terça-feira, 5 de julho de 2022

GERADOR DE LERO-LERO

 

Foto: Divulgação

O automobilismo sempre foi e talvez sempre será um ambiente elitista, pelos altos custos que tem e como quem pertence a esse universo é privilegiado, em qualquer aspecto que você escolher. Como em tudo que nos rodeia, é um recorte da nossa sociedade, principalmente no aspecto social e econômico. A famosa bolha.

Como não poderia deixar de ser, o público alvo sempre foi selecionado para quem tem o poder aquisitivo de comprar os caros pertences e frequentar os lugares do automobilismo, até porque o circo precisa ser pago. Manter toda a estrutura e o glamour tem um preço que não é acessível para o cidadão médio. E isso sempre foi institucionalizado pela F1, principalmente na gestão Bernie Ecclestone. O aceno ao Oriente Médio não era somente político e a atual gestão, a moderna Liberty, mantém o mesmo caminho: em tempos de pós-Covid, a conta precisa ser paga.

Nos últimos anos, é perceptível uma mudança de público que “engaja” (termo da moda) e se interessa pela categoria. Se antes eram raros os malucos que gostavam de ver carros fazendo vrum num domingo onde o mais importante é o carro, agora vimos que é um fenômeno que vai muito além do alcance padrão institucionalizado do homem de alto poder aquisitivo.

Os motivos? São bem evidentes. A Liberty, americana, sabe atrair e tornar a F1 em um espetáculo, mesmo na era Mercedes sem graça. A série da Netflix trouxe a dramaticidade e interessou muitas pessoas que talvez olhassem pra categoria de forma torta, ou talvez nem conheciam o esporte mesmo. E o público da Netflix não abrange somente homens de alto poder aquisitivo, muito pelo contrário.

Outro motivo evidente é Lewis Hamilton. Sempre famoso por andar com as celebridades, o sucesso esportivo, o carisma, a representatividade e as atitudes extrapista trouxeram muitos admiradores, principalmente quem não acompanhava a categoria. Hamilton é o pacote completo: o piloto supercampeão e a pessoa supercampeã, exemplo, que entendeu o que é e o que representa graças a maturidade dos últimos anos. Pessoas que a F1 não fazia questão de ter como público alvo enxergam Hamilton como um exemplo óbvio: o primeiro piloto negro na categoria e, para muitos, o maior e melhor da história.

O universo da representatividade trouxe também as mulheres como protagonistas, cada vez mais exercendo funções importantes nas equipes, na parte mecânica, estratégica, engenharia, entre outros. E as fãs, claro. Quem acompanha as redes sociais se surpreende com o alto engajamento feminino e muito bem embasado na categoria, principalmente também na presença de público em Interlagos.

O automobilismo, assim como os esportes de combate, tem no público alvo consumidor talvez a mais evidente expressão caricata do “macho”. Ainda não há pilotas na F1, mas o desenvolvimento da W Series permite também que as mulheres possam estar nos monopostos como protagonistas, assim como algumas pioneiras conseguiram vaga no grid nas décadas anteriores. Recentemente, até chefe de equipe nós tivemos, através da Monisha e de Claire Williams.

As diferentes culturas e a imersão de públicos e estereótipos não pertencentes a F1 “raiz” é um choque para a zona de conforto e para uma geração mais antiga, é claro. Comportamentos que seriam normais no passado hoje não são mais toleráveis. São os tempos que vivemos. Quem não entender, respeitar e se adaptar, fica para trás.

Nelson Piquet sempre foi um anti-herói, um cara sincero que, através da pretensa sinceridade de falar o que quer e como quer, conquistou muitos fãs nas ditas declarações “politicamente incorretas”. Não é novidade. Os trechos expostos falando sobre Keke Rosberg e principalmente Lewis Hamilton têm um peso gravíssimo por se tratar de um tricampeão mundial, um dos maiores pilotos da categoria.

Nelson nunca teve papas na língua, mas isso nem sempre é sinônimo de ser algo positivo, como estamos observando. Bernie Ecclestone é outro que representa o passado. Sua importância na categoria e a mão de ferro que conduziu e transformou a F1 no que ela é hoje é inegável. Bernie é mais importante para a história da F1 que muitos pilotos, mas os fins sempre justificaram os meios e a F1 é produto dessa mentalidade outrora padrão do automobilismo.

Longe de querer tirar a importância e a arrogância de ignorar e esquecer quem tanto fez para o esporte, mas é evidente que comportamentos e frases que estamos lendo não são mais toleráveis. Se eram antes, já passou, devemos olhar para frente e mudar a mentalidade.

