas sejam devidamente capitalizadas.

Lance Stroll – 6,5: Bom, a Aston Martin desse ano é menos do que a de 2020. Natural que o desempenho caía, assim como a comparação com Vettel. Está sendo competitivo e de vez em quando surpreende. Quando a gente menos esperar, vai ter outro pódio. É assim que funciona com o filho do chefe.


Foto: Reprodução/Alpine

Fernando Alonso – 7,5: Também teve um começo complicado. Normal para quem completou 40 anos e estava dois ausente da categoria. Os reflexos e o ritmo desaparecem, ou então demoram para retomar. A partir de Baku, o espanhol retomou a categoria que todos conhecem e culminou na grande disputa com Hamilton na Hungria. Com a Alpine sendo uma quinta ou sexta força, resta a adaptabilidade e combatividade do bicampeão para tentar prosperar, mas está claro que ainda é um piloto de elite.

Esteban Ocon – 7,5: Estava vencendo Alonso, mas aí o espanhol terminou o aquecimento, o levou para águas mais profundas e o francês afogou, por não saber nadar e também por falhas do equipamento. Perder de Alonso, mesmo nessas condições, é normal. No entanto, a vitória da Hungria justifica porque o francês era tão badalado na base. Precisa de mais regularidade. Com a confiança que ganhou, pode muito bem progredir sem sustos e de contrato renovado por várias temporadas.

Essa foi a primeira parte da minha análise. Concorda? Discorda? Comente! Até!


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

ALERTA LARANJA

 

Foto: Crash

Já foi escrito por aqui que a adaptação a uma nova equipe na F1 é cada vez mais difícil. As referências e estilo de carro e pilotagem são muito particulares. Além disso, a quase inexistência de testes dificulta a familiaridade dos pilotos, pois esses basicamente apenas correm nos finais de semana e precisam recorrer ao simulador nas pausas dos GPs. 

Com tudo isso, é evidente que é necessário tempo - maior ou menor - dependendo de cada piloto em cada carro e a capacidade de adaptação. O risco de sermos injustos é enorme, igual a Red Bull com Gasly e Albon recentemente. Por isso que a situação chama a atenção nesse post.

Ricciardo recentemente saiu da Red Bull e apostou as fichas na Renault, buscando uma equipe garagista para ser o número um. Lá, teve um início cambaleante mas depois despachou Hulkenberg e Ocon.

Agora, na McLaren, teria outro jovem de potencial para encarar: Lando Norris, mas nada para quem já dividiu equipe com Max Verstappen. A mudança de equipe seria uma dificuldade natural, mas o que estamos vendo é algo completamente fora do previsto.

A verdade é que, até agora, são dois extremos: Lando Norris é o melhor piloto da temporada e Ricciardo um dos piores. Não parece que pilotam o mesmo carro, e não estou fazendo insinuações, até porque seria idiota. O australiano tem um dos maiores salários do grid. Corrida sim, corrida também, Ricciardo não só está mais atrás do britânico, mas muito atrás, tanto nos décimos quanto no ritmo de corrida. Até volta já levou.

Diante de tanta coisa que aconteceu na Hungria, me chamou a atenção que, apesar do carro avariado, a McLaren do australiano não conseguiu ameaçar as Williams e ainda foi passado por Verstappen, outro que estava sem condições. Mesmo com a punição de Vettel, nem assim Ricciardo esteve na zona de pontuação. 

Pode ser que o trunfo da McLaren e de Ricciardo seja a adaptação plena e completa em 2022, com um ano de time e com o novo regulamento em vigor. No entanto, não dá para ignorar o que está acontecendo até aqui. Não é normal, sobretudo porque Ricciardo não é um piloto barato, pelo contrário.

Ainda falta muita temporada, mas Ricciardo está sendo a decepção do ano e não está entregando aquilo que se espera. A McLaren não é a Red Bull, mas hoje também não é uma escuderia que se possa dar ao luxo de fazer investimentos infrutíferos como a contratação do australiano está sendo até aqui. Alerta laranja.

