segunda-feira, 18 de novembro de 2019

ÚNICO

Foto: Getty Images
Interlagos é único e quase sempre cumpre o que promete. A ansiedade é justificada. Hoje, quando tudo parecia que seria meio chocho e se encaminhava para uma tentativa de disputa entre Verstappen e Hamilton, um Safety Car duvidoso causado pela entrada de um trator para tirar o carro de Bottas, que estourou o motor ao superaquecê-lo sem conseguir ultrapassar Leclerc, mudou tudo e transformou uma prova de F1 em uma chegada de Indy ou de Nascar.

Antes do delicioso caos, tudo parecia uma peça de xadrez: Verstappen e Hamilton com a mesma estratégia, pareados por Vettel e Albon e Leclerc e Bottas. Lá atrás, Ricciardo foi punido por tocar em Magnussen e foi para o final do grid. Ultrapassar no meio do pelotão não é fácil.

No pós Safety Car, todo mundo colocou os macios e foi pra cima menos Hamilton, que inexplicavelmente manteve-se na pista com os desgastados pneus médios. Verstappen disparou com uma manobra à la Montoya em 2001. Albon, que sempre surge nas voltas finais, fez o mesmo com Vettel, que não conseguia devolver. Leclerc, atrás, resolveu tentar. Vettel foi dar o troco, mas existe uma espécie de inconsciente que é: entrar perder a posição para o parceiro de equipe e bater, que seja a segunda opção.

Foto: Reprodução/F1 TV
Olhando pelos vários ângulos, me pareceu um toque de corrida. Entretanto, com mais detalhes, Vettel praticamente repetiu a famosa e desastrada manobra diante do parceiro Webber quase uma década atrás: com meio carro a frente, jogou ele um pouco para a esquerda. Leclerc, reto, manteve-se na linha e acertou o dianteiro direito no pneu traseiro esquerdo do alemão.

A Ferrari cansa de desperdiçar oportunidades, seja pela incompetência dos pilotos ou problemas crônicos no carro. Como ajeitar a casa para brigar em 2020 se o novato quer mandar mais que o mais velho e o mais velho quer se impor nem que seja estragando a corrida de ambos? Binotto não é esse cara enérgico para fazer isso. Na verdade, hoje na Ferrari essa figura inexiste, um Montezemolo, Ross Brawn, Jean Todt, Marchionne e até o fumante Arrivabene tinham uma postura mais "pau na mesa" nessas horas. Quem ganha, ou melhor, ri com isso são os mecânicos da Red Bull (como foi hoje) e principalmente da Mercedes.

Um novo SC e a Mercedes chamou tardiamente Hamilton para os boxes. Honestamente, não imaginava que a corrida continuaria depois dali, mas houve a relargada. Brigando pelo segundo lugar e com pneus novos, era questão de tempo passar Albon, que conquistaria o primeiro pódio dele e da Tailândia na F1. Parecia. Meio inocente, Albon não se defendeu na última curva do miolo, o hexacampeão tentou se atravessar e bateu, fazendo o tailandês rodar e jogar para o espaço a chance do pódio. Mesmo com a asa dianteira danificada, Hamilton seguiu para caçar Gasly.

Investigado pelos comissários, ele e Bottas reclamaram a corrida inteira de falta de potência do motor alemão, e foi assim que ele foi incapaz de passar Gasly na reta de chegada. Como se fosse Nascar, milésimos definiram o primeiro pódio da carreira de Pierre. É incrível chegar a esta conclusão, mas a Mercedes hoje tem menos potência que Honda e Ferrari. Tem mais confiabilidade. Para a próxima temporada, os alemães já trabalham em uma nova solução.

Foto: Getty Images
É inacreditável. Chutado merecidamente da Red Bull pelo pífio desempenho, na Toro Rosso parece que o francês é outro piloto. Vem superando Kvyat e o "azar" e incompetência que teve na primeira metade do ano foi recompensado pelo oportunismo e ótimo ritmo de corrida agora. Apesar de ser crítico do francês, não tem como não gostar dessas histórias de superação, dos underdogs que surpreendem e dão a volta por cima, conquistando grandes resultados. Albon merecia o pódio hoje, mas certamente é questão de tempo para chegar, afinal ele está na Red Bull. Albon faz uma temporada muito melhor que Kvyat e Gasly, mas incrivelmente pode ser o único piloto taurino a passar o ano zerado no pódio. Que loucura.

A comissão, que já foi veloz em diversas ocasiões e foi responsável até por tirar Verstappen de uma cerimônia certa vez no México, dessa vez foi mal demais. Fez Hamilton participar do pódio e, minutos depois, confirmar a punição de cinco segundos que confirmou também o primeiro pódio de Carlos Sainz, o segundo espanhol a conseguir tal feito (e também na McLaren) e o primeiro da histórica equipe desde 2014, na Austrália, onde Button também só subiu ao pódio após a desclassificação de Ricciardo.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Todo mundo perdeu a chance de ver Sainz, ao vivo, comemorando um merecido pódio, e largando de último! É incrível o ritmo de corrida! É, sem dúvida alguma, o melhor piloto do "lado B". Sempre consistente, hoje ele foi também oportunista para fazer história junto com a McLaren e, assim como Gasly, tirar esse peso do "primeiro pódio" dos ombros.

Isso também mostra que o caminho da McLaren para retornar ao lugar que merece está sendo trilhado aos poucos. Isso que está com o motor Renault ainda por cima. Com uma boa dupla de pilotos e a continuação da reestruturação sendo feita com Andreas Seidl, Gil de Ferran e Zak Brown, quem sabe nos anos seguintes essa grande festa que "vimos" através das fotos seja mais corriqueira com vitórias também.

Fechando essa corrida maluca, Hamilton terminou em sétimo. Na frente dele, as duas Alfa Romeo, com Raikkonen e Giovinazzi. É o melhor resultado da carreira de Giovinazzi, outro novato que sai fortalecido para a próxima temporada, mesmo quando o carro teve uma queda na segunda metade do ano, assim como o melhor resultado de Raikkonen neste retorno a ex-Sauber.

Ricciardo, que chegou a ser o último por um erro dele, conseguiu contornar a situação para ser o sexto. Ah se a Renault tivesse carro... Hulkenberg termina sua trajetória melancólica na F1 lá atrás e vendo quase todo mundo que ele duelou nos últimos anos sendo recompensado com um pódio. É o que é. Pérez e Kvyat completaram o top 10. Nem diante de uma corrida caótica a Haas conseguiu alguns pontinhos, mesmo com Grosjean entre os 10 a corrida toda. Não pararam ele na hora do Safety Car e foi engolido na relargada, aí também é brincadeira.

No único GP do Brasil, é necessário que isso enterre de vez algo que nunca foi cavado, que é a tal lunática ideia de Deodoro. Verstappen, com a cabeça no lugar e um carro competitivo, é o grande nome a destronar Lewis Hamilton, só precisa ser menos Mansell. A Ferrari, com todo mundo se batendo e a ausência de uma liderança dentro e fora das pistas vai continuar penando.

Com um pódio todo de pilotos Red Bull, é comovente ver rostos diferentes nas primeiras posições nessas corridas caóticas, até porque a diferença das três principais equipes para o resto é gritante.

Em Interlagos, tudo é único.

Confira a classificação final do GP do Brasil:


Até!

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