segunda-feira, 26 de novembro de 2018

EU SOU A LENDA

Foto: Getty Images
Até que o GP de Abu Dhabi não é tão ruim assim. Nas últimas etapas, as três principais equipes estiveram com forças equiparadas e andaram próximas. O que decidiu foram as estratégias e a forma como lidar com as situações de corrida. Pena que foi justamente quando o campeonato acabou e, coincidência ou não, a Mercedes deixou de usar os pneus com furos.

O pentacampeão mostrou hoje porque é o melhor piloto da atualidade e deu aula de como administrar uma corrida. Depois que Kimi Raikkonen se despediu da Ferrari com um problema no motor logo na volta 8, o inglês antecipou a parada, algo já recorrente nesse tipo de situação. Voltando em quinto durante o VSC, passou Verstappen e depois foi ultrapassado, sem brigar pela posição e pensando no senso de corrida. Não valia a pena brigar e desgastar pneu a toa. Sem precisar fazer mais paradas, bastou administrar a vantagem e vencer pela 72a vez na carreira e estabelecer números tão impressionantes quanto a pilotagem.

Vettel fez uma corrida sem erros, algo que já merece ser chamada a atenção nessa temporada, que é para esquecer. Muito aquém do nível de um campeão. No ano que vem, terá que lutar contra Hamilton, Mercedes, Ferrari, seus próprios e agora também um jovem e faminto Charles Leclerc, outra vez sétimo colocado e com uma impressionante temporada de estreia na Sauber, elevando o nível da equipe e agora chega na equipe italiana com muita moral. Resta saber se vai suportar a pressão agora que vai ser protagonista e se a Ferrari vai ter paciência com o monegasco.

Verstappen começou a corrida com um problema no motor e perdeu posições. Combativo, arrojado e inconsequente como sempre, recuperou elas e terminou no pódio. Se envolveu de novo em embate na pista com Ocon, passando nos cotovelos e dando chega pra lá em Bottas, jogando o carro, de novo em posição de quem não tem nada a perder. Apesar dos destemperos, Verstappen em termos de rendimento só perdeu para Hamilton na segunda metade da temporada. Os números comprovam isso. Mais rápido e constante, precisa domar mais as emoções e pensar na corrida como um todo, não só na curva seguinte.

Foto: Getty Images
Nas despedidas positivas, Ricciardo terminou em quarto e tinha ritmo para ficar no pódio, mas a Red Bull optou por fazer a parada mais tarde e tentar recuperar o terreno com pneus frescos para atacar no final. Não deu certo. Para o australiano, o fato de não ter abandonado nas duas últimas provas é algo bastante positivo. Com oito abandonos, a temporada ficou completamente comprometida. Nos treinos se mostrou mais lento que Max, mas o ritmo de corrida é no mínimo igual ou ainda levemente superior ao do holandês. Resta saber o que será capaz de fazer na ainda combalida Renault.

Carlos Sainz foi o melhor do resto, com uma ótima estratégia. Hulkenberg, futuro parceiro de Ricciardo, capotou na primeira volta. Parecia algo sério, mas o santo antônio protegeu bem o alemão. Com o Halo, ficou impossível sair do carro sem ter esperado ele ter se virado pelos fiscais, que demoraram bastante para chegar no local. Foi um acidente de corrida com Grosjean, que incrivelmente não foi culpado. Hulk espalhou demais na curva e, em virtude do ponto cego, não viu o francês por ali, causando a batida. Depois de dois anos com Palmers e Sainzs, Hulk parte para o maior desafio da carreira: dividir a equipe com o australiano sorridente. Será um embate interessante de se assistir.

Pérez em oitavo e Magnussen em décimo complementaram o top 10. Um capítulo a parte é Bottas: o primeiro piloto da Mercedes na era híbrida a terminar o ano zerado. Era para ter vencido em Baku e na Rússia, mas as circunstâncias não ajudaram. Ademais, foi uma temporada lamentável, principalmente o fim. Hoje, sem ritmo, foi desgastando o pneu até não ter mais aderência e ser passado facilmente por Vettel e Red Bull. Se não fosse uma temporada tão errática quanto do alemão, a Mercedes poderia estar ameaçada nos dois campeonatos. O que Toto Wolff pretende para 2020: colocar Ocon, instável e que perdeu para Pérez? Ou as fichas vão para George Russell, o novo bola da vez? Problemas para quem deseja manter a hegemonia no campeonato. Só com Hamilton basta, mas é perigoso dar chance para o azar.

O mais legal da corrida aconteceu depois. Os três campeões mundiais andando lado a lado e fazendo zerinhos. Uma pena é que foi o público de Abu Dhabi que presenciou esse título histórico. Alonso, lado a lado com os dois maiores rivais e algozes, o respeito mútuo de quem teve diversas batalhas ao longo dos anos e vê um dos melhores pilotos da categoria sair em virtude do comportamento problemático fora da pista que queimou pontes até resultar no fim. Alonso é um gigante do esporte e que vai fazer muita falta. Tomara que volte. Foi um momento lindo reconhecer o grande piloto que foi, mas lamentar o que poderia ter sido se tomasse as decisões certas.

É claro que esse lindo momento e Hamilton tirando o macacão no pódio (ainda bem!) você não pode ver na Rede Globo porque ela resolveu optar mostrar torcedores bêbados comendo churrasco e palpitando sobre resultados de jogos inúteis do Brasileirão de quatro horas depois. Uma total falta de respeito com o fã que queria ver a última festa do pódio na temporada. Se é pra fazer transmissão porca, é melhor manter a corrida no SporTV e passar os melhores momentos depois do Domingo Maior como fazem nas corridas da América do Norte ao invés de nos tratar como idiotas.

Ademais, hoje Abu Dhabi presenciou a despedida de um ídolo do esporte e, com a presença do amigo Will Smith, vê a cada prova Lewis Hamilton se tornar mais lenda do que já é, podendo tornar-se o maior e superar Michael Schumacher. Somos privilegiados de ver tantos campeões em ação e a história sendo feita. Que venha 2019 com mais competitividade e emoção. Vai ser difícil, mas não podemos perder as esperanças.

Confira a classificação final do GP de Abu Dhabi:


Nesse fim de ano vem muito mais no blog: o restante do especial Alonso e a análise da temporada.

Até!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, esse é o espaço em que você pode comentar, sugerir e criticar, desde que seja construtivo. O espaço é aberto, mas mensagens ofensivas para outros comentaristas ou para o autor não serão toleradas.