segunda-feira, 20 de junho de 2022

O REI E ELE

 

Foto: Getty Images

Fernando Alonso e Max Verstappen têm muito mais semelhanças do que diferenças, embora essas diferenças sejam cruciais para o andamento da carreira de um, que talvez nem esteja no auge, e o outro que está na volta final de sua trajetória.

Uma das coisas que os dois têm em comum é a rivalidade com Lewis Hamilton. Alonso sempre foi uma jóia e uma promessa lapidada com muito carinho e cuidado por Flávio Briatore, chefe e empresário. Pegou experiência na Minardi, no já longínquo 2001. O espanhol virou o mais longevo da história da F1. Histórico.

Um ano de experiência na reserva da Renault até assumir a titularidade dos franceses. Pole na Malásia e a primeira vitória apoteótica na Hungria. O jovem estava em ascensão. Só precisava de tempo e carro para prosperar. Prosperou. Bicampeão mais jovem da história até então, "aposentando" Michael Schumacher. A "Era Alonso" era uma mera formalidade. Alonso sempre gostou de ser o vilão. Contra Schummi, havia uma rejeição. O problema foi depois.

Chegou na McLaren achando que daria as cartas, mas jamais poderia imaginar o surgimento de um Lewis Hamilton. Além: que esse estreante protegido pela McLaren e por Ron Dennis seria um prodígio de patamares inimagináveis na categoria. Sempre priorizado por Briatore, Alonso se via num ambiente hostil, sendo o vilão contra a imprensa inglesa e a nova maravilha da Inglaterra no automobilismo.

A história vocês já conhecem. Por falta de tato, temperamento difícil e decisões equivocadas na carreira, o tempo passou e Alonso não conseguiu estar mais no lugar certo. Apenas o talento não era o suficiente. Faltou o networking e as pontes queimadas pelo espanhol ao longo da década. O tri chegou perto duas vezes, e nas duas a perda foi brutal. 

A história vocês já conhecem: Alonso merecia mais do que dois títulos pelo talento que tem. O problema é que se inviabilizou em quase todos os lugares relevantes. O bem estar vale mais que o temperamento bélico interno. E só sobrou para o espanhol a velha casa, a Renault/Alpine.

O segundo lugar no grid é um recado claro para a cúpula da equipe: estou longe de estar acabado. A pontuação de Alonso no mundial é mais fruto de azar e problemas do que propriamente mal desempenho. O mérito é todo de Ocon, que está sendo um "Russell da Alpine" ao ser praticamente regular e, mesmo quando mal é notado na pista, traz fatias importantes de pontos para o campeonato. Piastri deveria estar no grid, mas não deveria estar no lugar da Fênix. O Canadá é um sinal que qualquer consegue perceber.

Pulamos para outro prodígio que, na adolescência, já era visto como um futuro campeão do mundo. Ainda adolescente chegou na F1, para espanto e desconfiança de muita gente. Pouco tempo depois de virar adulto, Max subiu para a Red Bull. Lembram que eu fiquei indignado com o que fizeram com Kvyat? Pois bem, em dias o holandês calou a boca de todos. Vencer na estreia na equipe e ser o mais jovem vencedor da história da F1 era um recado poderoso. Era questão de tempo.

Com muitos percalços, normais para a juventude de uma pessoa e um piloto em formação, Max era besta e bestial em fração de segundos. Por anos, a impressão era de que precisava mudar a mentalidade quando finalmente chegasse a hora de brigar pelo campeonato. Não ter responsabilidade é uma coisa, precisar ser cerebral o ano inteiro para vencer o adversário é outra.

Assim como Alonso, Max passou pelo heptacampeão da F1 e agora está começando a "Era Max". O novo regulamento, por enquanto, dá longevidade ao rei. O futuro ninguém sabe, mas quem seria o "Hamilton" de Max, tal qual Alonso? Leclerc? Norris? Russell? Piastri? Só o tempo talvez consiga responder.

Max também nunca se preocupou com o rótulo de vilão. Enfrentar a estrela da F1, o responsável por furar a bolha da categoria, tem um preço. O holandês nunca se preocupou com isso. Ele só quer pilotar e vencer. Não faz questão de ter carisma. A popularidade de Max está no que ele faz na pista, não nas redes sociais. Finalmente, depois de quase uma década, a previsão de todos está em andamento: o futuro campeão do mundo pode ser multicampeão, dependendo da Red Bull, dos regulamentos, da sorte e do acaso.

Max Verstappen tem tudo para ser o que Fernando Alonso não foi: confirmar em títulos todo o imenso talento que tem. Não que Max seja alguém muito diferente do espanhol, mas até aqui ele sempre optou por permanecer na redoma de quem projetou todos os passos na carreira e não teve nenhum remorso de se livrar de quem potencialmente o incomodaria. Alonso também teve isso na Renault, mas pulou a varanda para buscar novos desafios. Desprotegido, saiu de casa e ficou com as mãos vazias.

Em termos de talento, é difícil dizer quem é superior. São pilotos muito parecidos, onde o QI e o ritmo de corrida prevalecem diante da velocidade pura. Hoje, o Rei Verstappen parece intocável. No entanto, não seria ruim se ele pegasse algumas dicas da antiga majestade, que já esteve na mesma posição perante o mundo e tudo, a partir dali, seria um passeio no parque. 

Elvis não morreu.

Até!

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