Juri Vips na semana passada e Kyle Larson na Nascar, onde inclusive é o atual campeão, foram outros exemplos de frases e brincadeiras racistas. Larson foi punido e voltou, caiu para cima e foi campeão. Vips saiu da Red Bull mas continua na F2, apesar dos protestos públicos da categoria. É um erro que custa uma carreira, obviamente.

A questão não é sobre segunda chance ou julgar de cima sobre os erros alheios. Não é o meu papel, mas o comportamento errático está presente até entre os profissionais de imprensa. Ninguém é santo. Mais importante do que mostrar descontentamento, indignação e textos falando sobre como é possível reverter isso são as práticas assertivas. Como fazer isso?

A cada caso, é sempre o discurso padrão de repúdio e “não passarão”! A verdade é que eles passam e repassem, a consequência é quase inexistente. Alguns caem para cima. O pior erro é ser definitivo, é preciso equilíbrio, tempero, mas ainda assim uma definição.

Esse texto é mais um gerador de lero-lero sobre os acontecimentos diários de racismo, machismo, homofobia, estupro e tantas outras coisas que estão ao nosso redor, nos indignamos, mas as coisas demoram para mudar, e quando mudam.

A esperança na mudança de mentalidade, escrevendo especificamente sobre o automobilismo, está justamente nos novos fãs e consumidores desse universo. Um toque de frescor e diversidade a um estigma. Não sei como escrever isso, mas os choques de geração, criação e até as diferenças socioeconômicas serão mais constantes agora, onde essa área de convívio ainda é inédita.

Com o passar do tempo, a minha torcida é que algumas situações se normalizem. Que a representatividade de Hamilton e outros profissionais “minoritários” no esporte sirvam de inspiração para qualquer pessoa apaixonada pelo automobilismo esteja ali sem aqueles olhares, falas e gestos que tiram a naturalidade de viver e seguir nesse universo.

Sou cético, mas nesse caso acredito que o gerador de lero-lero que tanto repetimos e torcemos para acontecer já está mudando, mesmo que a passos de tartaruga, a mentalidade das pessoas. É assim que o esporte educa e influencia a sociedade, onde a contribuição não está só no entretenimento em si, mas também através da cidadania de nos impactar e fazer com que esses exemplos positivos sejam espalhados pelas nossas comunidades locais.

De grão em grão, o exemplo do automobilismo pode melhorar o convívio e o respeito a todos nas diferentes manifestações, inclusive a ambiental, que parece ser tão contraditório a um esporte a motor. É evidente que tudo isso deveria ser uma obrigação das pessoas, mas até lá, é necessária uma construção passo a passo da cidadania e da sensibilidade para com o próximo.

Até!

 


segunda-feira, 4 de julho de 2022

TUDO CONTRA

 

Foto: Divulgação/Ferrari

Tentando fazer algumas adaptações de contexto, Charles Leclerc até agora é, de certa forma, um Jean Alesi da Ferrari no século XXI com um pouco mais de sorte, mas nem tanto. Piloto muito rápido e talentoso, ninguém duvida de suas capacidades, tal qual o francês despontou lá nos anos 1990. Além disso, o que também os une é o incrível azar e falta de timing em alguns aspectos.

Alesi pegou uma Ferrari em reestruturação e não tinha a menor chance de competir com McLaren, Williams e Benetton na época. Quando tinha a oportunidade, acontecia alguma coisa que o impedia de vencer. Até mesmo na única vitória na carreira, no Canadá em 1995, o carro teve pane seca logo depois. 

Leclerc chegou na Ferrari forte, desbancando Vettel e mostrando que era de verdade. Quando ia vencer no Bahrein, o motor teve problemas. Inúmeros erros de estratégia, batidas e ultrapassagens no fim evitaram que o monegasco, de inúmeras poles, tenha "só" quatro vitórias até aqui. Isso porque teve dois anos com uma Ferrari lamentável, que o alijou das grandes disputas. Ainda assim, fez poles e quase venceu em Silverstone no ano passado.

Não tem muito o que fazer contra o azar ou problemas no equipamento. Foge do controle de uma pessoa. No entanto, já vimos Leclerc sofrer repetidas vezes com vários erros de estratégia da Ferrari que só o prejudicaram, tiraram vitórias que poderiam ser cruciais na briga pelo título contra Max Verstappen. Ontem a situação atingiu um limite.

