domingo, 1 de agosto de 2021

PULVERIZADO

 

Foto: Getty Images

Hungaroring pode proporcionar procissões ou corridas épicas de proporções impressionantes, como por exemplo a corrida de 2006 e de 2003, por motivos diferentes. Nas duas situações, a semelhança com hoje: a primeira vitória de jovens pilotos e também das equipes.

Em 2003, o hoje quarentão Fernando Alonso venceu de ponta a ponta a primeira da Renault em mais um dos retornos da equipe. Vinte anos depois, o espanhol foi preponderante para a história se repetir, na mesma equipe. Em 2006, Jenson Button venceu a primeira na caótica etapa que culminou na primeira vitória da Honda como equipe, também muito tempo depois do retorno.

Para chegar até o resultado, que mistura passado, presente e futuro, é preciso entender como tudo se sucedeu. A chuva que caiu uma hora antes mudou o panorama. Com a pista escorregadia, Valtteri Bottas largou mal e pode ter garantido um novo contrato, ou então o prêmio definitivo de escudeiro do ano.

Num efeito dominó, ele bate em Norris, que bate em Pérez, enquanto Bottas bate em Verstappen. A confusão toda fez Stroll, lá atrás, se chocar com Leclerc e culminar com o abandono de todos os envolvidos, menos o holandês e Ricciardo. Quando Max ficaria no mano a mano para caçar Hamilton, mais uma vez o destino lhe tira da corrida. Quem ria a toa era Hamilton, de novo com caminho livre. Se por um lado Bottas "ajuda" Lewis, por outro pode não ter assinado o contrato de renovação com os alemães.

Com bandeira vermelha e tudo, o que virou praxe, uma nova corrida. Com a pista mais seca, apenas Hamilton não parou com a saída do Safety Car, e isso custou caro. Quando foi, voltou no final do grid. Com o carro avariado e sem condição alguma, parecia uma forma de compensação para Verstappen reagir, mas não foi o caso. Na estratégia e com pneus melhores, lá foi Hamilton escalar o pelotão...

Com os abandonos e sem Hamilton, virou tudo uma grande salada. Boa parte da prova teve como top 3 Ocon, Vettel e Latifi! Sim, o canadense estava roubando a cena. Mais atrás, Sainz, Alonso, Gasly e Tsunoda. Num comboio com a dificuldade de passar e todos com o mesmo desgaste dos pneus, apenas estratégias diferentes no final poderiam fazer algum efeito.

Vettel ficou próximo mas não teve potência no carro para atacar o jovem Esteban Ocon. Quem diria, a promessa escanteada pela Mercedes, que ficou um ano fora da categoria e fez o primeiro pódio no ano passado até começou bem a temporada, mas depois foi dominado por Alonso. Com o alinhamento das estrelas e o talento de quem ainda parece uma eterna promessa, o francês mostrou porque sempre foi badalado desde cedo, segurando a bronca.

Enquanto a parada de Latifi o fazia cair algumas posições, Sainz e Alonso brigavam pelo pódio enquanto Hamilton chegava. Lewis precisava de uma nova parada, diante do desgaste dos pneus. Alonso, que também tinha compostos melhores que os do ferrarista, tentava atacar para garantir um pódio épico para a Alpine, mas Lewis chegou e tudo isso fez a diferença.

O espanhol precisou limitar a se defender, relembrando as velhas brigas de antigos rivais viscerais. Uma linda briga, mostrando que nem a idade impede o talento do quarentão Alonso, que segurou o quanto pode o carro mais dominante da história com pneus mais desgastados. Ah se o espanhol não tomasse tantas decisões equivocadas vítimas do temperamento...

Mas isso também prova que Don Alonso, a Fênix, mudou. Em circunstâncias normais, ele jamais faria o papel de equipe. No entanto, de forma indireta e direta ao mesmo tempo, Alonso foi o grande responsável pela histórica primeira vitória de Esteban Ocon na F1. O tempo que Hamilton perdeu foi o suficiente para não conseguir chegar a tempo nos dois ponteiros. Se a manobra fosse uma ou duas voltas antes, tudo seria diferente.

