domingo, 18 de julho de 2021

CRIME E RECOMPENSA

Foto: Getty Images

A corrida classificatória foi uma bizarrice que eu já esperava. Poucas voltas e não havia sentido arriscar para perder quase tudo no domingo. Pérez errou e Sainz se tocou com Russell, o que comprometeu o domingo deles. Toda a bonita festa de Hamilton na sexta se esvaiu quando Verstappen passou na primeira curva e conquistou o direito de ser o pole, mas sem ser o mais rápido numa volta lançada do jeito tradicional, que é o normal. Pra mim, nada tira o fato de que o pole de fato e de direito foi Lewis Hamilton.

Vamos para hoje. Ontem, os dois até duelaram bastante para quem tem muito a perder - no caso ambos, dependendo do ponto de vista. Hoje, Hamilton largou melhor e pressionou Verstappen que, sempre duro, rechaçou as investidas até chegar na antiga reta principal. Naquele instante, Hamilton estava ficando 40 pontos atrás de Max. É um ponto da virada. O inglês, experiente, foi passivo até demais nas disputas contra o holandês até a ocasião. Até a ocasião. Max, como sempre, não arrefeceu. 

Os dois pagaram pra ver. No fim das contas, Hamilton jogou Verstappen para o muro, lembrando Schumacher em 1999. Por sorte da evolução da segurança nos carros, o impacto de 51G não quebrou nada em Max além do carro. O holandês foi para o hospital tonto e com dores nos ombros.

Para a sorte de Hamilton, o "delito" não teve grandes consequências: o carro não ficou tão danificado e sem grandes prejuízos, ainda teve mais um detalhe: a bandeira vermelha, que permitiu trocar as peças necessárias e os pneus. Mudou toda a corrida. Uma batida de 51G que levou um piloto para o hospital não pode ser interpretada do mesmo jeito que uma espalhada ou o incidente de sábado de Russell e Sainz, certo? Para a FIA, é a mesma coisa. Aliás, Russell foi mais penalizado que Hamilton pelo incidente. O inglês teve "10 segundos de punição" o que, pilotando uma Mercedes, não quer dizer nada. 

O recado da FIA foi claro: pode levar o amiguinho para o hospital que você terá apenas 10 segundos de prejuízo. Abriu um precedente que pode ser perigoso. Apesar das dificuldades de aproximação, Lewis conseguiu superar Leclerc na antepenúltima volta para vencer pela oitava vez em Silverstone. Além de mandar o rival para o hospital, diminuiu a desvantagem para apenas oito pontos no campeonato e quatro nos construtores, pois Pérez teve um final de semana bisonho e se limitou a tirar um ponto de Hamilton pela volta mais rápida. O crime recompensou.

Corrida extraordinária de Charles Leclerc. O monegasco, no entanto, é uma mistura de Chris Amon e Jean Alesi que deu certo. Ele consegue ser extremamente veloz e tirar o melhor do carro mesmo quando ele está longe de ser competitivo, mas ainda assim tem um azar impressionante. Às vezes bate, às vezes tem problemas no motor e perde corridas nas voltas finais. Foi por pouco que a Ferrari não fez a Itália fazer a festa na Inglaterra mais uma vez. Espero que os italianos entreguem para Leclerc e o regular Sainz, com uma boa corrida de recuperação, um carro capaz de competir mais vezes no alto em 2022.

Outro piloto extremamente regular e que mais uma vez foi prejudicado pela própria equipe foi Lando Norris. Mais um pit stop ruim tirou o pódio em casa, perdendo a posição para Bottas. O finlandês está mais consistente nas últimas semanas, no momento mais difícil da Mercedes na temporada. Se é o suficiente para permanecer? Talvez não, embora Russell siga zerado. Lando segue batendo em Ricciardo, que chegou logo atrás mas ainda assim bem distante do jovem inglês. Uma diferença quase constrangedora.

Don Alonso foi o destaque do final de semana. A corrida classificatória serviu para mostrar que o talento não vai embora mesmo com a idade. Largando com os macios, passou seis e largou lá na frente e hoje chegou em sétimo, segurando Aston Martin e Alpha Tauri. Stroll e Ocon se recuperaram, Raikkonen se envolveu em confusão outra vez e Vettel voltou a rodar, enquanto Tsunoda apareceu do nada no top 10 e só descobri porque olhei a classificação com mais cuidado depois de algumas horas.

Lewis Hamilton mostra para quem só o conhece do Instagram e do Netflix o porquê de ser heptacampeão. Talento ele tem de sobra, mas todo campeão toma atitudes questionáveis, é territorialista e as vezes defende o espaço com atitudes morais questionáveis. O Hamilton que expulsou o bicampeão Alonso da McLaren, fez um 2011 pífio e brigou com Rosberg mostrou hoje que Max precisa respeitá-lo, por bem ou por mal. 

Do jeito que o holandês é esquentado, hoje pode ter sido o início de uma rivalidade de fato. Certamente a batida de hoje não acaba em Silverstone. É bom lembrar aos apressados que estamos apenas na décima de 23 corridas. Falta muita coisa. O campeonato está mais aberto do que nunca e, hoje, a recompensa voltou a estar com o inglês.

Confira a classificação final do GP da Inglaterra:


Até!


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