terça-feira, 2 de agosto de 2022

OS DOIS VOARAM

 

Foto: Getty Images

O que é a vida... depois de Alonso anunciar a ida para a Aston Martin, era uma questão de mera formalidade que a Alpine anunciasse Oscar Piastri para formar dupla com Esteban Ocon a partir de 2023. Era o que estava desenhado há meses e antecipado por uma série de acontecimentos, desde a aposentadoria de Vettel e a definição rapidíssima do futuro de Alonso.

E isso foi feito hoje. Sem alarde, com a naturalidade da notícia que todos esperam, a Alpine anunciou Oscar Piastri como piloto do time para o ano que vem de forma oficial. Tudo legal, tudo bacana, mistério resolvido. Hora da F1 curtir as férias de verão, certo?

Faltou combinar com o australiano. Horas depois, nas redes sociais, Piastri afirmou que o anúncio foi feito sem o consentimento do piloto e que ele não vai pilotar pela Alpine ano que vem. Exatamente essas palavras: "não vai pilotar pela Alpine no ano que vem".

Mas espera um pouco: como a Alpine em dois dias supostamente perde os dois pilotos que ela tanto tinha dúvida para fazer a dupla com Ocon e agora não tem mais nenhum dos dois? Como Piastri, cria da escuderia desde o sucesso meteórico na F3 e na F2, simplesmente se recusa a assinar com quem pavimentou seu caminho? O que há por trás disso tudo?

É tudo nebuloso, mas vou tentar pontuar as situações. Bem, se Piastri não quer assinar com a Alpine é porque há outro time na jogada, obviamente. As informações do final de semana aparentemente se confirmaram. A recusa de Piastri tem um motivo: o staff do piloto, que tem Mark Webber (estamos velhos!) como empresário, supostamente assinou um pré-contrato com a McLaren para 2023. A McLaren que tem Ricciardo sobre contrato até o final do próximo ano e já está numa polêmica contratual na Indy envolvendo Alex Palou e a Chip Ganassi.

Vale lembrar que Piastri assinou como piloto reserva da McLaren nas duas primeiras etapas do ano, quando Ricciardo pegou covid durante a pré-temporada. É um namoro antigo. Antes de Piastri, o que supostamente diz o contrato do australiano?

Piastri é o atual piloto reserva da Alpine. Segundo o texto da Julianne Cerasoli, o contrato do australiano afirma que ele tem direito a 5.000 km de testes com carros de F1 e a titularidade na F1 em 2023. Outras fontes, como o Rafael Lopes do Voando Baixo, dizem que a Alpine tinha até domingo, 31/07, para arranjar a Piastri uma equipe na F1. Por isso os boatos na McLaren e na Williams.

Aí Alonso entra na jogada. Um dia depois de expirar uma das cláusulas do contrato de Piastri, o espanhol anunciou imediatamente a ida para a Aston Martin. Ele entendeu que estava sendo usado como "esquenta-banco" do australiano e não queria mais ser enrolado. Desde ontem, Piastri é somente o piloto reserva da Alpine.

Bom, se o plano era colocar Piastri logo no time, por que a enrolação com quem foi bicampeão mundial na equipe? Se Piastri estava garantido na Alpine, por que ele resolveu assinar com a McLaren? As coisas não estão ligando.

A verdade é que a Alpine tinha o luxo de escolher entre uma grande promessa e um veterano excepcional. O veterano vai embora e a promessa pode ir também. Agora, tudo vai ser decidido nos tribunais. A última vez que isso aconteceu foi no imbróglio envolvendo Jenson Button, BAR e Williams. Escreverei sobre isso em breve. Portanto, não descartem a possibilidade de Piastri ser obrigado judicialmente a continuar na Alpine com o rabinho entre as pernas. Vai ser uma guerra de interpretações contratuais.

Outras perguntas que precisam ser respondidas? Por que Piastri escolhe a McLaren, uma equipe feita por Norris, apadrinhado por Zak Brown, ao invés da Alpine, que tem em Ocon um desafio em tese menos complicado? Será que eles imaginaram que Alonso permaneceria?

Otmar Szafnauer afirmou que soube da transferência de Alonso pela imprensa. Alonso, vendo que estava sendo enrolado, decidiu a carreira na data limite que poderia supostamente prejudicar a Alpine. Que lambança para os franceses e para o australiano, que nem correu ainda e já se vê no olho do furacão.

Imagina o clima bacana e amigável na equipe até o fim do ano, onde um dos pilotos vai embora e o reserva também quer ir. E a McLaren e Ricciardo, onde se encaixam nessa equação? Agora eles estão diretamente envolvidos no processo.

A Alpine deu uma aula do que não fazer e como não administrar uma situação tão cômoda: decidir entre dois bons pilotos para contratar. Agora que talvez não tenha mais nenhum, o que fazer? Ricciardo de volta, depois de sair do time rumo a McLaren? Hulkenberg, que também foi dispensado? Outra resposta para ser descoberta depois, quando o tribunal decidir.

Sem um cliente, a Alpine não tem barganha para emprestar novos talentos e se vê mercê dessas situações. No meio da tabela, não duvidaria que em breve eles saíssem da categoria outra vez, principalmente depois dessa pataquada.

Alguém avise os franceses que mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Os da Alpine voaram para bem longe.

Até!

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