terça-feira, 2 de outubro de 2018

O VILÃO DA VEZ

Foto: Autoracing
Sempre que a F1 tem uma dinastia, alvos são escolhidos para serem derrubados. No início do século, era todos contra a Ferrari, capitaneada por Michael Schumacher, Ross Brawn e Jean Todt. Os dois últimos hoje ocupam a alta cúpula da FIA, um sendo o diretor esportivo e o outro presidente, respectivamente.

Na era Red Bull, Christian Horner e Sebastian Vettel foram os alvos mas não da mesma forma feroz que a caçada anterior. Apesar de Webber ser segundão, não havia ordens explícitas de equipe, até porque Vettel sempre foi muito mais rápido que o australiano, que nem mesmo no "multi 21" foi capaz de manter a posição na Malásia, em 2013. Horner não virou vidraça porque não cometeu nenhuma atitude antidesportista. Também, não teria como. Afinal, Webber e Vettel eram inimigos declarados.

A era atual, da Mercedes, não tinha ordens de equipe devido a explosiva relação entre Hamilton e Rosberg, por mais que no início o alemão fosse uma espécie de piloto 1B que se rebelou a ponto de ser campeão mundial. Diante de tal desgaste, a solução para substituir a repentina aposentadoria de Nico foi um velho conhecido de Toto, desde os tempos em que tinha % das ações da Williams: Valtteri Bottas.

Estava clara a estratégia. Hamilton o cara do título, Bottas o cara dos pontos e de eventuais vitórias. Não dá para arriscar com o crescimento da Ferrari de Vettel. O discurso esportivo cai por terra e entra a hipocrisia e o negócio. Hoje, Toto Wolff é o vilão da vez. Por mais que seu argumento de que não pode dar sopa pro azar em relação ao campeonato faça sentido, a Mercedes tem simplesmente 40 pontos de vantagem no campeonato, e outra: ano passado, em um momento bem mais equilibrado na disputa, Hamilton devolveu a posição para Bottas e ficou atrás do finlandês, em uma atitude que foi elogiada por todo mundo. Hoje, todos vão lembrar da jogada Hamilton-Bottas, mesmo que o finlandês seja recompensado por vitórias no fim do campeonato quando Hamilton for penta.

F1 é um negócio muito caro. Bilhões em pontos, qualquer detalhe faz a diferença. Nesse ponto de vista, Toto tem contas a prestar para os chefes alemães, que mesmo com o sucesso da equipe nos últimos quatro anos, tem bastante conta para pagar. Eles não se importam com o lado esportivo e "social" da questão. O que vale é o lucro com o título de pilotos e construtores garantido. Por mais que a vaia, as críticas e o ódio sejam dominantes no momento depois de um grande erro da Mercedes (admitido inclusive pela própria equipe), o que vale e sempre vai valer é o negócio. O problema é que grande parte desse negócio é articulado pela paixão dos fãs e o engajamento nos eventos e agora nas redes sociais.

Não é só isso. Toto Wolff, como chefe da principal equipe do momento, tenta colocar seus tentáculos em outros lugares, mas o efeito está sendo o contrário. Esteban Ocon tem boas chances de ficar de fora da próxima temporada pelo vínculo com a Mercedes. Pascal Wehrlein teve que romper com os alemães para ter chances de voltar para a F1, sendo o favorito para ser contratado pela Toro Rosso. George Russell deve assinar com a Williams. Por mais que dê certo, esse vínculo com Wolff/Mercedes fecha mais do que abre portas na F1 por uma questão de lógica, assim como nos casos de Red Bull e Ferrari.

Toto Wolff é o vilão da vez. Ele ocupa a posição que todos sonham: o chefe da principal equipe do momento. Todas suas decisões são amplamente analisadas, de dentro e de fora. Se os negócios estão bem, a imagem perante os fãs está bem chamuscada, mais do que o normal, que seria por estar no topo, com todo mundo na espreita querendo derrubá-lo. Os valores e louros do negócio valem mais que o respeito dos consumidores?

Toto Wolff é o alvo, assim como foi a Ferrari. Agora, não só esportivamente, mas também como instituição. A Mercedes fez aquilo que sempre criticou, e pelo motivo errado. Mas não se iludam. Quando a próxima equipe tiver um domínio tão amplo a ponto de escancarar um jogo de equipe ridículo igual o que vimos ontem, estaremos apontando o dedo.

Até!

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