domingo, 29 de maio de 2022

BONANÇA MEXICANA

 

Foto: Getty Images

Não foi dessa vez que a Ferrari e Leclerc espantaram a zica. Uma mistura de azar e incompetência dos italianos, onde o monegasco foi vítima. Vamos por partes.

A F1 nunca mais vai correr na chuva. Tá certo que, por ser em um circuito apertado e difícil, a chance de diversos acidentes seria altíssima, então deu para entender. O problema é que esse processo sempre se repete. Qual o sentido em fazer pneu de chuva se é proibido correr quando cai um pingo no chão?

A largada foi adiada o quanto foi possível e duvido que quisessem repetir o constrangimento da Bélgica, menos de um ano depois. Com a pista secando e os carros largando em movimento atrás da Safety Car, a procissão habitual prosseguiu. Apenas Stroll e Latifi, pra variar, erraram e pararam no final do grid.

Com a pista secando, a estratégia faria a diferença. Parar e trocar os pneus no momento certo matariam a questão. Lá atrás, Gasly dava show com os intermediários e tinha mais ritmo. Até ultrapassar conseguiu!

Diante disso, a Red Bull antecipou a parada de Pérez com os intermediários. No entanto, a pista foi secando. Max entrou logo depois e Sainz colocou os pneus duros. A Ferrari não só demorou com Leclerc como fez o então líder colocar os intermediários para depois ter os duros. Duas paradas e o quarto lugar. Inocência, burrice e incompetência italiana que perdeu 16 ou 17 pontos fundamentais para a briga no campeonato. A Ferrari era de longe quem tinha mais ritmo e velocidade no Principado.

Mesmo fazendo duas paradas, Pérez estava num ritmo muito bom outra vez, a exemplo da Espanha. Impressionante como o mexicano se adaptou ao carro dessa temporada, melhorando os resultados e andando próximo de Max. Foi contratado exatamente para isso. O erro no sábado o beneficiou para poder largar na frente do holandês e não precisar fazer jogo de equipe.

O melhor dos mundos precisava acontecer para sonhar com uma vitória: a exemplo da primeira vitória de Massa em 2006, na Turquia, Pérez precisava de uma Ferrari entre ele e Max. Lá estava Sainz. No trenzinho da alegria, o mexicano se aproximava da vitória.

Mônaco precisava de um drama e ele veio com um pequeno susto. Mick Schumacher bateu forte e o carro chegou a partir em dois. Nada de grave com o alemão, que segue zerado no ano e colecionando acidentes. A chegada de Magnussen foi a pior coisa que poderia acontecer para o cartaz do Schumaquinho. Segue com dificuldades. Tardiamente, a direção acionou a bandeira vermelha e tudo poderia mudar.

A Red Bull preferiu os pneus médios e a Ferrari os duros. A ideia era buscar se distanciar, visto que com pneus iguais a Ferrari tinha mais aderência. Os dois pilotos taurinos se viram em uma polêmica: passaram com duas rodas na linha amarela no retorno dos boxes, o que em tese não pode. No entanto, diante das condições de pista e o fato da roda não ter ultrapassado totalmente a linha (segundo a FIA), não houve punições.

Diante de tantas paralisações, dessa vez a FIA optou por finalizar a corrida no limite de três horas. No final, 64 voltas completadas das 77 previstas. Os pneus da Red Bull se deterioraram e Sainz foi pra cima. O trenzinho da alegria estava feito mas nada mudou.

Sérgio Pérez vence pela terceira vez na carreira, a primeira no ano e é o quinto latinoamericano a vencer no Principado, o que não acontecia desde Juan Pablo Montoya. É um ano incrivelmente consistente de Checo. Na Arábia Saudita, teve azar no Safety Car. Na Espanha, foi impedido de ganhar. Em Mônaco, teve sorte, ritmo e a boa estratégia da equipe para vencer. O mexicano vive um momento único.

O journeyman, diferentemente da lógica da F1, vive o auge nos últimos dias da carreira. Depois de passar por tanta coisa, está colhendo os frutos de anos no underground e pódios escassos em equipes falimentares apenas agora. Consistente e ajudando a Red Bull, Checo pleiteia mais uma renovação pelos taurinos, porque não há nenhum talento pronto para subir. 

No entanto, não se enganem: mesmo que ande bem e esteja próximo de Max no campeonato, a equipe é dele e o papel continue o mesmo, apesar do mexicano as vezes tentar insistir externamente o contrário. Se nem Ricciardo que era cria do energético teve esse privilégio, imagina um forasteiro. Pés no chão. Checo precisa desfrutar momentos dourados como o de hoje. É um herói nacional mexicano.

No campeonato, Max sai muito fortalecido. Sem ritmo, ainda assim consegue colocar mais três pontos de vantagem em relação a Leclerc, prejudicado pela burrice da equipe. Mais uma chance desperdiçada pela Ferrari. E é assim que os campeonatos são perdidos. Sainz está batendo na trave e precisa de mais regularidade e velocidade para finalmente vencer a primeira na carreira.

O regular Russell outra vez foi o melhor do resto, seguido do segundo melhor da F1 B, Lando Norris. Finalmente Alonso teve um final de semana sem problemas e ficou em sétimo. Com dificuldades, Hamilton foi só o oitavo. Parece que a Mercedes regrediu em circuitos de baixa. A ver como será em Baku, circuito de rua cheio de retas. Numa disputa com o heptacampeão, Ocon fechou demais a porta e foi punido com cinco segundos, perdendo os pontos. Bottas herdou o nono lugar e Vettel conseguiu um pontinho, em décimo.

Ricciardo segue na jornada ruim. Mesmo em condições malucas, mais uma vez ficou longe de pontuar e a batata está assando ainda mais. Gasly tentou mas segue atrás de Tsunoda nos pontos. Zhou ainda está se adaptando na categoria e segue distante de Bottas.

Se Mônaco não oferece milhares de ultrapassagens artificiais, a tensão e a estratégia em uma corrida diferente como a de hoje valem muito a pena. Diante de vários circuitos iguais do Tilke ou aqueles circuitos de rua insossos, não tem problema em Mônaco continuar no calendário. Isso sequer deveria ser cogitado pela geração Drive to Survive, que parece gostar apenas de artificialidades. São 23 corridas no ano. Qual o problema de Mônaco? Existem milhares de pistas horríveis e sem a carga histórica de Monte Carlo para sair do calendário e efetivar Mugello e o retorno de Sepang, por exemplo.

Vida longa a Mônaco, que hoje foi digna de um capítulo que premiou o azarão que nunca desistiu de lutar e está sendo recompensado agora, nos últimos anos. Depois da tempestade, veio a bonança mexicana. Apimentada, intensa e cheia de sentimentos.

Confira a classificação final do GP de Mônaco:


Até!


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