terça-feira, 23 de agosto de 2022

UM APELO POR SPA

 

Foto: Getty Images

No mínimo a preferida de 7 entre 10 pilotos. Um circuito veloz, cheio de desafios e único. Correr em Spa Francorchamps é um prazer para os pilotos e o circo da F1, além de ser extraordinário no videogame, computador ou simulador. É aquela prova que fica no imaginário popular sobre o que é F1.

O problema é que Spa é uma pista “muito F1” para uma categoria que busca a todo instante se distanciar da F1, seja na paixão, nas pistas e no modo de ser. O mais importante é agradar quem não acompanha o esporte. É claro que o público está mudando e isso é positivo.

É evidente que as sequelas econômicas decorrentes do covid fazem com que qualquer empresa precisa reavaliar investimentos e ter muito cuidado na administração. A diferença é que, agora, a F1 está nas mãos dos americanos. Eles querem o business, o engajamento e o entretenimento acima de tudo, diferentemente do modo europeu, que valoriza os clássicos.

É por isso que há essa paixão por circuitos genéricos de rua em lugares sem tradição ou controversos. Uma categoria que agora resolveu fechar e trancar com vários cadeados as portas para a Rússia mas não vê problemas em desembarcar na Arábia Saudita e no Catar, mesmo com barulho de bombas, fumaça e cheiro de queimado a poucos quilômetros do autódromo – de rua, é claro.

Spa pode entrar no tal revezamento. Existem muitos lugares interessados em sediar uma corrida de F1 mas não há espaço para todo mundo. O calendário já está totalmente inchado. Assim, a corrida na Bélgica pode acontecer com menos frequência. Um total absurdo.

Nos últimos anos, começou uma espécie bizarra de caça às bruxas contra Spa. Do dia para a noite, o circuito não tem mais segurança e a Eau Rouge mata pilotos.

Não é culpa da FIA, veja bem, e sim da Eau Rouge. Não é culpa da FIA que organiza uma F2 com pilotos sem condições e eles, sem qualidade, conseguiram a proeza de causar um acidente fatal e quase matar outro. O fim da área de escape pode tornar qualquer idiota de simulador em um homicida em potencial. E foi o que aconteceu.

É culpa da Bélgica e da Eau Rouge que o Lando Norris resolveu fazer a curva de pré cravado no meio do temporal. Nem o Villeneuve e o Zonta conseguiram isso no seco, mas o inglês ia conseguir essa façanha num local sem área de escape, de certo. A Eau Rouge é perigosa. Precisamos de segurança. Nunca vimos um carro capotar ou algum piloto irresponsável quase se decapitar no guard rail porque é um perigo ambulante.

A culpa é da curva, claro, não da FIA. Por isso que a Bélgica corre riscos, talvez por não apresentar dinheiro o suficiente para competir com autódromos nas ruas de capitais assinadas por Helmann Tilke e shows de música pop. Quem liga para autódromos e várias décadas de tradição? Eles nem escutam os pilotos. O que interessa é o show business e quem pingar mais na conta.

Bernie já fazia isso, tanto que a Bélgica ficou alguns anos ausente no início dos anos 2000. Circuitos históricos como Silvestone, Interlagos, Suzuka, Monza, Spa e Mônaco deveriam ser eternos, sem qualquer margem para negociação. Eles é que construíram a categoria, junto dos pilotos e chefes de equipe. Não foram os petrodólares ou a Liberty.

Spa é eterna, e assim deveria ser. Barcelona, Paul Ricard, Arábia Saudita, Miami, Zandvoort... o que não falta é circuito bisonho que deveria ser expurgado do calendário, mas querem encher o saco da queridinha de 90% dos que realmente gostam do automobilismo.

Spa deveria ser eterna, assim como Sepang poderia voltar ou até mesmo Mugello ser incorporada ao calendário. Sem dinheiro, ninguém é visto e nem é lembrado, até porque a lembrança dos fãs não importa. O que vale são as cédulas.

Que a corrida deste final de semana não seja a última de Spa na F1 ou tampouco comecem um revezamento colocando mais circuitos medonhos em prol do dinheiro, do engajamento, do espetáculo ou seja lá o que for que estejam pensando. Não ousem mexer em Spa.

Não deveriam ousar, na verdade, mas quem sou ou nós na fila do pão?

O máximo que vai acontecer é assistirmos as corridas emburrados ou saudosos daqueles tempos que vão começar a ficar velhos.

Até!


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