terça-feira, 6 de outubro de 2020

O ACORDO COM O NADA

Foto: Getty Images

Conforme sabido por todos, agora foi confirmado: a Liberty assinou com a Rio Motorsports para que o Grande Prêmio do Brasil seja realizado no autódromo de Deodoro, no espaço onde atualmente está a Floresta de Camboatá.

Ou seja: esse autódromo não existe e também não há uma perspectiva de construção. É uma área de preservação ambiental que pertence ao Exército e precisa de uma série de procedimentos burocráticos que autorizam (ou não) tal ação. São necessárias as licenças ambientais do INEA (Instituto Estadual do Ambiente) e da CECA (Comissão Especial de Controle Ambiental), que precisam redigir os documentos que não estão prontos. O processo está parado desde o início do ano, muito também em virtude da pandemia.

A Liberty, semanas atrás, assinou com o mesmo consórcio (a Rio Motorsports) para ceder os direitos de transmissão da categoria para o país a partir do ano que vem. Ninguém sabe de onde vem o dinheiro dessa Rio Motorsports. Neste ano, eles compraram os direitos de transmissão da Moto GP e repassaram para o Grupo Disney. No entanto, eles deram um calote e coube a grupo de comunicação ir atrás e quitar a dívida.

Ou seja: são necessárias garantias financeiras e também ambientais, tanto para o anúncio do tal circuito no Brasil quanto da transmissão da F1 no país e, pelo que parece, a Rio Motorsports não tem ambas. Meses atrás, escrevi sobre o quão "inocente" seria o tal grupo Liberty Media em acreditar apenas nas palavras dos brasileiros. Não acho mais, e sim algo muito estranho. Com Interlagos e a Rede Globo parceiras de Bernie Ecclestone, me parece algo pessoal, além: destruir tudo o que um dia já foi ligado ao ex-chefão da escuderia.

Não só isso. Em documento publicado pelo Diário Motorsport, Chase Carey enviou um documento para Cláudio Castro, governador em exercício do Rio de Janeiro, confirmando o acordo com a Rio Motorsports para a realização de um Grande Prêmio no Brasil. No entanto, para que isso seja realmente realizado, o governo do Rio de Janeiro precisa apresentar as garantias ambientais necessárias e pendentes para que tudo comece a ser trabalhado. Um verdadeiro lobby, uma pressão no governador interino.

Chase Carey não tem o direito de querer pressionar ou interferir em questões nacionais que vão muito além de construir um autódromo. O Brasil não é terra de ninguém. Além da má vontade em negociar com São Paulo e o desejo de varrer a influência de Bernie Ecclestone, existem muitos condicionantes para essa questão que já é complexa.

É um ano eleitoral. São grandes as possibilidades do atual governo do prefeito Marcelo Crivella seja reeleito. Com uma possível nova administração, tudo volta para a estaca zero, seja os contratos ou as questões ambientais. É realmente uma prioridade para o Rio de Janeiro construir um autódromo de bilhões de reais no espaço de uma floresta, mesmo que seja "dinheiro privado"?

E outra: Chase Carey está de saída da Liberty. O novo CEO da F1 será Stefano Domenicali, a partir de janeiro. Será que o italiano concorda com a saída de Interlagos? Domenicali foi chefão da Ferrari por muitos anos e é do metiê do automobilismo, diferentemente do bigodudo, que caiu de paraquedas.

Foi oficializado um acordo com o nada (mais um). Quem perde com isso, é claro, é o Brasil: sem transmissão e agora sem um autódromo depois de muito tempo, conseguiram alcançar o objetivo que tanto queriam: matar o automobilismo nacional.

Até!

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