Até!

domingo, 1 de agosto de 2021

PULVERIZADO

 

Foto: Getty Images

Hungaroring pode proporcionar procissões ou corridas épicas de proporções impressionantes, como por exemplo a corrida de 2006 e de 2003, por motivos diferentes. Nas duas situações, a semelhança com hoje: a primeira vitória de jovens pilotos e também das equipes.

Em 2003, o hoje quarentão Fernando Alonso venceu de ponta a ponta a primeira da Renault em mais um dos retornos da equipe. Vinte anos depois, o espanhol foi preponderante para a história se repetir, na mesma equipe. Em 2006, Jenson Button venceu a primeira na caótica etapa que culminou na primeira vitória da Honda como equipe, também muito tempo depois do retorno.

Para chegar até o resultado, que mistura passado, presente e futuro, é preciso entender como tudo se sucedeu. A chuva que caiu uma hora antes mudou o panorama. Com a pista escorregadia, Valtteri Bottas largou mal e pode ter garantido um novo contrato, ou então o prêmio definitivo de escudeiro do ano.

Num efeito dominó, ele bate em Norris, que bate em Pérez, enquanto Bottas bate em Verstappen. A confusão toda fez Stroll, lá atrás, se chocar com Leclerc e culminar com o abandono de todos os envolvidos, menos o holandês e Ricciardo. Quando Max ficaria no mano a mano para caçar Hamilton, mais uma vez o destino lhe tira da corrida. Quem ria a toa era Hamilton, de novo com caminho livre. Se por um lado Bottas "ajuda" Lewis, por outro pode não ter assinado o contrato de renovação com os alemães.

Com bandeira vermelha e tudo, o que virou praxe, uma nova corrida. Com a pista mais seca, apenas Hamilton não parou com a saída do Safety Car, e isso custou caro. Quando foi, voltou no final do grid. Com o carro avariado e sem condição alguma, parecia uma forma de compensação para Verstappen reagir, mas não foi o caso. Na estratégia e com pneus melhores, lá foi Hamilton escalar o pelotão...

Com os abandonos e sem Hamilton, virou tudo uma grande salada. Boa parte da prova teve como top 3 Ocon, Vettel e Latifi! Sim, o canadense estava roubando a cena. Mais atrás, Sainz, Alonso, Gasly e Tsunoda. Num comboio com a dificuldade de passar e todos com o mesmo desgaste dos pneus, apenas estratégias diferentes no final poderiam fazer algum efeito.

Vettel ficou próximo mas não teve potência no carro para atacar o jovem Esteban Ocon. Quem diria, a promessa escanteada pela Mercedes, que ficou um ano fora da categoria e fez o primeiro pódio no ano passado até começou bem a temporada, mas depois foi dominado por Alonso. Com o alinhamento das estrelas e o talento de quem ainda parece uma eterna promessa, o francês mostrou porque sempre foi badalado desde cedo, segurando a bronca.

Enquanto a parada de Latifi o fazia cair algumas posições, Sainz e Alonso brigavam pelo pódio enquanto Hamilton chegava. Lewis precisava de uma nova parada, diante do desgaste dos pneus. Alonso, que também tinha compostos melhores que os do ferrarista, tentava atacar para garantir um pódio épico para a Alpine, mas Lewis chegou e tudo isso fez a diferença.

O espanhol precisou limitar a se defender, relembrando as velhas brigas de antigos rivais viscerais. Uma linda briga, mostrando que nem a idade impede o talento do quarentão Alonso, que segurou o quanto pode o carro mais dominante da história com pneus mais desgastados. Ah se o espanhol não tomasse tantas decisões equivocadas vítimas do temperamento...

Mas isso também prova que Don Alonso, a Fênix, mudou. Em circunstâncias normais, ele jamais faria o papel de equipe. No entanto, de forma indireta e direta ao mesmo tempo, Alonso foi o grande responsável pela histórica primeira vitória de Esteban Ocon na F1. O tempo que Hamilton perdeu foi o suficiente para não conseguir chegar a tempo nos dois ponteiros. Se a manobra fosse uma ou duas voltas antes, tudo seria diferente.

