domingo, 3 de julho de 2022

MAIS SORTE QUE JUÍZO

 

Foto: Mark Thompson/Getty Images

A corrida de hoje em Silverstone mostrou que nem sempre quem vence faz uma boa corrida ou apenas o suficiente para ganhar. Claro, é óbvio que fez o suficiente se recebeu a bandeirada primeiro, mas isso também está ligado a outras circunstâncias que só o contexto faz questão de lembrar. Para os livros de história, não, até porque ela é contada pelos vencedores.

Talvez isso soe chato ou ranzinza, mas tudo bem. O importante é que finalmente Carlos Sainz venceu a primeira na carreira, justamente no final de semana onde fez também a primeira pole. Depois de bater na trave com a McLaren e em algumas etapas desse ano, o espanhol fez o hino do país voltar a tocar na F1 depois de nove anos, novamente com a Ferrari, onde Alonso triunfou pela última vez. Finalmente Sainz entregou o resultado que se esperava, embora as circunstâncias tenham sido bem distintas.

Começando pela largada e o forte acidente que interrompeu a corrida em uma hora. Gasly foi prensado por Russell, tocou no inglês, que tocou no carro de Zhou que capotou, quicou na brita passou por cima da proteção de pneus. Se não fosse a grade, acertaria o público e poderíamos ter uma tragédia.

Claro que foi assustador, mas não achei que haveria algum perigo. O Halo pode ter feito (ou fez) sua parte, mas capotamento é algo que sempre existiu na F1 e nem sempre dá para colocar tudo na conta desse artefato. Do contrário, muita gente teria morrido nos anos 1990 e 2000. O santantônio sim é uma invenção mais importante, mas esse assunto de segurança é cansativo e já escrevi sobre, então deixa pra lá.

O acidente que poderia ter sido mais grave foi o do Albon. Com o incidente acontecendo na curva, todo mundo freou. Vettel bateu em Albon, que bateu no guard rail e foi para o meio da pista, batendo e sido batido de frente, em T. A sorte é que os carros haviam diminuído a velocidade, mas se fosse igual na F2, em 2019... Por sorte e pela tecnologia, Albon e Zhou estão bem e devem participar da corrida da semana que vem.

Com a largada anulada, que tinha Verstappen na frente e Hamilton em terceiro, veio aí a primeira sorte de Sainz. Com a segunda largada, foi agressivo e cresceu para cima de Max, fechando-o. Foi o único mérito do espanhol hoje. Pérez foi tocado por Leclerc enquanto tentava se aproveitar da briga na frente e teve o bico danificado, precisando parar e ir para o fim do pelotão. 

Como sempre, o ritmo da Red Bull era superior e Sainz sentiu a pressão. Errou sozinho e facilitou o trabalho de Max, que parecia caminhar para mais uma vitória no ano. No entanto, passou por uma zebra e danificou o carro e furou um dos pneus. Desde então, não teve mais ritmo e praticamente se arrastou na pista, nos padrões Red Bull, claro. Sem os taurinos na briga, isso era uma ótima notícia para o campeonato.

A Ferrari tinha a faca e o queijo na mão para finalmente fazer outra dobradinha e recolocar Charles Leclerc de volta a briga pelo campeonato. No entanto, a Ferrari resolveu não ser totalmente Ferrari. A bagunça e a burrice estiveram lá, mas em nenhum momento eles intercederam a favor de quem briga pelo título. Leclerc, também com o carro danificado, ainda assim era mais rápido que Sainz. Enquanto isso, Hamilton chegava de mansinho e sonhava com uma vitória apoteótica em casa outra vez. A Mercedes tem ritmo com os pneus usados e é o grande trunfo da segunda metade do campeonato. A vitória dos alemães está mais próxima do que imaginávamos.

Quando a Ferrari finalmente se livrou de Sainz e priorizou Leclerc, Hamilton tinha uma boa situação na corrida, mas a Mercedes também não ajudou. Foi muito conservadora na troca de pneus. Os duros não tiravam tanta diferença, apesar de Hamilton ter uma óbvia vantagem para as últimas vantagens. Tudo parecia dar certo em linhas tortas, até que um problema no carro de Ocon, sobrevivente da primeira largada, mudou a corrida.

