quarta-feira, 7 de setembro de 2016

RITO DE PASSAGEM

Foto: MotorSport
Não era para ser um texto tão pessoal, mas foi. Enfim, não estou acostumado a escrever esse tipo de coisa pessoal e sentimental por aqui. Espero que gostem.

Uma coisa que não passava pela minha cabeça e que agora começa a cair a ficha é que desde que eu me conheço como gente, um piloto esteve em TODAS as corridas que eu me recordo de ter assistido.


Começando pela icônica Hockenheim 2000. Foi minha primeira lembrança sobre a F1. Depois, algumas visões turvas: 2001 ou 2002, sempre com o GP do Brasil e a famosa pancada no Safety Car (Era a Sauber do Heidfeld? Então era 2001! Ou 2002??). Depois, o “hoje não, hoje não, hoje sim, hoje sim”. Estava dormindo em um colchão na casa do meu primo vendo naquelas televisões antigas. Apenas eu acordado, fascinado e sem entender nada do que estava acontecendo ali, mas ciente de que algo estranho havia acontecido. 

Foto: Flatout
2003. GP do Brasil. Entre os 20 que não completaram a prova, Schumacher bate na saída do S do Senna. Eu grito para a minha mãe, que estava jogando Paciência no computador, distante de tudo isso: “Mãe, o Schumacher bateu!”. “Legal, filho”. Certamente não estávamos na mesma conexão. Como era possível Schumacher, então pentacampeão não só errar como bater violentamente em pleno Brasil, diante dos meus olhos?

Entre tantas outras lembranças não sequenciais que surgem em minha mente (comecei realmente a acompanhar a F1 em 2006, com 11 anos, revezando com a catequese. Depois, nada me impedia e tentava não perder as provas, fazia de tudo mesmo! Mas é outro papo...). O que eu quero dizer é: Em todos esses momentos, do mais recente (há dois dias) até a minha recordação, Jenson Button estava em TODAS AS CORRIDAS. TODAS.  No fim do ano, serão mais de 300 GPs. Trezentos domingos que Button estava na minha casa, correndo, vencendo, brigando, lutando. Acompanhei boa parte, no mínimo 200 corridas, chutando alto. Uma rotina inperceptível, tão natural que parecia eterna.

Bem, a questão não é o Button em si, mas o que ele, Massa, Alonso, Raikkonen e até Schumacher representam para a minha vida. Acompanho esses caras correndo desde que era um piá de sete anos, morava em Canoas, brincava de F1 com pedaços quadrados de papel, entre outras coisas.  Eles sempre me visitaram aos domingos. Agora, com 21, o tempo avisa que algumas coisas irão mudar. Me senti estranho quando Schumacher se aposentou duas vezes. Foi como se uma parte da infância havia terminado. Em 2007, com 12 anos, pode-se dizer que sai da infância para ingressar de vez na pré-adolescência. Os ciclos da F1 se relacionam com os momentos da minha vida.

Foto: Fórmula Spy
Agora, em 2016. Button e Massa anunciam que estão de saída. Desde quando eles estrearam na F1, eu entrei e conclui o Ensino Fundamental e Médio. Sai da escola justamente no ano em que Schummy se aposentou de novo. Ou seja, em 2013, lá estava o Leonardo se reinventando, se adaptando a uma nova realidade, a de não precisar mais ir para a escola e começar a pensar no vestibular.  Entrei na faculdade. Raikkonen saiu e voltou também, Alonso buscava o tri e Button até foi campeão! Os caras que estavam presentes no primeiro jogo de F1 que eu joguei e criei um laço sentimental que dura até hoje no Emulador de PS1 para PC continuavam correndo! Será que não vai ter fim? Será que nada vai mudar? Será que não vou mudar?

Entrei na faculdade. Nada mal para quem imaginava que nunca sairia da escola. Dois anos de curso e, se tudo der certo, estarei finalizando os estudos no final do ano. Em 2017, apenas Raikkonen, representante dos “velhos”  está confirmado. Pode ser que Alonso também não continue. A ironia do destino: O espanhol e o finlandês podem se despedir da F1 e, portanto, encerrar o que me liga desde a infância de Canoas até a graduação em Porto Alegre (além da família, evidente) justamente no momento em que terei finalizado mais uma fase da minha vida pessoal e, mais do nunca, de um momento da F1. Um rito de passagem.

Vai ser estranho olhar para o ano que vem e não ver o nome de Button. Reiterando: Não é porque eu seja super fã dele, mas sim por uma questão de que ele sempre esteve lá e, em breve, não estará mais. Continuarei procurando-o no grid, pensando que algo está errado. Me senti  assim com as ausências de Schumacher e Rubinho. Estão faltando eles na transmissão. E assim me sentirei com as ausências de Button e Massa.

Foto: The Telegraph
Considerando que em 2018 nem Kimi e Alonso irão estar em atividade, estarei novamente começando uma nova fase da minha vida que se relaciona com a F1: O começo, de fato, da vida adulta vivida por um jovem adulto, que acompanha a nova garotada que desponta como protagonista na F1 e observando Vettel e Hamilton, que até ontem eram jovens, como os maiores vencedores e experientes do grid. Os ciclos da F1 se ajustando perfeitamente com o da minha vida, como se fosse combinado ou predestinado.

Assim são os pequenos ciclos da nossa vida, marcada por ritos marcantes que simbolizam mudanças e renovações. Vai-se embora a geração que eu acompanhei e me fez apaixonar pela F1, surge e mantém-se uma nova e agora velha guarda que precisa manter o legado adiante, assim como eu preciso continuar caminhando sem parar na minha trajetória pessoal e profissional. Ritos de passagem. 

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