segunda-feira, 27 de março de 2017

TEMOS UM CAMPEONATO

Foto: Getty Images
Quatro meses depois, a F1 voltou. Na madrugada de sábado para domingo, testando o sono e a paciência dos fãs. Bom, por ser a corrida de estreia da "nova F1", era difícil não ficar empolgado com o que ia acontecer: carros potentes, mais rápidos, mais difíceis de serem guiados, promessa de emoção na pista com a busca por alguém que possa deter a Mercedes, etc. Pois bem, vimos apenas a última coisa: pelo que parece, a princípio, a Mercedes não irá dominar o campeonato de ponta a ponta como nos últimos três anos. A Ferrari voltou. A Ferrari voltou (ao menos Vettel). Entretanto, a "nova F1" parece uma releitura dos anos 2000: carros impressionantes, mas com pouco ou quase nada de competitividade dentro da pista.

A vitória foi decidida no famigerado box (o que era comum pelos idos de 2004). Hamilton, com maior desgaste nos pneus, parou mais cedo. Vettel, que não deixou o inglês escapar, aproveitou o tempo a mais na pista para continuar andando forte no primeiro stint e fez o suficiente para fazer o pit stop e voltar a frente do tricampeão. O que ficou claro: o W08 é mais veloz em ritmo de classificação; em corrida, as coisas se equivalem, e a Ferrari parece ter menos problema de desgaste dos pneus. Hamilton voltou do pit atrás de Verstappen e, embora estivesse mais rápido, não esboçou tentativa de ultrapassagem, pois era muito difícil se aproximar, devido a aerodinâmica desses novos bólidos. Com isso, Vettel se isolou e partiu para a vitória. Hamilton, novamente com problema de desgaste dos pneus, não teve forças para acompanhar o SF70 e teve Bottas chegando bem próximo, em terceiro.

Foto: Getty Images
A nova F1 mostrou como será difícil ultrapassar com essas regras. Embora tenha embolado a disputa enre Ferrari e Mercedes, a corrida foi uma procissão. Dormi umas 10 voltas, algo impensável para um GP da Austrália, sempre movimentado e com Safety Car, independentemente da condição climática. Pouquíssimas disputas dentro da pista. Apenas me lembro de Ocon e Hulkenberg passarem Alonso no fim da prova, isso que a McLaren do espanhol estava com problemas. A Liberty Media certamente vai rever isso no curto/médio-prazo e fazer ajustes no regulamento, inclusive na questão da distribuição financeira das equipes. Com o dinheiro melhor distribuído, mais equipes terão condições de brigar por vitórias. Hoje, claramente só temos Ferrari, Mercedes e Red Bull com potencial. O abismo para o resto é gritante.

A Red Bull está distante das outras duas equipes, mas está isolada como terceira força até aqui. Não se pode duvidar de Adrian Newey e seus homens, mas existe um caminho para percorrer até poder brigar por vitórias. Raikkonen e Bottas estão muito distantes de seus companheiros de equipe. Ambos, até aqui, podem servir para atrapalhar o adversário, embora Valtteri tenha feito um papel melhor que Kimi, distante até de brigar pelo pódio. Ricciardo errou no Q3 de sábado e pagou pelo preço dos danos do carro. Com problemas de câmbio, abandonou a prova, decepcionando o público local.