O Safety Car trouxe Pérez de volta para a briga e poderia prejudicar ainda mais Max, que era o nono e estava brigando com a Haas pelos pontos. Faltando poucas voltas, o gabarito era colocar os pneus macios e virar sprint race. Loucura total. Mas a Ferrari, ah a Ferrari... o principal piloto do time permaneceu na pista com os pneus duros. Por quê? A McLaren de Norris demorou a parar e Vettel e Magnussen também não trocaram pneus. Os dois últimos foram presas fáceis.

Leclerc foi presa, mas deu trabalho. Mostrou talento e jogou duro até com Sainz, que se aproveitou e se livrou na ponta, ainda que com dificuldades. Com os pneus novos, Pérez foi espetacular na briga com Hamilton e passou os dois. No entanto, o tempo que perdeu na disputa o tirou da briga pela vitória. Leclerc também, graças a burrice da Ferrari, perdeu o lugar no pódio para Hamilton, que teve o terceiro no ano e o décimo terceiro em Silverstone, sendo dez seguidos. Foi feito para Silverstone. 

De novo, Sainz teve mais sorte que juízo. Parecia que a Ferrari queria dar a ele a primeira vitória de uma vez, independente do contexto, para não desmotivá-lo. Apenas não entendi acabarem com Leclerc. Com Max lá atrás, era a chance de encostar no campeonato, e a oportunidade foi desperdiçada de novo. Ainda no fim, Max brigou com unhas e dentes pelo sétimo lugar e finalmente Mick Schumacher marcou os primeiros pontos da carreira. Emocionalmente na questão da nostalgia. Tomara que isso dê a confiança necessária para o alemão continuar trabalhando na Haas, onde a batata dele já estava começando a queimar.

Don Alonso, sem problemas, consegue um grande quinto lugar. Se tivesse mais carro e/ou potência, poderia ter se beneficiado da briga que acompanhou na parte final da prova. Norris andou em quarto a corrida toda mas um erro da McLaren o fez perder duas posições, ainda assim está bem. E Daniel Ricciardo? Mesmo numa corrida maluca, conseguiu ser o 13° de 14 carros que completaram a prova. Infelizmente, parece não ter mais solução. É constrangedor.

Vettel consegue mais dois pontos para a Aston Martin e Magnussen fechou o top 10. Cruel para Latifi, que teve um final de semana mágico para seus padrões e ainda assim não pontuou. Fui inventar de elogiar Tsunoda e ele acabou com a corrida dele e de Gasly. Certamente deve ter aquela conversa bacana e instrutiva com Helmut Marko...

O que nós queríamos, de certa forma, aconteceu: mais emoção e imprevisibilidade. Com Max fora do caminho, era a chance da Ferrari voltar a briga pelo título com Leclerc. O que vimos, no entanto, não deixou de ser imprevisível: os italianos priorizaram o segundo piloto que, com mais sorte que juízo, venceu a primeira na carreira. Que isso também sirva para dar mais confiança ao pressionado espanhol, mas é uma sacanagem tremenda com Leclerc, que luta sozinho contra três equipes, aparentemente.

Confira a classificação final do GP da Inglaterra:


Até!

sexta-feira, 1 de julho de 2022

PONTO DE REFERÊNCIA

 

Foto: Dan Mullan/F1 via Getty Images

Silverstone, onde tudo começou. Como a maioria das equipes ficam na Inglaterra, a pista além da carga histórica tem o simbolismo das grandes atualizações dos carros, a última antes do verão europeu. Pode ser um ponto de referência para corrigir rumos, evoluir ou simplesmente se dar conta de que o ano está perdido e é melhor priorizar a próxima temporada.

Em uma temporada onde tudo é novo e incipiente no regulamento, qualquer sessão de testes é importante para dar rodagem. Quando chove, não é o ideal, tanto para os pilotos quanto para os fãs. Na primeira sessão, a chuva fez os carros andarem muito pouco, quase nada. Uma sessão perdida. Com isso, o segundo treino livre e o treino de amanhã ganham muita importância para testar as voltas rápidas e o ritmo de corrida dos carros.

Diante da hierarquia que já sabemos, as coisas não mudaram muito. Ferrari foi mais rápida com Sainz. A Red Bull não se encontrou tanto. A McLaren de Norris tenta reagir na temporada. Hamilton, com voltas rápidas, foi bem e a Mercedes pode estar em ascensão, mesmo que não tão rápida quanto todos imaginam.

