terça-feira, 26 de julho de 2022

LEÕES VELHOS E NOVOS

 

Foto: Getty Images

No MMA, Dana White sempre afirma que o esporte é para jovens. É natural. A quilometragem, as guerras travadas e a idade cobram um preço. Durante um tempo, a F1 foi o inverso disso.

Com os carros desafiadores, pesados e perigosos, era preciso, antes de tudo, ser um homem. Um rapaz experiente, responsável, capaz de domar aquilo que poderia lhe matar na curva seguinte. Não a toa, há vários exemplos de campeões quarentões ou perto disso naquela época, algo impensável hoje em dia.

Apesar da grande quantidade de vagas, equipes, garagistas, aventureiros e falcatruas, era preciso ter muita experiência e dinheiro, claro, para pilotar um carro. Evidentemente, com os carros cada vez mais tecnológicos, a média de idade foi, lentamente, baixando. Ainda assim Senna, por exemplo, estreou “velho” hoje em dia.

Décadas depois, a F1 foi definitivamente para o extremo oposto. Diferentemente do MMA, alguém certamente diria: a F1 é para jovens. Antigamente, “bastava” dirigir. Hoje, é preciso ser um atleta completo para aguentar uma temporada cada vez mais lotada, com o corpo exposto aos efeitos do carro, desidratação, desgaste, cansaço, entre outros.

Dois casos saltam os olhos: Kimi Raikkonen e Max Verstappen. Dois campeões mundiais. Um estreou na F1 aos 18, o outro nem maior de idade era. E é assim, seja no grid ou nas categorias de base. Passando dos 20, o piloto já é considerado “velho” para ser uma promessa. Aí, somente muito dinheiro para conseguir driblar essa questão, como Latifi fez, por exemplo.

E num esporte onde está cada vez mais jovem, é possível ser longevo também. Sempre foi assim, desde Patrese até Fernando Alonso. Claro, é preciso ter qualidade, estofo e talento, ainda mais hoje quando as vagas são escassas. O problema está no meio termo, e as vezes nem quem não deveria sequer ser questionado, é. É a natureza do esporte, cada vez mais predatória.

Nesse universo, existem três pilotos cujo talento são inquestionáveis mas que, por motivos distintos, não possuem futuro garantido na F1. Dois campeões mundiais e um que já foi apontado como candidato a um. Vocês sabem de quem estou escrevendo.

Fernando Alonso. A situação do espanhol é a perigosa, apesar de, dos três, o que menos sente a questão da idade, mesmo já passando dos quarenta. Alonso não parece sentir o tempo, a desaceleração, os reflexos, ao menos não de forma evidente. Ainda assim, guiando o fino dentro das possibilidades, existe o perigo de ser preterido por um jovem: Oscar Piastri, campeão da F2 e grande aposta da Alpine. Não há vagas e o time não tem parcerias. Não dá mais para esperar e Ocon está garantido. É um mano a mano que nem deveria existir, ou então os dois deveriam coexistir na F1. A resposta? Só nos próximos meses.

Basicamente, Alonso pode ser preterido pela própria idade e a juventude inquieta de um concorrente. Ele já esteve nessa posição, mas só sim é que percebemos o tempo passando de forma avalassadora.

Sebastian Vettel. A situação mais tranquila. Só depende dele. Uma crise existencial. Continuar correndo no meio do grid sem objetivos mesmo tetracampeão, rico e sucedido, ou curtir a família e os projetos ambientais que tanto fala e dá visibilidade ultimamente? Tudo isso junto faz o alemão se sentir um pouco contraditório, segundo alguns. Repito: só depende de Vettel, que também é acionista da Aston Martin. Foi contratado como o líder de um novo projeto supostamente ambicioso, mas que até aqui só andou para trás. Esperar o novo túnel de vento ficar pronto? Vettel é ainda jovem e bem sucedido, apesar do auge ter ido embora há tempos. Ainda assim, nesse caso, o que está em cheque é a motivação na jornada do herói. Só Vettel e a validade do amor pelo automobilismo em alto rendimento é que podem responder.

Aqui, a situação é mais desesperadora no longo prazo, porque Daniel Ricciardo é o mais jovem dos três, mas ainda assim em situação delicada. Ao perceber a preferência por Verstappen na Red Bull, optou pela carreira solo. Apostou na Renault e agora naufraga na McLaren, que tem no jovem Norris o líder quase formado, agora referendado pelos resultados de pista. É um massacre.

É repetitivo afirmar que Ricciardo não justifica o investimento que vale. Tem mais um ano de contrato, mas a permanência não é garantida e tampouco enfatizada pelo chefe Zak Brown. Especulações e soluções para o lugar do australiano não faltam. O problema principal é a perspectiva: Ricciardo não será campeão do mundo e a McLaren foi a última chance de liderar um projeto. Quem pagaria um salário alto para quem desligado do time de Woking, se isso acontecer?

Bem, por mais que o panorama desenhado aqui seja o mais alarmista e fatalista possível, ainda é permitido sonhar, olhar o copo meio cheio. Se Ricciardo não é um líder, ainda assim tem grife para ser um segundo piloto numa eventual mexida de mercado. Se reinventar em outra categoria não seria ruim.

E se Vettel sair? A Aston Martin vai precisar de um cara com bagagem para liderar o time. Ricciardo pode ser esse cara. Alonso, se for preterido por Piastri, também. Se Ricciardo permanecer na McLaren, Alonso pode ser o líder de Lawrence Stroll enquanto Vettel curte a aposentadoria.

Há muitas possibilidades nesse universo, inclusive dos três continuarem onde estão e tudo isso não passar de um sensacionalismo opinativo. Eu não contaria com isso. Como já escrevi, a F1 é um esporte para jovens e também gente de bagagem. As vezes, nem isso é suficiente para superar a irresistível jovialidade do tempo.

Até!


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