Mais isolado no posto de quarta força é a Williams, digo Massa. O brasileiro largou em sétimo, superado pelo ótimo tempo de Grosjean, mas logo na largada pulou para sexto e ficou ali até o final, chegando 1 minuto e 23 segundos atrás do vencedor. A Williams não estava perto das primeiras equipes como se alardeava nos testes, mas está bem na briga pelos pontos. O problema é Stroll. Além de errar muito, o que era esperado, mostra-se incrivelmente lento. O onboard de seu carro mostra o volante "tremendo" na reta e evidenciando a dificuldade de condução do FW40. Abandonou faltando 14 voltas. A Williams disse que foi "problema técnico". O paddock diz que o canadense cansou. Se a segunda hipótese for verdade, os novos carros deixam claro que os mais novos não têm condição de dirigir um F1 mais robusto e difícil que nem o desse ano (Wehrlein o que diga). Óbvio que Verstappen foi bem, mas o erro é comparar o holandês com Lance. Não existe semelhança nenhuma. Seria melhor para a família Stroll ter ido para a GP2 agora. A exigência é outra e o jovem piloto só estará se queimando na F1. Até que ponto o staff da Williams vai se sujeitar ao dinheiro do senhor Lawrence? É isso que queremos saber.

Foto: Jason Reed/Reuters
Force India e Toro Rosso mostraram bons carros e conseguiram colocar seus dois pilotos na zona de pontuação. Embora os indianos rosas aparentemente estejam um pouco atrás da Williams na briga pela quarta força, tudo indica que eles devem ficar a frente dos ingleses na tabela, até porque o time de Vijay Mallya tem dois pilotos que pontuam. Isso faz diferença. Pérez ganhou quatro posições e foi seguro, fez o papel de líder do time. Kvyat parece ter se recuperado depois de um ano traumático. Apenas não entendi o porquê de ter feito duas paradas, sendo que a primeira foi mais tarde que as demais. Chegou em nono. No fim, o jovem Ocon estreou na Force India com um pontinho conquistado sobre Alonso, que fazia milagre, e Hulkenberg. A Renault ainda não mostra evolução o suficiente para pontuar, apesar de ter um piloto espetacular, mas esbarra no mesmo problema da Williams: o outro não é. Dinheiro não vai faltar para os franceses evoluírem no decorrer da temporada, e tenho certeza que isso irá ocorrer.

Foto: Getty Images
Alonso quase fez milagre com a carroça da Honda. O espanhol ganhou as posições de Ocon e Hulkenberg na largada e aproveitou o abandono de Grosjean para ficar em décimo, posição que sustentou até quase o final, quando teve problemas de suspensão e abandonou a prova faltando quatro voltas, depois de ser superado pelos carros da Force India e Renault. A fênix disse que poucas vezes teve um carro tão pouco competitivo e essa foi uma das "melhores corridas da carreira". A Honda chega a ser mais de 10 km/h mais lenta do que os demais motores. Ou os japoneses melhoram urgentemente ou a McLaren ficará definitivamente no fim do grid quando a F1 chegar nos circuitos de alta velocidade. Imagina em Spa ou em Monza? Se em três anos a Honda só acumulou fracassou, a tendência é que sigam em dificuldades, embora prometam um novo motor até Mônaco. Talvez só no tempo da Minardi que o bicampeão enfrentasse tantas dificuldades. Seu companheiro de equipe, Vandoorne, foi o 13°.

Para finalizar: Giovinazzi tem muito potencial para ficar na F1. Depois de pegar uma bucha e substituir Wehrlein a partir do TL3, quase foi para o Q2, se não tivesse errado na última curva da volta. Na corrida, fez um papel correto e chegou em 12°, enquanto Ericsson abandonou. O italiano aproveitou a chance. Pontuar seria pedir demais, mas é mais um que mostrou superioridade ao sueco. Fica a campanha pela chegada de Giovinazzi como piloto titular, seja no lugar de Wehrlein ou de Ericsson. O piloto, que agora é da Academia da Ferrari, mostrou cartaz. Se a F1 tivesse 22, 24 ou 26 carros, certamente não teria esse problema, mesmo sem um grande patrocínio. É uma pena que essas oportunidades sejam cada vez mais raras e Strolls, Palmers e Ericsson imperem na categoria...

Confira a classificação final do GP da Austrália:


A próxima corrida será no Grande Prêmio da China, daqui duas semanas, nos dias 7, 8 e 9 de abril.

Até!

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