quarta-feira, 8 de julho de 2020

A ÚLTIMA DANÇA

Foto: Getty Images

Fernando Alonso está de volta. Ele não poderia sair da F1 simplesmente por ter as portas fechadas para tentar conquistar o tricampeonato. Aquilo estava na cara que era um até breve.

Isso permitiu para o espanhol olhar para o mundo além da principal categoria do automobilismo. Continuou tentando a Indy, onde fracassou ano pasasdo e tenta de novo nos próximos meses, foi bicampeão de Le Mans e campeão do WEC, vencedor de Daytona e se arriscou no Rali Dakar, no início do ano. É um currículo invejável. Ele precisava voltar. O espírito compulsivo e competitivo sempre fala mais alto. Ele não conseguiria dormir sem tentar de novo.

E tinha que ser na Renault, onde fez mais sucesso e vai para a terceira passagem, algo raro na F1. De cabeça, só me lembro dos casos de Clay Regazzoni na Ferrari, Nigel Mansell na Williams e o recente Daniil Kvyat na Toro Rosso/Alpha Tauri, mas todos esses são circunstâncias diferentes. Tinha que ser no palco onde foi bicampeão, agora sem o banido Briatore, que ainda é seu empresário.

Alonso é um cara competitivo. É óbvio que ele assinou pensando em disputar algo e não apenas brincar de F1 aos 40 anos. Certamente Ocon não vai ter vida fácil e as cobranças para que a Renault, pressionada por tantos resultados ruins nos últimos anos, finalmente acerte a mão. Alonso, Prost e Cyril Abiteboul no mesmo ambiente. Ou isso vai dar muito certo ou vai dar muito errado, mas quem se importa?

Alonso de volta à F1 e na Renault é um sopro de nostalgia gostosa em nossas cabeças. Como a série documental de Jordan e dos Bulls, agora seremos testemunhas da Última Dança de Fernando Alonso, no mínimo com dois anos de duração, igual quando sentimos o retorno de Schumacher para pilotar a Mercedes por três anos. Os resultados esportivos importam? Sim, é claro, mas a questão é maior: a nostalgia, as lembranças.

Se Raikkonen se aposentar no final do ano, Alonso será o único remanescente da geração da F1 2001, duas décadas depois. De lá pra cá, tanta coisa mudou nas nossas vidas... escrevi mais ou menos sobre isso lá em 2016 (como o tempo passa!). Os anos passaram, Alonso virou bicampeão, se envolveu em diversos escândalos, quase foi tri e depois foi perdendo força até o divórcio, em 2018. De lá pra cá, mudei de cidade, terminei a escola, a faculdade, comecei a narrar e um projeto de web rádio, sem falar no que o futuro reserva...

Igual Schumacher na Mercedes, Alonso nesse estágio final vai ser igual a terceira passagem de Jordan no basquete, quando foi para o Wizards: os resultados talvez fiquem em segundo plano. O importante é contemplar os últimos rastros de genialidades desses gênios que nos encantaram e participaram da nossa vida sem que eles sequer saibam. Tomara que Alonso consiga uma última pole ou um pódio pela Renault, talvez uma vitória, mas se não conseguir não tem problema, ninguém se importa.

O que vale é a nostalgia e apreciar o momento, a última dança de um dos maiores da história não só da F1, mas também do automobilismo.

Até!

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