terça-feira, 19 de novembro de 2019

EU SOU VOCÊ AMANHÃ

Foto: Alliance/DPPI
Durante os anos 1980, uma campanha publicitária de Jacques Lewkowicz fez muito sucesso: para vender uma vodka, foi criado o "efeito Orloff", nome do produto: uma pessoa convencia a outra para beber o produto e, no fim, dizia "porque eu sou você... amanhã". Se bebesse a Orloff, o sujeito não ficaria triste, deprimido e arrependido no outro dia. Na cultura popular, essas expressões começaram a ser usadas quando ações se repetiam com o passar do tempo.


Talvez Vettel não beba vodka, mas certamente está passando pelo efeito Orloff. Em 2010, enquanto brigava pelo título mundial sendo uma jovem promessa, ele teve que lidar com um relacionamento conflituoso com o experiente e menos talentoso Mark Webber, que o acusava de ser protegido de Christian Horner, Helmut Marko e companhia.

Na corrida da Turquia, enquanto disputavam a primeira posição, Vettel acabou se chocando com o australiano e os dois bateram em plena reta. O alemão abandonou e Webber conseguiu salvar um terceiro lugar. Era a materialização do clima bélico que vivia a jovem Red Bull, até então inexperiente como protagonista andando na frente. No fim das contas, tudo deu certo e o jovem talentoso se sobrepôs ao experiente cinco anos seguidos, com quatro títulos mundiais.


Em 2014, sendo o tetracampeão experiente, foi batido com facilidade pelo jovem Daniel Ricciardo sem criar problemas. O fim de ciclo estava evidente e rumou para a Ferrari, onde só enfrentou Kimi Raikkonen e, mesmo assim, teve um acidente parecido na largada de Cingapura em 2017:


Agora com Leclerc, o acidente no Brasil é igual ao da Turquia. Vettel passa, tenta atravessar um pouquinho o carro na marra, Leclerc não cede e os dois colidem. Pior para os italianos. Nesta temporada, são sete poles para o novato monegasco e apenas uma para Vettel. Duas vitórias a uma, sendo que poderiam ser quatro a dois. Vettel foi superado pelo jovem Leclerc, que não o "respeita".

Em algumas teorias nos últimos meses, me parece que o principal objetivo de Vettel e não perder para o companheiro de equipe. Na largada, foi passado facilmente por Hamilton e não esboçou reação. Ao ser passado por Leclerc, tentou reagir rapidamente. Duas tônicas da carreira de Seb. Ele sabe que está perdendo prestígio e mesmo com a aura de campeão que tem isso não vai ser o suficiente para as próximas temporadas. O tempo não está a favor dele, e sim da nova estrela, "o Vettel do passado", Leclerc.

Foto: Reprodução/FOM
Eu sou você amanhã. Vettel virou o Webber do passado e Leclerc o Vettel de antes? Mais ou menos e sim. Um cara com o currículo dele jamais será um segundo piloto e a qualidade dos dois jamais podem ser comparadas. Leclerc tem potencial para ser um grande piloto e já está provando rapidamente, assim como Seb conseguiu.

Sobre o incidente, não estou aqui para apontar culpados, até porque os dois têm responsabilidades. Leclerc não deu espaço, algo corriqueiro depois do passão de Max na Áustria, e Vettel tentou ganhar esse espaço na força, resultando nisso. Mattia Binotto não tem pulso para comandar esses dois, principalmente agora que Leclerc vai ficar, com o tempo, maior do que já é.

Como Vettel pode solucionar isso? Bebendo Orloff para não virar o Webber da vez? Me parece que não está fazendo isso... enfim, não vai ser o último embate entre esses dois. 2020 promete. Como a Ferrari vai lidar com essa hierarquia questionada? Vodca demais dá dor de cabeça!

Até!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, esse é o espaço em que você pode comentar, sugerir e criticar, desde que seja construtivo. O espaço é aberto, mas mensagens ofensivas para outros comentaristas ou para o autor não serão toleradas.