Qualquer equipe que se preze prioriza quem é o mais rápido. Na Ferrari, esse alguém é Charles. Mesmo com o carro danificado, ele estava encostado em Sainz. Quando a Ferrari finalmente se livrou do espanhol, não quis chamar o monegasco para os boxes na hora do Safety Car porque achou que os pneus macios iam se deteriorar rápido e os pneus duros dele estavam menos desgastados.

Ao priorizar o segundo piloto, Leclerc perdeu a vitória e pontos importantes para encostar em Max e tirar a grande desvantagem que tem, isso que o monegasco venceu duas das três primeiras corridas do ano. E parou por aí. Muito por azar, incompetência da Ferrari, o óbvio crescimento da Red Bull e alguns erros de Charles, como em Ímola, onde perdeu o pódio por bobagem. 

Ao final da corrida, ainda teve que ver o dedo de Mattia Binotto em riste. Ou seja: a equipe não ajuda, atrapalha e Leclerc ainda precisa ouvir calado as ordens da cadeia de comando. Um completo absurdo.

Essa é uma corrida que pode criar precedentes. Hamilton decidiu sair da McLaren após mais um abandono na temporada de 2012. Ao ser desrespeitado pela equipe está mais atrapalhando do que ajudando, Charles Leclerc precisa olhar para o futuro com cuidado. A Ferrari não ganha nada há quinze anos e não parece provável que estejam perto disso, apesar de retornarem ao protagonismo dos pódios.

É muita baderna e desorganização. A Ferrari só foi alguém de fato, nos últimos quarenta anos, quando Ross Brawn, Jean Todt e Michael Schumacher lideravam a organização. Sem um grande comandante e alguém que dê sustentação para Leclerc, o monegasco precisa no mínimo repensar e refletir as opções.

Hamilton em breve vai se aposentar e uma das vagas da Mercedes vai ficar aberta. Quem sabe, em uma aproximação com Toto Wolff, a ponte para o futuro no médio prazo? Os alemães já se mostraram mais competentes e, mesmo em desvantagem nessa temporada, já estão chegando na Ferrari. É questão de tempo até vencerem a primeira no ano.

O que não pode é Charles Leclerc ter tudo contra ele: Mercedes, Red Bull e até mesmo a própria equipe.

Até!

domingo, 3 de julho de 2022

MAIS SORTE QUE JUÍZO

 

Foto: Mark Thompson/Getty Images

A corrida de hoje em Silverstone mostrou que nem sempre quem vence faz uma boa corrida ou apenas o suficiente para ganhar. Claro, é óbvio que fez o suficiente se recebeu a bandeirada primeiro, mas isso também está ligado a outras circunstâncias que só o contexto faz questão de lembrar. Para os livros de história, não, até porque ela é contada pelos vencedores.

Talvez isso soe chato ou ranzinza, mas tudo bem. O importante é que finalmente Carlos Sainz venceu a primeira na carreira, justamente no final de semana onde fez também a primeira pole. Depois de bater na trave com a McLaren e em algumas etapas desse ano, o espanhol fez o hino do país voltar a tocar na F1 depois de nove anos, novamente com a Ferrari, onde Alonso triunfou pela última vez. Finalmente Sainz entregou o resultado que se esperava, embora as circunstâncias tenham sido bem distintas.

Começando pela largada e o forte acidente que interrompeu a corrida em uma hora. Gasly foi prensado por Russell, tocou no inglês, que tocou no carro de Zhou que capotou, quicou na brita passou por cima da proteção de pneus. Se não fosse a grade, acertaria o público e poderíamos ter uma tragédia.

Claro que foi assustador, mas não achei que haveria algum perigo. O Halo pode ter feito (ou fez) sua parte, mas capotamento é algo que sempre existiu na F1 e nem sempre dá para colocar tudo na conta desse artefato. Do contrário, muita gente teria morrido nos anos 1990 e 2000. O santantônio sim é uma invenção mais importante, mas esse assunto de segurança é cansativo e já escrevi sobre, então deixa pra lá.

O acidente que poderia ter sido mais grave foi o do Albon. Com o incidente acontecendo na curva, todo mundo freou. Vettel bateu em Albon, que bateu no guard rail e foi para o meio da pista, batendo e sido batido de frente, em T. A sorte é que os carros haviam diminuído a velocidade, mas se fosse igual na F2, em 2019... Por sorte e pela tecnologia, Albon e Zhou estão bem e devem participar da corrida da semana que vem.

