terça-feira, 28 de março de 2023

ENTRE O PRESENTE E A MELANCOLIA

 

Foto: Getty Images

Albert Park sempre vai ser a abertura do ano. Não tem como, já escrevi isso algumas vezes e mantenho essa melancólica lembrança misturada aos meus humores do momento.

Primeiro porque era fascinante olhar uma corrida de madrugada. Ok, antigamente o GP era mais cedo. Lembro que era logo depois do Jornal da Globo. Tinha aquela ideia do “horário proibido”, ainda mais para crianças.

O tempo foi passando e sempre foi mantido o ritual que, aliás, tinha a companhia da Malásia. Nada mais início de ano real do que essas duas corridas e o mistério e perseverança de uma criança que briga contra os próprios instintos para assistir o que gosta.

O tempo foi passando e nada mudou. Como já citado nos ritos de passagem, o que variou, na verdade, foi a minha vida. Colégio, faculdade, mas acredito que há, no meio do caminho, um ponto de ruptura.

A pandemia.

Era uma quinta, 12 de março de 2020. Mais um começo. No ano anterior, a bomba que foi a morte de Charles Whiting às vésperas da abertura da temporada. Mal poderia imaginar...

Algo poderia ser diferente porque não conseguiria cumprir o ritual de assistir todos os treinos. O motivo? Naquela quinta-feira, simplesmente teria um Gre-Nal à noite. Não era um jogo qualquer, mas sim o primeiro Gre-Nal da história na Copa Libertadores. Um grande evento.

Naquela semana, os indícios de que a Covid era algo sério já tinham sido sentidos, noticiados e anunciados. No dia anterior, a NBA suspendeu os jogos após um atleta contrair o vírus. A notícia de que Tom Hanks também tinha testado positivo assustava porque não era só com os mortais. Os ricos e famosos estavam a perigo da mesma forma.

Enfim, o ponto de ruptura foi descobrir que os treinos tinham sido cancelados porque um mecânico da McLaren também testou positivo, quase no início da sessão. Posteriormente, o resultado que todos sabiam.

Vocês já sabem de tudo: a pancadaria no clássico e os desdobramentos da Covid no mundo e na nossa sociedade.

Eu paro e penso que, obviamente, nada foi igual depois daquilo. Não só justamente pela obviedade, mas sim pelas consequências: o retorno da Austrália em outro momento do calendário e mudanças pessoais.

Ali foi interrompido um momento de ascensão profissional que eu vivia. Três anos depois, me sinto fisicamente melhor, um pouco mais seguro de mim, mas ao mesmo tempo frustrado e ressentido com a vida em geral. A F1 é um dos poucos escapes dessas realidades que me atormentam e estão me levando para a autodestruição. A questão é que isso vai estourar a qualquer momento, mais cedo do que tarde.

Enfim, escrevo isso após outra pancadaria futebolística na semana de mais uma corrida na Austrália. No meio do caminho, uma provável viagem para Caxias, a trabalho. Participar de uma final de campeonato. Estaria mais feliz e deslumbrado em 2020. O ressentido 2023 apenas está preparado para mais um dia no escritório. Agradecido, é verdade, mas sem aquela vibração de outrora, em constante descolamento do universo.

Até!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, esse é o espaço em que você pode comentar, sugerir e criticar, desde que seja construtivo. O espaço é aberto, mas mensagens ofensivas para outros comentaristas ou para o autor não serão toleradas.