terça-feira, 31 de maio de 2022

O MELHOR É O FINAL

 

Foto: Divulgação/Red Bull

A história de Sérgio Pérez desde o início teve um toque diferente do padrão no automobilismo. A começar, claro, pela nacionalidade. Depois dos irmãos Rodríguez, lá nos anos 1970, o México não teve grandes representantes na Fórmula 1.

A promessa, bancada por Carlos Slim, uma das pessoas mais ricas do mundo, teve resultados razoáveis na GP2. Em condições normais, não teria feito o suficiente para seguir adiante. No entanto, o trunfo de Carlos Slim e ser membro da academia da Ferrari fizeram Checo parar na Sauber, a Ferrari B.

Desde o início, era possível ver que havia algo diferente no jovem. A quase vitória na Malásia 2012 e os pódios com um carro mediano, sempre administrando os pneus, mostravam que Checo poderia estar nas prateleiras de destaque da F1. Talvez tenha ido lá cedo demais. O fardo de substituir Hamilton na McLaren ainda sem tanta bagagem, e com Button do outro lado, o atrasou. Dizem que tinha um relacionamento difícil com a equipe e com o gentleman campeão mundial, era um cara difícil.

Por isso que Checo durou apenas um ano na McLaren, que preferiu subir Kevin Magnussen. Quem sobe e depois desce, tão jovem, já tem aquele carimbo de piloto insuficiente para grandes desafios. E Pérez precisou recomeçar.

Na Force India, sempre viu Nico Hulkenberg como a estrela, o cara que tinha potencial para estar num carro melhor. Em três anos, o mexicano fez mais pontos e pódios, enquanto o badalado alemão nunca passou perto. Ainda assim, Checo nunca foi considerado para grandes vagas. "Falhou na McLaren" e, não podemos fingir que não existe, é mexicano. Não tem o hype numa categoria majoritariamente europeia e principalmente britânica, mesmo com o faz me rir.

A Force India faliu e Checo pagou do próprio bolso os funcionários para tudo não acabar. Enfrentou rivalidade dura com Ocon e continuava fazendo os pódios que dava. Era o máximo possivel na realidade do meio do pelotão. Mesmo que apenas se resumisse nisso, a jornada não era tão ruim. 

Em 2020, a Racing Point "Mercedes B" poderia permitir algum sonho além de pódios esporádicos. Algo mais constante, por que não uma vitória ou uma pole? A jornada do mexicano começou complicada: resultados aquém do esperado e covid. Será que na hora da responsabilidade o mexicano "tremia"?

A recompensa veio no oval de Sakhir. Numa corrida atípica, como não poderia deixar de ser, a primeira vitória de Checo Pérez. Finalmente chegou o dia. É um dos poucos que conseguiu vencer e fazer pódios somente em equipes medianas como a Sauber e a Force India/Racing Point. Não é para qualquer um.

Ali, parecia que a jornada do herói mexicano terminava com um gostinho de quero mais. Justo agora que a vitória veio não existiria mais a possibilidade de repetir o feito? Lawrence Stroll comprou a Racing Point e transformou em Aston Martin. Uma das vagas era do filho e o time optou pelo tetracampeão Sebastian Vettel. Mesmo com dinheiro e talento, Pérez estava se despedindo da F1 no melhor momento da carreira, fora da curva habitual, onde jovens promessas sucumbem. Hoje, é raro alguém perseverar tanto no "lado B" e ainda assim conseguir a recompensa.

E ela veio. As estrelas se alinharam. Checo estava na situação certa e no momento certo, quem diria. Sem um piloto confiável na academia, a Red Bull ligou. Um dos melhores carros do grid. O papel é simples: ajudar Max. Isso significa: boas chances de pódio e quem uma vitória ali, uma pole aqui...

A sorte sorriu para Checo no final da carreira. É uma estrela diferente, um outlier. Driblou a lógica e o resultado é o que vemos agora.

Aos 32 anos, vive a melhor semana da carreira e o melhor momento no automobilismo. Checo encaixou muito bem com esse carro da Red Bull no novo regulamento, andando mais próximo de Max. Mais adaptado a equipe, está fazendo mais pontos e teve três chances de vitória: era líder na Arábia Saudita (quando fez a primeira pole) quando teve azar na hora do Safety Car e foi prejudicado pelo jogo de equipe na Espanha.

Pérez sabe qual é o papel dele. Mesmo que esteja próximo de Max na classificação, sua função é somar pontos e ajudar o holandês a ganhar títulos. Se nem Ricciardo que era piloto Red Bull teve alguma chance, não é o forasteiro que vai sonhar, infelizmente.

A importância de estar no lugar certo e na hora certa é a famosa "sorte", o alinhamento das estrelas. Dois dias depois de vencer em Mônaco, Checo renovou com a Red Bull por mais dois anos. 

Aí temos dois sinais. O primeiro é que a Red Bull está gostando do trabalho e sentindo a evolução do piloto que vai ficar no mínimo até os 34, quando geralmente nenhum piloto está numa equipe de ponta, principalmente na Fórmula 1 de hoje, onde as coisas acontecem de forma cada vez mais precoce.

O segundo é que claramente os taurinos perceberam que, no futuro próximo, nem Tsunoda, Vips, Hauger ou Daruvala mostram sinais de estarem aptos a subir para o time principal. O jeito é se desenvolver na F2 e subir para a F1, ganhando experiência na Alpha Tauri. Mais do que nunca, Pierre Gasly finalmente entendeu que precisa continuar a carreira em outro lugar e deixar a fábrica de energéticos tal qual Carlos Sainz, conforme já escrevi por aqui.

Piloto "pagante" que fez história em equipes menores, alcançando o ápice da carreira quando geralmente as pessoas estão em baixa. A fábula da carreira de pilotos como Sérgio Pérez, o journeyman, vai ser cada vez mais rara na Fórmula 1. A jornada do herói está em extinção. Precisamos desfrutar desses exemplos porque o esporte é feito de histórias, não apenas de títulos, talento ou recordes.

A história de Checo Pérez mostra que o melhor está no final e premia mais de uma década de torcida destes que vos escreve. Assim como Checo, fomos premiados, tal qual a Roma. Tudo isso na mesma semana. Resiliência é tudo? O melhor está no final.

Até!

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