domingo, 31 de julho de 2022

ADULTOS CONTRA CRIANÇAS

 

Foto: Dan Mullan/Getty Images

O que constantemente é pedido, quase como uma torcida por aqui, aconteceu. A Red Bull teve problemas no sábado com Max Verstappen e ele e Pérez largaram atrás. Chance perfeita para a Ferrari ensaiar uma reação cobrada por Mattia Binotto durante a semana.

As coisas já começaram a ficar estranhas, como sempre. Com a chuva e uma temperatura mais amena, a vantagem da Ferrari diminuiu, mas ainda assim era o carro a ser batido. Acontece que Leclerc e Sainz já começaram a dar para trás no sábado, quando George Russell conquistou a primeira pole da carreira de forma surpreendente. Ainda assim, imediatamente atrás e com a Red Bull distante, a chance era evidente.

A largada teve Russell na frente, com os macios, e a Ferrari com os médios. Sainz não teve competência para passar o inglês e estava empatando Leclerc. Os italianos, como sempre, não tomaram uma atitude em prol da equipe e perderam tempo. Enquanto isso, as Red Bull escalavam o grid, naturalmente.

Na primeira janela de pit stops, Sainz, Russell e as Red Bull pararam. Leclerc e Hamilton alongaram o stint. Seriam necessárias duas paradas. O espanhol não teve ritmo para passar Russell e, mesmo parando antes, conseguiu ficar atrás de Leclerc, que estava com um ritmo muito bom. Sem o companheiro "atrapalhando", era caminho livre para Charles, da forma mais difícil, ultrapassasse o #63 e disparasse para a vitória. Enquanto isso, Max ganhou a posição de Hamilton (que demorou para parar) nos boxes e já era o quarto.

Leclerc disparava e Sainz tentava passar a Russell. A dobradinha era provável, mas Verstappen estava por perto, minimizando os danos. Muito natural. Chega o momento da segunda parada. A Alpine, no meio do pelotão, optou pelos pneus duros e perdeu rendimento. Havia um padrão a seguir.

A questão é que, talvez por não ter mais pneus disponíveis, a Ferrari para Leclerc para colocar os duros. Quando Max se aproxima de Sainz e Russell, a Red Bull para imediatamente para colocar os médios (largou com os macios), antecipando tudo e fazendo os outros reagir. Resultado? Sainz e Hamilton alongaram o stint para terminar com os macios, que era a estratégia mais correta para o final da prova.

Mais uma vez, a Ferrari faz uma estratégia bisonha para o piloto número um e privilegia o número dois, que não tem ritmo para maximizar o carro. O resultado? Leclerc virou presa fácil. Max passou, rodou e reultrapassou (essa palavra existe?) o monegasco. Largando em décimo e sem forçar, na base do talento, da estratégia e da consistência, Max partiu para uma vitória improvável e épica, mas ao mesmo tempo tão tranquila que isso não parece significar o feito que aconteceu.

A pista para a Ferrari fazer a dobradinha de Binotto e remontar o campeonato estava longe da frustração intermediária. O pior estava por vir. Mesmo com o pneu macio, Sainz foi ultrapassado por Hamilton e Leclerc, se arrastando, superado por Russell. A cereja do bolo? A parada para os macios no final para terminar em sexto, atrás mesmo de Pérez, que desde Mônaco se arrasta na pista.

Max Verstappen e a Red Bull são adultos competindo contra crianças na F1. A Mercedes de 2022 está se emancipando. Agora já é um adolescente prestes a virar calouro (bixo) na faculdade, pronto para as primeiras experiências da vida. Mais um pódio de Hamilton e Russell juntos. Ritmo de corrida melhor, volta lançada boa... 

Hamilton poderia ter brigado mais pela vitória se não tivesse problemas na asa no sábado e um erro de estratégia da Mercedes no primeiro stint. Ele e Russell não desperdiçam uma oportunidade e deixam no ar o que já está evidente: a pole foi inesperada, mas a vitória parece ser questão de tempo. Além disso, a briga pelo vice-campeonato de construtores está muito aberta. Vai duvidar?

Russell já passou Sainz no campeonato. A Ferrari é a Peter Pan da F1. Se recusa a crescer e, corrida após corrida, afunda. Binotto queria uma dobradinha e termina com um incrível P4 e P6. A Red Bull, sem forçar, tem em Max Verstappen 80 pontos de vantagem nas férias da F1. É uma vantagem que cada vez mais fica irreversível por três motivos: a solidez da Red Bull, o crescimento da Mercedes e a Ferrari cada vez mais afundada nos próprios erros e pressões.

Norris é o melhor do resto, em setimo. Enquanto isso, Ricciardo afunda em 15°. Até teve um brilhareco numa ultrapassagem dupla nas Alpine, mas o tempo dele na McLaren já foi, é desperdício de dinheiro. Por falar em Alpine, a estratégia deu certo, mas Ocon segue "atrapalhando" e fechando Alonso: menos mal que o espanhol conseguiu o oitavo lugar. Dessa vez com a intervenção da equipe, Vettel fechou no top 10 e, agora, cada ponto pode ser o último na categoria.

Na hierarquia da F1, a Red Bull é adulta, a Mercedes é adolescente e a Ferrari é Peter Pan. Max Verstappen tem 80 pontos de vantagem para desfrutar nas férias. No retorno, a Ferrari vai precisar ser perfeita, a Red Bull errar mais que acertar e a Mercedes não crescer tanto. Todo esse cuidado para não afirmar que Max já é bicampeão mundial.

Confira a classificação final do GP da Hungria:


Até!

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