Com a largada anulada, que tinha Verstappen na frente e Hamilton em terceiro, veio aí a primeira sorte de Sainz. Com a segunda largada, foi agressivo e cresceu para cima de Max, fechando-o. Foi o único mérito do espanhol hoje. Pérez foi tocado por Leclerc enquanto tentava se aproveitar da briga na frente e teve o bico danificado, precisando parar e ir para o fim do pelotão. 

Como sempre, o ritmo da Red Bull era superior e Sainz sentiu a pressão. Errou sozinho e facilitou o trabalho de Max, que parecia caminhar para mais uma vitória no ano. No entanto, passou por uma zebra e danificou o carro e furou um dos pneus. Desde então, não teve mais ritmo e praticamente se arrastou na pista, nos padrões Red Bull, claro. Sem os taurinos na briga, isso era uma ótima notícia para o campeonato.

A Ferrari tinha a faca e o queijo na mão para finalmente fazer outra dobradinha e recolocar Charles Leclerc de volta a briga pelo campeonato. No entanto, a Ferrari resolveu não ser totalmente Ferrari. A bagunça e a burrice estiveram lá, mas em nenhum momento eles intercederam a favor de quem briga pelo título. Leclerc, também com o carro danificado, ainda assim era mais rápido que Sainz. Enquanto isso, Hamilton chegava de mansinho e sonhava com uma vitória apoteótica em casa outra vez. A Mercedes tem ritmo com os pneus usados e é o grande trunfo da segunda metade do campeonato. A vitória dos alemães está mais próxima do que imaginávamos.

Quando a Ferrari finalmente se livrou de Sainz e priorizou Leclerc, Hamilton tinha uma boa situação na corrida, mas a Mercedes também não ajudou. Foi muito conservadora na troca de pneus. Os duros não tiravam tanta diferença, apesar de Hamilton ter uma óbvia vantagem para as últimas vantagens. Tudo parecia dar certo em linhas tortas, até que um problema no carro de Ocon, sobrevivente da primeira largada, mudou a corrida.

O Safety Car trouxe Pérez de volta para a briga e poderia prejudicar ainda mais Max, que era o nono e estava brigando com a Haas pelos pontos. Faltando poucas voltas, o gabarito era colocar os pneus macios e virar sprint race. Loucura total. Mas a Ferrari, ah a Ferrari... o principal piloto do time permaneceu na pista com os pneus duros. Por quê? A McLaren de Norris demorou a parar e Vettel e Magnussen também não trocaram pneus. Os dois últimos foram presas fáceis.

Leclerc foi presa, mas deu trabalho. Mostrou talento e jogou duro até com Sainz, que se aproveitou e se livrou na ponta, ainda que com dificuldades. Com os pneus novos, Pérez foi espetacular na briga com Hamilton e passou os dois. No entanto, o tempo que perdeu na disputa o tirou da briga pela vitória. Leclerc também, graças a burrice da Ferrari, perdeu o lugar no pódio para Hamilton, que teve o terceiro no ano e o décimo terceiro em Silverstone, sendo dez seguidos. Foi feito para Silverstone. 

De novo, Sainz teve mais sorte que juízo. Parecia que a Ferrari queria dar a ele a primeira vitória de uma vez, independente do contexto, para não desmotivá-lo. Apenas não entendi acabarem com Leclerc. Com Max lá atrás, era a chance de encostar no campeonato, e a oportunidade foi desperdiçada de novo. Ainda no fim, Max brigou com unhas e dentes pelo sétimo lugar e finalmente Mick Schumacher marcou os primeiros pontos da carreira. Emocionalmente na questão da nostalgia. Tomara que isso dê a confiança necessária para o alemão continuar trabalhando na Haas, onde a batata dele já estava começando a queimar.

Don Alonso, sem problemas, consegue um grande quinto lugar. Se tivesse mais carro e/ou potência, poderia ter se beneficiado da briga que acompanhou na parte final da prova. Norris andou em quarto a corrida toda mas um erro da McLaren o fez perder duas posições, ainda assim está bem. E Daniel Ricciardo? Mesmo numa corrida maluca, conseguiu ser o 13° de 14 carros que completaram a prova. Infelizmente, parece não ter mais solução. É constrangedor.

Vettel consegue mais dois pontos para a Aston Martin e Magnussen fechou o top 10. Cruel para Latifi, que teve um final de semana mágico para seus padrões e ainda assim não pontuou. Fui inventar de elogiar Tsunoda e ele acabou com a corrida dele e de Gasly. Certamente deve ter aquela conversa bacana e instrutiva com Helmut Marko...

