quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A NOVA F1

Foto: Divulgação
Essa é uma expressão clássica, utilizada de meses em meses, de anos em anos. Afinal, qual o seu significado? Bem, é aquela coisa: "tem que tornar a F1 mais humana, dificultar a vida dos pilotos, fazer eles ganharem no braço igual nos anos 1980 e 1990" e blá blá blá.

Desde então, a Fórmula 1 segue essa empreitada em busca de dificultar a vida dos pilotos, o que vai na contramão da essência da categoria, que é ser vanguarda tecnológica, onde muitas coisas desenvolvidas vão para os carros de rua.

Agora, só se fala em uma coisa: como será a F1 a partir de 2021? Por que esse ano? Bem, a Liberty Media ainda tem que honrar os compromissos firmados por Bernie Ecclestone até 2020, e isso inclui o Pacto de Concórdia (distribuição da quantia para as equipes) e o regulamento técnico das próximas três temporadas. A partir daí, os americanos poderão tentar alterar as estruturas da F1 que lhe acharem melhor.

A primeira delas já está sendo feita, e era necessário urgência. Uma categoria mais ativa com os fãs nas redes sociais, com vídeos, interatividade e tudo mais, uma obrigação para qualquer empresa bem sucedida na busca. A segunda parte do plano começa só daqui a três anos e ontem, em uma reunião em Paris, foi dado o primeiro passo. Em uma reunião com representantes das equipes e dos fabricantes de motores ficou definido que a unidade motriz será mais simples e barata, mas ainda manter a tecnologia híbrida para servir de desenvolvimento dos carros de rua e, como sempre, tentar aumentar o som emitido pelos carros (sdds, V12). As primeiras propostas, que precisam ser ratificadas, foram as seguintes:

- Motor de 1.6 litros V6 turbo com sistema de recuperação de energia
- Aumento de 3000 rpm (rotações por minuto) no motor para aumentar o som
- Parâmetros internos de projeto prescritos para restringir custos de desenvolvimento e desencorajar projetos mais agressivos
 - O fim do MGU-H (antigo KERS, que recuperava energia através do calor dispersado pelo turbo)
- MGU-K (que recupera energia das frenagens) mais potente e com possibilidade de ativação manual na corrida junto com a opção de economizar energia ao longo de várias voltas para dar ao piloto um elemento tático
- Turbo simples com restrições de dimensão de peso
- Armazenamento de energia e controle eletrônico padrões

O desenvolvimento desse projeto todo será feito durante o próximo ano. O ínicio do projeto e construção da unidade de potência só começará quando todas as informações a respeito da unidade de potência foram liberadas pela FIA ao fim de 2018. A intenção de não liberar logo as informações é para garantir que as atuais fabricantes envolvidas com a F1 (Mercedes, Ferrari, Renault e Honda) permaneçam focadas no desenvolvimento da especificação atual de motores.

Os novos mandachuvas da F1. Foto: Divulgação
Repitindo, essa parte é a mais simples de mudar. Quer dizer, não vai mudar muita coisa, a não ser atrair outras equipes e fornecedoras de motores como Porsche, Aston Martin e Lamborghini, que declararam interesse em participar da F1 nesses termos. Os próximos passos do grupo é que deverão ser mais complicados.

A filosofia americana não quer saber de tecnologia, e sim de emoção e competitividade. É melhor ter 7 ou 8 equipes teoricamente capazes de ganhar uma corrida do que ser símbolo de modernidade. E como fazer com que uma Haas, Force India ou Sauber tenha condições de brigar com Ferrari, Mercedes e Red Bull? "Simples": o famigerado teto orçamentário (tentado por Max Mosley e devidamente rejeitado, na época). Bom, as últimas três equipes citadas mandam na F1. Como qualquer empresa, ninguém seria louco de abrir mais de ganhar mais dinheiro e entregar para os times "pobrinhos" em prol da competitividade. Além do mais, muitas equipes recebem um bônus por estarem na categoria desde o início (Ferrari, McLaren e Williams). A Liberty também deseja cortar essas regalias.

Chase Carey e Sérgio Marchionne: guerra à vista? Foto: SoyMotor
O embate entre Liberty e equipes mais pobres versus o status quo promete muitas emoções e ameaças. O sempre corriqueiro "se fizerem isso eu vou abandonar a F1" e tudo mais. Sinceramente, a Liberty irá precisar de um bom tempo para mexer nessas estruturas definidas há décadas entre as equipes e Bernie Ecclestone. Melhor não ir com sede ao pote para não se frustrar. Outras medidas da Liberty para os próximos anos são aumentar o calendário de provas (de 21 para 25), com a entrada de outra corrida nos Estados Unidos (uma corrida de rua em Nova York, por exemplo) e o retorno de tradicionais corridas europeias no lugar dos insossos circuitos do Oriente Médio turbinados por quantias que somente eles são capazes de pagar em acordos prévios feitos com Bernie. Por exemplo, não duvido que em um futuro próximo a Holanda retorne a F1, pegando carona no sucesso de Verstapppen.

Enfim, essa coisa de projetar a F1 do futuro é sempre uma tarefa feita corriqueiramente e que na maioria das vezes não sai como nós imaginamos. No fundo, é aquele tipo de texto e de pauta ideais para períodos como esse: final de temporada, semana sem corrida, campeonato decidido...

Certamente iremos retomar esse assunto nessas condições já citadas e sem lembrar de quase nada escrito, dito e debatido até aqui.

Meus dois centavos? Acho legal a aproximação da F1 com a tentativa de uma categoria mais humana e competitiva, mas ela não pode perder sua essência, que é a tecnologia e a competência das equipes. Não gostaria de ver uma falsa emoção nas disputas. Ainda tenho um pé atrás com Chase Carey. Não posso confiar em alguém que ostenta um bigode desses e tem o poder que possui. São boas as chances das coisas ficarem piores. Nunca se sabe. Puro preconceito meu, mas é o que sinto.

Até mais.

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