segunda-feira, 14 de novembro de 2022

MULTI 21 2022

 

Foto: Getty Images

Quem poderia imaginar que uma equipe bicampeã de pilotos, campeã de construtores e com recordes quebrados na temporada poderia terminar o ano em crise e cheia de dúvidas para o ano que vem?

A Red Bull consegue essa proeza. Desde a punição por violar o teto orçamentário e utilizar menos o túnel de vento até o fato novo, ao menos público, do que aconteceu em Interlagos.

Max Verstappen não quis fazer jogo de equipe para ajudar Sérgio Pérez a ser vice-campeão mundial. Até aí tudo “normal”, se tratando de Max. A questão foi o pós-corrida.

O holandês deixou claro que não ia fazer isso e não ia mais tocar no assunto. Foi bem assertivo. Pérez foi mais surpreendente: disse que agora sabe quem ele é e basicamente o chamou de ingrato porque, segundo o mexicano, Max só é bi “graças a ele”.

Declarações muito fortes. O vestiário rachou e só sabemos disso agora. Segundo a imprensa e informações que vazaram depois, o noivado acabou de vez quando Pérez teria falado para Horner e Marko que bateu de propósito no Q3 de Mônaco, o que o beneficiaria para largar na frente de Max. O holandês se sentiu traído e basicamente deu o troco em Interlagos.

Bom, Max basicamente foi egoísta e passou por cima das ordens da equipe, o que é um absurdo. O negócio foi tão constrangedor que até Christian Horner e Helmut Marko pediram desculpas para o mexicano. A questão é: e agora?

Não existe certo e errado na narrativa ou alguma punição além disso. A Red Bull foi feita para servir Max Verstappen. Esse era o projeto desde quando o holandês nem adulto era. Todo mundo que poderia fazer frente saiu do caminho, como Carlos Sainz e Daniel Ricciardo, por exemplo.

Max sempre teve as vontades atendidas por ser simplesmente um dos melhores pilotos da história. Apenas isso compensa os desvios de comportamento e outras crises herdadas do pai, Jos, tão difícil quanto, mas obviamente nem próximo do talento do filho.

O resultado é basicamente esse: a Red Bull é refém de um piloto e a culpa é da própria organização. Não interessa se Max vai passar por cima dos superiores e da hierarquia. Ele pode fazer o que quiser. Do contrário, uma Mercedes pós-Hamilton ou a Ferrari estão de braços abertos esperando.

O holandês não tem nenhum pudor em ser o “vilão” ou o “anti-herói” da F1, tal qual foi Alonso antigamente. A diferença é que o espanhol é mais carismático e o holandês não vai cometer os erros de julgamento de Fernando. Portanto, alguém mais odiável, porque Max vai seguir protagonista da F1 por muito tempo, a não ser que a Red Bull erre a mão. Aí, como já escrevi, equipes interessadas não faltariam.

E Pérez? Vai ser desrespeitado assim passivamente? Sim e não. Sim porque não há o que fazer. Quando assinou o contrato para continuar na categoria, todo mundo sabia que seria assim. Não tem o que fazer. O contrato foi renovado até 2024, mas certamente os taurinos não teriam nenhum constrangimento em retirá-lo antes disso.

Até por isso, talvez, Daniel Ricciardo volte para casa como piloto reserva. A carreira do australiano acabou, mas imagina ser segundão de Verstappen a essa altura do campeonato? Seria a repetição do próprio Checo quando o mexicano se viu sem vaga após Vettel ir para a Aston Martin.

E o quê Checo pode fazer? Desobediência? Pode, até porque o mexicano atingiu um teto que jamais poderia imaginar em 2020: está numa equipe de ponta, venceu algumas vezes, teve pódios e pole. É uma carreira de sucesso para alguém que estava fadado ao esquecimento por outros fatores.

O mexicano sairia por cima, considerando que seria muito difícil, pela idade e pela falta de vagas, continuar na categoria. Ele não tem a força e tampouco o apoio interno para dividir uma equipe igual Rosberg fez contra Hamilton, por exemplo. Checo sempre soube o lugar dele na hierarquia e sabia que era um risco passar por esse tipo de situação.

E o futuro? Quando e se Mercedes e Ferrari crescerem e o trabalho em conjunto for necessário? A história não premia desavenças internas tão abruptas e supostamente irreversíveis igual vimos hoje, a não ser que a Red Bull seja uma McLaren de 1988 ou a Mercedes entre 2014 e 2016.

Quase dez anos depois, a Red Bull tem outro Multi 21, justamente quando voltaram ao topo da categoria. Pode ser muito prematuro, mas as consequências para todos os envolvidos não tendem a ser agradáveis no médio prazo se não houver uma composição harmônica unânime (mais conhecido como paz entre os envolvidos), se analisarmos a história da F1, em linhas gerais.

Até!


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