O que nós queríamos, de certa forma, aconteceu: mais emoção e imprevisibilidade. Com Max fora do caminho, era a chance da Ferrari voltar a briga pelo título com Leclerc. O que vimos, no entanto, não deixou de ser imprevisível: os italianos priorizaram o segundo piloto que, com mais sorte que juízo, venceu a primeira na carreira. Que isso também sirva para dar mais confiança ao pressionado espanhol, mas é uma sacanagem tremenda com Leclerc, que luta sozinho contra três equipes, aparentemente.

Confira a classificação final do GP da Inglaterra:


Até!

sexta-feira, 1 de julho de 2022

PONTO DE REFERÊNCIA

 

Foto: Dan Mullan/F1 via Getty Images

Silverstone, onde tudo começou. Como a maioria das equipes ficam na Inglaterra, a pista além da carga histórica tem o simbolismo das grandes atualizações dos carros, a última antes do verão europeu. Pode ser um ponto de referência para corrigir rumos, evoluir ou simplesmente se dar conta de que o ano está perdido e é melhor priorizar a próxima temporada.

Em uma temporada onde tudo é novo e incipiente no regulamento, qualquer sessão de testes é importante para dar rodagem. Quando chove, não é o ideal, tanto para os pilotos quanto para os fãs. Na primeira sessão, a chuva fez os carros andarem muito pouco, quase nada. Uma sessão perdida. Com isso, o segundo treino livre e o treino de amanhã ganham muita importância para testar as voltas rápidas e o ritmo de corrida dos carros.

Diante da hierarquia que já sabemos, as coisas não mudaram muito. Ferrari foi mais rápida com Sainz. A Red Bull não se encontrou tanto. A McLaren de Norris tenta reagir na temporada. Hamilton, com voltas rápidas, foi bem e a Mercedes pode estar em ascensão, mesmo que não tão rápida quanto todos imaginam.

No bloco intermediário, Alpine, Aston Martin e Alpha Tauri batalham pelos últimos pontos.

Em Silverstone, em um clima de consternação diante das barbaridades ditas por Nelson Piquet e que pretendo escrever sobre nos próximos dias, é o palco onde Hamilton está em casa e tem oito vitórias. Carinho e apoio não vão faltar, mas isso não vai ser o suficiente nas pistas e, infelizmente, nesse combate ao racismo que a sociedade perde com frequência. 

Que Silverstone seja um ponto de referência em várias frentes na temporada da F1, dentro e fora das pistas, na postura de todos que fazem parte desse lugar que, embora seja chamado de circo, não é palco para palhaçadas e outras coisas piores.

Confira os tempos dos treinos livres:




Até!


quinta-feira, 30 de junho de 2022

GP DA INGLATERRA: Programação

  Grande Prêmio da Inglaterra foi disputado pela primeira vez em 1948. Atualmente é disputado em Silverstone, perto da cidade de mesmo nome, em Northamptonshire. Juntamente com o GP Italiano, são as duas únicas corridas que figuram no calendário de todas as temporadas da Fórmula 1, desde 1950.

Já foi disputado em Aintree (1955, 1957, 1959, 1961 e 1962), Brands Hatch (1964, 1966, 1968, 1970, 1972, 1974, 1976, 1978, 1980, 1982, 1984 e 1986) e Silverstone (1950 até 1954, 1956, 1958, 1960, 1963, 1965, 1967, 1969, 1971 1973, 1975, 1977, 1979, 1981, 1983, 1985, 1987 - presente), que teve seu traçado reformado em 2010.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:

Melhor volta em corrida: Max Verstappen - 1:27.097 (Red Bull, 2020)

Pole Position: Lewis Hamilton - 1:24.303 (Mercedes, 2020)

Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)

Maior vencedor: Lewis Hamilton (2008, 2014, 2015, 2016, 2017, 2019, 2020 e 2021) - 8x


CLASSIFICAÇÃO:

1 - Max Verstappen (Red Bull) - 175 pontos

2 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 129 pontos

3 - Charles Leclerc (Ferrari) - 126 pontos

4 - George Russell (Mercedes) - 111 pontos

5 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 102 pontos

6 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 77 pontos

7 - Lando Norris (McLaren) - 50 pontos

8 - Valtteri Bottas (Alfa Romeo) - 46 pontos

9 - Esteban Ocon (Alpine) - 39 pontos

10- Fernando Alonso (Alpine) - 18 pontos

11- Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 16 pontos

12- Kevin Magnussen (Haas) - 15 pontos

13- Daniel Ricciardo (McLaren) - 15 pontos

14- Sebastian Vettel (Aston Martin) - 13 pontos

15- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 11 pontos

16- Guanyu Zhou (Alfa Romeo) - 5 pontos

17- Alexander Albon (Williams) - 3 pontos

18- Lance Stroll (Aston Martin) - 3 pontos


CONSTRUTORES:

1 - Red Bull RBPT - 304 pontos

2 - Ferrari - 228 pontos

3 - Mercedes - 188 pontos

4 - McLaren Mercedes - 65 pontos

5 - Alpine Renault - 57 pontos

6 - Alfa Romeo Ferrari - 51 pontos

7 - Alpha Tauri RBPT - 27 pontos

8 - Aston Martin Mercedes - 16 pontos

9 - Haas Ferrari - 15 pontos

10- Williams Mercedes - 3 pontos


DE PORTAS E BRAÇOS ABERTOS

Foto: Getty Images

Sebastian Vettel tem contrato com a Aston Martin até 2023. No entanto, não deixou claro se pretende continuar na categoria. Tudo depende da motivação e do que a Aston Martin pode oferecer ao piloto, que também é um dos acionistas do time.

Se depender da vontade da equipe, o tetracampeão fica até quando quiser, se ele manter a motivação mesmo sabendo que talvez não consiga mais brigar por campeonatos.

O chefão, Mike Krack, está mais do que disposto em manter essa parceria:

“Sempre fomos claro no sentido de que se ele quiser continuar, queremos que ele continue por muito tempo. Estamos conversando. Temos uma ótima relação, não botamos nenhum limite de tempo", disse para a Autosport.

Um dos trunfos da montadora é mostrar para Vettel que a equipe está evoluindo, apesar do início ruim e do time estar aquém dos investimentos que faz. A corrida do Canadá foi um alento, e Krack acredita que Silverstone pode ser mais um passo em direção ao topo do grid.

“Nós sempre dissemos que queremos melhorar o carro, e acho que Barcelona foi o primeiro passo. Queremos mostrar a ele que demos outro passo à frente e, aí, podemos conversar mais. Talvez em Silverstone eu consiga e o desejo dele de ficar cresça ainda mais”, completou.

É tudo questão mental e motivacional. Vettel não precisa provar mais nada e está evoluindo na temporada. Precisa de carro que a Aston Martin não o deu em nenhum momento. Como o outro lado do box é intocável, é bom Krack pensar bem. Se Vettel não estiver mais a vontade com a categoria, vai ser necessário um piloto líder e experiente. Onde encontrá-lo? Eu tenho uma pista, mas no momento é tudo especulação e suposição. Tomara que Vettel continue na F1.

"GRANDE FUTURO"

Foto: XPB Images/ P A Images

Após a melhor atuação na temporada com um oitavo lugar no GP do Canadá, Guanyu Zhou ganhou um pouco de holofote. Após o ponto na estreia, o chinês passou algumas corridas apagado e abandonou em outras, enquanto Bottas lidera o time.

No entanto, a avaliação do chinês até aqui tem sido extremamente positiva, tanto do chefe Frederic Vasseur quanto de Xevi Pujolar, chefe de engenharia de pista.

“Ele está construindo os próprios fins de semana de maneira progressiva. Mesmo na corrida, absorve todas as informações que damos a ele e está usando isso para performar o que precisamos quanto aos pneus – não somente na corrida, na classificação também.

Acho que ele está também tendo essa abordagem sem cometer erros. Se você consegue evitar incidentes, então ajuda muito em construir essa confiança – corrida a corrida – e essa tem sido sua qualidade também. Se continuar assim, tem um grande futuro na Fórmula 1”, disse Pujolar.

Frederic Vasseur, por sua vez, estava preocupado com a sequência de corridas desconhecidas para Zhou: correu pela primeira vez no Azerbaijão e no Canadá e Mônaco é sempre difícil. O chefe acredita que a tendência é o chinês melhorar o desempenho nos circuitos europeus que ele conhece dos tempos da F2.

“Estava um pouco preocupado com a sequência em Mônaco, Baku e Montreal, porque são os três circuitos mais difíceis para um novato na primeira parte da temporada. Mas, no Azerbaijão, ele foi muito bem. Teve um pouco de azar na classificação, porque não conseguiu encaixar uma boa volta com a bandeira amarela. Mas, no fim, a performance ‘esteve lá’ na corrida. Ele sempre teve uma boa administração do carro e dos pneus.

