segunda-feira, 27 de setembro de 2021

COPOS CHEIOS

 

Foto: Getty Images

Finalmente tivemos um GP da Rússia inesquecível. A chuva no final do Q3 fez a diferença na dinâmica. A favorita Mercedes sucumbiu, principalmente por mais um erro inexplicável de Lewis Hamilton. Me lembrou a China em 2007. Como sempre escrito, qualquer erro ou tomada de decisão pode decidir o campeonato a favor ou contra.

Lando Norris, o grande piloto da temporada, aproveitou a oportunidade e saiu do zero na pole position. Na largada, na reta longa, foi superado por Carlos Sainz mas rapidamente reassumiu a ponta. Em um circuito de muitas retas, o motor Mercedes da Williams de Russell e as McLarens anestesiaram Hamilton, que largou muito mal e ficou preso no primeiro stint. Com motores novos, Verstappen e Leclerc saíram de trás buscando maximizar resultados, especialmente o holandês.

Com a parada, muita coisa mudou. Norris, que já estava disparado na frente, consolidou uma vantagem. Nos boxes, Hamilton se livrou de alguns carros e passou outros. Com os pneus médios, se aproximava de Norris mas não estava conseguindo passar. A essa altura, o palco já estava montado: uma vitória épica, a primeira de Lando, e mais uma oportunidade desperdiçada por Lewis, que era favorito em Monza e Sochi e estaria de mãos abanando.

Assim como no sábado, a chuva no final mudou. Como eram poucas voltas, muitos decidiram arriscar nos extremos: ou continua na pista ou troca depois de um tempo para ver o que acontece. Os únicos que não poderiam arriscar eram justamente Hamilton e Verstappen. Cada ponto pode fazer a diferença, então ser pragmático conta, muito mais do que a experiência na categoria ou mesmo o carteiraço da idade elevada.

Lando Norris lutou contra as ordens da equipe e da mãe natureza, perdendo a primeira vitória épica, de ponta a ponta com todos os méritos, no final. Uma crueldade. No entanto, não concordo com as críticas em relação a idade e inexperiência. O risco faz parte. Lando Norris, mesmo que a McLaren esteja em notável evolução, dificilmente briga com frequência por vitórias. A questão era arriscar mesmo. Chegar em segundo ou sétimo, embora tenham grandes diferenças nos construtores, seria a mesma frustração. 

Hamilton e Verstappen precisavam ser conservadores. Desse modo, deu certo para ambos. Hamilton quebra a barreira de ser o primeiro piloto da história com três dígitos de vitórias e volta a vencer, reassumindo a liderança do campeonato. Max Verstappen, completamente fora de combate no final de semana, consegue um segundo lugar no apagar das luzes, minimizando o prejuízo. Resultado importantíssimo para o campeonato que pode até amargar um pouco o sentimento da vitória de Hamilton.

Norris, mesmo com a frustração de perder a corrida nas voltas finais por "teimosia", deu mais um passo para se afirmar como um grande piloto. Ele é um grande futuro mas também já é um presente. Voltou a dominar Ricciardo. Talvez como no caso do compatriota Russell, a sorte e a tomada de decisões ainda não estão calibradas, mas só o tempo e a experiência para aprimorar.

Carlos Sainz chegou a liderar a prova mas obviamente não tinha ritmo para sustentar. Depois das paradas, o máximo que podia conseguir era o pódio. Para quem chegou a liderar, é naturalmente frustrante. Pior ainda quando perdeu a posição para Sérgio Pérez. No entanto, o mexicano e Alonso também tentaram seguir até o final e o espanhol recuperou o lugar no pódio. No final das constas, mais um pódio com essa Ferrari é um grande resultado para o espanhol, mostrando que há vida além de Leclerc. Se o destino será diferente de Rubinho, aí é outra conversa.

Talvez os mais prejudicados nessa história, além de Norris, foram Pérez e Alonso, que disputavam o pódio. O espanhol estava prestes a conseguir tal feito quando passou o mexicano na chuva, mas foi traído pela mãe natureza. Mesmo com a vitória de Ocon, é Fernando quem está na frente na tabela. Uma temporada de alto nível com quase 40 anos. Para Pérez, o consolo é de ter feito uma boa apresentação em comparação as últimas corridas. Com as circunstâncias devidas, teria superado Max. A Red Bull perdeu pontos importantes para o campeonato.

Os outros que se saíram bem foram os finlandeses. Apagados na prova inteira, Bottas surgiu do nada em quinto e Raikkonen em oitavo. É importante frisar que podem ser os últimos pontos de Kimi Raikkonen na carreira, então pode ter sido um resultado histórico. Sem pressão, Bottas foi muito abaixo hoje, uma tônica dos últimos anos, cada vez mais justificando a troca. Como se ele se importasse com isso agora.

Russell segue pontuando com a Williams, justificando a cada corrida a ascensão para o time alemão. Fora da pontuação, Stroll fez uma rara boa corrida mas dessa vez as circunstâncias não o ajudaram e chegou até a espremer Vettel em uma curva.

Em uma corrida com um final tão abrupto e cheio de reviravoltas, muitos podem olhar os acontecimentos com bons e maus olhos. No entanto, de forma até rara, creio que hoje a grande maioria dos protagonistas podem sair com algo positivo na mente e que os estimule para o restante da temporada.

Confira a classificação final do GP da Rússia:


Até!

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