No bloco intermediário, Alpine, Aston Martin e Alpha Tauri batalham pelos últimos pontos.

Em Silverstone, em um clima de consternação diante das barbaridades ditas por Nelson Piquet e que pretendo escrever sobre nos próximos dias, é o palco onde Hamilton está em casa e tem oito vitórias. Carinho e apoio não vão faltar, mas isso não vai ser o suficiente nas pistas e, infelizmente, nesse combate ao racismo que a sociedade perde com frequência. 

Que Silverstone seja um ponto de referência em várias frentes na temporada da F1, dentro e fora das pistas, na postura de todos que fazem parte desse lugar que, embora seja chamado de circo, não é palco para palhaçadas e outras coisas piores.

Confira os tempos dos treinos livres:




Até!


quinta-feira, 30 de junho de 2022

GP DA INGLATERRA: Programação

  Grande Prêmio da Inglaterra foi disputado pela primeira vez em 1948. Atualmente é disputado em Silverstone, perto da cidade de mesmo nome, em Northamptonshire. Juntamente com o GP Italiano, são as duas únicas corridas que figuram no calendário de todas as temporadas da Fórmula 1, desde 1950.

Já foi disputado em Aintree (1955, 1957, 1959, 1961 e 1962), Brands Hatch (1964, 1966, 1968, 1970, 1972, 1974, 1976, 1978, 1980, 1982, 1984 e 1986) e Silverstone (1950 até 1954, 1956, 1958, 1960, 1963, 1965, 1967, 1969, 1971 1973, 1975, 1977, 1979, 1981, 1983, 1985, 1987 - presente), que teve seu traçado reformado em 2010.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:

Melhor volta em corrida: Max Verstappen - 1:27.097 (Red Bull, 2020)

Pole Position: Lewis Hamilton - 1:24.303 (Mercedes, 2020)

Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)

Maior vencedor: Lewis Hamilton (2008, 2014, 2015, 2016, 2017, 2019, 2020 e 2021) - 8x


CLASSIFICAÇÃO:

1 - Max Verstappen (Red Bull) - 175 pontos

2 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 129 pontos

3 - Charles Leclerc (Ferrari) - 126 pontos

4 - George Russell (Mercedes) - 111 pontos

5 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 102 pontos

6 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 77 pontos

7 - Lando Norris (McLaren) - 50 pontos

8 - Valtteri Bottas (Alfa Romeo) - 46 pontos

9 - Esteban Ocon (Alpine) - 39 pontos

10- Fernando Alonso (Alpine) - 18 pontos

11- Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 16 pontos

12- Kevin Magnussen (Haas) - 15 pontos

13- Daniel Ricciardo (McLaren) - 15 pontos

14- Sebastian Vettel (Aston Martin) - 13 pontos

15- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 11 pontos

16- Guanyu Zhou (Alfa Romeo) - 5 pontos

17- Alexander Albon (Williams) - 3 pontos

18- Lance Stroll (Aston Martin) - 3 pontos


CONSTRUTORES:

1 - Red Bull RBPT - 304 pontos

2 - Ferrari - 228 pontos

3 - Mercedes - 188 pontos

4 - McLaren Mercedes - 65 pontos

5 - Alpine Renault - 57 pontos

6 - Alfa Romeo Ferrari - 51 pontos

7 - Alpha Tauri RBPT - 27 pontos

8 - Aston Martin Mercedes - 16 pontos

9 - Haas Ferrari - 15 pontos

10- Williams Mercedes - 3 pontos


DE PORTAS E BRAÇOS ABERTOS

Foto: Getty Images

Sebastian Vettel tem contrato com a Aston Martin até 2023. No entanto, não deixou claro se pretende continuar na categoria. Tudo depende da motivação e do que a Aston Martin pode oferecer ao piloto, que também é um dos acionistas do time.

Se depender da vontade da equipe, o tetracampeão fica até quando quiser, se ele manter a motivação mesmo sabendo que talvez não consiga mais brigar por campeonatos.

O chefão, Mike Krack, está mais do que disposto em manter essa parceria:

“Sempre fomos claro no sentido de que se ele quiser continuar, queremos que ele continue por muito tempo. Estamos conversando. Temos uma ótima relação, não botamos nenhum limite de tempo", disse para a Autosport.

