terça-feira, 24 de agosto de 2021

MISTÉRIOS (DES)MASCARADOS

 

Foto: Getty Images

Hoje começam as Paraolímpiadas de Tóquio. Nas últimas semanas, sobretudo também pela realização dos jogos olímpicos no Japão, o país teve um aumento muito grande no número de casos e mortes decorrentes da Covid-19. Em virtude disso, e pelo país estar em estado de emergência, não teremos Grande Prêmio do Japão pela segunda temporada consecutiva.

A decisão não é surpreendente. Rejeitado pela população, os jogos olímpicos só aconteceram pelos contratos amarrados, onde não fazer seria muito mais danoso financeiramente do que a realização das Olímpiadas. Agora, a F1 precisa preencher a lacuna em pouco tempo, pois a prova estava marcada para o dia 10 de outubro.

Na contramão da história, neste final de semana a Bélgica vai colocar 75 mil pessoas em Spa Francorchamps, sem obrigatoriedade de distanciamento e/ou máscaras. Por quê? Na Bélgica, há o "Corona Safe Ticket", onde as pessoas precisam mostrar a comprovação de vacinação com segunda dose duas semanas antes da corrida, teste PCR negativo ou um certificado que comprove a infecção nos últimos seis meses.

Cada caso é um caso, mesmo que seja bem extremo. Apesar de termos lotação máxima na Inglaterra e na Hungria, pela primeira vez em muito tempo que teremos uma liberação total na F1, por isso não se estranhem com as imagens das arquibancadas.

O GP da Bélgica será realizado diante de estranhas circunstâncias. Ultimamente, o circuito tem lidado com tempestades e inundações, sem contar que já faz dois anos do acidente fatal de Anthoine Hubert na F2. Apesar disso, também há motivo para ter lembranças positivas: há 30 anos, Michael Schumacher estreava na F1 em solo belga. Eu já contei essa história bem aqui. Agora, será a vez de Mick Schumacher. Como sempre, um momento emocionante e significativo.

No entanto, há ainda mais circunstâncias sombrias e tristes que pairam essa corrida. Tudo porque, há duas semanas, Nathaile Maillet, 51 anos, CEO do circuito, foi assassinada junto da companheira Ann Lawrence Durviaux pelo ex-marido, o ex-piloto Franz Dubois, que depois se matou, na cidade de Gouvy, distrito de Luxemburgo. Um duplo feminicídio, portanto.

No início, a história parecia de certa forma "justificar" o ato ou até mesmo lembrar de Euclides da Cunha, mas às avessas: o homem chega em casa e encontra, de surpresa, a esposa com uma outra mulher e decide matá-las e depois a si mesmo pela "honra", o que antigamente seria chamado de "crime passional".

No entanto, relatos da amiga nos dias seguintes desmentem tudo isso. Nathaile e Franz estavam em processo de divórcio e o relacionamento com Ann Lawrence, advogada, não era surpresa para ninguém. As duas estavam juntas há algum tempo e, inclusive, elas e Franz se reuniram num restaurante na noite do crime.

A motivação de tudo isso seria financeira em virtude do divórcio. As duas partes não se entendiam e, depois do restaurante, Franz saiu primeiro do local e chegou na antiga casa depois para matar as duas e depois se matar antes da chegada da polícia.

Nathalie Maillet era CEO de Spa Francorchamps desde 2016. Graças aos esforços dela, o circuito passou a receber diversas provas de rali e outras modalidades do automobilismo além da F1 e dos carros de turismo. Spa foi homologada perante a Federação Mundial de Motociclismo e vai receber no ano que vem as 24 Horas de Spa para motos.

Nathalie era de uma família de pilotos mas era arquiteta de formação, apesar de ter vencido corridas na Fan Cup, em 2006. 

Curioso como a FIA vai se portar perante a esse caso, mesmo que aparentemente ele esteja resolvido diante da morte de todos os envolvidos. No entanto, em um momento onde todos ficam assustados com o retorno do Talibã mas reproduzem, mesmo que involuntariamente, preconceitos e agressões diárias as mulheres (seja verbal ou físico), a morte de uma mulher que estava em uma posição de poder no automobilismo reforça que, infelizmente, esses direitos precisam estar permanentemente sob luta e vigia para que não se percam em todos os âmbitos.

O mundo pode até mudar, mas é sempre preciso estar atento contra as forças retrógradas que veem tudo isso como uma ameaça ao "poder" e querem manter tudo do jeito que está, sem o menor pudor de utilizar a força, a desproporção e a covardia para isso.

Até!

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