Você tem que separar o desempenho do carros dos pilotos e seus resultados. Penso que em Baku, por exemplo, Zhou teve ótimo ritmo – estava disputando posições com Vettel antes do abandono. A performance ‘estava lá’, mas se você não tem confiabilidade no carro, não irá marcar pontos. Estou convencido de que, assim que voltarmos às pistas que ele já conhece, vai ter um desempenho ainda melhor. Mas estou mais do que feliz com o trabalho feito por ele até aqui”, disse Vasseur.

Zhou é um bom piloto. Quem viu a F2 sabe. Assim como Tsunoda no ano passado, é óbvio que vai encontrar dificuldades no ano de estreia. São categorias diferentes e sem tempo para fazer testes. O aprendizado é a cada corrida ou erro. Há má vontade por Zhou ser asiático e trazer muito dinheiro, mas a tendência é que com o tempo ele se aproxime de Bottas e ajude ainda mais a Alfa Romeo, tornando-se assim o chinês viável da F1.

TRANSMISSÃO:
01/07 - Treino Livre 1: 9h (Band Sports)
01/07 - Treino Livre 2: 12h (Band Sports)
02/07 - Treino Livre 3: 8h (Band Sports)
02/07 - Classificação: 11h (Band e Band Sports)
03/07 - Corrida: 11h (Band)



terça-feira, 28 de junho de 2022

NO LIMBO

 

Foto: Motorsport

Pierre olhou no espelho e mirou o reflexo de Carlos Sainz. E foi apenas isso. Tudo o que escrevemos em janeiro e agora, na semana passada, foi em vão. A culpa é do francês?

Claro que não. Com Pérez na Red Bull por mais dois anos, a única chance de progressão na carreira seria tentar almejar um assento na McLaren, no lugar de Daniel Ricciardo. Acredito que o staff do francês tentou, mas aparentemente há outras prioridades por lá, seja a manutenção do australiano ou uma possível chegada de Colton Herta ou Pato O’Ward, queridinhos de Zak Brown.

Portanto, diante desse contexto, não restava outra alternativa. Realmente não havia. Pierre Gasly continua mais uma temporada na Alpha Tauri por falta de opções para ambos os lados.

A Red Bull não tem ninguém pronto para subir. Daruvala e Liam Lawson estão crus. Vips falou imbecilidades e foi cortado. O próprio Tsunoda só permanece porque justamente não há alternativas no curto prazo. Até por isso Pérez renovou por mais tempo, além do fato de ter crescido o rendimento e consequentemente estar mais entrosado com o ambiente dos energéticos.

Empurrar com a barriga. É o que resta para Gasly nesse médio prazo. A Red Bull não vai subi-lo de volta. Esperar por isso é desperdiçar a juventude da carreira, embora não possamos saber o dia de amanhã. Apesar da Ferrari ser improvável, não dá para desistir. Mesmo caso a Alpine, a Aston Martin e a própria McLaren, mais para frente.

Ser o líder da equipe B não quer dizer nada para alguém que deu a volta por cima e já mostrou que pode almejar algo a mais na carreira, mesmo que o 2022 não esteja tão bom assim. Red Bull, Alpha Tauri e Gasly empurram a carreira com a barriga. Melhor para a Alpha Tauri, que tem um piloto acima do nível do time por mais um ano. A questão é capitalizar tudo isso em pontos e pódios.

Pierre deve tentar algo além para salvar a própria carreira do marasmo, por mais difícil que seja. Percebam que tudo é questão de estar no lugar certo e na hora certa. As estrelas do francês podem não estar alinhadas no futuro próximo e não há tempo para esperar que tudo isso se ajeite do dia para a noite.

E agora, Gasly?

Até!


segunda-feira, 20 de junho de 2022

O REI E ELE

 

Foto: Getty Images

Fernando Alonso e Max Verstappen têm muito mais semelhanças do que diferenças, embora essas diferenças sejam cruciais para o andamento da carreira de um, que talvez nem esteja no auge, e o outro que está na volta final de sua trajetória.

Uma das coisas que os dois têm em comum é a rivalidade com Lewis Hamilton. Alonso sempre foi uma jóia e uma promessa lapidada com muito carinho e cuidado por Flávio Briatore, chefe e empresário. Pegou experiência na Minardi, no já longínquo 2001. O espanhol virou o mais longevo da história da F1. Histórico.

