quinta-feira, 5 de julho de 2018

CHOCOLATE AMARGO

Foto: LAT Images

Na semana onde vai correr para seus fãs em casa, no palco em que já conquistou 14 vitórias (a última com Hamilton, em 2008), a McLaren escancara a pior crise da história da equipe ao anunciar que Éric Boullier pediu demissão do cargo de chefão do time.

Após realizar bom trabalho na Lotus com Raikkonen e Grosjean, Boullier chegou na McLaren em 2014 ajudar na reestruturação do time de Woking, que passou 2013 inteira sem chegar ao pódio. No último ano com o motor Mercedes, o desempenho dos ingleses não foi bom: apenas um pódio na corrida inaugural da Austrália e uma McLaren muito distante do topo da classificação.

Com o passar do tempo e a chegada da Honda como nova parceira, a esperança era retomar o auge vivido no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 com os nipônicos. Como sabemos, isso tudo foi um total fracasso, que resultou no apequenamento da McLaren, enfiada no fundo do grid e cada vez mais com problemas financeiros, agravados pela ausência de um patrocinador máster desde a saída da Vodafone em 2012 e o rompimento com os japoneses no ano passado.

Com a Renault desde o início, acreditava-se que os problemas estavam resolvidos, pois era dito que o chassi era bom, mas o motor fraco e pouco confiável era o que atrapalha. Com um começo de temporada razoável, o que estamos vendo é a McLaren cada vez mais próxima do fundo do grid ao invés de se aproximar do pelotão intermediário.

Os resultados ruins já deixavam o ambiente tumultuado e a pressão grande em cima de Boullier. Parece que a pá de cal foi a informação publicada pela imprensa inglesa semanas atrás de que os funcionários e mecânicos da McLaren recebiam barrinhas de chocolate Freddo (ou “tortuguita britânica”) como recompensa ao cumprimento de metas alcançadas. Questionado, o francês achava graça da situação e chegou até a dizer que não sairia do cargo diante das especulações de um possível retorno de Martin Whitmarsh ao comando do time.

Freddo, a "tortuguita britânica": fonte de discórdia na McLaren e estopim para a queda de Boullier. Foto: Reprodução
Eis que 12 dias depois, Eric Boullier pediu demissão em anúncio divulgado hoje pela manhã pela McLaren. Zak Brown disse que não se sentiu surpreendido com a decisão que, segundo ele, não era descartada pelo próprio francês. Em meio a temporada, a McLaren já deixa claro que vai fazer uma nova reestruturação da equipe pensando nos próximos anos e praticamente jogando a toalha em relação a este.


A grande novidade de mais uma reestruturação da McLaren nos últimos dias é Andrea Stella, engenheiro que trabalhou com Alonso e veio pra equipe em 2015, sendo o novo diretor de performance. O brasileiro Gil de Ferran, que ano passado atuou como uma espécie de consultor de Alonso durante a preparação para a Indy 500, se transforma em diretor esportivo.

E não para por aí: Simon Roberts vai supervisionar as divisões de produção, engenharia e logística, enquanto Stella também vai ser o responsável pelas operações de pista.

Tal qual um time de futebol em crise, a McLaren mexe em todos os setores de forma quase imediata buscando resultados que parecem cada vez mais distantes de serem alcançados. No início de maio, Tim Goss foi demitido do cargo de diretor técnico. Ele estava na equipe desde 1990. Além disso, tanto tempo de administração arcaica e conservadora na mão de ferro de Ron Dennis também fez a McLaren não se modernizar e entender que os tempos haviam mudado, que não era mais possível pedir tanto dinheiro em patrocínio diante de uma recessão financeira mundial. Além disso, demanda-se um tempo para modernizar e se adequar uma nova gestão, “americana” no caso. Sem resultado e sem dinheiro, as coisas tendem a piorar.

E assim segue a McLaren, incerta em todas as funções, perdida e naufragando cada vez mais. Não se sabe se a equipe está mais interessada em outras categorias, ninguém sabe quem serão os pilotos para a próxima temporada e ninguém sabe o que o futuro reserva para o time de Woking. Uma bagunça total. Só falta a torcida protestar na sede. The peace is over and the future is unclear.

Até!

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