sexta-feira, 6 de novembro de 2020

TEORIA E PRÁTICA

 

Foto: Divulgação

A F1 anunciou que a partir do ano que vem a Arábia Saudita vai estar no calendário pela primeira vez na história. O Grande Prêmio será a noite, disputado nas ruas de Jeddah, a capital.

Até aí tudo bem: mais um país do Oriente Médio injetando dinheiro na categoria com um circuito de rua bisonho de noite, nenhuma novidade ou inovação, apenas mais uma etapa para um calendário inchado. O problema é além.

Recentemente, o país vive cercado em polêmicas e tentando desviar a atenção mundial em outras medidas, como sediar um Grande Prêmio (com sucesso) e uma candidatura para compor o Conselho de Direitos Humanos da ONU, que também foi negada por ser justamente apenas uma manobra para melhorar a imagem do país, repleta de acusações de violações dos direitos humanos.

O governo saudita está sendo alvo de muitas críticas por uma série de prisões, julgamentos, torturas e execuções contra opositores, ativistas e jornalistas, além de uma série de leis que limitam os direitos das mulheres no país, que só foram autorizadas a dirigir em 2018. A homossexualidade é crime e é proibido passear com cães pela rua, pois é um animal impuro para o Islã (alô Hamilton, o Roscoe não pode ir!).

No entanto, ultimamente o país vem adotando medidas de flexibilização da sociedade também com o intuito de sensibilizar o mundo. Abertura para os turistas, permissão de lugares para passeio com os cães e até a autorização para que mulheres possam ir para estádios de futebol.

No fim do ano passado, todavia, a agência estatal de segurança classificou o feminismo, o homossexualismo e o ateísmo como atos de extremismo "inaceitáveis" pelo governo, sem contar o caso do jornalista Jamal Khashoggi, assassinado em 2018 na embaixada saudita em Istambul, cujo o governo saudita é acusado de ter orquestrado o crime.

O que adianta pintar os carros com arco-íris, fazer campanhas antirracismo, se ajoelhar antes da corrida, Black Lives Matter, a luta pela diversidade por mais mulheres, negros e pobres no mundo elitista do automobilismo, acabar com as grid girls e no mesmo ano acertar a ida para a Arábia Saudita, que é a antítese do que a F1 ou a Liberty Media diz pregar? Na teoria, a F1 diz combater muita coisa, mas na prática... nada que uns petrodólares não resolvam e vai ficar por isso mesmo.

Só se engana quem se deixa enganar. 

Até!

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