Um dos trunfos da montadora é mostrar para Vettel que a equipe está evoluindo, apesar do início ruim e do time estar aquém dos investimentos que faz. A corrida do Canadá foi um alento, e Krack acredita que Silverstone pode ser mais um passo em direção ao topo do grid.

“Nós sempre dissemos que queremos melhorar o carro, e acho que Barcelona foi o primeiro passo. Queremos mostrar a ele que demos outro passo à frente e, aí, podemos conversar mais. Talvez em Silverstone eu consiga e o desejo dele de ficar cresça ainda mais”, completou.

É tudo questão mental e motivacional. Vettel não precisa provar mais nada e está evoluindo na temporada. Precisa de carro que a Aston Martin não o deu em nenhum momento. Como o outro lado do box é intocável, é bom Krack pensar bem. Se Vettel não estiver mais a vontade com a categoria, vai ser necessário um piloto líder e experiente. Onde encontrá-lo? Eu tenho uma pista, mas no momento é tudo especulação e suposição. Tomara que Vettel continue na F1.

"GRANDE FUTURO"

Foto: XPB Images/ P A Images

Após a melhor atuação na temporada com um oitavo lugar no GP do Canadá, Guanyu Zhou ganhou um pouco de holofote. Após o ponto na estreia, o chinês passou algumas corridas apagado e abandonou em outras, enquanto Bottas lidera o time.

No entanto, a avaliação do chinês até aqui tem sido extremamente positiva, tanto do chefe Frederic Vasseur quanto de Xevi Pujolar, chefe de engenharia de pista.

“Ele está construindo os próprios fins de semana de maneira progressiva. Mesmo na corrida, absorve todas as informações que damos a ele e está usando isso para performar o que precisamos quanto aos pneus – não somente na corrida, na classificação também.

Acho que ele está também tendo essa abordagem sem cometer erros. Se você consegue evitar incidentes, então ajuda muito em construir essa confiança – corrida a corrida – e essa tem sido sua qualidade também. Se continuar assim, tem um grande futuro na Fórmula 1”, disse Pujolar.

Frederic Vasseur, por sua vez, estava preocupado com a sequência de corridas desconhecidas para Zhou: correu pela primeira vez no Azerbaijão e no Canadá e Mônaco é sempre difícil. O chefe acredita que a tendência é o chinês melhorar o desempenho nos circuitos europeus que ele conhece dos tempos da F2.

“Estava um pouco preocupado com a sequência em Mônaco, Baku e Montreal, porque são os três circuitos mais difíceis para um novato na primeira parte da temporada. Mas, no Azerbaijão, ele foi muito bem. Teve um pouco de azar na classificação, porque não conseguiu encaixar uma boa volta com a bandeira amarela. Mas, no fim, a performance ‘esteve lá’ na corrida. Ele sempre teve uma boa administração do carro e dos pneus.

Você tem que separar o desempenho do carros dos pilotos e seus resultados. Penso que em Baku, por exemplo, Zhou teve ótimo ritmo – estava disputando posições com Vettel antes do abandono. A performance ‘estava lá’, mas se você não tem confiabilidade no carro, não irá marcar pontos. Estou convencido de que, assim que voltarmos às pistas que ele já conhece, vai ter um desempenho ainda melhor. Mas estou mais do que feliz com o trabalho feito por ele até aqui”, disse Vasseur.

Zhou é um bom piloto. Quem viu a F2 sabe. Assim como Tsunoda no ano passado, é óbvio que vai encontrar dificuldades no ano de estreia. São categorias diferentes e sem tempo para fazer testes. O aprendizado é a cada corrida ou erro. Há má vontade por Zhou ser asiático e trazer muito dinheiro, mas a tendência é que com o tempo ele se aproxime de Bottas e ajude ainda mais a Alfa Romeo, tornando-se assim o chinês viável da F1.

TRANSMISSÃO:
01/07 - Treino Livre 1: 9h (Band Sports)
01/07 - Treino Livre 2: 12h (Band Sports)
02/07 - Treino Livre 3: 8h (Band Sports)
02/07 - Classificação: 11h (Band e Band Sports)
03/07 - Corrida: 11h (Band)



terça-feira, 28 de junho de 2022

NO LIMBO

 

Foto: Motorsport

Pierre olhou no espelho e mirou o reflexo de Carlos Sainz. E foi apenas isso. Tudo o que escrevemos em janeiro e agora, na semana passada, foi em vão. A culpa é do francês?

