domingo, 5 de dezembro de 2021

A ANTI-CORRIDA

 

Foto: Getty Images

Em um campeonato disputado curva a curva, qualquer detalhe vai fazer a diferença. No entanto, o que vimos hoje na Arábia Saudita a partir da batida de Mick Schumacher, inaugura uma situação que confesso nunca ter visto em um ambiente como a F1: a catimba e a pressão, como se fosse um jogo de Libertadores. Só faltou ter briga mesmo.

Começando pelo vício nas bandeiras vermelhas, acionada quatro voltas depois do acidente. A Mercedes, que parou, ficou no prejuízo e a Red Bull se deu bem porque Max continuou na pista e herdou a primeira posição. Todavia, a Mercedes também foi malandra: segurou o grid atrás do Safety Car para conseguir fazer a parada com segurança. 

O circuito da Arábia Saudita queimou minha língua: essa imprevisibilidade de um circuito de rua realmente aconteceu, somado ao fato de ser desconhecido de todos. Existem notórios problemas de administração, fruto da inexperiência em sediar um evento como esse, mas o ponto é que hoje o problema foi muito maior.

Na relargada, Hamilton pulou na frente e foi no limite. Verstappen teve que fazer a curva por fora e ganhou tempo. Dali em diante foi um show de horrores: Red Bull e Mercedes barganhando punições e quando isso aconteceria. Parecia House Of Cards. Não que isso seja inédito, apenas definitivamente explícito, mas a FIA não tem mais pulso nas decisões e está atrapalhando o campeonato.

Quando é para punir e quando não é? Max foi penalizado. Na sequência, relargou melhor porque teve outro acidente, envolvendo Perez, Leclerc, Mazepin e Russell, e ficou na frente. Max só estava ali porque a FIA decidiu por uma bandeira vermelha estapafúrdia que mudou os rumos da corrida.

Hamilton, com muito mais carro, seguiu pressionando e tentando passar. Max é muito mais Senna/Schumacher. Ele não mede as consequências e joga com a vantagem do regulamento. Outra vez, ganhou vantagem na curva e, quando ia fazer a troca de posição, sabe-se lá porque freou no meio da reta e Hamilton raspou nele. A Mercedes não foi notificada e a Red Bull sim, instruindo o holandês a fazer isso.

Na outra tentativa, Max foi malandro e deixou passar na zona de DRS, mas não teve jeito. O foguete Mercedes cresceu na hora certa e, contra tudo e todos, Lewis Hamilton venceu, com Verstappen em segundo. Empatados em pontos, a diferença é que Max tem mais vitórias. Tudo igual para Abu Dhabi.

Verstappen não é vilão. Sempre foi inconsequente e Hamilton agora joga o jogo. No entanto, foi o holandês quem parou no hospital nessa temporada. Não há mocinhos e cada um está passando do limite porque a FIA simplesmente não tem mais controle de nada desde a morte de Charlie Whiting. Virou uma verdadeira briga no grito. Além disso, a Mercedes parece melhor e, na chata Abu Dhabi, o campeonato pode ser decidido no sábado.

Bottas, em uma corrida de recuperação, completou o pódio nos metros finais, uma crueldade com Ocon. No caos, destaques para as recuperações de Ricciardo, da Ferrari em altos e baixos, os pontos importantes de Gasly e a atuação valente de Giovinazzi, conquistando provavelmente os últimos dois pontos da carreira na F1.

Tsunoda segue involuindo a cada etapa, mostrando que a permanência na Alpha Tauri é mais falta de opção do que necessariamente convicção em alguma coisa. É a crueldade em exigir tanto de alguém que mal completou 20 anos. Na pista rápida e traiçoeira, que constantemente teve Safety Car Virtual pelas batidas e os detritos nas pistas, chamou a atenção a disputa entre Vettel e Raikkonen, que pode ser o último grande momento do finlandês na carreira.

Em um circuito tão traiçoeiro e catimbado pelas circunstâncias do campeonato, o que vimos hoje foi uma corrida tumultuada por pilotos, equipes e a direção de prova. No jargão do futebol, a FIA, que seria o árbitro, perdeu o controle da situação e desbancou para um clima tenso, de confusão e muito disse me disse. 

Hamilton e Verstappen estão iguais. Assim, qualquer coisa vai fazer a diferença, inclusive gritar mais alto ou sabe se lá o que. A FIA, que uma hora quer deixar todo mundo correr pelo bem da F1, aplica punições e se justifica em regras e interpretações que só confundem pilotos, equipes, imprensa e fãs.

Outra coisa confusa: a FIA comprovou que Verstappen fez um brake test e puniu com 20 segundos no tempo final, o que não mudou em nada na posição de chegada.

Confira a classificação final do GP da Arábia Saudita!




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