Ocon é o nome da primeira vitória da Alpine na história e a primeira do retorno do grupo Renault, em 2016. A evolução segue muito tímida mas hoje o alinhamento das estrelas conspirou. Com Alonso combativo e o jovem aproveitando as chances, uma injeção de ânimo para o novo regulamento do ano que vem. Depois de 25 anos sem vitória, são dois triunfos franceses em menos de um ano, sempre em condições excepcionais e, desde Panis com a Ligier em Mônaco 1996, um francês não vencia por uma equipe francesa.

Hamilton consegue não só conter os danos como também pulverizar a vantagem que Max tinha. Os mais afoitos já encerravam o campeonato na Áustria mas, como já escrevi, ainda tem muita coisa pela frente. Em duas provas, Hamilton reassume a liderança do campeonato e acalmem-se, pois ainda há mais doze corridas por aí, mais da metade da temporada!

O consistente Sainz se recuperou do erro de sábado e capitaliza enquanto Leclerc se envolve em acidentes, provocados por ele ou não. Alonso foi o grande nome do dia junto com Ocon e merecia um resultado melhor, apesar da pilotagem quase perfeita. 

A Williams e George Russell saíram da zica, mas o inglês sofre da síndrome de Hulkenberg: mesmo quando tudo vai bem, nem tudo vai tão bem, pois foi superado pelo canadense Latifi na corrida. A Williams mostra números consistentes na tabela do campeonato, o que evidencia a retomada do time, juntamente com o acaso, é claro. 

Diante da frieza dos números, Russell perdeu para Kubica e está perdendo para o piloto pagante da equipe. É o time que finaliza mas leva gol no contra-ataque. Claro que é um grande talento, mas chama a atenção esse "azar". Como o acaso pode protegê-lo enquanto o mal estiver distraído, provavelmente na Mercedes?

O errático Tsunoda deu a volta por cima e deu a consistência necessária para a Toro Rosso. Deixei Vettel para o fim. Um grande final de semana, nota 10 em todos os quesitos: as preocupações e mensagens sociais (vulgo "militância") expostas na Hungria e a corrida oportunista que culminou no segundo lugar. É claro que, por estar tão perto de Ocon, gera uma certa frustração não vencer, mas o alemão parece se reencontrar e fazer o que se espera de um tetracampeão mundial. Recuperar a confiança é primordial.

No entanto, a crueldade veio no fim. Segundo a FIA, Vettel tinha menos de um litro de combustível no carro para fazer o teste do combustível, o que vai contra o regulamento. Com o carro quase em pane seca, não tem conversa: desclassificação. Uma grande atuação que não tem efeitos no campeonato, ou melhor escrevendo, consequências catastróficas: Alpha Tauri e Alpine disparando na briga dos construtores.

Não tem o que contestar. Isso, claro, ajudou quase todo mundo, principalmente Hamilton, o mais sortudo que viu, na canetada, ganhar mais dois pontos de vantagem no campeonato. Raikkonen pulou para a pontuação mas é preciso destacar Mick Schumacher. Mesmo na Haas, não se limitou a sobreviver na pista. Vendeu duro as ultrapassagens feitas. Uma evolução notável. O filho do homem merece algo melhor, como uma Alfa Romeo por exemplo.

Ricciardo, um dos prejudicados pelo incidente, conseguiu a proeza de não encostar nas Williams e ainda ser superado por Verstappen. É a grande decepção do ano e uma grande preocupação para a McLaren. Contratado a peso de ouro, vai sendo tratado igual ele mesmo tratou Vettel quando chegou na Red Bull em 2014. O que pode explicar, apenas a adaptação e um carro "mais feito e adaptado" para Norris?

Recordes e marcas pulverizadas, assim como a vantagem que Verstappen tinha para Lewis. Diante de tanta coisa que já aconteceu, as férias no verão europeu servem para recarregar as energias para a reta final. 12 corridas em um pouco mais de três meses. Se já está assim agora, respire fundo para o que vier!

Confira a classificação final do GP da Hungria:


Até!

sexta-feira, 30 de julho de 2021

O FOCO

 

Foto: Lars Earon/Getty Images

Apesar de todas as conversas dos últimos meses terem sido pautadas na decisão externa de que a Mercedes não atualizaria mais o carro desse ano e pensaria em 2022, bastou três derrotas acachapantes para o discurso mudar. Pressionados por Hamilton, os alemães voltaram aos trabalhos e ao foco em mais um título.