Um ano de experiência na reserva da Renault até assumir a titularidade dos franceses. Pole na Malásia e a primeira vitória apoteótica na Hungria. O jovem estava em ascensão. Só precisava de tempo e carro para prosperar. Prosperou. Bicampeão mais jovem da história até então, "aposentando" Michael Schumacher. A "Era Alonso" era uma mera formalidade. Alonso sempre gostou de ser o vilão. Contra Schummi, havia uma rejeição. O problema foi depois.

Chegou na McLaren achando que daria as cartas, mas jamais poderia imaginar o surgimento de um Lewis Hamilton. Além: que esse estreante protegido pela McLaren e por Ron Dennis seria um prodígio de patamares inimagináveis na categoria. Sempre priorizado por Briatore, Alonso se via num ambiente hostil, sendo o vilão contra a imprensa inglesa e a nova maravilha da Inglaterra no automobilismo.

A história vocês já conhecem. Por falta de tato, temperamento difícil e decisões equivocadas na carreira, o tempo passou e Alonso não conseguiu estar mais no lugar certo. Apenas o talento não era o suficiente. Faltou o networking e as pontes queimadas pelo espanhol ao longo da década. O tri chegou perto duas vezes, e nas duas a perda foi brutal. 

A história vocês já conhecem: Alonso merecia mais do que dois títulos pelo talento que tem. O problema é que se inviabilizou em quase todos os lugares relevantes. O bem estar vale mais que o temperamento bélico interno. E só sobrou para o espanhol a velha casa, a Renault/Alpine.

O segundo lugar no grid é um recado claro para a cúpula da equipe: estou longe de estar acabado. A pontuação de Alonso no mundial é mais fruto de azar e problemas do que propriamente mal desempenho. O mérito é todo de Ocon, que está sendo um "Russell da Alpine" ao ser praticamente regular e, mesmo quando mal é notado na pista, traz fatias importantes de pontos para o campeonato. Piastri deveria estar no grid, mas não deveria estar no lugar da Fênix. O Canadá é um sinal que qualquer consegue perceber.

Pulamos para outro prodígio que, na adolescência, já era visto como um futuro campeão do mundo. Ainda adolescente chegou na F1, para espanto e desconfiança de muita gente. Pouco tempo depois de virar adulto, Max subiu para a Red Bull. Lembram que eu fiquei indignado com o que fizeram com Kvyat? Pois bem, em dias o holandês calou a boca de todos. Vencer na estreia na equipe e ser o mais jovem vencedor da história da F1 era um recado poderoso. Era questão de tempo.

Com muitos percalços, normais para a juventude de uma pessoa e um piloto em formação, Max era besta e bestial em fração de segundos. Por anos, a impressão era de que precisava mudar a mentalidade quando finalmente chegasse a hora de brigar pelo campeonato. Não ter responsabilidade é uma coisa, precisar ser cerebral o ano inteiro para vencer o adversário é outra.

Assim como Alonso, Max passou pelo heptacampeão da F1 e agora está começando a "Era Max". O novo regulamento, por enquanto, dá longevidade ao rei. O futuro ninguém sabe, mas quem seria o "Hamilton" de Max, tal qual Alonso? Leclerc? Norris? Russell? Piastri? Só o tempo talvez consiga responder.

Max também nunca se preocupou com o rótulo de vilão. Enfrentar a estrela da F1, o responsável por furar a bolha da categoria, tem um preço. O holandês nunca se preocupou com isso. Ele só quer pilotar e vencer. Não faz questão de ter carisma. A popularidade de Max está no que ele faz na pista, não nas redes sociais. Finalmente, depois de quase uma década, a previsão de todos está em andamento: o futuro campeão do mundo pode ser multicampeão, dependendo da Red Bull, dos regulamentos, da sorte e do acaso.

Max Verstappen tem tudo para ser o que Fernando Alonso não foi: confirmar em títulos todo o imenso talento que tem. Não que Max seja alguém muito diferente do espanhol, mas até aqui ele sempre optou por permanecer na redoma de quem projetou todos os passos na carreira e não teve nenhum remorso de se livrar de quem potencialmente o incomodaria. Alonso também teve isso na Renault, mas pulou a varanda para buscar novos desafios. Desprotegido, saiu de casa e ficou com as mãos vazias.

Em termos de talento, é difícil dizer quem é superior. São pilotos muito parecidos, onde o QI e o ritmo de corrida prevalecem diante da velocidade pura. Hoje, o Rei Verstappen parece intocável. No entanto, não seria ruim se ele pegasse algumas dicas da antiga majestade, que já esteve na mesma posição perante o mundo e tudo, a partir dali, seria um passeio no parque. 

Elvis não morreu.

Até!