segunda-feira, 30 de agosto de 2021

A GENI DA VEZ

Foto: Getty Images

Antes de começar o texto, deixo os links AQUI, AQUI e AQUI sobre temas que se conectam e servem de base para o que virá e fazem parte do que eu chamo de processo de descaracterização do automobilismo. Estamos, cada vez mais, numa nova era.

Mais uma vez a Eau Rouge esteve no centro de polêmicas. O tempo na Bélgica, como todos sabemos, não ajudou e deixou o circuito de Spa Francorchamps mais traiçoeiro do que nunca. O que antigamente era o palco preferido de 11 entre 10 pilotos, jornalistas e fãs, hoje talvez não seja isso, porque os tempos mudaram, assim como o automobilismo.

No final de semana, a forte batida de Lando Norris e os acidentes na W Series mais uma vez colocaram a Eau Rouge-Raidillon como vilãs da história. Pessoas bem intencionadas (e também as más, é claro) estão colocando a culpa e problematizando uma curva por alguns incidentes e também a trágica morte de Anthoine Hubert, em 2019. E talvez, aparentemente, uma grande maioria concorda com isso! Como explicar?

Os argumentos são de que a área de escape deveria ser maior para que os carros não batessem e ricocheteassem para o meio da pista. Foi isso o que aconteceu e vitimou Hubert, o famoso choque em T. Não há halo que salve. Nos últimos dez anos, os carros da F1 ficaram cada vez mais rápidos. Os das últimas temporadas bateram os recordes de 2004. Até por isso, na nova geração, talvez os bólidos sejam mais lentos para que haja mais downforce e competitividade.

Como os carros estão mais rápidos e modernos, a Eau Rouge passou a ser feita em pé cravado. Uma grande ousadia. Além disso, nos últimos anos, as britas foram retiradas e sim, o asfalto também é um dos motivos para a irresponsabilidade nas pistas.

Como venho escrevendo há algum tempo, os perigos da segurança e a transformação das categorias de base em um clubinho de ricos, aprovada pela FIA tornaram o automobilismo de fato perigoso. Gerações acostumadas a simuladores e jogos online estão chegando nas pistas e, juntamente com a sensação de um carro de corrida ser um tanque de guerra e raramente acontecer grandes consequências em caso de acidentes, não há respeito ao próximo e nem limites. Se bater não vai dar nada mesmo.

Carros rápidos e esse senso de segurança fazem com que um piloto acelere a 300 km/h na Eau Rouge, na chuva, tocando na zebra. É óbvio que não vai dar certo. Se tentar andar na mesma velocidade no sol ou na chuva, até as retas podem ser assassinadas. Lando Norris não é um mau piloto, apenas tomou uma decisão errada e pagou pra ver. Se tivesse brita em volta da Eau Rouge como sempre teve, algum maluco se atreveria a fazer isso? Só Villeneuve fez, e porque estava fazendo uma aposta.


O que quero dizer é que as pessoas precisam olhar para o todo ao invés do mais simples, e nesse caso, o absurdo. Os inimigos da velocidade e amantes da segurança elegeram a Eau Rouge a nova vilã da F1 e do automobilismo. Não vão descansar enquanto não mutilarem a curva ou tirarem Spa do calendário. Era culpa da Tamburello ou da negligência da FIA?

A culpa não é da Eau Rouge. As pessoas precisam entender que carros e pistas "seguras" nas mãos de pilotos ineptos da geração simuladores que só estão lá porque levam dinheiro é uma grande receita para a morte. Anthoine Hubert e Jules Bianchi morreram por esses fatores e a negligência, não pela Eau Rouge ou a chuva. 

A Eau-Rouge é a Geni da vez.

Escrevi isso no final do ano passado, após o acidente de Grosjean, e assim finalizo o texto de hoje:

"Quando acontecem esses grandes acidentes, é muito fácil culpar o autódromo, a FIA, acabar com áreas de escape, mutilar traçados ou excluir circuitos do calendário. Difícil mesmo é bater de frente com as inúmeras consequências que a elitização do automobilismo causa, dentre elas estar acima do bem e do mal independentemente do que se faça na pista. 

É evidente que não se pode retroceder pelo nome do purismo ou da nostalgia, mas certamente se o automobilismo continuasse menos seguro, tenho convicção de que teríamos pilotos melhores e cientes da função que fazem, além de barrar os inconsequentes. Acidentes, erros e o risco sempre irão existir no automobilismo, isso só precisa ser lembrado e hoje, infelizmente, raramente isso é levado em consideração."

Maldita Eau-Rouge!

Até!

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