Claro que não. Com Pérez na Red Bull por mais dois anos, a única chance de progressão na carreira seria tentar almejar um assento na McLaren, no lugar de Daniel Ricciardo. Acredito que o staff do francês tentou, mas aparentemente há outras prioridades por lá, seja a manutenção do australiano ou uma possível chegada de Colton Herta ou Pato O’Ward, queridinhos de Zak Brown.

Portanto, diante desse contexto, não restava outra alternativa. Realmente não havia. Pierre Gasly continua mais uma temporada na Alpha Tauri por falta de opções para ambos os lados.

A Red Bull não tem ninguém pronto para subir. Daruvala e Liam Lawson estão crus. Vips falou imbecilidades e foi cortado. O próprio Tsunoda só permanece porque justamente não há alternativas no curto prazo. Até por isso Pérez renovou por mais tempo, além do fato de ter crescido o rendimento e consequentemente estar mais entrosado com o ambiente dos energéticos.

Empurrar com a barriga. É o que resta para Gasly nesse médio prazo. A Red Bull não vai subi-lo de volta. Esperar por isso é desperdiçar a juventude da carreira, embora não possamos saber o dia de amanhã. Apesar da Ferrari ser improvável, não dá para desistir. Mesmo caso a Alpine, a Aston Martin e a própria McLaren, mais para frente.

Ser o líder da equipe B não quer dizer nada para alguém que deu a volta por cima e já mostrou que pode almejar algo a mais na carreira, mesmo que o 2022 não esteja tão bom assim. Red Bull, Alpha Tauri e Gasly empurram a carreira com a barriga. Melhor para a Alpha Tauri, que tem um piloto acima do nível do time por mais um ano. A questão é capitalizar tudo isso em pontos e pódios.

Pierre deve tentar algo além para salvar a própria carreira do marasmo, por mais difícil que seja. Percebam que tudo é questão de estar no lugar certo e na hora certa. As estrelas do francês podem não estar alinhadas no futuro próximo e não há tempo para esperar que tudo isso se ajeite do dia para a noite.

E agora, Gasly?

Até!


segunda-feira, 20 de junho de 2022

O REI E ELE

 

Foto: Getty Images

Fernando Alonso e Max Verstappen têm muito mais semelhanças do que diferenças, embora essas diferenças sejam cruciais para o andamento da carreira de um, que talvez nem esteja no auge, e o outro que está na volta final de sua trajetória.

Uma das coisas que os dois têm em comum é a rivalidade com Lewis Hamilton. Alonso sempre foi uma jóia e uma promessa lapidada com muito carinho e cuidado por Flávio Briatore, chefe e empresário. Pegou experiência na Minardi, no já longínquo 2001. O espanhol virou o mais longevo da história da F1. Histórico.

Um ano de experiência na reserva da Renault até assumir a titularidade dos franceses. Pole na Malásia e a primeira vitória apoteótica na Hungria. O jovem estava em ascensão. Só precisava de tempo e carro para prosperar. Prosperou. Bicampeão mais jovem da história até então, "aposentando" Michael Schumacher. A "Era Alonso" era uma mera formalidade. Alonso sempre gostou de ser o vilão. Contra Schummi, havia uma rejeição. O problema foi depois.

Chegou na McLaren achando que daria as cartas, mas jamais poderia imaginar o surgimento de um Lewis Hamilton. Além: que esse estreante protegido pela McLaren e por Ron Dennis seria um prodígio de patamares inimagináveis na categoria. Sempre priorizado por Briatore, Alonso se via num ambiente hostil, sendo o vilão contra a imprensa inglesa e a nova maravilha da Inglaterra no automobilismo.

A história vocês já conhecem. Por falta de tato, temperamento difícil e decisões equivocadas na carreira, o tempo passou e Alonso não conseguiu estar mais no lugar certo. Apenas o talento não era o suficiente. Faltou o networking e as pontes queimadas pelo espanhol ao longo da década. O tri chegou perto duas vezes, e nas duas a perda foi brutal. 

A história vocês já conhecem: Alonso merecia mais do que dois títulos pelo talento que tem. O problema é que se inviabilizou em quase todos os lugares relevantes. O bem estar vale mais que o temperamento bélico interno. E só sobrou para o espanhol a velha casa, a Renault/Alpine.