Coincidência ou não, na Inglaterra e agora existem resultados. A Mercedes está mais competitiva e talvez ligeiramente superior a Red Bull em Hungaroring. Bottas e Hamilton marcaram os melhores tempos, com Verstappen em terceiro. Há uma distância enorme para o segundo pelotão, que sempre promete briga entre McLaren, Ferrari, Aston Martin e Pierre Gasly, o solitário.

A mudança da F2 para a F1 em um período com quase nenhum treino pode ser pesado e demandar tempo para adaptação. Pode ser essa a versão da narrativa que Yuki Tsunoda está enfrentando. Depois de uma estreia animadora, o japonês regrediu e bate com facilidade nos treinos. Está explorando os limites e é normal para um jovem estreante de menos de 20 anos. No entanto, a preocupação existe porque sabemos como a Red Bull é incineradora de talentos. 

Como diz o conhecido, é preciso tempo para Tsunoda. A escassez de talentos na academia da Red Bull pode ser um trunfo, o mesmo que fez Sérgio Pérez parar do lado de Max, mas é bom que o japonês pare de causar prejuízo aos cofres da Toro Rosso, ainda mais agora com o teto orçamentário. Alguns diriam que hoje pode ter sido um karma das polêmicas entre os japoneses e os juízes nas Olimpíadas. 

A Mercedes retoma o foco por 2021. Por falar nisso, vai ser um final de semana difícil de se concentrar na F1, em meio aos Jogos Olímpicos acontecendo simultaneamente. É o grande desafio dos próximos dias, aliás.

Confira a classificação dos treinos livres:



Até!

quinta-feira, 29 de julho de 2021

GP DA HUNGRIA: Programação

 O Grande Prêmio da Hungria (Magyar Nagydíj, em húngaro) foi disputado pela primeira vez em 1936, no circuito urbano de Népliget, na cidade de Budapeste. Somente em 1986 voltou a ser disputado, quando entrou para o calendário da Fórmula 1, agora no sinuoso e travado circuito de Hungaroring.


Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:

Melhor volta em corrida: Lewis Hamilton - 1:16.629 (Mercedes, 2020)

Pole Position: Lewis Hamilton - 1:13.447 (Mercedes, 2020)

Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)

Maior vencedor: Lewis Hamilton - 8x (2007, 2009, 2012, 2013, 2016, 2018, 2019 e 2020)


CLASSIFICAÇÃO:

1 - Max Verstappen (Red Bull) - 185 pontos

2 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 177 pontos

3 - Lando Norris (McLaren) - 113 pontos

4 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 108 pontos

5 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 104 pontos

6 - Charles Leclerc (Ferrari) - 80 pontos

7 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 68 pontos

8 - Daniel Ricciardo (McLaren) - 50 pontos

9 - Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 39 pontos

10- Sebastian Vettel (Aston Martin) - 30 pontos

11- Fernando Alonso (Alpine) - 26 pontos

12- Lance Stroll (Aston Martin) - 18 pontos

13- Esteban Ocon (Alpine) - 14 pontos

14- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 10 pontos

15- Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 1 ponto

16- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 1 ponto


CONSTRUTORES:

1 - Red Bull Honda - 289 pontos

2 - Mercedes - 285 pontos

3 - McLaren Mercedes - 163 pontos

4 - Ferrari - 148 pontos

5 - Alpha Tauri Honda - 49 pontos

6 - Aston Martin Mercedes - 48 pontos

7 - Alpine Renault - 40 pontos

8 - Alfa Romeo Ferrari - 2 pontos

O DIA DEPOIS DE AMANHÃ

Foto: Getty Images

Não é oficial, mas Valtteri Bottas, George Russell e a Williams já falam com clareza sobre 2022. O finlandês fala sobre "mudar a mentalidade", pois provavelmente vai estar em uma equipe muito distante de brigar por posições relevantes na temporada.

Enquanto a Mercedes espera o momento adequado para a decisão, a Williams já pensa no sucessor de Russell. Jost Capito, o agora chefão de Grove, admite que há uma lista de pilotos que vai brigar pela missão de substituir o inglês. Nicholas Latifi está mantido pois, como sabem, o pai comprou uma parte da equipe, salvando-a da falência em 2019.

