Foto: MotorSport |
Não era para ser um texto tão pessoal, mas foi. Enfim, não
estou acostumado a escrever esse tipo de coisa pessoal e sentimental por aqui.
Espero que gostem.
Uma coisa que não passava pela minha cabeça e que agora
começa a cair a ficha é que desde que eu me conheço como gente, um piloto
esteve em TODAS as corridas que eu me recordo de ter assistido.
Começando pela icônica Hockenheim 2000. Foi minha primeira
lembrança sobre a F1. Depois, algumas visões turvas: 2001 ou 2002, sempre com o
GP do Brasil e a famosa pancada no Safety Car (Era a Sauber do Heidfeld? Então
era 2001! Ou 2002??). Depois, o “hoje não, hoje não, hoje sim, hoje sim”.
Estava dormindo em um colchão na casa do meu primo vendo naquelas televisões
antigas. Apenas eu acordado, fascinado e sem entender nada do que estava
acontecendo ali, mas ciente de que algo estranho havia acontecido.
Foto: Flatout |
2003. GP do Brasil. Entre os 20 que não completaram a prova,
Schumacher bate na saída do S do Senna. Eu grito para a minha mãe, que estava
jogando Paciência no computador, distante de tudo isso: “Mãe, o Schumacher
bateu!”. “Legal, filho”. Certamente não estávamos na mesma conexão. Como era
possível Schumacher, então pentacampeão não só errar como bater violentamente
em pleno Brasil, diante dos meus olhos?
Entre tantas outras lembranças não sequenciais que surgem em
minha mente (comecei realmente a acompanhar a F1 em 2006, com 11 anos,
revezando com a catequese. Depois, nada me impedia e tentava não perder as
provas, fazia de tudo mesmo! Mas é outro papo...). O que eu quero dizer é: Em
todos esses momentos, do mais recente (há dois dias) até a minha recordação,
Jenson Button estava em TODAS AS CORRIDAS. TODAS. No fim do ano, serão mais de 300 GPs.
Trezentos domingos que Button estava na minha casa, correndo, vencendo,
brigando, lutando. Acompanhei boa parte, no mínimo 200 corridas, chutando alto.
Uma rotina inperceptível, tão natural que parecia eterna.
Bem, a questão não é o Button em si, mas o que ele, Massa,
Alonso, Raikkonen e até Schumacher representam para a minha vida. Acompanho
esses caras correndo desde que era um piá de sete anos, morava em Canoas,
brincava de F1 com pedaços quadrados de papel, entre outras coisas. Eles sempre me visitaram aos domingos. Agora,
com 21, o tempo avisa que algumas coisas irão mudar. Me senti estranho quando
Schumacher se aposentou duas vezes. Foi como se uma parte da infância havia
terminado. Em 2007, com 12 anos, pode-se dizer que sai da infância para
ingressar de vez na pré-adolescência. Os ciclos da F1 se relacionam com os
momentos da minha vida.
Foto: Fórmula Spy |
Agora, em 2016. Button e Massa anunciam que estão de saída.
Desde quando eles estrearam na F1, eu entrei e conclui o Ensino Fundamental e
Médio. Sai da escola justamente no ano em que Schummy se aposentou de novo. Ou
seja, em 2013, lá estava o Leonardo se reinventando, se adaptando a uma nova
realidade, a de não precisar mais ir para a escola e começar a pensar no
vestibular. Entrei na faculdade.
Raikkonen saiu e voltou também, Alonso buscava o tri e Button até foi campeão!
Os caras que estavam presentes no primeiro jogo de F1 que eu joguei e criei um
laço sentimental que dura até hoje no Emulador de PS1 para PC continuavam
correndo! Será que não vai ter fim? Será que nada vai mudar? Será que não vou
mudar?
Entrei na faculdade. Nada mal para quem imaginava que nunca
sairia da escola. Dois anos de curso e, se tudo der certo, estarei finalizando
os estudos no final do ano. Em 2017, apenas Raikkonen, representante dos
“velhos” está confirmado. Pode ser que
Alonso também não continue. A ironia do destino: O espanhol e o finlandês podem
se despedir da F1 e, portanto, encerrar o que me liga desde a infância de
Canoas até a graduação em Porto Alegre (além da família, evidente) justamente
no momento em que terei finalizado mais uma fase da minha vida pessoal e, mais
do nunca, de um momento da F1. Um rito de passagem.
Vai ser estranho olhar para o ano que vem e não ver o nome
de Button. Reiterando: Não é porque eu seja super fã dele, mas sim por uma
questão de que ele sempre esteve lá e, em breve, não estará mais. Continuarei
procurando-o no grid, pensando que algo está errado. Me senti assim com as ausências de Schumacher e
Rubinho. Estão faltando eles na transmissão. E assim me sentirei com as
ausências de Button e Massa.
Foto: The Telegraph |
Considerando que em 2018 nem Kimi e Alonso irão estar em
atividade, estarei novamente começando uma nova fase da minha vida que se
relaciona com a F1: O começo, de fato, da vida adulta vivida por um jovem
adulto, que acompanha a nova garotada que desponta como protagonista na F1 e
observando Vettel e Hamilton, que até ontem eram jovens, como os maiores
vencedores e experientes do grid. Os ciclos da F1 se ajustando perfeitamente
com o da minha vida, como se fosse combinado ou predestinado.
Assim são os pequenos ciclos da nossa vida, marcada por
ritos marcantes que simbolizam mudanças e renovações. Vai-se embora a geração
que eu acompanhei e me fez apaixonar pela F1, surge e mantém-se uma nova e
agora velha guarda que precisa manter o legado adiante, assim como eu preciso
continuar caminhando sem parar na minha trajetória pessoal e profissional.
Ritos de passagem.
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