Ocon é o nome da primeira vitória da Alpine na história e a primeira do retorno do grupo Renault, em 2016. A evolução segue muito tímida mas hoje o alinhamento das estrelas conspirou. Com Alonso combativo e o jovem aproveitando as chances, uma injeção de ânimo para o novo regulamento do ano que vem. Depois de 25 anos sem vitória, são dois triunfos franceses em menos de um ano, sempre em condições excepcionais e, desde Panis com a Ligier em Mônaco 1996, um francês não vencia por uma equipe francesa.

Hamilton consegue não só conter os danos como também pulverizar a vantagem que Max tinha. Os mais afoitos já encerravam o campeonato na Áustria mas, como já escrevi, ainda tem muita coisa pela frente. Em duas provas, Hamilton reassume a liderança do campeonato e acalmem-se, pois ainda há mais doze corridas por aí, mais da metade da temporada!

O consistente Sainz se recuperou do erro de sábado e capitaliza enquanto Leclerc se envolve em acidentes, provocados por ele ou não. Alonso foi o grande nome do dia junto com Ocon e merecia um resultado melhor, apesar da pilotagem quase perfeita. 

A Williams e George Russell saíram da zica, mas o inglês sofre da síndrome de Hulkenberg: mesmo quando tudo vai bem, nem tudo vai tão bem, pois foi superado pelo canadense Latifi na corrida. A Williams mostra números consistentes na tabela do campeonato, o que evidencia a retomada do time, juntamente com o acaso, é claro. 

Diante da frieza dos números, Russell perdeu para Kubica e está perdendo para o piloto pagante da equipe. É o time que finaliza mas leva gol no contra-ataque. Claro que é um grande talento, mas chama a atenção esse "azar". Como o acaso pode protegê-lo enquanto o mal estiver distraído, provavelmente na Mercedes?

O errático Tsunoda deu a volta por cima e deu a consistência necessária para a Toro Rosso. Deixei Vettel para o fim. Um grande final de semana, nota 10 em todos os quesitos: as preocupações e mensagens sociais (vulgo "militância") expostas na Hungria e a corrida oportunista que culminou no segundo lugar. É claro que, por estar tão perto de Ocon, gera uma certa frustração não vencer, mas o alemão parece se reencontrar e fazer o que se espera de um tetracampeão mundial. Recuperar a confiança é primordial.

No entanto, a crueldade veio no fim. Segundo a FIA, Vettel tinha menos de um litro de combustível no carro para fazer o teste do combustível, o que vai contra o regulamento. Com o carro quase em pane seca, não tem conversa: desclassificação. Uma grande atuação que não tem efeitos no campeonato, ou melhor escrevendo, consequências catastróficas: Alpha Tauri e Alpine disparando na briga dos construtores.

Não tem o que contestar. Isso, claro, ajudou quase todo mundo, principalmente Hamilton, o mais sortudo que viu, na canetada, ganhar mais dois pontos de vantagem no campeonato. Raikkonen pulou para a pontuação mas é preciso destacar Mick Schumacher. Mesmo na Haas, não se limitou a sobreviver na pista. Vendeu duro as ultrapassagens feitas. Uma evolução notável. O filho do homem merece algo melhor, como uma Alfa Romeo por exemplo.

Ricciardo, um dos prejudicados pelo incidente, conseguiu a proeza de não encostar nas Williams e ainda ser superado por Verstappen. É a grande decepção do ano e uma grande preocupação para a McLaren. Contratado a peso de ouro, vai sendo tratado igual ele mesmo tratou Vettel quando chegou na Red Bull em 2014. O que pode explicar, apenas a adaptação e um carro "mais feito e adaptado" para Norris?

Recordes e marcas pulverizadas, assim como a vantagem que Verstappen tinha para Lewis. Diante de tanta coisa que já aconteceu, as férias no verão europeu servem para recarregar as energias para a reta final. 12 corridas em um pouco mais de três meses. Se já está assim agora, respire fundo para o que vier!

Confira a classificação final do GP da Hungria:


Até!

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