Um dos nomes especulados é de Nico Hulkenberg, o Super Trunfo. O alemão, que estreou na F1 na própria equipe onde fez a pole em Interlagos (2010), está interessado em retornar à F1. Bottas, outro ex-piloto da equipe, também não pode ser descartado.

Apesar de viver uma recuperação financeira, a Williams ainda está distante das equipes mais competitivas. No entanto, para Capito, Grove aos poucos está recuperando a credibilidade e sendo foco de interesse de muitos pilotos, não apenas os jovens ou endinheirados.

“Acho que no momento não excluímos nenhum piloto que estaria disponível no próximo ano.

"O principal é que queremos os melhores pilotos que estão disponíveis e interessados ​​em guiar pela Williams e interessados ​​em fazer o trabalho pela Williams. Não é definitivamente o piloto que quer ser campeão mundial no ano que vem. Para nós, ele estaria na equipe errada.

“Precisamos de pilotos que estejam dispostos a apoiar a equipe, para trazer a equipe de volta, para liderar e melhorar o desempenho. No momento, podemos ver que o interesse dos pilotos em chegar à Williams está aumentando.

“Eu diria que é por causa dos passos positivos que demos recentemente. Acho que estamos bem financeiramente e isso é reconhecido, e estamos dando os passos na direção certa, esperamos continuar assim. Estamos trabalhando duro para a Williams se tornar uma equipe interessante para um piloto no futuro”, disse.

Vai ser no mínimo curioso saber a escolha da Williams pelo seu novo líder. Qual critério que vai ser preponderante? Experiência ou futuro? Como unir as duas coisas diante da nova era da categoria? Veremos.

CATAR NO AQUECIMENTO

Foto: Getty Images

O GP da Austrália, que seria realizado em novembro, foi definitivamente cancelado da temporada. Com isso, há uma data em aberto para que o plano ambicioso da Liberty Media em realizar 23 etapas no ano.

Alguns candidatos são óbvios, como mais uma corrida no anel externo do Bahrein ou outra prova nos Estados Unidos. No entanto, um enlaçe curioso pode fazer com que a F1 desembarque no Catar pela primeira vez na história ainda nesse ano.

Vamos começar por Stephen Ross. O bilionário dono do Miami Dolphins vai ser o responsável pela realização do GP de Miami, que entra no calendário em 2022. Antes da Liberty, Ross se uniu com empresários do Catar para comprar as ações da F1, mas foram vencidos pelos americanos. Essa aproximação e o bom relacionamento que culminou na confirmação da corrida em Miami pode fazer com que a Liberty "retribua o favor" abrindo as portas para o Catar.

Passo 2. A corrida seria no autódromo de Losail, onde já acontecem corridas da MotoGP há alguns anos. Acionistas do Catar tem uma parte das ações do Grupo Volkswagen. Tá, mas o que isso tem a ver?

Bom, Stefano Domenicali era CEO da Lamborghini, uma das marcas do grupo, antes de virar o novo chefão da F1, nesse ano. Um dos objetivos da FIA é finalmente atrair uma ou mais marcas do grupo, como a Audi e a Porsche, para serem fornecedoras de motor a partir do próximo ciclo, em 2025. A partir do ano que vem, a F1 terá apenas Mercedes, Ferrari e Renault como fornecedoras e, dependendo de mudanças no regulamento, pode finalmente ter as marcas alemãs na categoria. Uma corrida no Catar pode ser entendido como um gesto de boa vontade.

A verdade é que, apresentando esses fatos/teorias, fico convencido que não seria aleatório isso acontecer. Afinal, depois de Arábia Saudita, Vietnã, Índia e Coreia do Sul, pensar em critérios talvez seja um pouco demais.

TRANSMISSÃO:

30/07 - Treino Livre 1: 6h30 (Band Sports)

30/07 - Treino Livre 2: 10h (Band Sports)

31/07 - Treino Livre 3: 7h (Band Sports)

31/07 - Classificação: 10h (Band e Band Sports)

01/08 - Corrida: 10h (Band)