segunda-feira, 4 de julho de 2022

TUDO CONTRA

 

Foto: Divulgação/Ferrari

Tentando fazer algumas adaptações de contexto, Charles Leclerc até agora é, de certa forma, um Jean Alesi da Ferrari no século XXI com um pouco mais de sorte, mas nem tanto. Piloto muito rápido e talentoso, ninguém duvida de suas capacidades, tal qual o francês despontou lá nos anos 1990. Além disso, o que também os une é o incrível azar e falta de timing em alguns aspectos.

Alesi pegou uma Ferrari em reestruturação e não tinha a menor chance de competir com McLaren, Williams e Benetton na época. Quando tinha a oportunidade, acontecia alguma coisa que o impedia de vencer. Até mesmo na única vitória na carreira, no Canadá em 1995, o carro teve pane seca logo depois. 

Leclerc chegou na Ferrari forte, desbancando Vettel e mostrando que era de verdade. Quando ia vencer no Bahrein, o motor teve problemas. Inúmeros erros de estratégia, batidas e ultrapassagens no fim evitaram que o monegasco, de inúmeras poles, tenha "só" quatro vitórias até aqui. Isso porque teve dois anos com uma Ferrari lamentável, que o alijou das grandes disputas. Ainda assim, fez poles e quase venceu em Silverstone no ano passado.

Não tem muito o que fazer contra o azar ou problemas no equipamento. Foge do controle de uma pessoa. No entanto, já vimos Leclerc sofrer repetidas vezes com vários erros de estratégia da Ferrari que só o prejudicaram, tiraram vitórias que poderiam ser cruciais na briga pelo título contra Max Verstappen. Ontem a situação atingiu um limite.

Qualquer equipe que se preze prioriza quem é o mais rápido. Na Ferrari, esse alguém é Charles. Mesmo com o carro danificado, ele estava encostado em Sainz. Quando a Ferrari finalmente se livrou do espanhol, não quis chamar o monegasco para os boxes na hora do Safety Car porque achou que os pneus macios iam se deteriorar rápido e os pneus duros dele estavam menos desgastados.

Ao priorizar o segundo piloto, Leclerc perdeu a vitória e pontos importantes para encostar em Max e tirar a grande desvantagem que tem, isso que o monegasco venceu duas das três primeiras corridas do ano. E parou por aí. Muito por azar, incompetência da Ferrari, o óbvio crescimento da Red Bull e alguns erros de Charles, como em Ímola, onde perdeu o pódio por bobagem. 

Ao final da corrida, ainda teve que ver o dedo de Mattia Binotto em riste. Ou seja: a equipe não ajuda, atrapalha e Leclerc ainda precisa ouvir calado as ordens da cadeia de comando. Um completo absurdo.

Essa é uma corrida que pode criar precedentes. Hamilton decidiu sair da McLaren após mais um abandono na temporada de 2012. Ao ser desrespeitado pela equipe está mais atrapalhando do que ajudando, Charles Leclerc precisa olhar para o futuro com cuidado. A Ferrari não ganha nada há quinze anos e não parece provável que estejam perto disso, apesar de retornarem ao protagonismo dos pódios.

É muita baderna e desorganização. A Ferrari só foi alguém de fato, nos últimos quarenta anos, quando Ross Brawn, Jean Todt e Michael Schumacher lideravam a organização. Sem um grande comandante e alguém que dê sustentação para Leclerc, o monegasco precisa no mínimo repensar e refletir as opções.

Hamilton em breve vai se aposentar e uma das vagas da Mercedes vai ficar aberta. Quem sabe, em uma aproximação com Toto Wolff, a ponte para o futuro no médio prazo? Os alemães já se mostraram mais competentes e, mesmo em desvantagem nessa temporada, já estão chegando na Ferrari. É questão de tempo até vencerem a primeira no ano.

O que não pode é Charles Leclerc ter tudo contra ele: Mercedes, Red Bull e até mesmo a própria equipe.

Até!

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