O segundo lugar no grid é um recado claro para a cúpula da equipe: estou longe de estar acabado. A pontuação de Alonso no mundial é mais fruto de azar e problemas do que propriamente mal desempenho. O mérito é todo de Ocon, que está sendo um "Russell da Alpine" ao ser praticamente regular e, mesmo quando mal é notado na pista, traz fatias importantes de pontos para o campeonato. Piastri deveria estar no grid, mas não deveria estar no lugar da Fênix. O Canadá é um sinal que qualquer consegue perceber.

Pulamos para outro prodígio que, na adolescência, já era visto como um futuro campeão do mundo. Ainda adolescente chegou na F1, para espanto e desconfiança de muita gente. Pouco tempo depois de virar adulto, Max subiu para a Red Bull. Lembram que eu fiquei indignado com o que fizeram com Kvyat? Pois bem, em dias o holandês calou a boca de todos. Vencer na estreia na equipe e ser o mais jovem vencedor da história da F1 era um recado poderoso. Era questão de tempo.

Com muitos percalços, normais para a juventude de uma pessoa e um piloto em formação, Max era besta e bestial em fração de segundos. Por anos, a impressão era de que precisava mudar a mentalidade quando finalmente chegasse a hora de brigar pelo campeonato. Não ter responsabilidade é uma coisa, precisar ser cerebral o ano inteiro para vencer o adversário é outra.

Assim como Alonso, Max passou pelo heptacampeão da F1 e agora está começando a "Era Max". O novo regulamento, por enquanto, dá longevidade ao rei. O futuro ninguém sabe, mas quem seria o "Hamilton" de Max, tal qual Alonso? Leclerc? Norris? Russell? Piastri? Só o tempo talvez consiga responder.

Max também nunca se preocupou com o rótulo de vilão. Enfrentar a estrela da F1, o responsável por furar a bolha da categoria, tem um preço. O holandês nunca se preocupou com isso. Ele só quer pilotar e vencer. Não faz questão de ter carisma. A popularidade de Max está no que ele faz na pista, não nas redes sociais. Finalmente, depois de quase uma década, a previsão de todos está em andamento: o futuro campeão do mundo pode ser multicampeão, dependendo da Red Bull, dos regulamentos, da sorte e do acaso.

Max Verstappen tem tudo para ser o que Fernando Alonso não foi: confirmar em títulos todo o imenso talento que tem. Não que Max seja alguém muito diferente do espanhol, mas até aqui ele sempre optou por permanecer na redoma de quem projetou todos os passos na carreira e não teve nenhum remorso de se livrar de quem potencialmente o incomodaria. Alonso também teve isso na Renault, mas pulou a varanda para buscar novos desafios. Desprotegido, saiu de casa e ficou com as mãos vazias.

Em termos de talento, é difícil dizer quem é superior. São pilotos muito parecidos, onde o QI e o ritmo de corrida prevalecem diante da velocidade pura. Hoje, o Rei Verstappen parece intocável. No entanto, não seria ruim se ele pegasse algumas dicas da antiga majestade, que já esteve na mesma posição perante o mundo e tudo, a partir dali, seria um passeio no parque. 

Elvis não morreu.

Até!

domingo, 19 de junho de 2022

NÃO TEM PRA NINGUÉM

 

Foto: Clive Rose/Getty Images

Montreal vai entrando naquele hall de pistas que nós temos boa memória afetiva mas a verdade é que só há realmente corridas inesquecíveis quando chove, igual Interlagos. Estava tudo muito bem encaminhado, embora a chuva de sábado tenha embaralhado tudo.

Na primeira fila depois de dez anos, Alonso mostra porque ainda tem lenha pra queimar. Hoje, no entanto, foi traído por uma estratégia simplesmente patética da Alpine, que escreverei sobre nas linhas seguintes. 

Sem Leclerc, punido pelas trocas, Verstappen estava sozinho na frente, e assim o fez. Embora o Safety Car patético provocado por Tsunoda (foi só eu elogiar...) tenha colocado Sainz de volta para a briga, na hora H é que vemos que falta algo para o espanhol. Não esboçou tentativas e segue sem vencer na categoria. Pelo carro que tem, é questão de tempo para isso acontecer, mas a temporada deixa claro que não é nele que a Ferrari precisa apostar as fichas para algo além.

Max chega a mais uma vitória na temporada e se consolida como o favoritaço para o bi. Não há concorrência. Hoje, Pérez teve problemas no motor e nem pontuou, ainda que a batida de sábado não tenha pegado bem.

Parece que quando quer desistir de fato, Hamilton consegue alguma resposta. Desiludido na sexta, Lewis teve a melhor performance da temporada para voltar ao pódio, o segundo em 2022. Superar Russell é complicado e o inglês, que só não largou mais na frente porque quis arriscar de slick no sábado, segue um reloginho: quarto lugar e mais um top 5. Leclerc, lá de trás, ao menos pontuou.

Saindo de trás, Ocon foi o sexto, seguido da dupla da Alfa Romeo: Bottas e Zhou, que pontua pela segunda vez no ano. Conseguiu prosperar diante do caos da classificação. O chinês é bom, está em temporada de adaptação.

Alonso e Alpine. Superaram a Ferrari na estratégia mais burra e sem sentido do ano. Não pararam o espanhol nos VSCs, alongando o stint. Ok, o pódio já estava fora de cogitação. No entanto, no Safety Car, pararam o espanhol de novo. Ou seja: fez duas paradas com um stint curtíssimo. Jogaram a corrida fora. Para piorar, sem ritmo com os pneus médios, fez o possível, o impossível e o não-permitido para evitar a passagem de Bottas. Conseguiu na pista, mas levou cinco segundos de punição por zig zaguear na frente do finlandês e Alonso foi apenas o nono. Um crime o que fizeram com a fênix!

A Haas parecia ter um GP promissor, largando na terceira fila. De novo, Magnussen tocou com Hamilton e ficou para trás. Mick, já caindo no grid, teve problemas e segue zerado. Não aproveitar essas situações com um orçamento tão curto é quase um crime.

Stroll conseguiu um pontinho e fechou o top 10 graças a acertada estratégia de uma parada só. Albon lutou, mas não foi o suficiente. McLaren sai zerada com uma corrida ruim de Ricciardo e problemas com Norris.

Max Verstappen mostra que não tem pra ninguém. Sem competição graças a um ritmo de corrida quase perfeito, os taurinos já podem começar a pensar que é questão de tempo para conquistar o bicampeonato, embora falte mais da metade da temporada. A Ferrari vai reagir? A Red Bull vai decair? Para voltarmos a ter um campeonato, essas duas coisas precisam acontecer, sem exceções. Me parece difícil.

Confira a classificação final do GP do Canadá:


Até!

sexta-feira, 17 de junho de 2022

O ARRASTO

Foto: Lars Baron/F1

 Visando a segurança, a FIA anunciou que vai aumentar o arrasto dos carros diante do efeito porpoising estar causando problemas físicos nos pilotos. Isso foi algo que talvez não tenha sido planejado na hora que o novo regulamento foi feito.

Claro que a Red Bull, até com razão, chiou diante da mudança no meio do campeonato, pois o carro é um dos que menos sofre esse efeito. Na realidade, o efeito dessa intervenção é justamente o contrário: as diferenças tendem a aumentar, pois, por questão de segurança, as equipes vão ter que fazer concessões nos carros, o que deixa o desempenho um pouco de lado nesse quesito.

O que vimos em Montreal foi um incomum domínio da Red Bull nas voltas rápidas. Verstappen liderou os dois treinos, com a Ferrari um pouco atrás. As surpresas positivas foram Aston Martin e Alpine, rápidas e incomodando a Mercedes, que segue com dificuldades claras perante o porpoising e pior: pela primeira vez, os alemães estão batendo cabeça, sem saber como reagir a isso.

Haas e Alfa Romeo, depois do primeiro momento, parecem relegadas ao bloco da Williams, entre os mais lento. Normal, há menos peças, dinheiro e é um trabalho que precisa ser desenvolvido. Bottas mal andou, por exemplo.

Em meio as naturais mudanças de regulamento, é possível que alguma coisa aconteça no médio-prazo. Enquanto isso, infelizmente, perde o campeonato. Com a Ferrari precisando resolver seus problemas internos, tudo parece apontar para um domínio da Red Bull, a não ser que o imponderável (a chuva?) apareça e aconteça em Montreal.

Confira os tempos dos treinos livres: